Construindo meu futuro - HARMIONE escrita por LadyPotterBlack


Capítulo 18
16 - "INTERVENÇÃO"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810803/chapter/18

edico este capítulo para cada Regulus da vida real. Para todo aquele que está perdido em mil versões de si mesmo.

Eu acredito em você!

 

E no capítulo anterior de "Construindo o meu futuro - HARMIONE"

....

— Hey, — Hermione chamou Harry — o que você vai fazer agora?

— Eu vou atrás de Regulus. Já faz tempo que quero conversar com ele.

*

*

*

Assim que tivera a certeza de que os Marotos estavam no dormitório masculino da Grifinória, Harry saiu a passos largos do grande salão, encaminhando-se para os jardins. Parou atrás de uma grande árvore e retirou o que para olhos comuns seria um velho pergaminho.

— Eu juro solenemente não fazer nada de bom. — Murmurou apontando sua varinha e, em um passe de mágica, o velho pergaminho se transformou em um grande mapa de todo o terreno de Hogwarts.

Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas.

fornecedores de recursos para feiticeiros malfeitores, têm a honra de apresentar:

O MAPA DO MAROTO

Harry olhou no mapa buscando o alvo da conversa, mas seus olhos pararam nos pontinhos que estava no salão comunal da Grifinória.

Marlene McKinnon, Lílian Evans e... Hermione Granger.

Aquilo o fez olhar para seu próprio pontinho.

Harry Potter.

Seu estômago se embrulhou.

"O mapa nunca mente... O mapa do maroto não pode ser enganado..." — As palavras uma vez ditas por Remus, de sua linha temporal, ressoaram em sua mente.

— Merda! — Ele praguejou baixinho.

Era verdade o que Remus dissera. O mapa do maroto não pode ser enganado.

Nas primeiras semanas em que chegaram ao passado, Hermione se dedicou a procurar um feitiço, uma poção... qualquer coisa, que pudessem ajudá-los a enganar o mapa do maroto. Qualquer coisa que pudesse fazer com que seus verdadeiros nomes não aparecessem no mapa. Mas nada adiantou. O mapa do maroto é capaz de identificar pessoas, mesmo que elas usem métodos de camuflagem para se disfarçarem ou esconderem sejam animagos, ou através de capas de invisibilidade, glamour ou até mesmo poção Polissuco.

Não poderiam esconder seus nomes do mapa do maroto. O mapa do maroto não aceitava ser feito de bobo. Não poderiam enganá-lo.

— Merda! — Outra vez ele praguejou.

Quando toda aquela loucura acabasse, ele realmente queria parabenizar seu pai, Sirius, Remus e até mesmo o Peter pelo estupendo trabalho que realizaram na criação mapa do maroto.

Mas naquele momento, a única coisa que ele gostaria, era de praguejar e amaldiçoar o estupendo trabalho que era o mapa do maroto. Certo ele deveria admitir que o mapa já o salvara muitas vezes e ele realmente amara saber que ele fora preparado por seu pai... mas naquele momento o mapa do maroto ameaçava que o seu disfarce e o de Hermione fossem descobertos.

Bastava que um dos marotos pegasse a versão do mapa do maroto de sua linha temporal dissesse as benditas palavras.

" Eu juro solenemente não fazer nada de bom."

tcharanHarry Potter e Hermione Granger saltariam aos olhos.

— Merda! — Ele praguejou novamente.

Levou uma mão até sua têmpora massageando-a.

"Não é hora de pensar nisso." — Uma voz em sua mente lhe dizia.

Respirou fundo. Aquele realmente não era o momento de pensar naquilo.

Harry decidiu voltar sua atenção no motivo de estar ali nos jardins, atrás de uma árvore com o mapa do maroto em suas mãos.

Regulus Black.

Harry não sabia muito bem o que esperar daquela conversa que teria com ele. Para falar a verdade, não é como se ele tivesse realmente preparado algo para dizer-lhe.

Pensando rapidamente, Harry lembrou-se que Regulus estava no quinto ano, era um Sonserino rodeado de projetos de comensais da morte e que tinha problemas familiares.

Seu rosto se aconteceu em uma careta.

Aquele não era um combo muito agradável.

A careta de Harry intensificou-se quando ele se recordou de como era em seu quinto ano.

Por Morgana, ele estava tão bravo com o mundo.

Se perguntou se Regulus também estaria assim. Confuso. Com raiva do mundo, com raiva de Sirius por ter ido embora, se sentindo traído, de alguma forma.

Se perguntou se ele também se sentia assim. Sozinho.

Mesmo estando rodeado de pessoas, em seu quinto ano, Harry se sentira sozinho. Se pegou imaginando que talvez Regulus não estivesse tão diferente assim de sua versão no quinto ano.

Harry esfregou sua testa novamente.

Sentir aquilo não é bom. Nenhum daqueles sentimentos era bom. Nenhum deles era bom sozinho, agora, combo.

Como se invocado pelos pensamentos de Harry, o pontinho Regulus Black, entrou nos jardins.

Aquilo capturou a atenção de Harry, que pegou rapidamente sua varinha e apontou para o mapa dizendo em um sussurro.

— Malfeito feito.

Sem pensar muito no que fazer, ou no que dizer Harry saiu a passos largos de encontro com Regulus.

*

*

*

Regulus acabara de decidir dar uma volta nos jardins, tentar espairecer, quem sabe tentar respirar um pouco. Na sua mente um turbilhão de coisas aconteciam, um turbilhão de falas eram repassadas, um turbilhão de cobranças eram feitas.

Respirou fundo na esperança de que aquele ar que invadia suas narinas e abastecia seus pulmões invadisse também aqueles pensamentos.

As vezes as vozes em sua mente pareciam sussurros ensurdecedores.

Não eram palavras gritadas ao vento, mas eram palavras murmuradas repetidamente aos seus ouvidos.

Merlin, aquilo era tão cansativo, tão exaustivo

— Hey. — Uma voz branda e, ao mesmo tempo, desconhecida chegou aos seus ouvidos.

Lentamente virou-se em direção ao desconhecido.

Não era um desconhecido, conhecia aquele menino. Antes de responde-lo pensou em tudo o que sabia ao seu respeito e em um segundo sua mente voou em busca de informações.

Era da Grifinória, ele sabia, bem, na verdade, isso estava um pouco muito óbvio, visto que o garoto a sua frente estava trajado com as cores vermelho e dourado. Era apanhador, se recordava dele, no jogo que acontecera há duas semanas e... andava com seu irmão.

Irmão, Sirius não era seu irmão, não mais. Não após tê-lo abandonado naquela casa sem amor.

O pensamento de Sirius não ser mais seu irmão teve um gosto amargo em sua boca.

Harry esperou pacientemente a resposta de Regulus, para falar a verdade estava até um pouco sem graça visto que estava sendo ignorado até o momento. Percebeu quando o rosto de Regulus, que normalmente estava escondido naquela máscara Sonserina, denunciou que seu pensamento estava muito longe dali.

Regulus balançou a cabeça. Aquilo já estava superado, o que sentira por seu irmão deveria ser esquecido, aquilo jamais existiria novamente.

— Hey. — Ele devolveu, mas seu tom não saíra tão animado, na verdade soou até um pouco indiferente.

"Não é tão ruim assim." — Harry pensou.

Ele poderia lidar com um pouco de drama adolescente.

Regulus arqueou uma sobrancelha, em uma clara pergunta.

"O que diabos você quer comigo?"

Harry limpou a garganta antes de continuar.

— Você foi muito bem no jogo. — Disse a primeira coisa que eles tinham em "comum" que lhe passou pela cabeça.

Regulus não disfarçou sua confusão ao ouvir aquelas palavras.

— Você por acaso está se referindo a partida de quadribol que ocorreu há duas semanas? — Perguntou arqueando uma sobrancelha escura. Seu tom de voz variava entre o incrédulo e o sarcástico.

Respirou fundo.

"Drama adolescente." — Harry repetia a si mesmo. — "Você também estava bravo com o mundo quando estava no quinto ano."

— Sim, eu estou falando do jogo que ocorreu há duas semanas — confirmou — e você mandou muito bem. — Elogiou.

Os olhos de Regulus eram os mesmos de Sirius e, naquele momento, pareciam duas tempestades que não sabiam se deveriam despencar ou se deveriam se recolher.

Ele era amigo do seu irmão e estava elogiando-o?

— Por que você está me elogiando? — Perguntou expressando sua dúvida.

Harry percebeu o que aquilo significava. Regulus não sabia lidar com elogios. Estava acostumado com as críticas, mas não com os elogios. Harry sabia muito bem como era sentir-se daquela maneira. Quando morava com os Dursley's sentia que não era bom o suficiente. Que nada que fazia estava bom. Nada bastava, nada era o suficiente.

Talvez eles fossem mais parecidos do que imaginava.

"Só que a diferença é que você não passou a acreditar que um maluco lunático era a salvação para o mundo. " — Uma voz carregada de sarcasmo em sua mente lhe disse.

Silenciou aquela parte de sua mente que lhe dizia aquilo. Estava comprometido a não deixar Regulus seguir o caminho das trevas.

— Eu estou te elogiando, porque você realmente mandou muito bem no jogo. — Explicou calmamente.

Regulus enrugou o nariz.

"Suspeito." — Ele pensou.

— Mas foi você quem agarrou o pomo de ouro. — Retrucou cruzando os braços acima do peito, seu anel da casa de Sonserina brilhou quando foi iluminado por um raio de sol.

Harry suspirou.

"Os Black's são realmente teimosos." — Pensou.

Mas acontece que os Potter's também podem ser incrivelmente teimosos e isso Regulus descobriria logo mais.

Um brilho perpassou nos olhos de Harry, já sabia o que fazer.

— Eu realmente capturei o pomo primeiro — admitiu — mas isso só aconteceu por que eu caí. Eu literalmente peguei o pomo com a boca. — Harry levou a mão até a boca, então imitou como pegara o pomo.

Antes que Regulus pudesse impedir, uma risada escapou de sua garganta.

O rosto de Harry se iluminou. Contou aquela risada como uma vitória.

— Certo, foi bem estranho você pegar o pomo com a boca. — Regulus disse de uma forma que beirava o bom humor.

"Vitória!" — Um Harry entusiasmado pensou.

— Aliás, já que você está falando do jogo... — Regulus começou, mas sua postura não estava tão bem humorada como estava a uma fração de segundos atrás. Ele não estava olhando nos olhos de Harry e brincava com o anel em seu dedo anelar, em uma clara tentativa de ocupar as mãos pelo nervosismo. — Eu não achei correto o que o batedor do nosso time fez. Foi covardia lhe atacar enquanto você estava de costas. — Concluiu e levantou o olhar, desejando que Tiago realmente acreditasse em suas palavras.

Harry estava chocado? Impressionado? Confuso? Todas as opções?

Bem seu rosto deveria estar denunciando toda a confusão que acontecia em sua mente, porque Regulus o olhou e soltou uma risada com puro escárnio.

— Uou. Então, você faz parte do grupo de pessoas que acreditam que todos os Sonserinos são desleais, covardes e mau-caráter? — Perguntou com seus olhos faiscando.

"É claro que ele pensa dessa forma — uma voz em sua mente lhe sussurrava — lembra que ele anda com o seu irmão? Por acaso já se esqueceu o que Sirius diz a respeito dos sonserinos. Esqueceu de como Sirius ficara feliz quando sua carta de Hogwarts chegou? Esqueceu a maneira como ele estava contente em ir para a estação de trem, tudo para sair de casa? Esqueceu de como ele te abandonou no primeiro ano? De como a única coisa que ele falava durante o verão era sobre seus amigos, 'SUPER' legais e de como a torre da Grifinória era o melhor lugar do mundo? Esqueceu que ele escolheu o Potter como irmão? Se esquecera de tudo isso? — Aquela mesma voz carregada de mágoa lhe sussurrava perguntas que feriam sua alma. Então uma risada amarga que muito se parecia a de sua mãe, Walburga Black, preencheu seus ouvidos. — Tolice a sua, acreditar que Star pensaria diferente."

Harry estava atônito. Não entendia como, em um piscar de olhos, Regulus foi de uma risada para estar aborrecido e dando um sermão nele.

Regulus interpretou o silêncio que pairou como um sim.

Sim. Ele acreditava que ele era mau-caráter. Sim, ele acreditava que ele era sujo e desleal, um covarde.

— Bom acredito que as coisas estão bem claras aqui. — Regulus disse, passou as mãos em suas vestes, retirou um fio imaginário do tecido esverdeado e arrumou sua postura para sair dos jardins. Ele já tinha coisas demais passando em sua mente para ficar ali e escutar como sua índole era podre. — Adeus.

Harry encarava um tanto embasbacado o local que há poucos segundos era preenchido por Regulus. Então a ficha havia caído. Regulus havia ido embora.

"Grande erro" — ele pensou — "não deveria ter ficado calado."

Quando Regulus começou a despejar aquele discurso, Harry ficara embasbacado e mal conseguiu produzir uma resposta coerente.

Não, ele não pensava que Regulus era mau-caráter e desleal. Certo, ele sabia que nesse momento da história, o irmão de Sirius idolatrava "o grandioso lorde das travas – Lorde Voldemort". Mas Harry também sabia que ele só pensava dessa maneira porque não sabia de toda a verdade.

Ele sabia que no momento em que Regulus tomou conhecimento sobre o mostro que Tom Riddle é, ele não pensou duas vezes em tentar impedir seu plano. Não pensou duas vezes em ir contra o que toda a sua família pensava. Não pensou duas vezes em abandoná-lo.

Droga! Ele não havia pensado duas vezes em morrer por um elfo doméstico.

E Harry Potter sabia. Regulus Black merecia ser salvo.

Em alguns momentos de nossa vida nós ficamos perdidos. Há momentos em que mal nos reconhecemos. Momentos nos quais não sabemos determinar o que é o certo e o que é o errado. Momentos em que estamos em um limbo em que simplesmente não nos importamos com nada. Em que a vida não passa de um grande "tanto faz". Momentos em que não conseguimos reagir, em que não sentimos nada. Momentos em que somos meros corpos sendo empurrados pela correnteza, sem forças para seguir para outra direção, então só aceitamos e seguimos o que nos foi determinado. Momentos em que não conseguimos enxergar o estrago que está ocorrendo bem diante de nossos olhos. Momentos em que estamos perdidos dentro de nós mesmos, perdidos em mil versões de nós.

E nesses momentos, nós precisamos de alguém. Uma pessoa que apareça nos dias difíceis, mesmo quando nos esforçamos ao máximo para afastar todos aqueles que estão ao nosso redor. Uma pessoa que esteja lá. Alguém que acredite em nós. Que nos faça enxergar o desastre a tempo de evitá-lo e não a tempo de remediá-lo. Todos nós precisamos de alguém que não nos deixe desabar. Alguém que nos olhe no fundo de nossos olhos e diga. "Eu acredito em você!"

E Harry James Potter queria ser essa pessoa. Ele seria essa pessoa para Regulus Arcturus Black.

Harry piscou e chacoalhou a cabeça.

"Vamos lá. Pegue seu pomo de ouro irritadiço." — Uma voz no fundo de sua mente lhe dizia.

Isso. Ele iria encarar a teimosia e a rebeldia de Regulus como ele encarava uma partida de quadribol em que o pomo de ouro não facilitava as coisas.

*

*

*

Regulus escutou passos e logo após sentiu uma mão tocando seu ombro esquerdo. Lentamente se virou e encontrou um Tiago esbaforido a sua frente.

Revirou os olhos.

— O que você quer? — Perguntou sem rodeios. — Veio tecer-me mais elogios? — Ironizou.

Harry balançou a cabeça em negação.

— Eu não te acho um mau-caráter, sujo ou um babaca. — Negou olhando no fundo de seus olhos, tentando transparecer toda a veracidade de suas palavras em seu olhar. — Está bem agora eu te acho meio impulsivo. — Completou com um pequeno e lento sorriso nos lábios.

Regulus piscou os olhos repetidamente tentando absorver a palavra que lhe acabara de ser dita.

Impulsivo.

— Você me chamou de impulsivo? — Perguntou meio abobado.

Harry confirmou.

— Você tem que concordar comigo que dizer o que você disse e sair daquela maneira foi um ato meio impulsivo. — Disse rindo, então vendo a expressão de Regulus parou. — Você não concorda? — Perguntou apertando-lhe o ombro.

Regulus estava entorpecido com a palavra que Tiago usara para descrevê-lo.

Impulsivo.

Regulus não era impulsivo. Ele não poderia ser nem se o quisesse.

Sirius era o filho impulsivo. Era Sirius quem questionava todas as ações que seus pais os forçavam a fazer. Era Sirius quem sempre estava querendo saber os "porquês". Era Sirius quem tinha a coragem e enfrentava seus pais, era ele quem afrontava Walburga e batia de frente com Órion. Foi Sirius quem deixou o cabelo crescer como uma forma de afrontar os moldes das casas antigas e nobres da sociedade bruxa, era ele quem se recusava a participar de todos os jantares pomposos e negou brutalmente um casamento forçado apenas para manter a linhagem sangue-puro. Foi Sirius que, em um jantar com toda a família Black colocando o Lorde das trevas em um pedestal sagrado, teve a coragem de dizer que o poderosíssimo "Lorde das trevas" não se passava de um grande filho da puta lunático elitista. Um covarde que nem tinha a coragem para usar seu nome verdadeiro, se escondendo por trás de um personagem criado. Uma máscara. Foi Sirius quem teve a coragem para fugir de casa.

Sirius era o filho impulsivo.

Ele não.

Regulus era o filho obediente.

Regulus foi o filho criado para trazer o orgulho e a honra que a casa antiga e nobre dos Black's precisava. Era Regulus quem obedecia aos pais, que fora ensinado que não deveria retrucar. Era Regulus quem ouvira "falhamos com o bastardo do seu irmão, mas com você não cometeremos o mesmo erro" a cada chibatada que recebia de Walburga e Órion, quando Sirius começou a frequentar Hogwarts. Foi Regulus quem sempre se escondeu na coragem de seu irmão, foi ele quem foi trocado e abandonado. Era Regulus quem nunca descobriu o que diabos era o amor.

Ele não era impulsivo. Ele era a droga de um elfo doméstico que fora ensinado a não retrucar, não responder, não questionar. Não ser ele mesmo.

— Hey — uma voz distante e levemente preocupada chegou aos seus ouvidos — você ainda está aí?

A mente de Regulus estava confusa. Muitas falas eram repassadas. Muitas memórias retornavam, mas todas elas tinham algo em comum.

Sirius.

Ele estava presente em todas as memórias. E uma em especial se destacou entre todas elas.

A memória do dia que marcou a relação dos dois. O dia em que tudo mudou, pelo menos na visão de Regulus.

Estavam os dois debaixo de uma escada na antiga casa dos Black's no Lago Grimmauld, nº 12.

O pequeno Sirius de onze anos de idade tinha os cabelos presos em um pequenino rabo de cavalo, os olhos acinzentados encaravam o pequeno Regulus de nove anos de idade com preocupação.

Uma coruja acabara de entrar por uma das enormes janelas da casa. Em seu bico repousava uma carta com o selo de Hogwarts, endereçada a Sirius Órion Black.

Quando a carta fora entregue, Sirius tivera a certeza de que aquele dia era o mais especial de sua vida. Ali estava sua carta de alforria. Ele não precisaria mais escutar toda a baboseira que sua mãe despejava em seus ouvidos, ou lidar com as crises de seu pai. Livre. Ele se sentia livre.

Ao ver o rosto entorpecido por alegria de seu irmão, Regulus sentiu seu coração se partir. Ele estava o abandonado... e pior, ele estava feliz por isso.

Toda aquela constatação foi demais para seu pobre coração de nove anos de idade. Regulus saiu correndo em direção as escadas do nível inferior da casa. Ele precisava ficar sozinho um pouco e chorar... Ele precisava chorar.

Sentou-se em um dos degraus inferiores e cobriu seu pequeno rostinho com suas mãozinhas e chorou... Chorou até sentir o ar fugir de seus pulmões... até seus olhos arderem, até a dor que domava e arrebentava o seu coração acabar... ou bem diminuir um pouco.

Quando voltou a abrir seus olhos, lá estava Sirius o encarando com preocupação. E, sem dizer-lhe nenhuma palavra, ele o abraço. Passou os braços por sua cintura e apoiou o rosto em seu ombro e lhe sussurrou as seguintes palavras:

"Eu não irei te abandonar, irmãozinho".

Mentira.

Ele tinha sim o abandonado. Ele o tinha trocado.

A boca de Regulus ficou amarga, assim como seu coração.

As pessoas costumam ter a visão errada sobre coração partido.

Normalmente quando se fala de coração partido, as pessoas logo o associam com alguma desilusão amorosa, com algum envolvimento amoroso que não dera certo, com namoros fracassados, casamentos arruinados... Com romance. Sempre associam coração partido com romances fracassados. Mas nenhum coração jamais precisou de beijos na boca, palavras sussurradas ao pé do ouvido, fôlegos ou gemidos compartilhados para que um dia ele fosse quebrado por essa pessoa.

Há muitas formas de ter um coração partido.

Corações são partidos à medida que promessas, um dia juradas e forjadas sobre um intenso sentimento, são quebradas. Corações são partidos à medida que nossas expectativas não são alcançadas. Corações se partem à medida que aquela pessoa que um dia ousamos dizer "te conheço como a palma da minha mão", não se passa de uma desconhecida, tornando-se apenas mais um na multidão.

E nunca, jamais na história do universo, seja ele trouxa ou bruxo, a pessoa que partiu nosso coração precisou ser alguém com que tivemos algum envolvimento amoroso.

O coração de Regulus estava quebrado.

E não fora nenhum romance fracassado que o partira.

Seu coração estava quebrado há seis anos de idade. Sirius quebrara seu coração, por mais que ele jamais tivera o conhecimento disso.

— Regulus? — A voz preocupada de Tiago lhe despertou de toda a sua melancolia.

Ele chacoalhou a cabeça e afastou-se do toque de Tiago.

— O que você quer comigo? — Perguntou um tanto ríspido.

Harry suspirou.

Nenhum humano, seja ele trouxa ou bruxo, jamais teve que falar sobre sua tristeza para que ela fosse vista ou sentida. E a dor que emanava de Regulus estava clara como a luz do dia, por mais que ele tentasse a todo o custo encobri-la com arrogância.

Este é o problema da dor. Ela precisa ser sentida.

A dor precisa ser sentida, e dependendo da quantidade em que ela é sentida, a dor nos torna cruéis, frios, mas ao mesmo tempo ela nos torna fortes. Isso é apenas uma questão de tempo. E o problema é: Quanto tempo é necessário para se curar um coração partido?

"Vamos lá você precisa fazer alguma coisa" — Uma voz na mente de Harry lhe dizia.

Isso. Ele faria alguma coisa por Regulus. Não deixaria que ele se afundasse naquele poço de amargura e ódio.

— Eu pensei que talvez você gostaria de treinar quadribol comigo.

Os olhos acinzentados de Regulus quase pularam para fora de seus olhos, quando a boca de Tiago se fechou. Então, uma risada puramente irônica irrompeu de seus lábios.

— Certo, que brincadeira de mau gosto é essa?

— Como assim brincadeira? — Perguntou não entendendo onde diabos Regulus estava querendo chegar.

Regulus o olhou de cima a baixo e arqueou uma sobrancelha.

— O que foi? Isso foi algum tipo de "prenda" que você teve que pagar por entrar no time de quadribol?

Harry o olhou de forma confusa.

— Agora quem não está entendendo as coisas sou eu.

Regulus bufou e começou a rodopiar o anel da casa de Sonserina em seu dedo anelar.

— Vou lhe perguntar apenas uma vez — começou um tanto impaciente — isso — gesticulou de seu corpo para o de Tiago — você veio falar comigo por uma espécie de "prenda"? Ou melhor, isso é alguma das infames brincadeiras de meu irm... — parou, impedindo que a palavra "irmão" saltasse de seus lábios — de Sirius e daquele infame trupe dele?

— Marotos. — Harry corrigiu quase automaticamente. — E eles não são estúpidos. — Defendeu-os.

Regulus revirou os olhos.

— Tanto importa como eles se autodenominam — disse gesticulando sua mão direita para o ar — E não entrarei no mérito se são ou não estúpidos. — Rolou os olhos acinzentados mais uma vez antes de continuar. — Enfim, se isso for alguma espécie de "pegadinha", saiba que não estou com ânimo para bancar o palhaço da corte... então acho melhor procurar outra pessoa que provavelmente cairá nesse seu papinho.

Harry suspirou.

— Por que você acha eu estaria aqui por causa de seu irmão? — Questionou arqueando uma sobrancelha.

Regulus semicerrou os olhos e sorriu ironicamente. A pura máscara sonserina de arrogância lhe salvando novamente.

— Bom... digamos que as coisas entre mim e Sirius não são as melhores e... — Antes que ele pudesse continuar a esbanjar sarcasmo e ironia, Harry o cortou.

— Nem tudo é sobre Sirius. — Disse quase em forma de suspiro.

Aquilo surpreendeu Regulus.

— Então poderia me explicar o porquê infernos você está aqui se oferecendo para "me ensinar" quadribol?

"Vamos lá, atice seu pomo-de-ouro espertinho." — Harry pensou.

— Pensei que não fosse tão estúpido, Black. Sabe, o quadribol é jogado com três bolas... — Foi então a vez de Regulus cortá-lo.

— Não me trate como um ignorante. — Reclamou. — É óbvio que eu sei como é jogado quadribol, assim como suas regras.

Harry sorriu.

Estava funcionando.

— Ótimo! Isso facilita muito o meu trabalho.

Regulus suspirou.

"Nada de joguinhos" — Ele disse a si mesmo.

— Certo. Irei reformular. — Respirou fundo e continuou. — Você e eu somos de casas opostas. Sei que você é aluno novo e tudo mais. No entanto, você não me parece um trasgo tolo que não percebeu a rivalidade entre nossas casas. — Tomou mais uma lufada antes de continuar. — Então... Por que se oferecer para me ajudar?

— Olha só — Harry começou animado — vejo que alguém aqui tem bons modos. — Alfinetou, não podendo deixar a oportunidade lhe escapar. Vendo que Regulus estava a um ranger de dentes de retrucar, Harry continuou. — Claro, imaginei que você estranharia meu convite...

"Mentiroso! — Uma voz em sua mente lhe sussurrou. — Você literalmente disse a primeira coisa que lhe passou pela mente."

Focado em ignorar aquela parte espertinha de sua mente, Harry continuou a falar com Regulus.

— Mas enfim, como você mesmo disse, eu agarrei o pomo-de-ouro primeiro. E não, eu não estou querendo contar vantagens ao dizer isso. — Parou precisando tomar um pouco de fôlego, estava falando rápido demais. — Mas você realmente mandou muito bem no jogo. Então pensei: Uma disputa só tem graça quando os dois oponentes estão páreo a páreo. E como um bom competitivo que sou — sorriu antes de continuar — pensei que seria uma boa ideia se treinássemos juntos. Quero dizer, somos dois apanhadores... e como você mesmo disse nossas casas são as maiores rivais de toda a escola... pensei que seria divertido se esquentássemos um pouco a disputa. — Terminou balançando as sobrancelhas de forma divertida.

Regulus não conseguiu conter o riso em sua garganta.

— Você está realmente disposto a treinar comigo?

Harry assentiu.

— Potter jamais deixaria. — Regulus argumentou cruzando os braços acima de seu peito.

Harry abriu um sorriso puramente irônico.

— Sabe, James Potter não é meu pai para me proibir ou não de fazer as coisas.

Regulus suspirou, mas não negou o convite.

"Vamos lá" — Harry pensava.

Regulus tombou a cabeça para trás e olhou para o céu azul. As palavras de Tiago o acertando por um momento.

"Nem tudo é sobre seu irmão".

Verdade. Nem tudo era sobre Sirius.

Ele amava quadribol e, surpreendentemente, não via maldade alguma em Tiago Star. Ele parecia estar ali com um convite genuíno.

"Por que não?" — Ele pensou.

— Um dia. — Murmurou com a voz baixa, voltando seu olhar tempestuoso para Tiago. — Treinaremos um dia, se não der certo jamais repetiremos.

— Um dia. — Harry repetiu sorrindo feito um louco. — E acabo de declarar que este dia é hoje.

Regulus arregalou os olhos.

— Tipo agora? — Questionou confuso.

Harry assentiu.

— Agora. — Regulus ainda parecia meio em dividido entre aceitar e recusar, então Harry continuou. — Vamos lá, não é como se tivéssemos todo o tempo do mundo.

"...te acho meio impulsivo..." — As palavras de Tiago ressoaram em sua mente.

Certo, estava mais do que na hora de ele ser sim, mais impulsivo e fazer o que ele bem queria. E, naquele momento, Regulus Black da casa de Sonserina, queria, quase estupidamente, treinar quadribol com Tiago Star da casa de Grifinória.

"Que se dane" — Ele pensou.

Hogwarts poderia lidar com uma possível amizade entre um sonserino e um grifinório. E se não pudesse?

Bem... Regulus não dava a mínima.

*

*

*

O conceito de tempo é algo... complicado? Complexo? Confuso? Divertido? Engraçado?

Todas as opções?

Alguns estudiosos dedicam suas vidas inteiras a definir e colocar em uma caixinha o que seria o tempo. Seu conceito, seu propósito.

Eles dizem

"... tempo é relativo..."

"... tempo é dinheiro..."

"... tempo é sorriso..."

"... tempo é memória..."

Há também os mais pessimistas que dizem

"... tempo é aquilo que não volta mais..."

"... tempo, dizem que você cura todas as feridas, mas não dizem que você destrói tudo que é bom no mundo, que você transforma a beleza em cinzas..."

Enfim, muitos se arriscam a classificar o tempo, mas não serei tão audaciosa para tal. No entanto, uma coisa é fato. Um fato quase irrevogável.

Quando estamos realizando algo de que não gostamos ou estamos entediados, ou em um ambiente desconfortável, o tempo parece congelar. Os ponteiros parecem mais preguiçosos se movendo lentamente, como se tivessem de fato todo o tempo do mundo. Como se a eternidade pudesse esperar seus lentos movimentos.

Outra questão irrevogável sobre o tempo: Quando fazemos algo de que gostamos, o tempo parece estar em uma corrida. Uma corrida em que ele está obcecado em conquistar o primeiro lugar. Os ponteiros mal esperam sua vez para começarem a se mover. Tudo fica frenético.

Em alguns momentos podemos até dizer que o tempo passou voando. E bem para Harry Potter e Regulus Black o tempo literalmente passou voando.

Quando Regulus concordou em aceitar treinar com Tiago, eles não perderam tempo em se dirigir para o campo de quadribol. Um feitiço convocatório depois eles já estavam com suas vassouras em mãos.

Começaram a treinar logo após o almoço e só pararam no meio da tarde, devido ao sol, o qual eles juravam que poderia estar entorpecendo e fritando seus neurônios. Mas bem... eles não estavam ligando tanto assim para o sol naquele momento.

— Eu ainda não acredito que você consegue realizar a finta Wronski! — Um Regulus embasbacado e ensopado de suor comentou para um Tiago igualmente ensopado de suor. Caminhavam lado a lado em direção ao grande castelo de Hogwarts.

Harry riu.

— Não é tão difícil quanto parece. — Disse dando de ombros com um sorriso em seu rosto.

Regulus semicerrou os olhos.

— Não é tão difícil? — Repetiu incrédulo, então franziu o nariz. — Eu cai duas vezes enquanto tentava.

Harry riu ao se lembrar dos tombos.

— Isso é porque você estava fazendo o movimento corporal errado. — Pontuou cutucando-o com o cotovelo em suas costelas.

Regulus o olhou por cima do ombro.

— Creio que da próxima vez, você possa corrigir, então. — Disse com um pequeno sorriso lateral nos lábios.

Harry parou de andar e o olhou impressionado.

— Próxima vez?  Repetiu em forma de pergunta, sorrindo como um louco.

Regulus deu de ombros tentando parecer casual.

— Sabe, para um grifinório você até que não é tão tapado assim. — Provocou.

Harry riu.

— Sabe, para um sonserino você até que não é tão arrogante assim. — Parou e fez uma careta. — Quer dizer, você é sim. — Regulus riu da provocação. — Mas, sabe? — Perguntou retoricamente. — Você também é um cara legal, Black.

— Regulus. — Ele corrigiu quase automaticamente. — Me chame de Regulus.

Harry sorriu e seus olhos brilharam.

— Certo, Regulus — disse pausadamente, degustando o nome dele em seus lábios — então quando será nosso próximo treino?

Regulus franziu o nariz.

— Quando for possível para você eu acho — deu de ombros antes de continuar — me mande um bilhete.

— Te mando um bilhete. — Harry concordou e os dois voltaram a caminhar em direção ao grande castelo de Hogwarts com um silêncio confortável pairando sobre os dois.

Quando chegaram ao topo dos jardins notaram a figura de Lílian Evans observando-os com um pequeno sorriso no rosto.

— Hey, Lily. — Harry a cumprimentou sorrindo assim que se aproximaram.

— Hey, Tiago. — Devolveu com o mesmo sorriso no rosto, então voltou-se para Regulus e não deixou seu sorriso morrer quando o cumprimentou. — Hey, Black.

— Evans. — Regulus a cumprimentou um tanto desconfortável, então se virou para Tiago. — Eu acho que nos vemos depois, então Star. — Disse com um sorriso tímido nos lábios.

— Tiago — ele corrigiu automaticamente — me chame por Tiago.

— Até mais, Tiago — despediu-se com um pequeno sorriso lateral, então voltou-se para Lily que ainda estava ali e tentou ser simpático — nos vemos por aí, Evans.

— Nós vemos por aí, Black. — Devolveu a despedida com um sorriso gentil nos lábios.

Assim que Regulus partiu, Lily não perdeu tempo em começar com os questionamentos.

— Então? — Perguntou com um sorriso brincalhão nos lábios, gesticulando de forma divertida suas sobrancelhas ruivas.

— Então? — Harry repetiu.

Lily revirou os grandes olhos verdes.

— Não se faça de desentendido, mocinho. — Lily brigou com ele, logo em seguida lhe acertou um tapa em seu braço direito. — Ande me conte o que você estava fazendo com o irmão do Sirius.

Harry gemeu massageando o local em que o tapa fora acertado.

— Ele tem nome sabia? — Perguntou ironicamente. — Bem eu estava treinando quadribol com Regulus.

Lily arregalou os olhos.

— Treinando quadribol com Regulus? — Perguntou um tanto abismada. — Se James souber... Ele irá te matar. — Disse enfaticamente. James era louco por quadribol e se soubesse que seu apanhador estava ajudando outro jogador de outra equipe... e ainda por cima da Sonserina.... por Merlin, James Potter ficaria uma fera.

Harry a olhou com um brilho maroto no olhar.

— Por isso mesmo que James não saberá. — Disse dando em seguida uma piscadinha.

Lily jogou as mãos para o alto em sinal de rendição.

— Minha boca é um túmulo! — Desceu uma das mãos que estava para o alto, em direção a sua boca, como se estivesse passando um zíper por seus lábios. Em seguida jogou sua chave imaginária para os ares.

Harry riu da graça feita por sua mãe.

Lily parecia querer dizer algo, mas hesitou.

Harry percebeu.

— Vamos me diga o que está se passando por essa cabecinha ruiva. — Incentivou-a.

— Só tome cuidado... com Sirius. — Uma Lily preocupada pediu.

Harry arqueou uma sobrancelha em uma clara pergunta.

"O que diabos?"

Lily suspirou antes de continuar.

— Sirius parece não se importar com o irmão. As vezes ele até mesmo age como se fosse filho único, mas ele se importa. Ele só finge que não liga. Mas vai por mim, ele se preocupa. — Engoliu em seco ao se lembrar da sua própria relação com sua irmã.

Lily confessa, as vezes ela agia como Sirius em relação a Regulus. As vezes ela fingia não se importar com o fato de Petúnia chamá-la de aberração. As vezes ela fingia não ligar, que toda vez que ia para a casa durante o verão, Petúnia pedia, leia-se berrava, para que ela ficasse no próprio quarto, quando suas amigas a visitavam. Mas toda vez que a coruja de sua família entrava em seu campo de visão, Lily se pegava torcendo por ter uma carta de Petúnia, na verdade nem precisava ser uma carta, um bilhete bastava. No entanto, isso nunca acontecia, e por mais que a parte racional de Lily soubesse que uma carta escrita por Petúnia nunca chegaria as suas mãos, isso de nada impedia que seu pobre coração ficasse cada vez mais partido com sua irmã. Ou melhor, com a ausência dela.

— Tomarei cuidado — Harry garantiu, então parou por um momento antes de completar. — Regulus ainda pode ser salvo. — Disse com a esperança dominando toda a sua fala.

Lily sorriu. Se lembrando de quando ela dizia isso para si mesma em relação a seu velho-não-mais-amigo Severus Snape. A diferença é que ela não conseguiu salvá-lo.

— Eu acredito que todas as pessoas possam ser salvas, Ti. Só que não podemos salvar aqueles que não desejam ser salvos. — Disse com um sorriso triste pairando nos lábios.

Lily não conseguiu salvar Severus. Não por falta de tentativa. Mas como ela mesmo disse "...não podemos salvar aqueles que não desejam ser salvos...". Lily tentou, Lily insistiu. Mas no final das contas, são nossas escolhas que revelam quem realmente somos. Somos o produto de nossas escolhas. O mundo não se divide entre pessoas boas e pessoas más. Todos temos luz e trevas. O que importa é que lado decidimos seguir. Isso é o que realmente nos defini. São nossas escolhas quem definem quem somos... e Severus fez uma escolha. Escolha esta que ia contra tudo aquilo que Lily acreditava.

É preciso saber insistir e acreditar nas pessoas, mas também é preciso saber enxergar o momento em que devemos seguir por caminhos separados.

As palavras de Lily também reverberaram na mente de Harry.

Ele daria o máximo de si para salvar Regulus, mas isso só seria possível se ele desejasse ser salvo.

— Mas hey, — Lily novamente capturou sua atenção, seu tom de voz demostrava empolgação, deixando para trás toda aquela tensão que serpenteava pelo ar — o que você achou do convite para o clube do slugue? Eu acho bem legal. Você com certeza irá gostar — Afirmou com um grande sorriso no rosto.

Harry sorriu. E com o clima mais leve eles foram conversando e caminhando até o castelo de Hogwarts.

*

*

*

Estavam conversando animadamente enquanto caminhavam por um corredor que daria acesso a torre da Grifinória, até que ouviram uma voz.

— Veja só se não é Lílian Evans.

Harry percebeu que o corpo de sua mãe se tensionou de uma forma nada positiva. Também percebeu como o rosto dela se contorceu em uma careta, também não passou desapercebido como Lily não fez questão de desfazer sua carranca ao se virar para encarar o dono da voz.

— Diggory. — Ela cumprimentou sem um pingo de entusiasmo revestindo seu tom de voz.

Amos soltou uma risada rouca, que na opinião de Harry, foi completamente forçada para parecer sedutora.

— Já disse que você pode me chamar de Amos, Lily. — Completou piscando seu olho azul para Lily.

Em outra ocasião, Harry ficaria estupefato com a semelhança de Amos e Cedrico.

Certo, Amos era pai de Cedrico...

Mas, por Morganao tempo havia feito muito mal para Amos Diggory! Quando conhecera Amos, de sua linha temporal, Harry jamais imaginou que quando jovem, ele fora bonito.

Quer dizer, Amos era incrivelmente parecido com Cedrico, possuíam os mesmos cabelos escuros, o mesmo formato de sorriso e os mesmos olhos. Aquilo até poderia ter, de alguma forma, assustado Harry.... bem da última vez que vira Cedrico, ele estava morto... Mas aquilo não invadiu as memórias de Harry naquele momento, pois Amos Diggory, não importasse o quão parecido com seu filho, ele estava dando em cima de Lily.

ELE ESTAVA DANDO EM CIMA DE SUA MÃE. E AINDA PIOR, ESTAVA FAZENDO ISSO NA SUA FRENTE!

N A S U A F R E N T E!

Por Merlin, aquilo era tão nojento e ao mesmo tempo tão revoltante. Queria sumir dali... não, ele queria dar um chute nos países baixos de Amos Diggory.

Isso!

Ele chutaria os países baixos de Amos Diggory e depois sumiria daquele corredor.

Por Harry, ele jamais pisaria naquele corredor!

Sua atenção foi novamente capturada quando viu Lily revirando os olhos. Por mais nojento que fosse, Harry se forçou a prestar atenção na conversa dos dois.

— Acredite, prefiro chamá-lo de Diggory. E gosto que me chame por "Evans".

— Bobagem — Amos retrucou jogando uma mão para o ar — "Evans" soa muito impessoal. Prefiro Lily. — Sem conseguir se segurar, Harry revirou os olhos... aquele cara não sabia interpretar os sinais, não?

O revirar de olhos de Harry pareceu chamar a atenção de sua mãe.

— Hey, Diggory — ela voltou a falar — você não cumprimentou o meu amigo — disse apontando para um Harry, que claramente não queria estar ali — esse é Tiago Star.

Harry sorriu forçadamente.

"Eu só quero sumir daqui." — Ele pensava.

— Hey, cara. — Cumprimentou a contragosto.

Amos o olhou com indiferença.

— Hey, cara. Nomezinho esquisito hein. — Desdenhou com uma careta no rosto, mas seu olhar não se demorou muito em Harry, pois ele estava focado em Lily. — Mas voltando ao principal — disse como se de fato sua presença ali fosse muito importante — quando nós vamos sair, Lily? — Perguntou. — Já lhe disse o ano está acabando. Não podemos perder tempo. — Completou com um combo de dar de ombros e piscadinha.

Era oficial, Harry queria sumir dali!

Não era possível que teria que ficar ali escutando um babaca do nível Amos Diggory, dando em cima de sua mãe.

Merlin, aquilo era uma espécie de castigo por ele ter sido um babaca em seu quinto ano?

Seja lá o que fosse, aquilo já estava sendo torturante demais para ele. Iria sair dali. Mas, quando fez menção de afastar-se dali e seguir seu caminho sozinho até a torre da Grifinória, Lily o segurou pela parte de trás da camiseta.

Se ela teria que ficar ali escutando aquele babaca falando, Tiago também teria. Juntos. Eles escutariam juntos.

Lily suspirou irritada.

— Diggory — ela chamou impaciente — acho que já deixei claro que não tenho a intenção de sair com você.

Amos rolou os olhos, mas antes que pudesse dizer alguma coisa, a figura de James Potter se fez presente naquele corredor.

"Ótimo" — Harry pensou.

Agora a torta de climão estava servida, com direito a um pedaço para cada pessoa ali presente.

*

*

*

Após o cochilo revigorante tirado após o almoço, James percebeu que já estava quase no horário da sua ronda da monitoria. Aquilo com certeza era um dos momentos mais aguardados de sua semana.

Não que ficar empacando alunos que queriam se agarrar pelos corredores, fosse algo que deixava James Potter ansioso e contando os minutos para chegar logo.

Mas as rondas da sexta-feira eram sempre muito aguardadas por James Potter, porquê eram as rondas feitas com Lily Evans. Ou seja, ele teria um móvito para ficar, por mais de uma hora, admirando o rosto da sua linda ruivinha, sem parecer um tremendo psicopata.

Aquilo sim, era forma de terminar uma semana.

Como viu que ainda faltava um tempo considerável até a ronda, James decidiu que não era necessário usar o mapa do maroto para encontrar Lily. Ele iria caminhando. Seria bom esticar um pouco as pernas após passar tanto tempo deitado.

*

*

*

James estava andando tranquilamente assobiando alguma canção qualquer, até que notou que o corredor não estava vazio. Ou melhor, não tão vazio assim.

Sua visão logo foi agraciada por sua linda ruiva, mas logo que focalizou seu rosto, notou haver algo de errado ali.

Lily o olhava com um misto de alívio, preocupação, mas sobre tudo... cara de quem havia comido algo e não gostado.

James logo se perguntou se havia feito alguma bobeira, mas repassando, rapidamente, suas ações durante o decorrer da semana não conseguiu pensar em nada que fizesse Lily olhá-lo daquela forma.

Balançou a cabeça confuso, o movimento fez com que outra pessoa entrasse em seu campo de visão. Tiago Star.

Este sim, o olhava com uma frase quase escrita em vermelho berrante em sua testa.

"POR FAVOR ME TIRE DAQUI! ME TIRE DAQUI! POR FAVOR! EU QUERO SUMIR!"

Esfregou os cabelos que lhe escorriam pela testa, estava confuso.

Será que ele dormira demais e agora estava imaginando coisas?

Ou será que aquilo era o efeito daquelas balas trouxas que Sirius lhe dera durante o verão, dizendo fazerem parte da ciência trouxa e que eram para fins puramente calmantes?

Por Merlin, usara aquilo só uma vez!

Merda, deveria ter escutado quando Remus lhe dissera para não usar aquilo. Agora aquelas balas estavam estragando a sua mente. Fritando seus neurônios.

Por Morgana, Euphemia! Sua mãe lhe esganaria se soubesse.

Mas não, espera!

Havia outra pessoa ali presente.

Amos Diggory.

Agora estava aquelas feições estavam fazendo sentido em sua mente.

James controlou o ímpeto de revirar os olhos assim que se aproximou de Harry e Lily. Amos continuava falando, mas bem ele não estava prestando muita atenção.

Estava com um único objetivo. Livrar seus amigos daquela situação.

Limpou a garganta assim que parou a frente dos três.

— Hey — cumprimentou de forma geral, então se voltou para Lily. — Lil's — James chamou, o nome dela derretendo em sua boca — nossa ronda da monitoria é agora, será que podemos ir?

Antes que Lily pudesse responder, Amos interrompeu.

— Potter — disse secamente — será que não percebeu que estamos tendo uma conversa aqui?

James riu. Pura ironia impregnando sua voz.

— Por favor, defina o que seria "conversa". — Pediu.

Harry riu.

Seu pai estava com ciúmes. Certo, ele também estava, mas definitivamente, era por motivos muito contrários aos de James.

Antes que Amos pudesse responder e, assim, dar início a uma discussão infundada, sem sentido e que exalasse testosterona, Lily decidiu intervir.

— Você não interrompeu nada aqui, James — disse olhando em seus olhos castanhos-esverdeados, seu nome também derretendo em sua boca, como se fosse seu doce favorito. Então voltou-se para Amos. — Eu realmente não tenho a mínima intenção de sair com você, Diggory — disse enfatizando seu sobrenome. Em uma clara mensagem de "nós não temos intimidade. Então, para. Só para!". Deixando a hostilidade de lado, Lily voltou-se para Tiago que a olhava com um sorriso brincalhão nos lábios, que dizia o quanto ele estava aprovando sua atitude. Mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa ele foi mais rápido.

— E eu vou para a torre da Grifinória tomar um banho. — Disse maneando sua cabeça.

— Tem certeza? — Ela perguntou.

— Tenho — confirmou, então acrescentou — e eu também realmente preciso conversar com a Bela.

Lily o olhou e assentiu. Então voltou-se para James, ignorando um Amos aborrecido.

James ficou extasiado, quando viu Lily, sua linda ruivinha, caminhando em sua direção a passos decididos, sem lhe dizer uma palavra, ela esgarranchou seu braço em sua cintura, buscando contato físico. Sem perder tempo, James passou seu braço pelos ombros de Lily e com o sorriso mais idiota do mundo ele se voltou para Harry.

— Tchau, Ti, nos vemos por aí. — Despediu-se de um Harry que também sorria como um idiota.

Uma das partes que mais amava de estar no passado, era poder ver esses momentos. Momentos de interação e carinho entre seus pais.

Quando sozinho naquele corredor, Harry alcançou sua varinha e com um movimento ágil, fez aparecer dois pergaminhos e uma pena, rapidamente começou a escrever.

*

*

*

Sirius acabara de sair do banho, quando notou um pedaço de pergaminho em sua cama.

"Intrigante" — Ele pensou.

Ao se aproximar, notou não se tratar de um pergaminho, mas sim de um bilhete. Ótimo! Agora ele estava curioso. Seus olhos praticamente devoraram o bilhete.

Almofadinhas.

Lily e Pontas estão, agora, fazendo a ronda dos monitores, então precisamos ser rápidos! Chame os meninos e me encontre debaixo da grande árvore com flores rosas, dos jardins, ela fica bem próxima ao lago negro.

Venha rapidamente. Precisamos fazer uma intervenção! Logo!

Ps1: Pontas não pode saber disso.

Ps2: Quando eu digo meninos: Frank está incluído, ok?

Ps3:

 

— Nossa isso ficou cheio de Ps's, hein — Sirius reclamou, sem nem mesmo ler o terceiro pontinho.

 

Ps3: Se Rabicho reclamar que os jardins ficam longe, diga-lhe que eu levarei comida.

E Ps4: Pare de revirar os olhos, Sirius Black, eu sei que isso ficou cheio de Ps's.

 

Nesse momento Sirius riu, ele tinha realmente acabado de revirar os olhos.

 

Ps4: As meninas também estarão lá para a nossa intervenção. Mandei outro bilhete para Bela pedindo que as chamasse.

Ass: Tiago.

 

Assim que terminara de ler o bilhete, Sirius se apressou em vestir roupas e chamar os meninos. Não sabia muito sobre intervenções, mas isso lhe parecia o tipo de coisa tinha de acontecer rápido. Então se apressou.

Eles tinham uma intervenção para fazer. Tinham que ser rápidos!

*

*

*

Hermione estava deitada em sua cama, as costas apoiadas confortavelmente em uma pilha com seus travesseiros, um grande romance apoiado entre suas mãos, até que um bilhete peculiar apareceu na página de seu livro.

 

Mione

James e Lily foram para a ronda da monitoria, chame as meninas e me encontre na nossa árvore dos jardins. Estou farto. Precisamos fazer uma intervenção!

Ps: Quando eu digo meninas, a Dora está incluída, Ok?

Harry Potter.

 

Assim que terminara de ler o bilhete, as sobrancelhas de Hermione se ergueram. Eles precisavam fazer uma intervenção? Do que diabos Harry estava falando?

Outra coisa também lhe chamou atenção.

...nossa árvore...

Sorriu abobalhada ao notar que Harry descrevera a árvore que eles sempre ficavam juntos como "nossa árvore". Era fofo, saber que eles tinham uma espécie de lugar especial.

Soltou um riso ao perceber estar agindo da mesma estupida forma que a personagem apaixonada de seu livro.

Afastando os pensamentos sobre Harry e paixão na mesma frase, Hermione se desvencilhou das cobertas e calçou seus sapatos.

Teria que achar as meninas, porquê pelo visto eles tinham uma intervenção para fazer.

*

*

*

Sneak peek do próximo capítulo de "Construindo meu futuro – HARMIONE."

"... um arrepio percorreu a coluna de Harry ao ouvir a voz da professora pedindo para que ele ficasse por mais tempo na sala de aula.

Sua mente rapidamente vasculhou por alguma informação. Será que tinha feito algo de errado? Bom... ao que se lembrava, não.

Mas então por que Minerva o encarava com aquele olhar severo que era capaz de lhe causar arrepios?

O que diabos?

A confusão não durou muito tempo, uma vez que Minerva logo desatou a falar, fazendo o coração de Harry se apertar.

— Creio não haver motivos para procrastinar e não ir direto ao assunto, Sr.Potter. — Ela disse seriamente — Então serei a mais clara e a mais objetiva possível. — Os olhos verdes e severos de Minerva não abandonaram Harry nem por um segundo sequer quando ela soltou a pergunta. — Me responda com clareza e sinceridade — ela pediu — por que o Senhor James Potter, que gostaria de deixar claro ser seu pai, — Ela enfatizou — e o Senhor Sirius Black, o qual imagino ser seu padrinho ou algo assim, tendo em mente a relação de Potter e Black — Minerva devaneou e Harry viu ali uma oportunidade para tentar acalmar sua respiração que se encontrava totalmente descompassada. — Enfim — Minerva disse em um suspiro, para então jogar a pergunta que fizera a mente de Harry explodir — Por que os dois estavam me fazendo perguntas tão específicas e que não teria como um aluno, mesmo que do nível daqueles dois, fazerem sobre animagina. Por que tamanho interesse em animagos?...."

*

*

*

NOTAS DA AUTORA.

Espero que estejam gostando da história ;)

Deixe aqui a baixo o que você está achando da história, sugestões e opiniões ;)


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Construindo meu futuro - HARMIONE" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.