Lírio Branco escrita por Nina Braes


Capítulo 3
O clube do Slugue




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Os últimos acontecimentos deixaram Charlotte com confiança suficiente para fazer qualquer coisa, caminhava para sala de poções com um humor radiante, distribuindo sorrisos e acenos para os conhecidos que esbarrava no caminho e estava decidida a ter uma conversinha com Slughorn e descobrir sobre sua mãe.

Se sentiu tola por alguns segundos, sabendo que o maior culpado por esse pico de confiança e alegria era o garoto que lhe lançou sorrisinhos no campo de quadribol.

Chegou uns 15 minutos antes da aula começar, sentou no mesmo lugar de sempre, tirando seu material da bolsa e ajeitando a capa atrás de si, já olhando para o caldeirão que soltava fumaça na mesa do professor.

— Ansiosa para aprender poções, srta. Walsh? – Ouviu Slughorn dizer alegremente no canto da sala.

— Acabei chegando um pouco mais cedo do que o planejado – Respondeu dando um sorriso tímido, não sabia exatamente como chegaria ao assunto Elen transparecendo naturalidade. 

Slughorn continuou sorrindo para ela por alguns segundos, como na aula passada, ele novamente arrumava frascos de poções em sua mesa, os olhos brilhando quando olhava para ela.

— Não parece nada com sua mãe – Voltou a dizer, sentando na cadeira de sua mesa, olhando para a garota. Charlotte voltou a sorrir, quase dando pulinhos na cadeira de felicidade, não precisou fazer nenhum esforço para que Slughorn chegasse no assunto que queria  – O nariz é parecido, talvez.

— Sou muito parecida com meu pai, na verdade.

O barulho de passos aumentará nos corredores da masmorra, mas nenhum aluno havia entrado na sala ainda.

— Trouxa, não é? – Perguntou o professor – O que ele faz?

— Ele leciona literatura e é escritor – Respondeu, mantendo o sorriso tímido para o professor.

— Ah! Um professor! – Exclamou Slughorn, projetando o corpo para frente , apoiando os cotovelos na mesa – Eu pensava que sua mãe iria estudar poções quando terminasse Hogwarts, sabe?

Charlotte não conseguiu controlar o sorriso aumentando em seu rosto, não sabia dizer se Slughorn sempre era tagarela, mas agora ele cantava como um passarinho, dando todas as informações que Charlotte queria sem nem precisar que ela perguntasse algo, ela apenas precisava estar ali e ouvi-lo, ele daria todas as informações que ela gostaria.

— Excepcional em poções, não só no preparo, era excelente pesquisadora – continuou falando o professor, seu sorriso desaparecendo – uma perda gigantesca para o ramo de poções.

Seu sorriso também sumiu, desviando o olhar do professor para Ginny, que acabava de entrar na sala e sentar-se ao seu lado. Ficou tão imersa e que não percebeu a sala se enchendo aos poucos, desviando a atenção do professor, podia ouvir ao seu redor Luna conversando sobre alguma criatura que só ela conhecia, Colin Creevey conversando sobre quadribol com outro grifinório e Cordélia Gifford, sua colega da corvinal, sentar na carteira de trás. 

Slughorn levantou da cadeira, cumprimentando os alunos que estavam chegando, parando para conversar com alguns que ele achava importante, sempre de uma maneira alegre e demasiadamente simpática. 

— Você está radiante – Disse a colega pegando o material da bolsa, dando-lhe um sorriso. Charlotte sorriu em agradecimento, desde que Thomas McGruder a abordou nos testes da grifinória, dois dias atrás, ficará um pouco obcecada com sua aparência, sempre fora vaidosa, isso aumentou e agora Charlotte se produzia um pouco mais, o cabelo caindo em uma cascata ondulada em sua costas.

A aula de poções seguiu normalmente pela manhã, fizeram poção fortalecedora, cujo preparo era demorado e se dividia em vários estágios, tão longo era que necessitaria de um tempo de maturação antes dar continuidade, fazendo com que fosse dividida em duas aulas. Slughorn era um professor mais dinâmico que snape, passava pelas mesas orientando os alunos, corrigindo-os aqui e ali.

Charlotte não manteve a pose por muito tempo, o cabelo perfeitamente arrumado durante antes do café se tornou um coque embaraçado, com pequenos fios caindo pelos lados, segurando o livro com a mão esquerda e mexendo no caldeirão com a direita sem parar, tinha a sensação de que sua poção estava um pouco mais grossa do que deveria.

 — Charlotte – Colin chamou o mais baixo que pode a duas carteiras de distância – Isso deveria estar verde?

A garota olhou para o caldeirão do grifinório e depois para o livro.

— No livro diz azul celeste – Disse suspirando irritada ao olhar para o conteúdo de seu próprio caldeirão que mais se aproximava de um azul turquesa do que de um azul celeste. 

Todos da sala guardaram a primeira parte de suas poções com um ar de derrotados, aparentemente ninguém conseguirá alcançar um resultado perfeito, Slughorn ficou na porta da sala, consolando os alunos dizendo aos alunos que saiam para se animarem, que conseguiriam consertar as poções na próxima aula.

Ao se encaminharem para saída da sala nas masmorras, o professor parou as garotas.

— Vou dar um jantar para alguns alunos nesse sábado – Informou orgulhoso, com as mãos na barriga – Adoraria que vocês fossem! Esses jantares são sempre muito divertidos, sabe? Eu mando um recado a vocês com o horário, se quiserem ir.

— Claro, nós vamos sim! – Afirmou Charlotte, se despedindo ao sair da sala ao lado de Ginny, que lançou a ela um olhar de indignação quando viraram o corredor.

— Por que você disse que iríamos? Eu não quero ter outra refeição com Slughorn e os grupo de esquisitos! – Esbravejou a ruiva.

— Eu quero ir e, de jeito nenhum, vou sozinha – informou a amiga – E não são só esquisitos! Harry e Neville vão estar lá também.

Ginny ainda estava um pouco irritada quando tiveram de se separar, Charlotte jogou um beijinho no ar para a garota enquanto ia em direção a aula de transfiguração.

McGonagall era uma professora muito exigente e lecionava uma matéria muito difícil. Respirou profundamente, olhando para a lesma em sua frente com tanta raiva que sua vontade era espetá-la com a varinha, a professora passou a tarefa de fazer aqueles pequenos bichinhos gosmentos, feios e asquerosos sumirem.

Charlotte não era boa em transfiguração, não era muito boa com feitiços em geral, mas ainda queria cursar a matéria no próximo ano letivo, isso significava que ela teria, a qualquer custo, se tornar razoável na matéria e conseguir um ‘excede expectativas’.

Estava quase no final da aula e, apesar do tempo frio, começando a suar por conta do esforço quando finalmente conseguiu fazer a lesma sumir, suspirando aliviada ao sentir o pensamento de incapacidade indo embora de sua mente.

 

Apesar de ter conseguido fazer o feitiço, necessitou de demasiado esforço para dar certo, fazendo com que esse feitiço fosse para a já extensa lista de tarefas a serem feitas. Até agora, escrevera somente 10 centímetros de pergaminho sobre a guerra dos gigantes, não pesquisou nada sobre o trabalho de Sprout  e não relatou nenhum sonho no diário de adivinhação nem mesmo treinou o feitiço que Flitwick estava ensinando.

Suspirou, cansada só de pensar em todo trabalho que teria durante o final de semana. Nem mesmo havia escrito a sua família desde que as aulas começaram.

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A manhã de sábado foi tranquila, Charlotte ficou até metade da tarde na biblioteca debruçada em livros de História da Magia e Herbologia, praticamente terminando os dois trabalhos, se sentindo aliviada ao se livrar disso. Um primeironista da sonserina a encontrou na biblioteca para lhe entregar o recado de Slughorn informando qual o horário do jantar.

A garota apoiou a cabeça nas mãos, sentindo canseira depois de várias horas lendo e escrevendo sem parar, não sentia a menor vontade de ir nesse jantar e ter que conviver com alunos de outras casas, principalmente com os da sonserina.

No salão, descobriu que Melinda Bobbin, corvina do mesmo ano que Charlotte, também fora convidada para o jantar de Slughorn. Combinaram de se arrumar juntas, enquanto a garota teorizava que parentesco Melinda possuía para merecer ir lá.

Tirou do baú nos pés de sua cama todos os vestidos que sua avó a orientou trazer, eram 4 opções, dois deles, que Charlotte cogitava usar essa noite, possuíam mangas longas e ficavam poucos centímetros de seu joelho, um era de veludo preto e possuía um decote quadrado, com mangas em formato de sino, o outro, preferido de Charlotte, tinha o mesmo comprimento, a gola seguia o contorno do fim de seu pescoço de seda na cor creme.

Charlotte achava que o vestido preto combinava mais com o mundo bruxo e também com a ocasião, mas o creme preferido, com certeza traria um grande destaque a ela.

— O preto destaca sua pele clara – Opinou Luna sentada em sua cama lendo alguma revista. 

O argumento da loira convenceu Charlotte a vestir o preto esta noite, colocou também um salto quadrado de tamanho médio da mesma cor, o cabelo castanho liso e solto, com uma gargantilha dourada e delicada no pescoço.

Às 19:30, Charlotte e Melinda se dirigiram às masmorras, encontrando Ginny lá. Nos aposentos de Slughorn, vários alunos já se reuniam e uma música bruxa tocava, o ambiente estava decorado com alguns vasos de flores e faixas nas paredes. 

— Melinda! – Slughorn exclamou alto, um como de alguma bebida em sua mão – Ginny, Charlotte! Venham, sentem-se conosco e fiquem à vontade.

Charlotte e Ginny trocaram um rápido olhar antes de irem se sentar, pelo visto, a festa teria uma atmosfera bem informal. 

Encaminharam-se a um conjunto de sofás, cumprimentando o professor com um aperto de mão. Melinda se sentou com alguns alunos à esquerda do professor, enquanto Ginny e Charlotte sentaram-se à direita, mais afastadas do velho e ao lado de Hermione, que também estava lá.

O professor conversava com McLaggen, da grifinória, animadamente. Deu uma boa olhada aos convidados de Slughorn, além dela e de Melinda, havia somente outro corvino ali, que parecia, dentre todos, o mais envergonhado, Marcus Belby. Neville estava lá também, além de duas gêmeas da sonserina e de Blaise Zabini.

Sua avó sempre fazia reuniões com alguns colegas da família e sempre participava da organização de todos os eventos da igreja do bairro, dando a Charlotte a grande habilidade de sentar-se e fingir estar muito interessada na conversa. 

Em alguns minutos, começou realmente a prestar atenção na conversa, Slughorn sabia como manter todos entretidos, começou a pescar informações de outros alunos, não fazia ideia que a família de Melinda, garota com quem dividia o dormitório a quase 5 anos, possuía uma rede de boticário. Já McLaggen estava lá pois o tio é íntimo do ministro da magia, do grupo de alunos envolta do professor, este parecia o mais empenhado em manter uma conversa.

O jantar foi servido e a conversa continuou, Ginny se soltou um pouco mais quando, se servindo de batatas, Slughorn descobriu que a garota fazia parte do time de quadribol, informou que uma jogadora famosa, Guga Jones, participou de seu clube em sua época de Hogwarts, começaram a conversar alegremente sobre quadribol, assunto que tomou conta da mesa e só terminou quando todos já estavam quase limpando os pratos.

— Estou ansioso para te ver jogar, Ginny – Disse dando um gole em seu copo de cerveja amanteigada. Finalmente, Slughorn olhou para ela – Disse que seu pai era escritor, Charlotte. O que ele escreve?

— Ah! – Exclamou pousando o copo de suco de abóbora na mesa – Ele escreve uma coluna sobre educação para um jornal trouxa e publicou um livro recentemente.

— Excelente, excelente. Sua mãe também gostava muito de escrever, andava sempre com uma espécie de agenda anotando tudo – Deu outro gole em seu copo, movimentando o indicador em direção a Zabini e ela – A mãe de vocês eram grandes amigas, sabiam?

Zabini, que falou o menos possível a noite inteira, franziu minimamente o nariz, lançando um olhar de desprezo a Charlotte que durou menos que um segundo, Charlotte o olhou com uma carranca um pouco menos discreto.

— Vamos, vou mostrar a vocês as fotos com seus familiares – O grande professor levantou da mesa, indo em direção a sala que estavam antes e sendo seguido pelo grupo de alunos. Os alunos se dispuseram nos sofás enquanto o professor ia pegar um álbum de fotos

Sentiu as mãos gelarem com as novas informações que Slughorn lhe dera, seu pai nunca falou nada sobre ter alguma agenda de sua mãe na casa dos Walsh.

Com um álbum de fotos em mãos, Slughorn passou a mostrar aos alunos seus alunos estrelas, se gabando de um ou outro que alcançaram uma carreira de sucesso, dessa vez, segurava um copo de hidromel e sua alegria parecia ter aumentado.

A reunião não era ruim, ele conseguiu fazer os alunos rirem bastante com histórias engraçadas que contou, cada foto que contava parecendo contar uma delas. Alguns alunos já haviam se despedido e ido para seus dormitórios, Ginny, apesar de parecer se divertir, dava algumas piscadas fortes e segurava alguns bocejos, sabia que a garota só estava ali ainda por ela.

Quase no horário de se recolher, ainda restavam na sala Charlotte, Ginny, Hermione, McLaggen e Zabini, que mantinha seu habitual olhar de superioridade, mantendo certa distância dos outros alunos como se eles possuíssem alguma doença contagiosa.

— Aha! – Exclamou o professor – Achei. Venha ver, Blaise.

Slughorn inclinou o álbum de fotos na direção de Charlotte, Zabini parando atrás dela no encosto do sofá.

— Lisa e Elen – Mostrou com o indicador duas garotas no canto direito da foto.

As duas garotas da foto estavam uma do lado da outra, o corpo virado para a câmera, mas seus pescoços virados uma para outra, virando para a câmera sorrindo. 

Elen olhava de um jeito que, mesmo sorrindo, parecia que desafiava qualquer um que olhasse a foto, quase um olhar de escárnio. Tinha olhos claros, cabelo escuro e rosto fino, era muito bonita e parecia ser divertida, não estranhava que Slughorn sempre falava dela.

— Você tem o nariz dela – Murmurou Ginny ao lado da Charlotte, Slughorn concordou com um ‘uhu’ enquanto dava outro gole de hidromel.

A garota ao seu lado, era Lisa Zabini, mãe do sonserino atrás dela, era uma bruxa estonteante, bem mais alta que Elen, pele negra e um sorriso lindo. Era quase constrangedor olhar para ela, foi fácil entender como ela teve 7 maridos.

Slughorn passou a mostrar outras fotos, mas Charlotte já não prestava mais atenção, conseguirá descobrir bem mais sobre sua mãe do que o esperado, sua energia social diminuindo a quase zero agora. Estava cansada, mas a mente não parava de lançar pensamentos sobre Elen.

Queria ver as agendas de Elen, ver sua caligrafia, seus interesses, seu padrão de escrita. Queria conhecer Elen intimamente, de uma maneira que jamais conseguiria conhecer por memórias de outros.

— Está ficando meio tarde – Disse olhando para Ginny e Hermione alto o suficiente para Slughorn ouvir.

— Sim, quase dando o toque de recolher, melhor irmãos – Disse Hermione, as três se levantando e agradecendo Slughorn pela recepção e pelo jantar.

— Também já vou indo – Zabini também se despediu do professor, que acabou o segurando para uma conversa final quando as garotas saíram pela porta.

— Não foi tão ruim… – apontou Ginny enquanto saiam das masmorras, recebendo “Não” e um “Até que gostei” em resposta

As três fizeram um caminho silencioso, cansadas demais para iniciar qualquer conversa, os corredores sendo preenchidos pelos barulhos secos dos três pares de salto batendo sincronizadamente no chão. Murmuraram um boa noite e seguiram para lados distintos quando o caminho se desviou.

Charlotte não foi para o salão da corvinal, entrou no primeiro banheiro que apareceu em seu caminho, abriu a torneira e pressionou as mãos molhadas com água geladas na nuca debaixo do vestido, se olhou no espelho e soltou um suspiro, implorando mentalmente que seu pai tivesse qualquer informação sobre essas agendas. Respirou fundo novamente tentando reunir coragem. Repetiu isso algumas vezes, enquanto pensava no que fazer.

Abriu a bolsa de mão que havia levado consigo e tirou um pergaminho e uma pena que tinha colocado ali mais cedo, pensou que o encontro com Slughorn terminaria bem mais cedo e que teria tempo de passar no corujal para mandar uma carta para sua família, mas agora, estava ansiosa demais para esperar amanhecer, ansiosa demais até para conseguir dormir. Escorando o corpo na pedra da pia, começou a escrever.

Queridos papai e vovó, 

Espero que estejam bem. Esse ano está infinitamente mais difícil do que qualquer outro, os professores estão passando trabalhos mais extensos e cumpridos, além das aulas práticas complexas, isso tem me cansado bastante.

O castelo foi bem protegido com escudos e temos aurores (que são aqueles agentes responsáveis pela proteção no mundo bruxo), andando por todo terreno então me sinto bem segura.

Tenho um novo professor de poções e gostei das aulas e dele, hoje ele deu um jantar para um grupo selecionado de alunos e eu fui uma das convidadas, usei aquele vestido preto que vovó me deu no ano passado.

Pai, queria aproveitar para perguntar se por acaso o senhor sabe se tem alguma agenda de Elen em casa ou se o senhor sabe algo sobre isso. Se tiver, por favor me envie pela coruja o mais rápido possível.

Estou morrendo de saudades, com amor,

Charlotte.

Leu a carta, parecia carinhosa o suficiente para evitar qualquer reclamação que os dois poderiam fazer pela demora para escrever.

Parou frente a porta do banheiro e pressionou a orelha na madeira, procurando por passos, provavelmente já estava fora do horário permitido e não queria ser pega por algum monitor ou por Filch.

Abriu a porta devagar, olhando para os lados, seguindo em direção ao corujal. Tentou dar passos suaves no chão de pedra, evitando que o salto fizesse ‘tec’ no contato, ao mesmo tempo que tentava andar rápido, por sorte, estava perto do corujal e não haviam quadros nessa parte do castelo para vê-la.

Seus dedos estavam gelados e tremiam levemente devido ao nervosismo, se fosse pega, poderia pegar mais do que uma detenção ou perder pontos para sua casa, poderia ser expulsa.

Quando chegou a torre das corujas, o vento forte varria seus cabelos para trás, fazendo a garota abraçar seu corpo, o frio cortando suas pernas expostas.

Pisou com cuidado no chão sujo de palha e restos de pequenos animaizinhos que as corujas ali viviam se alimentavam, estar ali de noite era aterrorizante, sentiu um arrepio percorrer seu corpo. 

Olhou para os poleiros, procurando por alguma coruja que viesse até ela. Pichitinho, a coruja de Rony, piou chamando sua atenção e voou para o poleiro mais próximo, Charlotte deu um sorriso e estendeu a mão para ele, passando levemente as costas do indicador em sua cabeça.

 – Não posso deixar você ir – Sussurrou sorrindo para o pequeno animal que se inclinava a cabeça contra seu dedo – Rony pode precisar.

Outra coruja parou por perto, bem maior que Pichitinho, com o rosto em formato de coração.

— Oi – Cumprimentou o pequeno animal, entregando a carta que escrevera para a coruja, que a segurou com o bico – Obrigada.

Observou a coruja sair voando rapidamente para fora do castelo, desaparecendo rapidamente no céu. Saiu do corujal.

A distância até a torre da corvinal era pouca, estava segura que conseguiria chegar até lá sem que algo de ruim acontecesse. Seguiu a mesma técnica de passos suaves que usou para chegar até o corujal, andando devagar nos corredores escuros e assustadores.

Virou a direita, faltando apenas outros dois corredores para que chegasse a escada que levaria para a torre da corvinal. 

Arfou e sentiu o ar em seu pulmão desapareceu quando enxergou uma figura masculina a sua frente, o escuro permitindo que isso fosse possível apenas a uma pequena distância. 

Sentiu uma onda de alívio percorrer seu corpo quando percebeu que não era Filch. O alívio desapareceu assim que viu que a figura a sua frente pertencia a um garoto esguio de cabelos platinados e olhos azuis quase cinza, sentindo seu estômago se retorcer dentro dela. 

Draco Malfoy estava a sua frente, assim como ela, estagnou onde estava assim que a viu, lançando-a um olhar desconfiado, sobrancelhas franzidas e a varinha na mão, os dois se encaravam sem ousar respirar, ninguém mexia um músculo, mas Charlotte se amaldiçoou mentalmente por não estar com sua varinha na mão também.

O garoto loiro começou a abrir a boca, prestes a falar algo quando ouviram passos, os dois desviando o olhar de seus rostos e virando em direção ao barulho, apenas para constatar uma pequena luz alaranjada vindo do corredor em que Charlotte tinha acabado de virar.

Os dois pares de olhos antes assustados, agora estavam apavorados, voltaram a se olhar por um segundo antes que começassem a correr juntos para a mesma direção, escutando Filch rosnar ao escutar a movimentação, antes mesmo que pudesse ver os dois jovens.

Os sapatos de Malfoy faziam barulho quando batiam no chão, mas definitivamente não chegava nem perto do sonoro ‘tec, tec’ que o salto de Charlotte fazia ao bater rapidamente e com força no chão. 

Filch esbravejava pelo corredor, a luz chacoalhando conforme corria atrás dos alunos, fazendo o papel de acordar os quadros que os passos dos dois não havia acordado.

Malfoy abriu uma porta no lado esquerdo do corredor que ficava entre duas pilastras, entrando dentro do que quer que fosse aquele quarto, sendo engolido pela escuridão. Charlotte não fazia ideia do que estava guardado atrás daquela porta, mas o seguiu, dificilmente seria pior do que ser pega por Filch fora da cama depois do horário. 

— Lumus – Murmurou Charlotte, pegando a varinha assim que a porta se fechou com os dois lá dentro

— Colloportus – Murmurou o garoto ao mesmo tempo, apontando a varinha para a fechadura – Au!

Malfoy bateu a cabeça no teto inclinado, fazendo cair um pouco de poeira no rosto de Charlotte. Filch socou a porta com os dois punhos pelo lado de fora, fazendo os dois se encolherem com o barulho e se afastarem da porta.

Charlotte estava ofegante pela pequena corrida somada ao nervosismo, a varinha tremendo em sua mão, tentava regular a respiração.

— Não vou sair daqui! – Grunhiu o aborto, a voz parecendo a de um maniaco – Posso não conseguir abrir, mas vou ficar aqui até vocês sairem.

Charlotte quase podia ouvir o sorriso na voz de Filch, que agora caminhava de um lado para o outro. Ele ainda falava sozinho quando a garota aproveitou da luz que sua varinha emitia para dar uma olhada no cômodo em que estava.

O armário de vassoura empoeirado era provavelmente o menor cômodo de Hogwarts, muito baixo, com no máximo 2 metros de profundidade e de largura, havendo apenas um balde de metal e duas vassouras velhas no quanto, Malfoy projetava o pescoço para frente e ainda sim seu cabelo raspava no teto.

Ele também fazia uma vistoria pelo lugar, lançando a ela um olhar mal humorado quando seus olhos se encontraram novamente, ela retribuiu, franzindo o nariz e o olhando de cima a baixo com desprezo.

— O que você está fazendo fora do seu dormitório? – Indagou, a voz carregada de irritação. A careta dela aumentou quando o ouviu falar.

— O que você está fazendo fora do dormitório? – Rebateu, cruzando os braços no peito e apoiando seu corpo na parede atrás de si.

— Eu sou monitor – Encheu a boca para falar – De que casa você é?

Charlotte revirou os olhos, a irritação crescendo rapidamente dentro dela.

— Você não está monitorando nada! Nem está de uniforme.

— Sim, eu estava – Insistiu entredentes, a varinha apontando para ela. 

— Ótimo, me entregue para o Filch, então! – Disparou, apontando sua varinha para a maçaneta, pronta para retirar seu feitiço e entregar os dois.

A mão de Malfoy agarrou a sua, sua pele tão fria que fez seu braços se arrepiarem, olhando com raiva e sobrancelhas franzidas, recebendo um olhar de desafio, liberando a mão dele com um chacoalhão. 

Filch lá fora continuava a andar, sem dar qualquer sinal de que iria sair dali e os deixar sair. Sentia frio demais em suas pernas descobertas, seu pé doía por estar tanto tempo com um sapato não confortável, sentia o cansaço consumir sua mente e cada músculo de seu corpo. Não tinha ideia do que faria para chegar a corvinal intacta e, dentre todas as pessoas de Hogwarts, estava presa em um armário minúsculo com possivelmente a pessoa mais desprezível do castelo inteiro.

Ter Malfoy inclinado em sua direção em um local tão pequeno fazia com que o cheiro amadeirado com um toque fresco tomasse conta do lugar inteiro, deixando ela um pouco tonta.

O loiro bufou e sentou no balde de metal virado de cabeça para baixo no canto contrário do quarto, dando uma olhada na garota no outro canto da sala. Não recordava de ter visto-a antes, não fazia ideia de qual era seu nome, qual ano estava nem de qual casa era. Pensou se estava ali espionando ele a pedido de alguém ou se era apenas uma idiota fazendo alguma palhaçada pelo castelo.

Quase acendeu uma luz no topo de sua cabeça quando percebeu que o vestido que a garota usava era devido a festa que Slughorn deu para alguns alunos patéticos que ele considerava importante.

Não entendia, então, se a garota estava na festa de Slughorn, não precisava fugir e se esconder de Filch.

Um estrondo forte acima de suas cabeças deixou os dois em estado de alerta, Charlotte desencostou seu corpo da parede e Malfoy levantou do balde, os dois atentos a qualquer barulho. 

— PIRRAÇA! – Ouviram o Zelador Grunhir atrás da porta, começando a dar passos rápidos, liberando a saída.

É agora. Charlotte pensou quando os passos ficaram distantes, retirou os saltos dos pés e, apontando a varinha para maçaneta, retirou o feitiço que Malfoy jogou para trancar a porta, correndo para a sala comunal da corvinal.

O alívio que a encheu quando conseguiu chegar em sua casa foi a melhor sensação que sentiu em sua vida, ainda ofegava um pouco quando conseguiu se livrar da roupa da festa e pode jogar uma água quente em seu corpo, o cheiro amadeirado impregnado nas suas narinas quando deitou seu corpo em sua cama.

Não fazia ideia de como Malfoy conseguiria descer até as masmorras, mas isso era um problema dele e, sinceramente, Charlotte não se importava.


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