Com os ânimos um pouco mais calmos, Crowley e Lizzie observaram Aziraphale, que acabou arrastando Muriel para uma incursão de observação aos humanos. O objetivo da sra. Crowley era visitar um fornecedor da livraria e ela achou que levar sua protegida com ela seria uma ótima ideia.

—Bom, eu espero que se divirtam na sua viagem - ele desejou, enquanto ajeitava Lizzie em seu colo.

—Vai ser mais que uma viagem, vai ser uma incursão ao mundo dos humanos - Muriel confidenciou, com um brilho especial no olhar - eu sei que já aprendi muita coisa sobre eles, e sobre bebês, graças à Lizzie, mas a sra. Crowley achou bom sairmos juntas, pra eu aprender mais.

—Eu achei sim, e por mais que eu nunca vá me cansar dos livros, estava pensando em ensinar o ofício à Muriel - ela confessou também - o que acha?

—Acho que é uma excelente ideia, sem dúvida - Crowley confirmou, pensando que aquele seria o melhor curso de ação sobre Muriel.

—Bom, nós vamos indo, já que não queremos nos atrasar, não é mesmo? - Aziraphale apressou sua companhia.

—Muito bem, vamos lá - Muriel respondeu com entusiasmo.

—Crowley, meu querido, você está mesmo bem em ficar com a Lizzie? - a mãe dela quis ter certeza.

—Sim, como você me lembrou, sou mais que capaz de cuidar da srta. Elizabeth aqui, por mais imprevisível que ela esteja no momento - ele respondeu com confiança dosada - vou manter os dois olhos bem abertos nela. 

—Muito bem, confio em você - ela sorriu de forma mais calma e aliviada - eu prometo não demorar mais que o suficiente.

—Demore o quanto quiser e precisar - ele recomendou, confirmando que estava tudo bem mesmo.

—Até mais - ela beijou o rosto do marido afetuosamente e se voltou para a filha logo em seguida - comporte-se Lizzie, voltarei num instante.

Foi assim que se deu a despedida da família e imediatamente, Crowley voltou para dentro da livraria e suas atenções se voltaram todas para a pequena Lizzie. Por um momento, não soube exatamente o que esperar. Se devia estar ansioso para que a filha performasse mais um milagre, ou que relaxasse e se concentrasse no momento presente.

Se Aziraphale estivesse ali, Crowley pensou, com certeza recomendaria a segunda opção. Foi o que ele fez, deixando com que ela brincasse com um trenzinho, um dos seus brinquedos favoritos. Ela o empurrou pelo chão enquanto se arrastava engatinhando. 

Foi então que aconteceu o tão esperado milagre pela desconfiança de Crowley, o objeto nas mãos de Lizzie pareceu ganhar vida, ou melhor, mobilidade, sem que ela o empurrasse. Até aí, não tinha sido muito diferente do que ela tinha feito antes, mas quando o trem emitiu um som perfeito de apito, Crowley deu um salto, olhando com espanto para a filha, numa grande expressão de questionamento.

—Mas você é uma peça rara e tanto... - ele se abaixou até a altura dela, sendo correspondido com um sorriso que agora despontava alguns dentinhos - é oficial, senhorita, vamos ter que ficar de olho em você e te treinar, pra você saber usar seus... poderes, do melhor jeito possível.

Ao ouvir isso do pai, Elizabeth apenas olhou para ele dando um sorriso, o que pareceu um sinal de acordo. Além de toda a história do milagre, essa coisa de Lizzie parecer sempre entender o que seus pais diziam e a situação do momento, mesmo sem ela ter idade ou habilidade suficiente para se comunicar, sempre deixava Crowley espantado. Era como se a menina fosse uma combinação perfeita de seres celestiais com um pouco da humanidade. De onde tinha vindo esse segundo traço, ele não sabia dizer ao certo. Talvez fosse do apego que Aziraphale tinha à Terra e suas coisas humanas. Não só dela, de Crowley também, ele se viu obrigado a admitir. 

Olhando para a filhinha que agora estava brincando novamente de forma tranquila, percebeu que traços humanos não eram nem um pouco ruins. Apenas reforçava o melhor que a Terra tinha a oferecer.

Depois de algum tempo de brincadeira, o sono foi chegando até Lizzie, a fazendo coçar os olhos e bocejar levemente. Antes que ela chorasse, seu pai foi mais rápido e logo a ninou em seus braços. Não demorou muito para que a menina adormecesse e seu pai a colocasse no berço para descansar.

Ele deu mais uma olhada orgulhosa na filhinha antes de descer as escadas. Em meio à livraria, encontrou Muriel e Aziraphale de volta.

—Olá, meu amor - ela logo beijou Crowley, mostrando que tinha sentido falta dele, mesmo que por um breve momento de ausência - onde está a Lizzie? Correu tudo bem por aqui?

—Ah sim, tudo certo, e vocês? Me conta da viagem, Muriel, aprendeu alguma coisa nova? - ele perguntou.

—Eu provei sorvete de menta - ela disse animada - e andei de roda-gigante.

—Uau, esse passeio teve planos muito diferentes dos iniciais - ele assobiou, cruzando os braços logo em seguida.

—Mas não se preocupe, conversamos com os negociantes, correu tudo bem - Aziraphale garantiu - eles vem na semana que vem fazer a entrega do meu pedido, mas e a Lizzie? 

—Está dormindo, meu anjo, não se preocupe - seu marido a tranquilizou - aliás, ela acabou de dormir, e você sabe que é bem melhor deixá-la descansar. A propósito, já que estamos falando da Lizzie, eu tenho algumas coisas para contar sobre ela enquanto estavam fora.

—Não me diga que aconteceu outro milagre? Ela tem poderes mesmo, então! - a mãe da menininha ficou um tanto alarmada.

—Uhum, pode apostar, meu bem - ele confirmou - ela fez o trenzinho sem buzina buzinar, foi uma façanha e tanto, sob controle, mas nós sabemos que isso pode escalar ainda mais.

—Vamos seguir com o plano, vamos monitorá-la de perto, e guiá-la no que ela precisar - Aziraphale voltou a ser a voz da razão.

—Não se preocupem - Muriel sentiu a necessidade de expressar algum apoio - vocês tem feito um ótimo trabalho com ela, ela vai ser uma boa menina.

—Obrigada, Muriel - a sra. Crowley agradeceu com gentileza, enquanto seu marido se recuperava do elogio recebido.

Receber algo assim de alguém que os estava observando dava a segurança de que realmente estavam no caminho certo.