Honey, Honey escrita por Lura


Capítulo 4
Juntos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/810125/chapter/4

Pelos cálculos de Lucy, levou apenas o tempo do dragon slayer perceber a sua ausência somado ao percurso da viagem. Ela definitivamente estava chocada de ver o mago do fogo irromper na biblioteca privada que trabalhavam, um par de guardas em seu encalço, menos de vinte e quatro horas depois de chegarem naquele vilarejo. O que mais chamou sua atenção, no entanto, foram os traços de ansiedade e assombro que pôde detectar nos de Natsu, enquanto ele a encarava.

— Por que você fugiu? — Como sempre, o rapaz não sabia outra maneira de agir que não fosse ser direto.

Seu comportamento, no entanto, causou exclamações de espanto nos demais, lembrando a Lucy que ela tinha um pequeno público.

— O que aconteceu? — Levy foi a primeira curiosa a se manifestar. Tanto Juvia quanto ela tinha entendido que Lucy queria um tempo longe da agitação de Natsu, mas o comportamento ansioso do mago sugeria que poderia haver algo mais na história.

Os olhares ansiosos da baixinha e da maga da chuva, assim como as centenas de livros mágicos raros que os cercavam, despertou em Lucy a urgência de tirar o parceiro de time dali.

— Eu já volto! — garantiu.

Sem perder tempo, a loira empurrou o mago do fogo para fora, ciente que os guardas que o perseguiram apenas não haviam iniciado um conflito para evitar que a biblioteca fosse danificada. Após dispensar os guardas com um pedido de desculpas e arrastar o companheiro de time por diversos cômodos da casa até chegar na pequena rua de paralelepípedos em que a propriedade do empregador se localizava, perguntou:

— O que diabos você está fazendo aqui? — Ao menos ela estava satisfeita pelo local ser pacato o suficiente para manter a privacidade da conversa.

— Por que você fugiu? — Ignorando-a, Natsu repetiu a questão que fizera anteriormente.

— Porque eu precisava pensar e não conseguiria fazer isso com você por perto! — esganiçou.

A feição magoada que o mago do fogo fez em seguida, quase derrubou suas convicções.

— Lucy, você… Está com raiva de mim? — indagou.

A maga estelar suspirou.

— Não — respondeu com sinceridade. — Mas estou confusa. O que nós fizemos… Não deveria ter acontecido. Não assim — tentou explicar. — Talvez eu consiga explicar melhor uma vez que minha mente se acalme. Por favor Natsu, eu preciso desse tempo — suplicou.

— Me desculpa se eu machuquei você — pediu, e a loira percebeu que não era ao aspecto físico que ele se referia. — Eu apenas pensei que o que fizemos,  é algo que namorados fazem — comentou, e Lucy não pôde deixar de pensar que ele não estava errado. — Mas eu não sei exatamente porque aconteceu naquela hora. Não é como se eu tivesse planejando — justificou.

Isso acendeu mais um alerta na mente de Lucy.

Ela não estava desmemoriada em relação àquela noite.

Por tudo que lembrava, a impressão que tinha era que “Lucy bêbada” havia saído para brincar, mas seu julgamento não estava tão enevoado quanto ao de uma pessoa completamente embriagada. Era mais como se ela não conseguisse resistir aos impulsos do próprio corpo e aos avanços (e que avanços!) do dragon slayer, o que fez com que nem se questionasse porque ele tinha decidido avançar, em primeiro lugar.

E tudo que eles haviam tomado naquela noite, era um copo de bebida cada.

Uma bebida estranha, no entanto.

Ideias de possíveis efeitos colaterais da gororoba experimental de Lisanna passaram por sua mente, contudo, ela arquivou o problema para depois, a fim de resolver o diálogo incômodo que se desenrolava.

— Está tudo bem, Natsu. Eu só preciso de um tempo sozinha para pensar. É sério — garantiu. — Quando eu retornar para Magnolia, poderemos conversar — concluiu.

— Certo — concordou, um tanto cabisbaixo. — Vou voltar então — Decidiu, preparando-se para ir.

— Happy não veio com você? — indagou a loira. Embora só então tivesse percebido a ausência do felino, sua verdadeira intenção ao perguntar, era tentar desanuviar o semblante quebrado do parceiro de time. Pontadas de culpa a atingiam por ter que deixá-lo ir se sentindo tão perdido, mas nunca poderia ajudá-lo se não colocasse a própria cabeça no lugar. 

— Ele não passou aquela noite no seu apartamento — Natsu lembrou. — Eu não o vi antes de seguir você até aqui — completou.

O rosto de Lucy enrubesceu levemente, diante da confirmação que ele, de fato, a seguira de imediato.

— Bom, eu vou indo — declarou ele, o semblante tão desanimado quanto antes, caminhando para longe e estremecendo ao pensar nas duas carruagens e no trem que teria que enfrentar para retornar.

Lucy sorriu ao perceber o tremor do dragon slayer e estava prestes a abrir o pesado portão de ferro para entrar novamente na residência do empregador, quando o ouviu chamar seu nome.

— O quê? — indagou, curiosa.

— Eu realmente achei estranho quando Gildarts me explicou como era, mas não imaginava que essa coisa que a gente tem que fazer para ter um bebê, fosse tão boa — comentou, casualmente. — Espero que possamos fazer de novo algum dia — acrescentou antes de partir, deixando para trás uma Lucy mortificada tanto por suas palavras, quanto pelo fato de ele tê-las gritado no meio da rua.

 

 

Três dias se passaram até que Lucy, Levy e Juvia conseguissem terminar o trabalho.

Três dias em que a maga estelar não deixou de pensar em Natsu um minuto sequer.

Se antes ela havia viajado preocupada que tivesse se envolvido em uma situação que destruiria o relacionamento que tinham, dada a ausência de interesse romântico por parte de Natsu, agora ela se via tonta porque ele tinha sido muito claro em dizer que queria que fizessem de novo.

Queria que fizessem de novo!!!

O rosto da loira praticamente entrava em combustão, conforme essas palavras se repetiam em sua mente, enquanto ela caminhava para casa.

Para casa, sim, porque ela não estava preparada para ir para a guilda e encarar o dragon slayer ainda, embora as chances de encontrá-lo durante o dia, na guilda ou em seu apartamento, fossem talvez de 60% e 40%, respectivamente.

Claro, vê-lo sentado casualmente em seu sofá assim que abriu a porta, fez com que ajustasse mentalmente a probabilidade em 50% para cada lugar.

— Você já quer conversar? — Novamente, ele foi direto ao ponto.

Suspirando, Lucy trancou a porta, deixou a mala de rodinhas  na entrada e se sentou ao lado dele.

Ela sabia que demorar, apenas deixaria o dragon slayer mais confuso e ansioso. Natsu era acostumado a expressar o que sentia e o que pensava, na hora que sentia e pensava. A não ser pela morte de Igneel, a loira não se lembrava de muitos momentos em que ele precisou de espaço para organizar os próprios pensamentos. Naturalmente, ele tinha dificuldade em perceber que as outras pessoas, em geral, precisavam disso.

— Podemos — disse ela, decidida a superar o próprio desconforto para colocar tudo em pratos limpos antes de qualquer contato com a guilda, para que pudessem seguir em frente. — O que aconteceu, Natsu, não deveria acontecer de novo. 

— Por que não? — ele parecia genuinamente decepcionado. — Foi bom! Eu nunca pensei que outra coisa poderia ser tão boa quanto comer e lutar. É diferente dessas coisas, mas é como se eu gostasse tanto quanto — discorreu, sem perceber que o rosto de Lucy ficava mais vermelho a cada palavra.

Recuperando-se, ela continuou:

— É porque esse tipo de coisa é reservado para pessoas que possuem uma intimidade que nós não temos — tentou explicar.

— Não temos? — ele parecia genuinamente confuso agora, tanto que se pôs a listar todos os desastres que simulavam intimidade em que eles haviam se envolvido acidentalmente ao longo do tempo que conviveram.

Claro que aquele episódio dela rolando pelada com ele dentro de um sino voltaria para lhe atormentar, assim como muitas outras situações.

— Eu sei que essas coisas demonstram intimidade, mas não é a esse tipo de intimidade que me refiro. — declarou, enquanto apertava a ponte do nariz. —  Falta algo. É preciso interesse — alegou.

A maneira que o mago do fogo tombou a cabeça, o olhar ainda confuso em sua face, mostrava que ela só estava piorando as coisas.

— Sentimentos, Natsu! — ela estava ficando exasperada.

— Mas nós temos…

— Presta atenção — interrompeu. — Não será confuso se estivermos mantendo relações íntimas, quando você conhecer a garota com quem quer se casar? Ou quando eu conhecer o homem que vai se casar comigo? — tentou facilitar exemplificando, ciente que aquele exemplo, na verdade, se aplicava mais à ela. Afinal, Lucy não duvidava  que Natsu pudesse se envolver em um relacionamento sério apenas consigo, mas com qualquer pessoa.

A loira sabia que o dragon slayer tinha dificuldades em diferenciar os tipos de sentimentos afetivos, mas possuía compreensão das convenções sociais.

Ele entendia que Alzack e Bisca eram casados. Que Gajeel, Levy e os gêmeos eram uma família. Que Erza e Jellal estavam noivos. Que Gray e Juvia namoravam. O que ele provavelmente não compreendia, eram os sentimentos motivadores dessas convenções, já que também acreditava namorar Lucy.

Embora tenha se esforçado para parecer clara, não foi uma surpresa que o mago do fogo aparentasse estar ainda mais conturbado. A maga estelar, por sua vez, estava cada vez mais desesperada.

— Mas como poderemos ficar juntos se eu casar com outra garota e você com outro cara? — Ele parecia totalmente perdido agora.

Todavia, não foi isso que baqueou Lucy, mas o conteúdo de sua frase.

— O que você disse? — indagou, perplexa.

— Lucy, você quer casar com outro cara? — em vez de respondê-la, Natsu seguiu perguntando, em timbre magoado.

— Não! — ela se apressou em responder.

— Então por que disse isso? — questionou, o tom levemente irritado.

— Porque mesmo que eu não queira me casar com outra pessoa, eu quero me casar um dia, Natsu! — esbravejou. — E o relacionamento que nós dois temos, mata essa possibilidade, já que nenhum homem se aproxima de mim, pois a maneira que agimos passa a impressão que estamos juntos! Mas nós não estamos! Você nunca deu indícios que um dia seríamos outra coisa além de amigos! — concluiu, imaginando que tivesse sido suficientemente clara agora.

Para seu alivio, a a compreensão tomou o semblante de Natsu.

— Como não? — começou ele, o timbre ameno. — Lucy, antes de sairmos para a missão de cem anos, eu disse que estaríamos juntos para sempre — lembrou. 

A loira pestanejou, sem saber exatamente o rumo que aquela declaração levaria.

— Natsu, nós vamos estar juntos para sempre, mas… — tentou acalmá-lo, porém ele interferiu. 

— Talvez eu tenha me expressado mal. Eu quis dizer que estaremos juntos sempre. E, para sempre. — Tentou esclarecer, embora a frase ainda soasse confusa. — Eu sei que, por mais que tenhamos muitos amigos, não podemos ficar com eles o tempo todo. Mas eu sinto a necessidade de estar sempre perto de você — declarou. — Antes, quando eu pensava nisso, imaginava sempre você, Happy e eu. Juntos o tempo todo. Vivendo aventura atrás de aventura. E então, em Edolas nós conhecemos a Nasha e eu soube que um dia haveria ela aqui também. E talvez outras crianças — contou.

O rosto da maga estelar explodiu em vermelho.

— Outras? — esganiçou. — O q-que você quer dizer? — atrapalhou-se.

— Eu quero dizer que eu sabia que nós estaríamos sempre juntos, independente do que tivéssemos que fazer para que isso acontecesse e durasse — alegou. — Eu não sou estupido, Lucy. Eu sei que as pessoas se casam, mesmo que eu não saiba muitas coisas que acontecem em um casamento — declarou, encarando-a com seriedade. — E eu sabia que você iria querer se casar um dia. Mas se isso acontecesse com outra pessoa, não poderíamos estar sempre juntos — continuou. — Então, para não te privar desse desejo e manter as coisas como são, eu conclui que talvez teria que fazer isso. Foi quando eu percebi que se fosse para eu casar com alguém, estaria tudo bem, desde que fosse você. Porque eu já queria estar sempre junto de você, de qualquer maneira. O casamento é só mais um jeito de dizer que nunca vamos nos separar — concluiu. 

Como se fosse possível, o rosto da maga estelar ficou ainda mais vermelho, o que junto aos olhos castanhos arregalados, resultou em uma feição cômica.

— Você quer dizer que vamos nos casar um dia? — esganiçou, a voz extremamente aguda.

— Se você quiser — Natsu deu de ombros.

Outra pessoa poderia ter se ofendido com a indiferença, mas depois do choque, Lucy sorriu e meneou a cabeça, os olhos marejando. 

No fim das contas, a lógica infantil de Natsu fazia sentido, considerando quem ele era.

O mago ainda tinha dificuldades de expressar e compreender sentimentos românticos, mas havia tido sucesso em demonstrar uma coisa: o que ele sentia por Lucy, não era igual ao que ele sentia por seus outros amigos. 

Erza e Gray, seus amigos de infância, e tantos outros companheiros de guilda, seguiam suas vidas com seus parceiros amorosos escolhidos, e Natsu estava bem com isso. Mas Lucy, ele queria de maneira que não seriam admitidos outros homens ou mulheres entre o relacionamento deles.

E se era isso que ele tinha para oferecer, Lucy estava feliz em aceitar. Pois estar com ele, de qualquer maneira que fosse, era mais importante que suas expectativas.

Emocionada, a loira jogou-se contra o peito dele e o apertou em um abraço de ferro. Não demorou muito para que os braços dele a rodeassem de volta e, assim eles permaneceram, por vários minutos.

— Então, você quer fazer aquilo de novo? — após algum tempo ele perguntou, casualmente.

O sopapo que Lucy lhe deu em resposta era previsível.

— Você tinha que estragar o momento?! — reclamou ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Honey, Honey" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.