Up all night I won't quit escrita por Arin Derano


Capítulo 7
[FADREY] - Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Depois de uns meses e muita paranoia, voltei (por ora)!



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Eu fiquei no castelo por mais duas horas, e se eu não tivesse me contido, teria ficado lá a noite toda. Era tanto conteúdo que eu poderia estudar e compreender mais sobre o passado daquele lugar...

Na hora de ir embora, Audrey já não estava mais lá. Estranhei, porque não a vi indo embora.

Eu estava bem absorta nos livros, então podia ser que ela tivesse saído na minha frente e eu não tivesse visto.

Retornei ao dormitório em silêncio, mas meus pensamentos estavam bem barulhentos. Eu queria voltar àquele lugar, e eu iria.

Ao chegar, abri meu caderno de anotações de um lado e meu caderno de ilustrações do outro. Coloquei meus óculos e comecei a desenhar tudo que tinha narrado e de que me lembrava de lá. Um pensamento intruso surgiu em minha mente enquanto rascunhava, me dizendo para contatar o jornal da universidade no dia seguinte com todas as informações que eu tinha de lá. Talvez... Talvez isso pudesse ser uma boa ideia.

Mas primeiro, eu deveria ilustrar tudo de que me lembrava. No fim das contas, eram meus estudos.

***

 Acordei com um barulho estrondoso. Ergui minha cabeça com o susto, e então percebi que havia dormido nas minhas ilustrações, e pior... Eu havia babado nelas também, e todo meu trabalho da noite anterior estava perdido. Ou... quase todo.

Então notei a figura de pé na porta recém-aberta. Era ela quem havia feito o barulho. Tirei meus óculos do rosto e minha visão se ajustou para a garota que entrava em meu quarto e colocava seus pertences na cama adjacente a minha, no lado vazio dele.

— Faith, né? — Ela se virou para mim novamente, tirando os óculos de sol do rosto. Eu assenti. — Prazer, sou Janna. — Ela estendeu a mão, e eu a apertei. Ela segurava firmemente, com confiança. Aqueles apertos de mão que a gente aprende a dar quando se está em uma entrevista de emprego.

— Prazer. — Murmurei de volta.

— Tudo bem eu retirar estes? — Ela apontou para alguns livros de Sasha na mesa de cabeceira e alguns cartões ilustrados na parede. Eu demorei uns segundos para entender do que ela estava falando, porque para mim aquele já era o lugar daquelas coisas. Eu assenti, atordoada pelo sono e pela rapidez de acontecimentos. Ela parecia estar com pressa.

— Claro. — Respondi, e ela rapidamente os retirou e me deu em mãos.

— Por acaso você sabe o que aquele castelo nos limites da cidade tem de demais? Eu fui transferida para cá, não sei muito daqui ainda. Os veteranos só falavam sobre ele, e sinto que precisava me atualizar sobre.

— Ah... — Repousei as coisas de Sasha sob meu colo. Eu tratava as coisas dele com tanto cuidado, enquanto a novata só pegou e me entregou como se não fosse nada... Mas tudo bem, ela não sabia o contexto de tudo. — A universidade toda tem falado disso na última semana. Ele sempre esteve lá, mas por algum motivo o pessoal reviveu uns mitos sobre lá e dizem estar vendo e ouvindo coisas vindo de lá. Eu duvido que tudo que dizem realmente aconteça por lá...

— Por que tem certeza disso? Já esteve lá? — Ela me perguntava como se fosse uma entrevista. Por em breve momento, pude ver ela vendo de relance meus cadernos e o que tinha neles.

— Ah não. Mas imagino que se essas coisas acontecessem mesmo, elas já teriam acontecido e mostradas com provas em algum momento — articulei, fazendo o possível para não gaguejar. Ela tinha um olhar firme, e uma postura meio intimidadora.

— Entendi... Qual curso você faz mesmo?

— Artes visuais... E você?

— Jornalismo. Eu vou me encontrar com a equipe do jornal antes de me instalar aqui, qualquer coisa você pode me encontrar por lá. Ok?

— Ok... — respondi, e ela se virou e saiu.

Isso foi... rápido. E estranho. Algo na postura exageradamente confiante nela me desconfiava.

Ter Janna como colega de quarto seria bem diferente do que eu estava acostumada, e sinto que ela complicaria meus estudos dali em diante.

Eu precisava contar isso para Zah e Vill o quanto antes possível.

***

No horário do almoço, me reuni com os dois na área de fora do prédio principal, em uma das mesas disponíveis pelo pátio.

— E a nova colega de quarto? Você nem me disse que ela chegaria! — Zah se aproximou empolgada. Day vinha com ela, e me lembrei de que Vill não teria aulas extras e estava na casa da família.

— Eu nem sabia que ela chegaria. Ela só chegou quase quebrando a porta e me entregando as coisas do Sash para ela pôr as dela... Sei lá. Algo nela me incomoda.

— Ela é metida, resumidamente. — Day comentou, e meu olhar e de Zah se virou para ela, exigindo mais. Ela continuou. — Por curiosidade fui procurar o jornal de hoje na sala do clube e vi ela argumentando um monte de coisa como se já conhecesse o ritmo daqui. Agora a pouco vi ela e mais um pessoal de jornalismo, direito e publicidade discutindo algo. Não consegui ouvir muito bem o que era.

— Puxa... E alguém sabe de onde ela veio? Ela veio de transferência, né? — Zah questionou.

Daisy assentiu. — Ninguém sabe por enquanto. Sei lá, ela é meio estranha. Age com tanta confiança, mas ninguém sabe ao certo de onde ela veio ou o que ela fazia antes.

— Posso perguntar mais tarde, se ela aparecer lá no quarto. Ela ainda não organizou as coisas dela. — Contei.

— Se precisar, você pode passar lá no meu quarto. Nós não nos importamos com visitas. — Zah ofereceu.

Daisy era sua colega de quarto de Biologia, e era uma grande amiga de infância dela. Era fofo em ver como a amizade delas tinha durado até então.

— Claro. Obrigada, gente. — Agradeci e seguimos para procurar o que almoçar.

***

Ao fim da tarde, eu me arrumava para sair me direção ao castelo quando Janna retornou. Ela não parecia nem um pouco cansada e logo que chegou começou a arrumar seu canto do quarto.

— Me falaram um pouco sobre quem estava aqui antes. Sasha, não é? — Eu assenti, e ela continuou. — Parece ser alguém dedicado, pelos livros que vi que tinha aqui.

— Era sim....

— Sabe se ele ter se transferido tem algo a ver com o castelo?

Nunca tinham me perguntado isso antes. Nem eu mesma.

— Não... Acho que não. Se tiver, ela não me contou também — respondi com sinceridade. Pelo menos por hora, não valeria a pena mentir.

— Entendi... — Ela baixou o olhar, parecendo processar a nova informação. — Enfim, você não parece alguém que mexe nas coisas dos outros sem pedir, mesmo assim, deixei as minhas coisas do meu lado do quarto, tudo bem?

— Claro. — Respondi no automático, tentando não parecer muito atônita. Ela era o completo oposto de Sash. Eu tentava ao máximo sentir empatia por ela, e era mais difícil do que parecia.

— Certo. Eu vou sair para beber com uns colegas, se for sair ou dormir pode deixar a porta aberta? Minha chave ainda não chegou e ontem felizmente você deixou a porta aberta e consegui entrar hoje cedo.

Era um pedido meio complicado. Não era por nada, não tinha casos recorrentes de gente estranha entrando nos quartos, porém eu gostava de ser precavida.

— Tudo bem. — Ela sorriu e saiu.

E com isso, eu estava livre para ir ao castelo.

***

Ao chegar nas portas principais do castelo e bater com as argolas contra a madeira maciça, escutei um barulho de rangido e Audrey puxava a porta para abri-la.

— Ah, é você de novo! — Ela parecia surpresa em me ver. Me analisou por uns segundos antes de dar abertura com a porta para eu poder passar. — Veio cedo hoje.

— Perdão, mas eu realmente precisava vir. — Virei com a cadeira para ficar de frente para ela, que fechava a porta. — Conhece alguma Janna?

Ela ficou pensativa por uns segundos, murmurando “Hm” com o olhar fixo no chão e mordendo o lábio inferior.

— Não que eu me lembre, por quê?

— É nova na cidade — disse simplesmente. Eu não precisava dizer tantas coisas sobre minha vida pessoal a uma estranha. — E ela me parece ser daquelas pessoas que viria aqui para explorar tudo que tem por aqui para lucrar ou ganhar fama por isso.

— Não vou deixar que ela faça isso — murmurou baixinho, mas ainda sim consegui ouvir.

— E o que você vai fazer?

— Eu... — ela parecia estar escolhendo quais palavras dizer. Tinha algo a mais nela. Eu sabia. Eu conseguia sentir. — Eu tenho meus contatos.

Ela disparou na frente, e eu ainda tinha uma pergunta a fazer.

— E por que não os chamou ontem? E nem hoje?

Ela parou quando chegou a um dos corredores ao lado do salão principal e me olhou.

— Posso te explicar, mas as respostas estão no andar de cima. E seria melhor se você visse por você mesma, mas... Eu teria que te levar no colo até lá.

Eu me aproximei e observei a escada. Não conseguia ter certeza de quantos degraus ela tinha.

— Não podia simplesmente colocar no andar térreo?

— É algo um pouco mais complicado do que algo que dê para colocar e tirar — ela sorriu, sem jeito. Acredito que tentando fazer aquele momento não parecer mais estranho do que já estava sendo.

Suspirei. Não sei porque ainda insistia em algo que não sabia se acharia uma resposta certeira.

— Tudo bem. — Me ajeitei para ficar mais na beirada da cadeira.

Eu desviei o olhar dela. Isso seria um tanto constrangedor, e não queria que ela notasse meu olhar de desespero. Notei que ela não tinha se mexido ainda, e quando estava para perguntar o porquê da demora, senti um braço me segurar por detrás dos joelhos e outro em minhas costas. Em segundos já estávamos subindo a escada.

Ficamos em silêncio até que chegássemos no segundo andar, e ela me deixou em uma poltrona convenientemente limpa e perto da escada. Enquanto ela voltava para buscar a cadeira, me perguntei se ela já pensava em me trazer aqui em algum momento, e eu ri baixinho. Ela poderia só ter limpado essa poltrona para ela mesmo usar, ou vir com outra pessoa.

Quando ela chegou com a cadeira e a colocou perto de mim, ela comentou:

— Levar você foi mais fácil que essa cadeira. Achei que tivesse uma forma dela dobrar ou algo assim. Desculpe caso tenha quebrado. — Seu tom de voz deixava claro que ela estava falando sério mesmo.

Puxei a cadeira para mais perto e usei a força dos braços para sair da poltrona e voltar na cadeira. Mexi as rodas levemente para frente e atrás e não senti nada diferente.

— Não quebrou. — Anunciei, e ela suspirou aliviada.

— Certo, por aqui. — Ela me guiou pelo corredor. Era um corredor escuro, só tinha uma janela no fim dele, e ela parecia ter um papelão ou algo que dificultava a luz do dia passar por ela. Havia várias portas tanto na esquerda quanto na direita, e muitas delas pareciam não serem utilizadas a muito tempo. Até os pequenos lustres no decorrer do caminho pareciam não terem sido acesos faz uns meses.

— Por que o segundo andar parece mais abandonado que o resto do castelo?

— Não costumo vir muito aqui — ela abriu uma das portas, que emitiu um rangido que se seguiu até que se abrisse por completo.  Audrey me deixou que fosse primeiro, e fui.

Quando entrei, notei que era um quarto. Um quarto antigo, provavelmente do século passado. Tinha cortinas ao redor da cama, e as cortinas púrpura das janelas pareciam gastas e sujas. O chão em si rangia conforme eu passava com a cadeira e Audrey andava. Havia uma escrivaninha e algumas cômodas espalhadas pelo quarto, e todas elas estavam com as gavetas abertas e sem mais nada dentro. Podia jurar que vi algumas teias de aranha nelas inclusive. De resto, era difícil enxergar só com a luz do luar atravessando as janelas.  

— Eu venho aqui quando preciso espairecer. Eu não sei de quem era o quarto, mas sei lá... parece um quarto que eu teria se vivesse naquele tempo.  

Assenti, só observando ao redor e esperando que ela falasse mais algo. Não queria apressar e nem parecer insensível, mas todo aquele trabalho de me trazer até aqui e o silêncio que se seguiu me deixou inquieta.

— Acontece que... Esse lugar é meio que da minha família. Mas eu não posso simplesmente vendê-lo ou qualquer outra coisa burocrática para me livrar dele. Eu preciso ficar aqui.

— Você não tem outros parentes que possam cuidar desse lugar? — Perguntei. Eu olhava de uma das janelas e a vista dali era bem bonita. Dava para ver as luzes da cidade e um pouco do movimento das rodovias.

Ela se apoiou na parede para olhar na outra janela, seu semblante deixava claro que ela estava distante.

— Não. Eu até tinha duas conhecidas, mas... não podiam no momento. Então fiquei. E espero de verdade que voltem um dia. — Ela cruzava os braços e deixava-os pender ao lado do corpo algumas vezes. Nesses momentos, eu odiava ler as pessoas antes de perceber.

Se estava insegura, por que estava contando para mim?

—  Por que está contando essas coisas? —  Pensei alto, a voz saindo mais rápido do que pudesse perceber.

Ela me olhou séria. Duas írises verdes que pareciam tentar ler meus pensamentos.

— É engraçado se for pensar bem. Todos que costumam vir aqui sempre estão procurando algo, seja capturar fotos e ficarem famosos, pegar algo daqui e vender por um preço exorbitante e tomar todo o crédito por algo que nem criou, já tentaram entrar aqui a força e vender toda a construção ou demolir ela por completo... E você não. Tudo bem, eu te conheci ontem e posso estar enganada, mas algo em você me faz ter certeza de que não estou.

Eu retribuía o olhar esperando que ela fosse falar mais algo, mas não disse. Eu ainda não entendia.

— Tudo bem se não entender. — Ela quebrou o silêncio, como se estivesse escutando minha mente. — Acho que passar tanto tempo sozinha aqui e com tanta poeira me deixa com uns parafusos a menos.

Audrey riu sem jeito, e eu sorri de volta.

— Sabe... — eu procurei a primeira coisa que estava a minha vista — Só porque você falou irei levar esse espelho de mão de centenas de anos para a faculdade e tomar todo o crédito por ele. — Balancei o espelho enquanto falava, e isso a fez rir de verdade.

— Ah entendi! Precisei desabafar para você mostrar seu lado piadista! — ela exclamou, e eu neguei com a cabeça.

— Não é bem assim, foi só coincidência. — Brinquei. — Tá, você pode me mostrar o resto dos quartos agora?


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