Up all night I won't quit escrita por Arin Derano


Capítulo 15
[BEANDI] - Capítulo 5 - FINAL


Notas iniciais do capítulo

olá! espero que tenham gostado da história até aqui, muito obrigada a todo mundo que acompanhou ♥



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Em segundos vi o jornal se tornar rasgos de papel voando com o vento.

— Ei, essa era uma das únicas cópias... —lamentei, e elu me ignorou e começou a caminhar apressadamente para o castelo. — Espera aí.

Apertei meu passo para acompanhá-la, mas uma hora ela simplesmente sumiu da minha vista.

— Andi? — chamei. — Andi! — repeti, minha voz ecoando no vazio do corredor.

Comecei a procurar por todos os cantos mesmos sabendo que era em vão. Elu era sobrenatural, sabe-se lá que outros dons teria além de beber sangue e mover as coisas com a mente. Um deles poderia ser invisibilidade quem sabe.

Quando acabei com os quartos e me dei por vencida, fui a biblioteca e passei pela tapeçaria que me chamou a atenção outro dia. Agora eu entendia o que ela contava.

Assim que cheguei a sala repleta de livros, estantes e poeira, senti uma sensação estranha de estar ali sem elu presente.

Sentei-me na poltrona sem a assinatura de Farah e esperei... E adormeci.

***

Eu sonhei com uma garota. Ela tinha olhos violeta e longos cabelos pretos e parecia com medo. Ela procurava por pessoas de pele e osso no lugar abandonado que vivia, mas sem sucesso. Então, no lugar, aceitou a presença de espíritos. Eles a ajudavam a manter o castelo em ordem ainda mais quando passava noites caçando presas para saciar sua sede.

Um dia, uma garota de olhos cor de âmbar e o cabelo castanho claro preso em uma trança encontrou o castelo, desesperada. Crente de que ficar ali era melhor de que seu antigo destino, ela aceitou sem pestanejar a proposta da moradora.

Eventualmente elas começaram a se amar, e a moradora pensou em tudo que não envolvesse sua morte ou a de sua amada. Ela estudou e criou um líquido que até então parecia ser a solução de seus problemas. Antes mesmo que tivesse a chance de testar, a outra garota a fez mudar de ideia, decidindo levar uma mordida provavelmente mortal em vez disso.

A garota, assim que recebeu a mordida, caiu desfalecida no chão. A outra chorou e gritou por ajuda, mas não tinha nada que os espíritos pudessem fazer.

Em alguns longos minutos, a garota de trança suspirou, a vida de volta ao seu corpo. Mas agora... era uma vida diferente. Enquanto a outra a abraçava e agradecia aos céus por estar viva, ela notou que seus dentes tinham mudado de formato e enxergava muito melhor no escuro agora.

Ela sentia algo inumano dentro de si, e ainda sim, agradeceu. Agradeceu a garota que amava, aos céus e a quem quer que fosse. Estava viva e poderia viver com a amada a partir de agora. A de olhos violeta correu para fora do castelo sem rédeas, as mãos dadas com a outra. Correram e correram o mais longe que puderam, até a visão do castelo sumir por completo.

O sonho continuou com uma garota ruiva. Ela acordava todos os dias e ia ao espelho, do qual não refletia seu reflexo. Mesmo assim, ela fingia enxergá-lo, penteando o cabelo curto e se vestindo com o casaco que mais adorava. Ela brincava com um cachorro fantasma durante as noites já que durante o dia tinha o sol para impedir.

Mesmo assim, não é como se ela não tivesse tentado. Seus braços estavam repletos de manchas e queimaduras, algumas até em carne viva.

Ela estudava a sucata de pessoas curiosas que iam a sua moradia, o castelo. Diferentemente da outra que saciava sua sede com animais e monstros em pele de pessoas, ela matava por impulso. Algo tomava conta de si e assumia o controle. Toda vez que isso acontecia e ela voltava para seu corpo chorava até não ter mais lágrimas. Conforme lidava melhor com a situação, ela pegava suas coisas, fossem livros, canetas ou chaves e juntava todos em um quarto no segundo andar, imitando um quarto... comum. Com pôsteres, abajures coloridos e até uma TV de tubo que encontrara jogada nas redondezas do castelo.

Essa foi a única vez que saiu da construção. Por algum motivo, ela nunca viu necessidade de sair do castelo.

Até conhecer uma garota loira, de olhos azuis e que usava uma cadeira de rodas.

Mesmo sabendo que destino teria de dar ou a si ou a ela, ela se aproximou da garota que logo ficaram amigas.

E de amigas, para namoradas, ou quase isso. Um dia, ela recebeu uma visita indesejada de alguém que fazia mal a namorada. Sem sequer conseguir pensar direito, ela fez algo de que se arrependeria amargamente depois. As duas discutiram quando a loira descobriu, e não se viram por um bom tempo.

A ruiva sabia do frasco da amiga de antes. Ela não usava o diário que lhe foi dado com frequência. A lembrava de seu destino, de quem era. Ela preferiria viver em sua própria fantasia construída.

Ciente de que sua fantasia não a faria durar muito, decidiu tomar o frasco depois de ter feito as pazes com a namorada. A namorada não pareceu contrária a decisão, mas sentia insegurança e medo dentro de si. Se não desse certo, o que ela faria além de ver a outra morrer?

Ao contrário do que as duas pensavam, a ruiva acordou. Estava tonta e enjoada, mas ainda sim viva. Seu plano tinha dado certo.

Dali em diante, com o diário em branco, muitas interpretações poderiam ser feitas pela alma restante presa ao destino que lhes foi dado.

Acordei com um feixe de luz solar em meu rosto. Instantaneamente olhei em meu celular, vendo inúmeras ligações perdidas e mensagens não lidas. Me xinguei baixinho e dei uma lida rápida nas mensagens, todas enviadas agora pela manhã. Skye, Yas e Jay estavam desesperados. A última mensagem que tinha era de agora a pouco no grupo que tínhamos, dizendo que sabiam onde eu estava.

E estavam vindo para o castelo.

Corri para sair antes que chegassem. Eu lidaria com Andi depois.

Estranhamente a porta da frente ainda estava aberta. Agradeci em silêncio e corri floresta a fora. Encontrei os três no mesmo caminho que tínhamos feito naquele dia da gravação.

— Ei, gen...

— Onde você estava? — perguntaram em uníssono.

— Achávamos que tinha morrido! — Yas começou.

— Você nunca mais faz isso! — Skye mandou.

— Eu tentei falar com elas, mas... — Jay explicou e eu o interrompi.

— Gente eu estou bem. Podemos voltar para a universidade agora?

Os três me olharam confusos, mas aceitaram e voltamos enquanto eu os respondia com verdades, ou quase isso.

Eu estava com mais alguém? Sim. Eu caí no sono e não fui dopada para isso? Sim. Estava tudo bem?

É... quase isso. A total verdade é que eu estava preocupada com Andi, e isso significava que eu precisava voltar para lá o quanto antes.

***

Cinco períodos de aula passados e uma hora de almoço com ainda mais perguntas e tentativas de me prometer jamais voltar para o castelo, eu estava livre para ir, ou quase isso. Eu ainda teria que atualizá-los em tempo real mostrando que estava bem. Do contrário, iriam todos me “socorrer” ou até chamar a polícia.

No fundo eu estava agradecida pela preocupação deles. Eu tinha os melhores amigos do mundo.

Assim que saí do dormitório com minha mochila pronta, ouvi uma voz familiar me chamar atrás de mim.

— Tenho uma última pergunta — Yas disse. Eu virei para olhá-la. — Você gosta de quem quer que seja que está lá, não é?

Me recuperei do susto e olhei para ela confusa, e depois para o relógio no corredor.

— Você não tem uma aula daqui cinco minutos?

— Sim — confirmou sem mexer um músculo.

Eu procurei por qualquer indício de que estivesse brincando, sem sucesso.

— Não é bem assim... — respondi.

— Ah, qual é Bea. Eu te conheço. Eu nunca te vi se esforçando tanto para ver alguém, hoje está até de mochila. Eu sei que o começo foi meio perturbado e eu não a perdoo se ela te machucou. Mas... você continua indo lá até hoje, e se ela deixa é porque gosta de você também.

Não consegui dizer nada. Por que ela estava dizendo isso tão de repente?

— Pensa comigo: que outra pessoa podia entrar no castelo quando bem entendesse? A garota ruiva lá. Se você pode entrar como ela, então você deve significar a mesma coisa que ela significou. Só esperamos que você não tenha o mesmo fim que ela né? Isso seria um porre.

Eu sorri de leve, processando o que disse. Não podia ser verdade... né? Andi me disse que eu era confiável como Farah, só isso.

Teria de ser só isso.

***

Quando cheguei na porta da frente tentei empurrá-la e ela não abriu como de costume. Tentei mais uma vez sem sucesso. Me distanciei da porta e procurei por Andi nas janelas da frente. Depois, corri para a fenda que usei da primeira vez e a parede estava inteira. Eu teria que apelar.

Voltei para a porta da frente e chamei por Andi, uma, duas, três vezes.

Vencida de que não entraria tão cedo, me sentei de costas para a porta e peguei meus materiais de pintura. Coloquei meu caderno de aquarela, um pincel pequeno e algumas das tintas que mais usava e deixei a mente fluir.

Eu estava para terminar quando senti um calafrio familiar. Ergui meu olhar e Andi me olhava de braços cruzados.

— O que está fazendo?

Eu sorri e me levantei.

— Que bom que perguntou! Eu estava rascunhando. O que achou? — mostrei a ilustração para elu.

Sem perceber, tinha rascunhado ela pela memória de quando olhava para longe no dia anterior. Ela não pareceu surpresa.

— Na verdade eu quis dizer o que está fazendo aqui — completou.

Eu a olhei sem entender.

— Bem eu venho aqui todas as noites desde...

— Bea já chega, tá legal? Volta para sua vida.

—  Não gostou do desenho? — perguntei. Não queria acreditar que elu estava mesmo dizendo isso.

Senti a força invisível me impedir de me mover, e Andi passou por mim e abriu a porta. Enquanto eu via a porta se fechar, eu disse em alto e bom som:

 — Farah foi o seu sacrifício, não foi? — perguntei, e a força invisível desapareceu tão rápido quanto apareceu. Fui direto ficar de frente para elu. — Se ela foi, você não precisa fazer isso de novo. É isso que a profecia diz, não?

Ela me olhou por alguns segundos antes de tentar fechar a porta, que impedi com as mãos.

— Por favor — implorei. — Eu sou legal. Suas amigas podem ter conseguido vencer a profecia ou não, mas você já conseguiu. Então... do que você tem tanto medo?

Eu esperei a força invisível me jogar longe ou me prender no lugar, mas não foi isso que aconteceu. Em vez disso, senti sua mão me puxar e sua boca encostar na minha.

Foi coisa de segundos, e ainda sim eu sabia que ficaria em minha memória por um bom tempo.

— Eu estava esperando por isso já fazia um tempo, sabia? — e a beijei de volta.

***

Eu tive um outro sonho.

Nele, Andi e suas duas amigas estavam em um lugar diferente de tudo que estava acostumada. Estavam em uma floresta de folhas azuis e roxas e seus galhos tinham pequenas esferas brilhantes. A ruiva foi na frente, e percebi que quando se virou dizia algo que não conseguia escutar com um sorriso. A de olhos violeta foi atrás insegura, como se não tivesse certeza de que estava indo para o lugar certo. Andi olhou para trás procurando por algo e eu tentei gritar seu nome sem sucesso, minha voz não saía de maneira alguma. Tentei chamar sua atenção parecendo que a cada vez que eu tentava mais longe eu ficava.

Quando elu se virou e traçou o mesmo caminho que as outras, eu soube.

Eu tinha sonhado com elas voltando para casa. E apesar de tudo, elas estavam felizes e livres. A profecia não existia mais.

Ainda que eu não vivesse até lá para descobrir, eu esperava com o coração apertado que isso acontecesse.


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