Up all night I won't quit escrita por Arin Derano


Capítulo 13
[BEANDI] - Capítulo 3




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É claro que eu não esqueceria disso. E muito pelo contrário do que ela imaginava, isso só tinha me deixado ainda mais curiosa para voltar lá.

Assim que cheguei na universidade, corri encontrar Skye. Eu sabia onde elu estaria em uma quinta à noite: no dormitório de Kirsten, o adjacente ao nosso.

Conforme me aproximava, ouvi uns batuques e umas melodias.

— Ei, gente — disse, tentando esconder a empolgação. Kirs anotava algo enquanto Skye batucava na mesa de madeira, a escrivaninha de que todos os dormitórios vinham com. A dupla musical dinâmica da faculdade.

E que já levou várias advertências por fazerem barulhos – músicas, como insistiam em dizer – depois da hora de dormir.

Kirsten era vizinha de Skye antes das duas virem para a faculdade. Com toda a pose de musicista e skatista, senti um pouquinho de inveja e ciúme quando a conheci. Uma insegurança danada de que eu era menos importante e legal para Skye, já que Skye foi a primeira pessoa com quem falei quando cheguei aqui.

Eu tinha um apego especial por elu. Elu quem me mostrou todos os lugares legais da universidade e como gazear aula... Felizmente, conversei sobre isso com Skye e elu me ensinou e me deixou claro de que eu era especial em minha própria maneira.

— Oi, quais as novas? — Kirs perguntou, se levantando para fazermos nosso toque: um high-five, um soquinho, virando nossas mãos em círculo e encerrando com outro high-five.

— Algumas, mas pode me emprestar a Skye um pouquinho? É bem rápido.

— Claro! — ela voltou a se sentar, passando a mão no cabelo castanho claro e curto no meio disso.

Vou admitir, já tive uma quedinha por ela, mas agora ela estava com Chloe, do curso de Letras, que era igualmente linda.

Honestamente, eu achava todas as pessoas lindas.

Esperei Skye do lado de fora, próximo da porta do nosso dormitório. Assim que elu chegou perto, comecei:

— Eu fui ao castelo! — Skye abriu a boca para falar, mas continuei. — Existe mesmo uma pessoa lá. Não sei se mora lá, eu acho que não porque aquele lugar tá caindo aos pedaços... mas mesmo assim! Eu encontrei elu aquele dia que fomos lá, e meio que foi quem me deixou com aqueles hematomas...

Sujin – o outro nome de Skye, o que eu gostava de usar para irritá-la – me olhava com cuidando, parecendo medir as palavras que pensava.

— Você gravou algo? Podemos usar para levar na polícia.

— Não eu... Eu esqueci de gravar, mas posso voltar lá amanhã e gravo tudo!

Elu não parecia ter uma opinião decidida sobre isso.

— Posso ir junto? Nós quebramos uma janela ou sei lá. Eu preciso ver o que você viu. E também já falo com essa pessoa aí, assim já denuncio para a polícia.

— Não! — falei até um pouco alto demais, atraindo os olhares de quem passava por perto. — Não... precisa. Elu é legal, acredita em mim, meio chata e teimosa, mas legal.

Skye me olhava com confusão.

— Tá bem então. Vamos amanhã cedo, fechou? Tenho aula pouco antes do almoço então precisamos ser rápidas.

— Mais que fechado! — Dei uns pulinhos de felicidade.

Amanhã será um dia inesquecível.

***

Acordamos as sete em ponto. Ou pelo menos eu acordei. Yas tinha dormido no quarto da namorada e Skye tomou conta de sua cama. Elu tinha posições estranhas para dormir, e dessa vez, suas pernas pendiam para fora da cama e seus braços estavam estendidos pelo colchão. Eu ri baixinho e tirei uma foto sem barulho. Eu tinha uma coleção dessas.

Eu a sacudi para acordar, e enquanto sua alma voltava para o corpo, eu corri me arrumar e tomar um banho.

Na saída do banho me olhei no espelho abafado pelo vapor. Passei a mão para limpar e me observei. As mechas arco-íris atrás das minhas orelhas estavam saindo. Eu precisava retocar logo.

Eu gostava de cuidar do meu cabelo. Meu pai havia me ensinado diversos penteados e eu os fazia sempre que tinha tempo, quase que como uma terapia. Mas mesmo assim...

Eu não me sentia tão bonita.

O fantasma da insegurança sempre me assombrou. Eu esperava que quando pintasse meu cabelo, meu jeito de me vestir e fosse para a universidade isso mudaria. E eu ainda estava aqui, tentando achar algo de bom em mim.

Respirei fundo e saí do estado reflexivo para encontrar Skye já pronta no dormitório. Dava para ver que elu pegou a primeira roupa que viu e que não estava jogada no chão. Eram roupas da Yas que eram folgadas e serviam nelu.

Abri a boca para falar, mas elu foi mais rápide.

— Eu vou tomar banho quando voltar, relaxe.

Assenti. Recolhi meu celular e saímos em direção ao castelo, que não era tão longe da universidade, pouco mais de um quilômetro. Nesse meio tempo, deixei que Skye contasse da nova música que vinha compondo e de sua ideia era terminá-la até o fim do semestre.

Ao enxergamos o castelo abandonado em meio a floresta, já comecei meu caminho em direção a fenda. Skye procuraria uma janela para quebrar que ela conseguisse alcançar e passar.

Quando entrei comecei a chamar por Andi, minha voz emitindo um eco pelos corredores e salão.

Não esperava que ela estivesse bem atrás de mim.

— Você não desiste mesmo, né? — perguntou, e manteve o semblante pleno mesmo depois de me ver gritar e me afastar.

— Como você consegue...

— Voltou por quê?

— Oi para você também — brinquei.

Elu suspirou.

— Olha, se quiser mesmo saber mais sobre o castelo tem a biblioteca, naquelas portas que você viu ontem. Só seja rápida e me deixe logo em paz, tá? — seu olhar tinha uma sensação de súplica. Senti meu interior se encher de empolgação.

Se tinha uma coisa que eu era muito boa era em incomodar ao máximo.

— Tá bem! — passei pelo corredor e pelo salão, esperando por algum sinal de Skye. Quando não veio, fui em direção a biblioteca.

Diferente de ontem, eu consegui abrir as portas com facilidade dessa vez. Elas eram pesadas e rangiam, mas relevei. É claro que elas também sofreriam com o passar do tempo.

A visão que tive era esplêndida. Estantes e mais estantes enchiam a sala, livros do teto ao chão das mais diversas cores e tamanhos. Uma janela de vitrais deixava a luz natural passar colorindo o chão de pedra, por mais suja que ela estivesse.

No centro da sala, tinham duas poltronas e uma mesa de centro, além de alguns abajures de chão. Eram as coisas que mais se destacavam ali já que pareciam bem limpas, quase que como novas.

— Ei, por que você não limpa esse lugar? É tão lindo, tão cheio de... — abri um dos livros que consegui tirar sem dificuldade da estante e uma nuvem de poeira me fez tossir e espirrar — ... conhecimento.

Andi me olhou com repreensão. Parecia que a qualquer momento pularia no meu pescoço de novo. Eu sorri sem jeito e devolvi o livro onde estava. Passei as mãos pelos livros, fazendo a poeira ficar em meus dedos e mostrar um pouco mais de suas cores e títulos. Alguns pareciam de séculos atrás, com aquelas letras medievais.

Tudo que eu poderia saber sobre os últimos séculos estava aqui. Yas amaria ver isso aqui.

E por mais sujo que estivesse, ainda era possível recuperar a maioria. Pelo menos era o que eu esperava.

— Você não vai levar nada para fora — Andi disse antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, quase que como se tivesse lido minha mente. Elu ainda se mantinha de pé na porta, na defensiva.

— Mas... — comecei, e logo depois ouvimos um barulho de vidro se quebrando. Elu olhou em direção ao barulho atrás de si, e depois para mim de novo.

Ela parecia furiosa.

— Chamou alguém para vir com você? — rosnou.

— Talvez...? — respondi sem graça. — Você nunca disse para não trazer ninguém e Skye queria...

— Não era para... — elu suspirou, o punho que tinha fechado se abrindo, provavelmente porque queria me desfalecer e mudou de ideia — Não pode trazer ninguém aqui.

— Por que nã... — uma força me empurrou contra a parede e ali fiquei, sem conseguir mexer além de meus dedos e a cabeça. Andi estava ainda mais distante, e deu a meia volta para procurar a origem do barulho. O nervosismo começando a tomar conta de mim. — Espera, Andi! Espera aí...

Elu sumiu da minha vista, e tentei lutar contra a força invisível sem sucesso, meus dedos tamborilando nas pedras da parede de nervoso. Procurei por qualquer coisa ali que pudesse dizer ou até algo sobre mim que a surpreendesse... sei lá. Eu estava eu pânico.

Foi quando vi algo escrito nas costas de madeira em uma das poltronas. Semicerrei os olhos para ver melhor, e consegui ver com muita dificuldade algo cravado na madeira:

“Farah esteve aqui :)”

Era minha melhor chance.

— Quem era Farah? — perguntei, meu eco repetindo o nome até sumir. Eu suspirei e me preparei para gritar de novo com toda a força dos meus pulmões quando a força invisível diminuiu e Andi veio rapidamente em minha direção, chegando mais perto do que eu esperava.

— Jamais repita esse nome de novo — tinha algo em seu olhar que eu não consiga decifrar. Tristeza? Luto? Fúria?

— D-Desculpa — pedi. Era difícil falar com a força apertando todo o meu corpo. Sentia que a qualquer momento meus pulmões podiam explodir.

Senti um alívio repentino. Elu tinha me soltado, mas seu olhar ainda estava focado em mim. Parecia tem muita coisa para me dizer, mas não disse nada.

— Você vai sair daqui seja lá com quem veio, e não voltará. Se fizer isso, eu te mato. Me entendeu, Beatriz?

Era a primeira vez que ela me chamava pelo nome, e era numa entonação nem um pouco boa. E pior ainda, eu nem tinha contado meu nome a ela. Como ela sabia?

Isso me deixa triste. Estranhamente mais triste do que imaginava que poderia ficar. A última vez que me senti assim não acabou bem.

Segurei a vontade repentina de chorar.

— Está bem. Foi mal. — disse com a voz embargada e saí da biblioteca, começando a correr em direção a porta, que já estava aberta. Skye me esperava do lado de fora. Uma das janelas do salão agora estava quebrada e tinham alguns cascos de vidro e uma pedra espalhados pelo chão.

— Ahh, agora conseguiu abrir? Como você fez... — ela notou meu estado. — Ei, o que foi? Foi aquela pessoa de novo? Deixa que eu falo... — elu quis passar por mim, mas não deixei, a impedindo com meu braço.

— Não é nada. Vamos logo — olhei de relance para atrás, mas Andi não estava lá. — Por favor.

Skye dividiu o olhar entre mim e para onde olhei, o semblante confuso e preocupado.

— Tá...

E então voltamos para o campus.


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