Em uma terra distante, na qual cavernas são lares de seres mágicos e os oceanos possuem sua própria civilização, o sol nascia mais uma vez.
Com ele, chegavam os quatro ventos, que já formavam nuvens se preparando para uma tempestade.
Faith não gostava de tempestades, ainda mais de trovoadas. Quando se levantou e percebeu a paisagem cinzenta se formando no céu da janela, sabia que seria um longo dia.
Esticou suas asas antes de se levantar. Era um costume matutino que tinha, já que usava mais as asas do que a maioria das outras fadas.
Sua casa não era tão diferente das outras fadas. Localizada dentro do tronco de uma grande árvore, o teto da casa ficava a uns vinte metros do chão, revestido por musgos e folhas, assim como o chão. Nas paredes, os móveis ficavam instalados em pequenos mezaninos espalhados pela altura da casa.
Ela se preparou para sair e carregou consigo sua bolsa de materiais, rumo ao centro da vila. O caminho era composto de árvores altas com troncos enormes, repletos de portas redondas de onde saíam outras fadas. Algumas saíam apressadas e outras mais tranquilas.
Uma suindara voou em sua direção e assobiou, como se dissesse bom dia animadamente.
— Bom dia, Sol! Como estão as pernas?
A coruja olhou para trás e mexeu as garras, como se apertasse uma presa invisível.
— Isso é bom! — Faith sorria. — Fico feliz que tenha melhorado.
A coruja assobiou mais uma vez, respondendo-a.
— Ah é, depender só das asas é bem cansativo, mas uma hora a gente se acostuma.
A ave assobiou num tom diferente.
— Claro, faz tempo que não nos aventuramos juntos!
Sol rodopiou no ar de felicidade, arrancando uma risada da fada. Os dois voaram lado a lado até chegar na biblioteca da vila.
A biblioteca era marcada por uma porta alta na raiz da árvore, com uma grande folha anunciando logo acima dela. Nas folhas dos galhos acima, estavam escritas citações de livros, poesias e músicas. No decorrer do tronco, encontravam-se entradas menores e janelas por onde bibliotecários auxiliavam os recém-chegados.
Faith se dirigiu a uma delas, já retirando as ilustrações feitas da bolsa.
— Oi, Es — anunciou, e Sol empoleirou na beirada da janela.
A fada do outro lado ergueu o olhar do livro que lia e abriu um sorriso ao ver a loira ali.
— Faith! Como você está? Como foi a viagem para o sul? Ah, oi Solaris! — a menor disparava as perguntas e cumprimentou a ave com rapidez.
— Foi boa, só muito quente. E ah, estou bem e você? — ela entregou suas ilustrações enquanto conversavam, e a outra começou a analisá-las.
— Bem também. May aprendeu a escrever e... Fay... — ela mesma se interrompeu, maravilhada pelo trabalho da outra. — Essas estão incríveis. Tenho certeza que o sr. Fawn vai adorar, como sempre. Já te falei que você é a melhor ilustradora que já pisou por aqui, né?
Kanerva olhou para baixo, sem graça. Nunca sabia reagir a elogios, e Esther adorava dá-los.
— Manda um beijo pra May por mim, e um abraço pra Miya também.
— Ah, pode deixar! Você devia passar lá em casa qualquer dia, May fica perguntando de você e os desenhos de pássaros que faz pra ela.
— Eu irei sim — Faith sorria. A melhor parte para ela era entregar seus trabalhos e colocar a conversa em dia com Es. Por vezes, passava muito tempo viajando para ilustrar tudo e não lhe sobrava tempo para visitar a casa da amiga, mas adorava passar lá e passar tempo com elas e assar bolinhos de framboesa juntas.
Só então o olhar da loira caiu sobre Sol, que segurava no bico um dos panfletos dispostos na beirada da janela. Ela olhou com mais atenção.
Procura-se ilustrador:
A duquesa de Danflair procura por um ilustrador dedicado a ilustrar rotas alternativas, caminhos e fronteiras do ducado e seus arredores.
Caso possuam interesse, levem este panfleto para a praça principal, na qual um membro do ducado real estará no aguardo de possíveis candidatos para retirada de dúvidas e acordo.
Este é um trabalho exclusivo e o ilustrador terá de dedicar-se 100% ao serviço da família real.
— Ah, um senhor todo bem vestido veio entregar esses panfletos hoje quando abrimos. Eu iria te falar deles. Você é perfeita pra vaga — Es elogiou mais uma vez.
— Mas eu ficaria sem ilustrar pra vocês...
— Ah, não tem problema nisso. Você sempre se manteve dentro dos prazos com a gente e com tudo isso que entregou vamos demorar bastante até colocar tudo no próximo livro de biologia. — Ela analisou o rosto tenso da amiga. — É a sua chance. Imagina trabalhar para a família da duquesa! Deve ser um sonho na terra... Não custa tentar.
Sol se pronunciou, dando um assobio curto.
— Viu? Até ele concorda — Es reforçou e lhe deu o saquinho de moedas.
Faith deu um leve suspiro e pegou um dos panfletos e o saco, guardando em sua bolsa.
— É, não custa tentar.