A gateway to the Sun escrita por M san


Capítulo 6
As memórias de hortelã




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— Ela vai ficar bem, Sasuke-kun. Ela ficou sem chakra por causa da sequência de cirurgias que fez sem descanso. Foram cirurgias seguidas desde que ela voltou, aí a última agora acabou com restinho que ela tinha. E a Sakura sempre teve uma tendência a desmaiar mesmo, né? 

Shizune ainda atualizava o prontuário de Sakura enquanto tentava tranquilizá-lo, mas Sasuke não respondeu. Estava ao lado do leito dela desde que a pegara no colo e, guiado por Ito-san, levara-a até ali. Era um péssimo perdedor, mas ainda pior quando ganhava. Especialmente se estava certo quando queria estar errado. Dando um passo para trás, ele se apoiou contra a parede da janela, algo do vento frio da noite infiltrando por uma fresta do vidro aberto e o ajudando a esfriar a cabeça. Precisaria de uma nevasca, entretanto. 

— Ela vai trabalhar hoje? - perguntou à Shizune, enquanto a via recolher seus instrumentos. 

— Não, não deve. Só se alguém passar por cima de mim e a chamar diretamente... 

— Parece que isso acontece com frequência. 

— É, né? - a médica respondeu sorrindo conciliadora e disfarçando mal o constrangimento – Depois da guerra, a demanda de trabalho era muito alta, mas tínhamos pouca gente para cobrir. Então a Sakura assumiu muita coisa de uma vez. Isso melhorou desde então, mas todas as áreas passaram a contar com ela. Eles a acionam sempre que não estão confiantes. Ou se precisam de ajuda. A Sakura é realmente muito talentosa, sabe?  

Sasuke sabia, mas o que queria responder era que eles a acionavam sempre que não queriam trabalhar. Engoliu, entretanto e, cansado, voltou os olhos à companheira desacordada. Já estava corada, mas as bolsas sob os olhos eram mais evidentes sob a luz forte do quarto. Quando a carregou até ali, se assustou com o quão magra estava, mais leve do que ele se lembrava.  

O Uchiha só foi tirado de seus pensamentos brevemente quando ouviu de Shizune um “me chama qualquer coisa” instantes antes dela deixar o quarto. Ela era outra que parecia precisar de descanso, o rapaz concluiu sem se importar muito, acomodando-se no batente da janela. E ali ficou pelas horas que seguiram, observando os jardins do hospital em breu, pensando nas vezes que sua posição esteve invertida com a de Sakura. 

— Sasuke-kun? 

A kunochi ainda se acostumava com a luz atacando-lhe os olhos quando Sasuke a alcançou, impedindo-a de sentar-se. Ela aceitou de bom grado quando o rapaz a empurrou delicadamente de volta ao travesseiro e sorriu acomodada. O Uchiha não conseguiu sorrir de volta. 

— Como você está? 

— Hm, pronta pra outra! - Sakura brincou, mas, diante da expressão carrancuda de Sasuke, acrescentou -  tudo bem, relaxa, deve ter sido uma queda de chakra... 

— Você ficou quase sem chakra – ele interrompeu, sério. Algo em seu tom desmanchou o sorriso da garota também - E pelo que a enfermeira falou, isso é aparentemente comum. 

— Ito-san é exagerada... 

— Sakura, você sabe o que vai acontecer se seu chakra de fato zerar! O que você tá tentando fazer? 

— Hey, Sasuke-kun, péra lá, não tem risco de... 

— Por que você vive enfurnada nesse hospital? Parece que você caça problema pra resolver  - ele continuou, o que Naruto dissera ainda ecoando em seus ouvidos - Eles se viram quando você não está na vila, conseguem se virar se você disser não também. Não dá pra você continuar a... 

— Como você acha que as coisas funcionam aqui, hein?  

Sasuke parou. Sakura se sentou mais rápido do que ele pode reagir e o encarava tão duramente que o Uchiha titubeou. Se tentasse, ainda assim não se lembraria da última vez que vacilara daquela forma. Na médica, entretanto, não encontraria hesitação. 

— Você parece um gravador do Kakashi e do Naruto, então me deixe ser bem clara. Eu não caço problemas, eles existem e eu posso resolvê-los. Você acha mesmo que eu vou me negar a socorrer alguém se me chamarem? Me diz, se não salvarem o paciente que eu não atendi porque não quis, como você acha que eu vou me sentir? EU tenho responsabilidade com eles, Sasuke! Se eu não estiver na vila, se não tiver como ajudar, é uma coisa, mas estando aqui eu sempre vou socorrer... 

— E é por isso que você vive nesse hospital! Porque vão jogar em cima de você já que você pode resolver. Porque quando algo acontecer, é sua responsabilidade, não deles! E você aceita muito bem essa posição, parece que escolhe, escolhe ficar sobrecarregada até desmaiar e adoecer! - o rapaz disparou, perdendo a paciência, ciente de que deixara seu tom ir além do que deveria. Respirou antes de continuar – Sakura, presta atenção, existem outros médicos que também têm obrigação... 

— Sim, mas eu não sou responsável pelas atitudes deles, sou pelas minhas! Eu respondo por mim e para a minha consciência! Eu vou atender sempre que me chamarem, tenho uma obrigação com cada paciente que... 

— Mesmo que você adoeça no processo?  - Sasuke contrapôs, o estômago queimando - Você vai adoecer pelos outros? Vai arriscar sua saúde e se sacrificar... 

— É isso que ninjas fazem! Você não está há dois anos procurando pistas da Kaguya pelo futuro brilhante que o Naruto quer? Você não tá se sacrificando por isso? 

— É diferente, a Kaguya... 

— Você não sacrificou a gente por isso? 

A garganta de Sasuke fechou e o quer que ele tinha a dizer não saiu. Tentou outra vez, mas meramente abriu e fechou a boca, som nenhum emitindo. Era como se seus argumentos tivessem se afogado nos olhos marejados de Sakura. Contudo, a verdade era que, mesmo a justificativa da médica fazendo sentido, ele não a comprara totalmente. É que o argumento de Naruto também tinha sua força. 

— Sakura, - ele começou, depois de inspirar o que pode para desbloquear a garganta – é isso mesmo? Você praticamente mora nesse hospital e se deixa ser explorada desse tanto só porque acha que é responsável por cada paciente que pisa nesse lugar? 

Quando a kunoichi piscou, mal Sasuke terminara, grossas lágrimas escorreram dos cantos dos seus olhos de esmeralda e o Uchiha sentiu o coração partir. Pela milésima vez, fizera Sakura chorar. Queria apenas ter visto o rosto dela se iluminar sob os fogos coloridos. Mas, outra vez, a via chorando. Contudo, se a culpa era sua, precisava receber a acusação.   

— Sakura-chan? - Shizune chamou à porta, timidamente. Em um hospital no meio da noite, suas vozes certamente ecoaram mais alto do que deveriam – Eu preciso terminar alguns exames em você e... 

— Tudo bem, Shizune-san – Sakura respondeu, secando o rosto no lençol - Sasuke-kun já está de saída.  

Sasuke mordeu o lábio inferior, contrariado. Queria sua resposta. Precisava dela para se sentenciar. Mas, virando-se, foi embora. Passou por Shizune, que pareceu murmurar algo que ele ignorou, e partiu sem a olhar outra vez. 

 

Sentado no telhado do prédio de Kakashi, Sasuke encarava os primeiros raios de Sol romperem fracamente a madrugada sem, de fato, prestar atenção. Via apenas os olhos encharcados de Sakura. Ela não diminuiria os plantões, estaria se matando no hospital sempre que alguém espirrasse, e ele se odiava pela sua parcela de culpa em como a garota provavelmente se sentia agora. 

Ainda assim, o que ele deveria ter feito? Ignorado? Vira-a desmaiar, a segurou a meio caminho do chão. Trabalhara até esgotar o chakra e seu corpo reclamou, perdeu para a exaustão. Repetidos esgotamentos teriam consequências mais graves. Seu sistema de chakra sofreria, Orochimaru já lhe explicara no passado, quando ele mesmo treinava por dias até apagar. É como dobrar e desdobrar um clipe de metal, eventualmente enfraquece e rompe. Não podia permitir que ela quebrasse, mas ela podia acusá-lo de tantas coisas que seus argumentos sempre sucumbiriam sob o peso de ser a causa inicial do problema. 

Como o fato de que a sacrificara quando foi embora. Ela disse nós dois, mas o rapaz pensava que merecia as consequências dos próprios atos. Ela não. Sakura não tinha que pagar pelos pecados dele, por isso não a levara. Não entendeu, contudo, que ao fazê-lo, deixou-a pagando por eles sozinha em Konoha. Mas, se ele tivesse ficado, a garota estaria menos sobrecarregada? Querendo se socar, Sasuke apenas escondeu o rosto nos joelhos dobrados e coçou a cabeça como se polir os pensamentos fosse ajudá-lo a responder as próprias perguntas. 

— Eu recebi um chamado engraçado, sabe? Dois dos meus alunos brigando no hospital. E nenhum deles gritou “Sasukeeee” ou “Narutoooo”.  

O Uchiha levantou o rosto para ver seu sensei se aproximar, o colete verde já de volta no lugar do yukata da noite anterior. Virou a cara esperando que isso desencorajasse Kakashi, mas sabia quer era batalha perdida.  

— Não  com paciência pra piada, Kakashi. 

—  Ah, então existe um momento em que você está com paciência para piadas? - o homem quis saber, sentando-se ao lado do jovem – E aí? Vai me dizer o que aconteceu? 

— Não. 

Kakashi riu. 

— Não precisa, também, eu já falei com a Sakura. Aparentemente eu não sirvo para interferir nas escalas de plantão, mas sirvo para dar conta dos B.O.s... 

— Como ela tá? 

— Como você acha que ela tá depois de brigar com o Sasuke-kun?  - Kakashi respondeu, fazendo o rapaz suspirar derrotado - Nhá, não se preocupe, vocês vão superar. Ela te perdoou por coisas piores. 

Sasuke sabia que era pra ser zoeira, mas sentiu como se tivesse sido acertado na cabeça. Mais uma vez, escondeu o rosto nos joelhos dobrados e fechou os olhos, pensando no próprio talento para fazer merda. Sentiu a mão de Kakashi bagunçar seus cabelos e seu humor terminou a queda livre. 

— Foi mal... Mas, Sasuke, isso não combina com você.  

— Fazer a Sakura sofrer? Acho que combina bem comigo... - lamentou, afastando a mão do sensei e erguendo o rosto – Eu tenho me aprimorado há anos. 

— Sarcasmo autodepreciativo também não - o sensei rebateu – Mas combina bem com sua idade, e é um alento ver que você ainda pode agir como uma pessoa normal. E aí? O que você vai fazer, além de lamentar no telhado do meu prédio? 

Aquele era justamente o problema: Sasuke não tinha ideia do que fazer. Ele queria agir logo, resolver tudo, mas sequer conseguia organizar o que precisava resolver. Envolvia Sakura e ele, o que quer que fosse. Mas era esse o limite do que conseguira estruturar. 

— Qual é, Sasuke, você tem que fazer alguma coisa

— Isso não é da sua conta... 

— Claro que é, eu quero ver vocês brincarem de romance! 

— Talvez eu devesse contar pro Naruto da sua namorada e ver ele esparrar pra vila inteira. Aí você teria com o que se preocupar e pararia de tirar onda com a minha cara. 

Kakashi riu, a genuinidade da gargalhada o fazendo projetar o corpo para trás, a guarda mais aberta do que Sasuke se lembrava de ter visto no ninja. O Uchiha sabia que deveria se irritar ainda mais com o sensei, mas, por algum motivo, a risada o atingiu diferente. O Hatake não brincava com coisa séria. Estaria levando a sério demais tudo aquilo? 

— As pessoas acham que você é frio e racional, mas você é apelão e cabeça quente, né? - o Hokage brincou – Uma piadinha e você me ameaça com a segurança da vila? 

— O Hokage ter uma namorada coloca a vila em perigo?  

— Sempre! 

— Tsc... 

— Sasuke – Kakashi voltou a chamá-lo após um breve silêncio - vai embora com a Sakura. 

O rapaz piscou. Não era o conselho que esperava. 

— Foi pra isso que voltou, não foi? Buscar ela? Então, cara, só vai. É óbvio que eu prefiro vocês dois na vila, mas vocês não vão se ajeitar aqui. Vocês precisam... de espaço. De tempo. A Sakura não vai relaxar aqui, ninguém vai deixar ela em paz. E você não vai baixar a guarda enquanto tiver mais gente por perto. Você precisa abaixar a guarda. Ela me entregou a notificação de afastamento das atividades ninjas, não tem nada que segure qualquer um de vocês aqui. 

— Ela te avisou? 

— Claro! Sakura é um membro importante do corpo médico e a jounin mais forte que eu tenho à disposição. É lógico que ela precisa me avisar se vai se ausentar. Não é como uns e outros que fingem não serem shinobis pra não terem que entregar relatório, sabe? Olha, o Naruto, eu, o hospital... tudo vai ficar entre vocês. E tudo vai estar aqui pra quando vocês quiserem voltar. Só vai! 

O coração de Sasuke acelerou.  

— Não é você que vive me mandando não fugir? 

— Isso não é fugir. Isso é resolver seus problemas. E quando vocês voltarem, eu espero que seja de vez – o sensei ansiou - Até lá, viaja o mundo com a garota que te amou mesmo quando isso significou proteger um inimigo. E sugiro que vá antes de terça que vem. O Gaara vem nos visitar e ele a trata especialmente bem, sabe?  

— O Gaara? 

— O cara é Kazekage... é um rival mais digno do que uma dúzia de médicos folgados, né? Ou alguns shinobis emocionados. Ou ANBUs encantados... – o Hokage brincou, se levantando – E nós dois sabemos que sempre foi ela, né? Talvez ela devesse saber também. 

Sasuke percebeu o Hokage se espreguiçar, enquanto ainda absorvia o que ouvira. Desviando o olhar para o horizonte, os raios de Sol, agora um pouco mais fortes, iluminavam a vila como ele nunca reparara. A vista era espetacular. 

— Deixa eu ir que eu ainda tenho que dar alguma satisfação pro Daimyo. Dizer que te coloquei de castigo, sentado no telhado, repensando suas atitudes. 

— Hey, Kakashi... - Sasuke chamou, um instante antes do homem partir – Obrigado... pelo yukata. 

Os olhos de Kakashi se apertaram por trás da franja e o Hokage desapareceu em uma cortina de fumaça. Fitando onde o homem estava no segundo anterior, Sasuke estalou os lábios, fingindo impaciência. O sensei tinha a insuportável mania de estar certo. E, assim, foi sua vez de sorrir. Sempre foi ela

 

Sasuke parou à frente da porta do quarto de Sakura. Hesitou. E se ela estivesse dormindo? Deus sabia o quanto ela precisava! Pensou em voltar mais tarde, mas sua ansiedade em resolver tudo o impediu de se mover. Tivera a mínima decência de esperar amanhecer propriamente, mas quando o céu se encheu de azul, não se segurou e praticamente voou ao hospital. Avaliava, agora, a própria precipitação. 

Era um homem cujas convicções sempre foram mais fortes que o desejo pessoal e, por isso, eventualmente, desistiu. A procuraria mais tarde e lidaria com a ansiedade até lá. Ainda vestia o yukata do festival. Pecisava banhar e talvez, depois, pudesse treinar um pouco. Mas a sorte de Sasuke jogava roleta e quando ele já caminhava pelo corredor, se virou ao ouvir a porta abrir. 

— Sakura? 

— Ah, Sasuke-kun... 

A jovem mordeu o lábio inferior e desviou o olhar. Sasuke engoliu em seco e inspirou fundo. Ambos caminharam em direção um ao outro, entretanto. 

— Eu queria... 

— Desculpa – o ninja a interrompeu, sobressaltando-a. Ela o olhou, as olheiras mais marcadas que no dia anterior, e Sasuke percebeu que precisa completar – Por tudo. 

Por um segundo, o rapaz achou que ela desataria a chorar. Mas a jovem sorriu e Sasuke sentiu o alívio regulando sua respiração. 

— Não se preocupa... Nós estamos bem. - Sakura respondeu e, estendendo a mão para arrumar sua gola, acrescentou – Desculpa não ter visto os fogos com você... Você ainda tá com yukata. 

Os dedos da Haruno tocaram seu pescoço e todo trabalho de regulação que o alívio fizera em sua respiração foi por água abaixo.  

— Você não vai fugir de fazer um check-up, viu? - ela avisou, o tom mandão que ele se lembrava dela usar contra Naruto – E eu ainda tenho os estudos para sua prótese, se você... 

— Sakura, vamos embora? 

— Hm! - a médica concordou sorrindo – Eu já estava saindo mesmo, va... 

— Não, não isso. 

O rapaz não precisou explicar mais. Um raio de compreensão atravessou os olhos da jovem, que o encarou meio estupefata. Ela já tinha lhe dito que ia se juntar a ele em sua jornada, mas nos segundos que levou para Sakura responder, o Uchiha precisou conscientemente dissimular a ansiedade para manter a geralmente natural pose imperturbável.  

— Agora?  

Agora era uma boa hora, Sasuke cogitou, não fosse o fato de que Sakura precisava descansar. Sorrindo, ele acenou negando. 

— Em dois dias. 

— Dois dias parece bom – ela concordou, retribuindo o sorriso – Mas você não vai fugir do check-up! 

Sasuke revirou os olhos.  

 

— Como assim dois dias? Você chegou ontem! Puta merda... 

A revolta de Naruto o fez esquecer do lámen por um momento. Com os hashis a meio caminho do chawan, o rapaz encarava Sasuke como se o amigo lhe tivesse dito que uma horda de árvores boxeadoras marchava em direção à Konoha jurando colorir tudo com purpurina ou morrer tentando. O Uchiha, por sua vez, tomava o caldo de seu próprio almoço inabalável. 

— Todo dia você decide que vai embora mais cedo! É tão ruim assim ficar aqui, caralho? 

Sasuke deu de ombros. 

— Mano, presta atenção - Naruto começou, sério, deixando os hashis de lado e se voltando inteiramente ao companheiro – Eu sei que você gosta da Sakura. NEM TENTA NEGAR, TODO MUNDO SABE! E, por algum motivo que só Deus pode explicar, ela gosta de você. Só que não é justo fazer ela esperar, tá entendendo? Não é como se você fosse a melhor opção que existe, sejamos honestos. Você é mal-educado, ranzinza, cabeça dura, antissocial, arrogante e grosso.   

— Obrigado? 

— A Sakura-chan consegue alguém melhor. Ela é a kunoichi mais forte do mundo, médicos de todos os países vêm aqui pra aprender com ela, e ainda é gata para um caramba! Se você for embora, eu vou pessoalmente fazer campanha pra ela encontrar outra pessoa,  me ouvindo? 

— Ela vem comigo... 

— Não me importa se ela vai com você, eu vou atrás do Gaara, do cara loiro lá de Kumogakure, dos outros caras que já ficaram babando por ela e vou fazer o meio de campo e... péra aí. Ela vai com você? 

Sasuke fitou o amigo de canto de olho e desistiu. Com um aceno, pediu outro lámen ao tio e tratou de finalizar o que ainda sobrava de seu primeiro, avaliando que a comida merecia mais sua atenção. 

— EHHHHHH??? HAHAHAHA! Finalmente você agiu, puta que pariu! 

A risada de Naruto preencheu o lugar e pareceu reacender o apetite do rapaz, que matou o que ainda sobrara na tigela em uma bocada e, imitando Sasuke, pediu outro. O Uchiha reparou que o do amigo parecia mais recheado que o seu, mas o Uzumaki voltou a tagarelar antes que Sasuke pudesse reclamar: 

— Você ainda podia esperar mais um pouco pra ir, véi... Uma semaninha só, a gente podia fazer mais uma missão pra lembrar os tempos de Time Sete! 

— Passo – Sasuke cortou, seco, lembrando as olheiras de Sakura mais cedo. 

— Tá, tá... aff. Já avisou Kakashi-sensei? 

— Eu não preciso dar satisfação pra ele – respondeu, omitindo de quem tinha sido a ideia de apressar a partida. 

— Como eu disse: ranzinza, arrogante e grosso. 

O restante do almoço seguiu tranquilo, com Naruto ocupando o silêncio reclamando do quanto estava estudando e de como se arrependia de não ter estudado mais quando criança. Sasuke provocou que o Uzumaki precisava se dedicar o dobro para compensar a burrice, o que arrancou protestos do rapaz e gargalhadas do tio. Quando o céu começou a fechar, os dois pagaram a conta e colocaram-se a caminho de casa, o Uchiha avaliando se valia ou não a pena treinar na chuva. Naruto o dissuadiu: 

— A gente treina amanhã, logo cedo. Se você pegar chuva a toa, a Sakura-chan vai pirar! 

— Ah é... ela quer que eu faça um check up... 

— Você também? Uma vez por ano ela me obriga a fazer oitocentos exames, e faz a mesma coisa com Kakashi-sensei. E já vou logo avisando que, independentemente do resultado, ela vai te dar um esporro – Naruto desabafou, emburrado – Bem, talvez não em você, Sasuke-kun! 

— Idiota. 

— Ah, vamos parar ali, eu preciso comprar flores pra Hinata...  

— Hm? 

— Ela tem andado meio pra baixo, sem energia... 

— Deve ter se arrependido, percebido a besteira que fez. 

— Ha-ha, que engraçado - ofendeu-se Naruto, empurrando Sasuke, que precisou de algum equilíbrio para não cair sobre os vasos expostos na entrada da floricultura – Idiota! Hey, Ino!! 

A mulher de costas no balcão se virou para receber os clientes e uma lembrança soterrada emergiu em Sasuke. Ah, é. A família dela tem uma floricultura. Quando eram crianças, Ino era uma das meninas que corriam atrás dele e o tietavam sobre qualquer coisa que fizesse. Sakura também fazia parte do grupo. Ele se lembrava de achar todas insuportáveis, mesmo que reconhecesse que a Haruno, pelo menos, era inteligente. Talvez essa mínima aceitação tenha facilitado o caminho dela até o coração do Uchiha. Já Ino, dela só guardava a impressão de quando mais jovens e, por isso, se arrependeu de entrar na loja no segundo seguinte. 

— Naruto! - a jovem exclamou, o sorriso sendo substituído pela expressão de puro susto quando seus olhos pousaram no Uchiha – Hein? SASUKE-KUN?? 

— Ah, é, ele tá na vila – riu o Uzumaki, coçando a cabeça. 

— Uau, você continua um gato, como sempre! - a mulher exclamou, se aproximando dos dois e constrangendo-o mais do que ele admitiria – Mas agora tudo faz sentido, é por isso que a Sakura sumiu de vez! Pensei que ela tinha finalmente se fundido às paredes do hospital. Vocês vieram comprar flores pras meninas? 

— Eu vim, mas o Sasuke não precisa porque ele plantou um jardim de cerejeiras pra Sakura-chan – Naruto pareceu orgulhoso da própria pirraça, e ainda mais quando Sasuke o encarou como se tentasse desintegrá-lo com a força do ódio. O Uchiha, contudo, não se deu ao trabalho de responder. Emburrou e virou a cara. 

— Você plantou um jardim pra Sakura? - Ino perguntou, parecendo francamente impressionada. 

— Eu só plantei algumas árvores... - murmurou, fingindo interesse em algumas trepadeiras penduradas para se distanciar dos dois. 

— Calharam delas serem cerejeiras, não sabe? - Naruto ironizou, fazendo Ino rir - Só tinham cerejeiras quando ele foi comprar, aí foi o que tinha, né? 

— Ah, entendi, só uma coincidência, né? Tipo o Sasuke-kun estar por perto e tacar fogo no grupo que sequestrou a Sakura... É raro, mas acontece sempre – foi a vez da garota fazer Naruto rir – E você, Naruto? Algo pra Hina-chan? Eu sei que vocês vivem competindo, mas vai ser difícil superar um jardim de cerejeiras... 

— Nem vou tentar! Lembra de uma orquídea azul... 

Naruto saiu satisfeito da loja, com seu embrulho extravagante – o maior que tiver, Ino! – e um Sasuke em pleno mau humor ao seu lado. Alguns pingos isolados já se chocavam contra o cocuruto dos dois e eles apressaram o passo. 

— Você vai jantar lá em casa hoje, né? Hina-chan disse que vai caprichar! 

— Você tá fazendo sua esposa adoentada trabalhar? Por isso ela se arrependeu já... 

— Cala a boca, baka! Ela ficou animada quando eu pedi... Se você não aparecer, eu quebro sua cara! 

— Quero ver tentar – Sasuke rebateu, mas ele não tinha intenção de faltar. Já dera sua palavra - Às sete, né? 

— Hum! Eu chamei o Kakashi-sensei também, então a gente deve comer lá pras onze... 

Sasuke riu.  

Eles se despediram em frente ao prédio de Kakashi e Sasuke correu pra casa. Mal tirara os sapatos e a garoa apertou, fazendo-o rir pensando em Naruto protegendo a orquídea. Enquanto a chuva se transformava em tempestade, o rapaz agradeceu o teto sobre a cabeça e a caneca de chá quente. Aguaceiros geralmente significavam botas encharcadas, lama cobrindo os tornozelos, bunda molhada em qualquer lugar que tentasse se abrigar. Mas com o corpo quentinho, a barriga cheia, as almofadas macias, o Uchiha nem tentou resistir. Deitado no sofá, adormeceu sob o aconchego que lhe era privilégio. 

Não fosse o relógio dedurando o tempo, Sasuke imaginaria ter dormido dias. Quando as batidas na porta o acordaram, seu corpo levantou tão pesado que parecia não se mexer há muito mais do que as três horas indicadas. Apertando os olhos, franzindo as sobrancelhas, levantou-se seguindo o toc-toc abafado pelo temporal lá fora. Não seria capaz de explicar como dormira com o vento tentando arrancar a janela da parede. 

— Oi, Sasuke-kun! 

— Sakura? Você veio nadando? 

Ele se afastou permitindo que a garota entrasse, o queixo batendo enquanto ela se abaixava para acomodar a bolsa encharcada no chão. Após providenciar a toalha, Sasuke a ajudou a se desfazer da capa e das botas, mas não tinha o que fazer com a roupa. Ela pingava como uma mangueira mal fechada. 

— Você tem que tomar banho, por que veio aqui no meio da chuva? 

— Eu tinha um guarda-chuva, mas ele não resistiu – Sakura se defendeu, enquanto Sasuke enchia as botas dela de pano para absorver a água - Talvez seja melhor eu voltar pra casa... 

— A chuva  piorando, fica aqui. Só toma banho, você  tremendo. 

Foi feito um esforço consciente para que seus olhos nãos se cruzassem. Absorver que ela tomaria banho no apartamento “dele” deixou ambos mais envergonhados do que gostariam de admitir. Eles costumavam viajar juntos, dormir no mesmo lugar, as vezes um apoiado no outro. Mas eram muito mais novos e Naruto sempre estava por perto. Não havia a tensão estranha que Sasuke estava sentindo.  

— Você se importa de usar uma roupa minha? - ele perguntou, finalmente a olhando e vendo que as bochechas da garota estavam tão coradas quanto provavelmente suas próprias orelhas – O banheiro fica no quarto, eu deixo as roupas na cama. 

Sakura acenou e seguiu até o banheiro, enquanto Sasuke abriu o guarda-roupa, se amaldiçoando pela preguiça que o fizera depender das roupas de Kakashi ao invés de comprar novas. Da pequena pilha que lhe pertencia, conseguiu salvar uma camiseta escura puída e uma calça de pijama que não lhe servia mais desde o estirão mais recente. Cheirando as peças, avaliou que, estando limpas, seriam aquelas mesmas. Deixou-as sobre a cama e fechou a porta do quarto, seu coração acelerando sob o estímulo causado pelo barulho do chuveiro abrindo. 

A garota demorou menos do que Sasuke previra e, quando ela apareceu, mordendo o lábio envergonhada, o rapaz ainda servia o chá. A camiseta descia até pouco acima dos joelhos e o jovem percebeu que Sakura dobrara várias vezes as barras das calças para não as arrastar no chão. 

— Você tá com frio? 

— Não, mas as calças ficam caindo... - ela reclamou, puxando-as para cima. 

— Tira, então - ele disse simples, um segundo antes de perceber o que poderia implicar – Ah, quero dizer, a camiseta é tão comprida quanto um vestido... Eu fiz chá! 

Sakura corou um pouco mais e voltou para o quarto sem dizer nada. O Uchiha fechou os olhos, se culpando por ter falado sem pensar, mas a garota voltou um minuto depois sem as calças e com a cordinha, antes no cós, amarrada na cintura, servindo de cinto.  

— Pronto, agora é um vestido! - ela riu, recebendo a caneca que Sasuke lhe entregava. 

—  Por que você veio aqui? - o rapaz perguntou, quando ambos se acomodavam no sofá. 

— Ah, te examinar. Eu sei que você não vai passar no hospital, então eu trouxe tudo aqui.  

— Eu estou perfeitamente saudável, Sakura... 

— Uhum, eu sei. Mas vou dormir melhor quando isso estiver escrito em um papel. 

— Eu escrevo pra você, então. 

— Eu vou me sentir melhor quando eu tiver escrito isso em um papel – ela se corrigiu, tomando o chá de gole – Ahhhhh... eu precisava disso! 

— Quer mais? Tem na chalei... 

— Pode deixar, eu pego. 

Ela deu um salto ao vê-lo começar a se levantar e, animada, buscou a chaleira no fogão. Foi, então, que Sasuke notou. Nas costas dela, desbotado pelo tempo, o símbolo do seu clã. Os cabelos cor de rosa cobriam parte do desenho e ver o leque escondido por eles foi o que deu a compreensão do que estavam prestes a fazer. Se ela fosse com ele... se ele a levasse consigo. Lembrou-se das cerejeiras que plantara onde seus ancestrais construíram um templo. E, então, lembrou-se do que Naruto lhe falara na frente desse templo. 

— Ahh, chá de hortelã é tão bom... - Sakura suspirou o elogio, tomando outro gole – Tão quentinho... 

— Era o único que Kakashi tinha – comentou, bebendo-o ele mesmo - Era o favorito da minha mãe. 

Comentou casualmente, sabendo perfeitamente que não havia nada de casual quando o assunto eram seus pais. Sentiu o olhar de Sakura sobre ele e não fugiu. A fitou de volta vendo nas pupilas da garota um misto de carinho e preocupação. Não se lembrava de ter falado sobre a mãe com alguém, e ocupou a dúvida sobre se continuava ou não com outro gole. O silêncio, coube à companheira preencher: 

— Você pensa muito nela? 

Sasuke não respondeu imediatamente. Não era a pergunta que esperava. Sequer sabia se esperava alguma pergunta. Pensava muito na mãe? Achava que não, se forçava a não pensar. Parte da tristeza do trauma foi transformar a sacralidade da mãe em gatilho. Mas, naquele momento, recordar sua okāsan não lhe doeu. Seria essa a extensão da cura? 

— Não... Não mais. 

— Hm... 

Sakura não parecia querer lhe forçar o assunto e desviou a atenção ao chá. Ergueu a xícara à altura do nariz e, sorrindo, aconchegou-se no cheiro refrescante da hortelã. Mas Sasuke, enquanto a observava meio aéreo, viu-se na rara posição de querer falar mais. 

— Tinha uns biscoitos que ela fazia. Eu não gosto de doce, mas gostava deles. O chá derretia e eles grudavam no céu da boca. 

— Eu consigo imaginar um Sasuke-kun pequetito grudando biscoito na boca de propósito - a garota brincou, pousando a xícara vazia na mesa de centro. 

— Eu não acho que fazia de propósito, só acontecia... - se defendeu, encarando o fundo da própria caneca – Eu tomava bronca se brincasse com a comida. 

— Hm... faz sentido. Eu me lembro muito de você criança. Você sempre foi tão sério... 

Sakura fechou a cara, imitando a expressão azeda de Sasuke e, na opinião do Uchiha, falhando miseravelmente. Quando ela inflou as bochechas no que deveria ser um pseudo-mini-Sasuke, a versão adulta real não conseguiu ignorar: 

— Eu não tenho cara de quem tá constipado. 

— Eu não estou fazendo cara de constipação! Vocês são todos infantis e inferiores à minha existência semi-divina... 

— É assim que você acha que eu me vejo? - Sasuke fingiu indignar-se, levando-se para levar às xícaras vazias à pia. 

— É irritante ter que conviver com esses perdedores... — Sakura continuou, engrossando a voz e seguindo-o até a cozinha tão de perto que ele sentia a respiração da garota. 

— Você deve me achar muito metido – ele rebateu, virando-se para encará-la, as xícaras já abandonadas no fundo da pia. Ela estava ainda mais perto. Achou que Sakura continuaria provocando-o, mas a jovem negou, sorrindo. 

— Hm-hm. Você era mais metido quando criança. Na verdade, agora acho que você poderia ser muito mais. Você parece não ter noção do quão incrível você é... 

— Ninguém nunca me acusou de modéstia. 

— Isso é mais por causa da áurea que você passa do que pela realidade. Tipo, quem te conhece de verdade, Sasuke-kun? 

Sasuke piscou. Naruto seria sua primeira resposta, mas o amigo conhecia apenas um lado seu. Kakashi entendia melhor um outro lado. Mas a resposta que ele queria dar era outra, e essa ainda não saia de sua garganta. 

— Se você quer me examinar, é melhor se apressar. O jantar do Naruto é daqui a pouco. 

— Eita, é mesmo! 

Sakura correu para buscar seus equipamentos e, no minuto seguinte, Sasuke se viu sentado obedecendo aos comandos mais aleatórios. Respira mais fundo, abre mais a boca, aperta mais a mão. Você sentiu essa picada? E essa? Você tem tido dor de cabeça, dor em algum lugar do corpo, algum incômodo? Eram tantas perguntas que a escassa paciência começou a ser testada. 

 - Sakura, já disse que não sinto dor nenhuma... 

 - Não adianta zangar, vou perguntar mesmo assim - a médica pontuou, sem margens à contra-argumentação - Seu coração sempre bate rápido assim? 

 Não, não bate, ele pensou, levantando os olhos para vê-la franzir as sobrancelhas e dobrar a concentração no que ouvia pelo estetoscópio. Absteve-se de responder, entretanto, pois isso incluiria explicar que a aceleração era culpa dela. Sentiu o aparelho ser deslizado por cima de sua blusa, enquanto Sakura auscultava em regiões diferentes. Seus olhos estavam estreitos, os cabelos rosa presos atrás da orelha e o rapaz percebeu que poderia inverter a brincadeira e zoar dela por ser "tão séria".   

— Parece estar tudo certinho, apesar do seu coração estar um pouco acelerado. Pode ser nervosismo durante a consulta, é comum. Pacientes ficam ansiosos enquanto estão sendo examinados - a jovem concluiu, pendurando o estetoscópio ao redor do pescoço e puxando uma cadeira para se sentar de frente a ele - Vamos ver seus olhos agora, tudo bem? 

 - Hm... 

 - Olha pra luzinha, por favor. 

 Sasuke tentou, mas a lâmpada intensa o fez apertar os olhos instintivamente. Ele piscou forte, mas antes que pudesse coçar os olhos, Sakura segurou sua mão: 

 - Você machuca sua córnea quando faz isso – ela ralhou - Vem, eu vou precisar segurar sua pálpebra aberta, tá? Preciso realmente que você olhe pra luz, desculpe... 

 Ela empurrou a própria cadeira para mais perto de Sasuke e, delicadamente, segurou suas pálpebras abertas. E, então, veio a lanterninha. Dessa vez, o rapaz segurou o impulso de se afastar e forçou-se a manter o olho aberto. Sua respiração encurtou um pouco. 

 - Eu estive estudando tudo que encontrei sobre a fisiologia do Sharingan - Sakura comentou, o hálito de hortelã esquentando a bochecha de Sasuke - Aparentemente, sensibilidade à luz é comum. Você não percebe porque, mesmo com os olhos apertados para se proteger, ainda consegue enxergar tudo o que quer, já que o doujutsu compensa. Quando se desperta o Sharingan muito cedo, isso pode intensificar essa sensibilidade, ou provocar outros problemas de visão... 

 Sasuke tentou, mas não conseguiu prestar atenção ao que médica falava. Sua energia se dividia entre não fechar os olhos e não transparecer o quão afetado estava pela proximidade da garota. Percebeu, assustado, o quanto queria vencer o restinho de espaço que os separavam e colá-la nele. Mordendo o lábio, focava em manter uma respiração normal, enquanto uma sensação engraçada no peito gelava a boca do estômago e tacava fogo no restante do corpo.  

 Piscou forte quando a médica finalizou seu olho direito e passou para o Rinnegan. Outra vez, tinha leve consciência da voz suave de Sakura explicando o que estava fazendo, mas não absorveu coisa alguma. Quando a jovem terminou, o que de sua atenção se dedicava a não piscar, migrou ao toque dos dedos dela afastando uma mecha de sua franja do rosto. Estavam, realmente, muito próximos, as pontas dos narizes quase se tocando. Sasuke conseguia contar os risquinhos amarelos que decoravam as íris esmeraldas da Haruno. Se ela sinalizasse qualquer abertura... qualquer mínima abertura... 

 - Vou colocar a mão por baixo da sua blusa, tudo bem? 

— Ahn? 

— Seu fígado estava rompido depois da guerra, lembra? - Sakura explicou, recuando um pouco, enquanto o empurrava levemente, indicando que ele deveria se apoiar no encosto do sofá - Preciso ver se cicatrizou direitinho... 

— Ah... - o rapaz entendeu, largando o corpo contra o sofá e erguendo a blusa onde Sakura examinaria – Quer que eu tire? 

— Não precisa, eu consigo examinar assim. 

A médica concentrou chakra na mão e pousou-a sobre o tronco do rapaz. A região esquentou de imediato e Sasuke se lembrou de quando Sakura tratou a lesão anos antes. Dessa vez, contudo, foi bem mais rápido. Mal começara, a médica se afastou, finalizando o procedimento. 

— É como se nunca tivesse se ferido – ela sorriu, a tranquilidade que não demonstrada durante todo o check-up estampada no rosto - Você está super bem.  

— Eu te falei... 

Sakura mostrou a língua e guardou seus instrumentos. Explicou que coletaria sangue dele no dia seguinte, no hospital, porque não confiaria a outro amostras de DNA dele ou de Naruto. O Uchiha quis dizer que não precisava, mas estava ocupado, tentando não olhar demais para ela. Onde a garota tocara continuava estranhamente sensível e, se esforçando para organizar os pensamentos, Sasuke mordeu a bochecha querendo desviar a atenção do cérebro para algo do corpo sobre o qual tinha algum controle. Falhou. 

— Já tá quase na hora do jantar do Naruto, então eu vou indo. Tenho que passar em casa pra trocar de roupa... 

— Quê? Você endoidou? Tá caindo o mundo lá fora, você não vai pegar essa chuva. 

— É só água, Sasu... Hey, Sasuke-kun! 

Sasuke a deixou falando sozinha e entrou no quarto. Vestiu o único casaco que tinha e resgatou uma capa curta do guarda-roupa. Era outra que pretendia se livrar, mas que teria utilidade naquela noite. Saindo, encontrou Sakura calçando os sapatos ainda encharcados e fitando-o confusa? 

— Vou te levar no Susanoo, não tem a menor chance de você sair nessa chuva. 

O queixo da garota caiu. 

— Você vai invocar o Susanoo pra isso? 

Ele deu de ombros. Desdobrando a capa que trouxera, jogou-a sobre os ombros da Haruno e vestiu a antes pendurada em si mesmo. Ignorando os protestos de Sakura, abriu a porta esperou a saída da garota. Os dois seguiram corredor a fora com a jovem segurando a barra da capa como uma saia de vestido. 

— Você não era tão baixinha assim... 

— Minha altura é normal, você que cresceu demais! 

Sasuke riu. E riu mais quando, um minuto depois, após invocar um ente de setenta metros como guarda-chuva, Sakura o cumprimentou pela discrição. A resposta que queria dar, entretanto, ele não verbalizou. Guardou para si o que constatou quando a viu ao seu lado, cortando o dilúvio de Konoha. Conjurar o Susanoo não era sequer considerável perto do que ele faria por ela.  

 


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Notas finais do capítulo

Hallo, pessoal!!!

Muito muito obrigada pelos comentários e mil perdões pela demora em postar! Mas eu sou muito lenta, gente... sério, quase dando ré.

Por favor, continuem comentando e me dizendo o que estão achando! Os comentários são tipo gasolina, sabe? Quando vai me dando preguiça, eu leio os comentários e puf!, volto com tudo!


Muito obrigadaaaa e não deixem de comentar!

Kissu!!!



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