Novamente, havia conduzido o carro até o apartamento da Hyuuga. Apartamento que um dia foi nosso. A reunião presidida por ele durou mais de uma hora, ocasião em que foi debatido com as demais equipes quais matérias seriam publicadas. O Uchiha adquiriu o costume de ser extremamente criterioso com as matérias a serem publicadas, pois conhecendo os seus públicos-alvo, poderia “prever” o que os agradaria. Já havia avisado a Sakura desta reunião e que muito provavelmente não chegaria a tempo para o jantar. A Haruno assentiu e chegou a cogitar a possibilidade de jantar com o pai naquela noite, tendo assim o seu plano B. Enquanto dirigia o carro pelas ruas, com a janela do seu lado aberta, o cotovelo de um dos braços apoiados na porta e a outra mão no volante, não estava em seus planos ir até o apartamento de Hinata. Ele apenas dirigia “sem rumo” pelas muitas ruas de Konoha, a fim de espairecer a mente. 

Das outras vezes em que parou o carro ali, notou que as luzes estavam apagadas. Isso o fez concluir que a morena havia mesmo viajado. Alguns dias antes da viagem marcada por Hinata, Sasuke havia aparecido a sua porta. O moreno viu no momento em que Sakura se arrumava para um encontro com seu grupo de amigas uma oportunidade para ver a Hyuuga. As imagens de Hinata e Naruto juntos naquele elevador simplesmente não saiam de sua mente. Como estavam abraçados de maneira tão íntima e romântica, Sasuke presumiu que haviam engatado um namoro. E essa constatação o faz se sentir incapaz e raivoso. Por um lado, incapaz por Hinata estar fora – de fato - de seu alcance e por outro lado por ter cometido uma burrice do tamanho do mundo. Se não tivesse saído de casa naquela manhã com suas malas e uma decisão tomada, poderia ter Hinata para si todos os dias. Poderia acrescentar mais alegrias e risos em sua vida. Não era hipócrita ao ponto de dizer que o seu salário atual não supria uma parte dessa tristeza, afinal se precisa de dinheiro para viver.  

Contudo, ele subestimou o amor e agora estava pagando o preço. 

Sasuke tinha a plena consciência que as chances de ser recebido por Hinata eram poucas, assim que a morena o visse pelo olho-mágico. Qual a sua surpresa ao escutar a porta se abrir e revelar Hinata do outro lado. A morena trajava uma camiseta de mangas custas na cor rosa, um short jeans curto e nos pés pequenos uma rasteirinha. O encontro de olhares durante alguns instantes até que a Hyuuga o convidou para entrar. Passou pela morena e caminhou para próximo do sofá. Na mesinha logo ao lado, reparou que o vaso pequeno de flores ainda era bem cuidado, sendo que alguns brotos já estavam começando a abrir. Contudo, o que chamou sua atenção foi o porta-retrato vazio. Então ela se se livrando de nós, será que ainda tenho tempo? Hinata pigarreou, chamando sua atenção e o arrancando dos próprios pensamentos. 

— Seja breve, Sasuke. - Pediu Hinata cruzando os braços. A distância entre eles era de apenas alguns passos. - O que você quer? 

— Vim esclarecer algumas coisas. - Respondeu o Uchiha colocando as mãos no bolso da calça jeans escura. Seus olhos procuravam nos perolados algum resquício de carinho, mas ele encontrou cansaço e ressentimento. - Eu fui um idiota, Hinata.  

— Foi mesmo, mas acredito que você recebe o suficiente para nem precisar pensar nisso. - A sentença proferida por Hinata era como finas agulhas em sua direção. Apontadas e afiadas. - Era só isso? 

— Hinata, abaixe a guarda. - Disse o Uchiha com a face desprendida de qualquer sentimento. Era preciso ter calma na situação que se encontrava. - Você sabe que eu não viria aqui dizer o que quero se não fosse realmente importante. Aliás, eu não perco meu tempo. 

— Não perde mesmo, olhe só onde você está agora, senhor Editor-Chefe. — Disse Hinata praticamente cuspindo suas últimas palavras. - Espero que, no mínimo, você tenha conseguido esse cargo por mérito próprio.  

— Não é sobre meu trabalho que vim falar. Vim conversar sobre nós. 

Sasuke viu Hinata estreitar os olhos. A Hyuuga levantou a face, soltando um longo suspiro em seguida. Em silêncio, deu as costas para o Uchiha e caminhou até a porta, abrindo-a.  

— Nesse caso, acredito que você queira falar com a Sakura. Ela é seu novo “nós”. Ademais, ela não está aqui. 

Hinata disparou as palavras contra Sasuke, torcendo para que elas o atingissem e o fizessem partir. No entanto, o Uchiha se manteve em sua posição, seus orbes escuros a consumindo. O ouviu dizer que não iria embora. Pelo menos enquanto não falasse o que estava em seu coração. Hinata suspeitava que o Uchiha não tivesse um coração, mas sim uma pedra no meio do peito. Como Sasuke era uma pessoa persistente, Hinata se viu obrigada a discutir aquele tópico. Fechou a porta e tomou novamente sua posição. Suas pérolas não estavam marejadas de lágrimas e olhavam bem dentro dos olhos negros do Uchiha. Se iriam mesmo conversar sobre o que um dia existiu entre eles, não poderia se mostrar frágil. Ela não era mais uma garotinha indefesa e sem experiências com o amor e deveria agir como tal. 

— Vá em frente. - Gesticulou com as mãos para que o Uchiha continuasse com seus planos, independentemente de quais fossem. 

— Como disse antes, fui um idiota. - Sasuke passou uma das mãos pelo cabelo negro, o atrapalhando ainda mais. Esperou alguns minutos antes de prosseguir. Precisava de toda a atenção da Hyuuga para si. - Preciso do seu perdão e, mais ainda, do seu amor de volta. 

A tensão tomou conta da pequena sala. Hinata não sabia se acreditava ou se ria da mentira deslavada de Sasuke. Imaginou quantas vezes “os pombinhos” haviam sido de si pelas costas. Sasuke por ter conseguido o o que queria – um bom salário e mais poder – e Sakura por tê-lo tirado de Hinata. No entanto, havia algo no olhar de Sasuke que Hinata quase se convenceu daquela palhaçada. Eu disse quase. Ela duvidava muito que Sasuke fosse largar o osso para viver uma vida pacata e sem seus luxos. 

— Você se cansou mais rápido do que eu poderia imaginar. - A morena fez um coque improvisado com o cabelo longo, deixando alguns fios soltos. - Mas vou pôr a situação de uma forma bem prática. Quer meu perdão? Volte a ter a vida antes. Sem mais relógios que custam uma fortuna, jantares caros e festas lotados de famosos e cliques dos fotógrafos. Consegue fazer isso, Uchiha? 

Sasuke foi pego de surpresa, uma vez que não esperava tal atitude de Hinata. Direta ao ponto e sem rodeios. Demorou alguns minutos para responder e, sem saber, esse havia sido seu fim. Se ele realmente a quisesse volta, não estaria ponderando se abriria mão da melhor safra de vinho de um ano qualquer a fim de ir a um barzinho e tomarem uma cerveja juntos. Ele ainda não estava pronto para encarar essa “realidade”. 

— Vamos ver. Eu não vou ser seu prêmio de consolação, seu maldito. - disse a Hyuuga fazendo um coque com o cabelo que ainda era longo, deixando alguns fios soltos, emoldurando a face angelical. - Pelo que ambos podemos ver, você se acostumou bem àquilo que brilha, certo? 

— Você jamais será um prêmio de consolação. - disse a Uchiha percebendo que os lábios da Hyuuga tremiam levemente. - Eu me deixei levar pela ganância e pelas aparências, mas nada disso me completa como você. Eu sinto a sua falta todos os dias. 

— Você p-e-r-d-e-u. Leia meus lábios Uchiha. - A Hyuuga deu as costas novamente ao Uchiha para que pudesse abrir a porta. - E agora que já falou o que queria e eu escutei, pode ir embora. 

Não vai adiantar continuar aqui. Quanto mais insistisse, as poucas chances que tinha de reconquistar a Hyuuga poderiam se evaporar como água. Caminhou como um gato em direção a porta, parando por alguns instantes de frente para o corpo pequeno de Hinata. Imaginou que a morena estaria à beira das lágrimas, mas se surpreendeu ao vê-la firme como uma rocha, com uma das mãos na maçaneta, apenas esperando que ele fosse de sua casa ou melhor ainda da sua vida. Não dando tempo para qualquer reação da Hyuuga, Sasuke enlaçou a sua cintura, colando seus corpos. Em poucos segundos, seus lábios tomaram os lábios da Hyuuga, os reivindicando para si. Não demorou que Hinata odiasse a si mesma por sentir suas costas batendo contra o batente da porta, permitindo que Sauske caminhasse com as mãos por dentro da sua blusa. Quando a boca do moreno desceu para seu pescoço, Hinata se viu arranhando sua nuca, deixando a boca e os olhos entreabertos. 

 Seu fio de sanidade esteve prestes a se romper, mas, com muito custo, conseguiu se desvencilhar do Uchiha, espalmando as mãos seu peito e o empurrando com toda a força que possuía. Seu próximo reflexo foi seu fechar a porta na cara do moreno, escorando as costas na madeira fria. Havia quase cometido uma burrice descomunal. Imagine só se tivesse passado com Sasuke?! Aos poucos, seu coração se acalmou e sua respiração se normalizou. Logo escutou os passos do moreno e o som do elevador.  

Naqueles poucos segundos, Sasuke teve a confirmação de que Hinata ainda o amava, mas isso não quer dizer que ela o havia aceitado de volta.  

E, naquela noite, as luzes estavam acessas. Então você voltou, Hyuuga.