Minha gravidez estava na sua sexta semana e minha barriga ainda não aparecia tanto, mas já dava para ver certa mudança. Sam nunca me deixava sozinha e já fazia quatro dias desde que vi Jacob pela ultima vez nos penhascos. Ultimamente tenho sido obrigada a dormir na casa de Sam, meus pais acharam normal ”eu querer” dormir na casa do meu namorado, as vezes eles são tão absurdos. Recusava-me a entregar o meu corpo a ele, e isso só piorava a situação.

-me larga Sam, não vou dormir com você. – estávamos começando mais uma briga que ultimamente se tornaram constantes, apesar do medo de ele me denunciar a policia não podia entregar meu corpo a ele logo agora que tinha acertado quase tudo com Jacob.

-ness... Você não pode fazer isso, sebe o que eu posso fazer com você não sabe?- ele estava fora de si.

-sei, então faça. – eu o provoquei.

-não brinque comigo garota, agora você vai ver o que acontece quando se brinca comigo.

    Ele me agarrou pelo pulso e em um primeiro momento pensei que ele iria me bater, temi pelo meu filho, mas depois ele começou a me puxar pelo corredor e abriu uma porta que dava para o porão da casa, descemos a escada até lá embaixo e me jogou no chão sujo.

-vai ficar ai para pensar na vida, e quando eu voltar quero saber o que você decidiu. – ele bateu a porta atrás dele. Escutei a porta da frente se fechar e o barulho do carro saindo da garagem.

       Levantei-me piscando os olhos tentando me acostumar com o breu daquela noite. Via algumas caixas e uma mesa encostada no canto. Subi as escadas e tentei abrir a porta que estava trancada, as lágrimas começaram a cair dos meus olhos e um desespero tomou conta de mim, coloquei as mãos na barriga em uma forma de proteção. Desci novamente as escadas e procurei nas caixas algo que me protegesse do frio, felizmente achei uma manta grossa e velha com a qual me cobri.

       Já tinham se passado algum tempo quando escutei passos, pensei que sam tinha voltado e finalmente me tiraria daquele lugar asqueroso. Uma voz melodiosa de homem chamava meu nome lá fora, a reconheci como a voz de James.  Corri escada a cima e comecei  bater na porta gritando “aqui, eu estou aqui”. Minutos depois a maçaneta começou a fazer barulhos e a porta foi aberta. Vi James me olhar assustado, as lágrimas rolavam pelo meu rosto e começaram a molhar a sua blusa quando eu o abracei. James acariciava os meus  cabelos delicadamente e murmurava que tudo ficaria bem, quando me acalmei um pouco ele me levou até o sofá e começou a falar furioso.

-como aquele canalha teve coragem de fazer isso? – seus olhos eram puro ódio.

-Eu... Eu... Me... Recusei... A dormir com ele. –estava muito nervosa e não conseguia falar muito bem.

-tudo bem com o bebê? – ele se aproximou e tocou minha barriga.

-sim.

-pelo menos isso. Temos que achar um jeito de te tirar dessa casa. Logo ele vai descobrir que você está grávida. – ele andava de um lado para o outro.

- você sabe onde ele foi?

-ele me ligou mandou vigiar a casa e falou que só voltaria amanhã.

-me leve para ver Jacob, só ele irá me acalmar agora.

-vamos, mas vamos ter que voltar cedo. – ele me ajudou a sair da casa e entrar no carro.

     A casa de Jacob era perto, não demorou muito para chegar lá. Já eram uma da manhã e a essa hora ele já deveria estar dormindo, antes de bater na porta James me chamou atenção a uma coisa.

-não conte a ele sobre o que Sam fez.- ele falou baixo.

-porque não?

-ele não vai deixar você voltar e nós precisamos de um pouco mais de tempo até saber o que fazer, não podemos correr riscos agora.

-odeio mentir para ele. - pensei em toda dor já tinha causado a ele por tantas mentiras.

-você não vai mentir, só vai omitir é diferente. – ele tentou me animar com um sorriso.

-está bem. – fiz uma careta e bati na porta. Alguns minutos depois escutei ele do outro lado da porta.

    Quando Jacob abriu a porta e me viu ali parada com James atrás de mim ficou um pouco preocupado.

-o que aconteceu? – sua voz estava baixa.

-boa noite para você também. – James respondeu e passou por nós. Tirou o sapato e se deitou no sofá minúsculo. – depois eu chamo você ness, não façam muito barulho quero dormir um pouco.

     Sorri para Jacob, peguei sua mão e o levei até o seu quarto. Estava tudo como sempre, o mesmo cheiro de madeira e lavanda dos lençóis pairava pelo ar. Os lençóis da cama estavam meio desarrumados, as roupas estavam jogadas pelo chão. Comecei a pegar as roupas e Jacob me observava em silêncio parado na porta. Caminhei até o banheiro coloquei as roupas no cesto, voltei para o quarto e me sentei na cama.

-você ficou muito bagunceiro. – tentei quebrar o gelo.

-o que aconteceu?- ele franziu o cenho.

-nada. – odiava mentir para ele assim, mas era preciso. - Sam vai passar a noite fora de casa e eu resolvi fazer uma visita, estava com saudades.

-quando você vai sair de lá? – ele caminhou em minha direção e sentou-se ao meu lado.

-não sei mais algumas semanas eu acho. – respondi me aconchegando em seus braços e sentindo o seu cheiro.

-amor, preciso tomar um banho, agora que você está aqui quero ficar limpinho e cheirosinho. – ele me deitou delicadamente na cama. – me espera um pouco que já volto.

    Ele desapareceu no banheiro escuro. Fiquei olhando cada cantinho do quarto e me lembrando dos bons momentos que vivi aqui com meu Jacob, a cômoda o guarda roupas. Ultimamente ele tem jogado tudo no chão – pensei ao ver um papel amassado no chão do quarto. Levantei-me e peguei o papel. Uma súbita curiosidade me tomou por completo e abri o papel para ver do que se tratava. Era uma resposta a solicitação de uma mudança de data para a faculdade de Jacob.

-onde achou isso? – ele perguntou me abraçando por trás.

-por que isso está amassado?

-por que era para eu ter jogado fora e eu esqueci. – ele beijava meu pescoço delicadamente.

-jake... Eu não quero estragar a sua vida, acho que você deveria ir para faculdade. Se você mudou a data para esse semestre tem que ir, porque se não vai perder a chance, eles não darão outra.

-e deixar você e o meu filho aqui sozinhos?

-se eu for presa e você não estiver no mínimo em uma faculdade, nunca irão dar a guarda do nosso filho para você.

-ness... Você não será presa, isso eu te prometo. - sussurrou em meu ouvido e atirou o papel que estava na minha mão para o outro lado do quarto. – vamos esquecer isso.

       Fizemos amor como se fosse a primeira vez. Cada toque, cada beijo, qualquer detalhe era totalmente e incrivelmente apaixonado.  Esquecemos do mundo La fora para nos concentrar em todo o desejo que havia dentro de nossos corações, nos reconhecíamos em cada toque, sabíamos quanto prazer cada toque proporcionava ao outro, redescobrimos nossos copos. Fiquei inebriada pelo cheiro amendoado com suor que ele exalava. Queria ficar ali para sempre e me perder em seus braços, não me permiti pensar em quanto tempo nos restava juntos, só pensei o quanto gentil e carinhoso ele estava sendo comigo aquela noite.

       Iria ao inferno mil vezes se fosse preciso para voltar àqueles minutos de prazer e amor que tivemos aquela noite. Daria minha vida para não fazê-lo sofrer novamente, mas não sou capaz de fazer tal bondade. Seu corpo nu repousava sobre os lençóis brancos e manchados com o nosso suor, verifiquei se ele dormia. Como o pior dos ladrões sai de fininho tentando não acordá-lo e evitar uma cena de despedida, tinha medo de encarar seus olhos e me render a vontade de ficar, eu tinha que fazer isso pelo meu filho.

      Chamei James que dormia em um sono profundo naquele minúsculo sofá. Saímos com o sol querendo aparecer por trás dos penhascos. O caminho foi silencioso, mas quando cheguei a casa resolvi fazer uma pergunta a James que martelava na minha cabeça.

- James posso te perguntar algo? – já estávamos dentro da casa.

-claro.

-porque você está me ajudando?

-porque eu queria ter feito isso pela minha mulher e pelo meu filho. – uma lágrima solitária rolou pelos seus olhos. Cheguei perto e o abracei.

      Senti-me conectada a ele de uma forma tão espiritual, os dois querendo proteger a mesma coisa. James para mim era um irmão que nunca tive, alguém com quem eu poderia contar que me ajudaria e não se importava com as conseqüências. A dor da perda dele era algo que jamais eu quero sentir um dia, por isso preciso da ajuda dele para superar meus medos e seguir em frente. Ele era o único que aceitaria o que eu sou e o que eu fiz, pois ele também tinha feito coisas horríveis nessa vida.

“Se eu fosse jovem, eu fugiria desta cidade

Enterraria meus sonhos debaixo da terra

Assim como eu, nós bebemos até morrer, nós bebemos essa noite

Longe de casa, com armas de caça

Vamos abatê-los um por um

Nós vamos derrubá-los, eles não foram encontrados, eles não estão aqui

Que comece a temporada - elas rolam como devem

Que comece a temporada - derrube o grande rei

Que comece a temporada - elas rolam como devem

Que comece a temporada - derrube o grande rei

E rompe através do silêncio do nosso acampamento à noite

E rompe através da noite, a noite toda, toda a noite

E rompe através do silêncio do nosso acampamento à noite

E rompe através do silêncio, tudo o que é deixado é tudo

O que eu escondo”

                   (elephant gun- Beirut)