Jimin encarou o senhor à sua frente com apreensão, sentindo um calafrio percorrer seu corpo. Recordou todas as palavras que Jungkook havia lhe dito sobre seu pai. O medo tomou conta dele, mas ele estava determinado a não mostrar fraqueza. Apesar da sensação de temor, Jimin reuniu coragem para enfrentar aquela situação de frente.

— O que o Senhor quer comigo?

— Soube que você e meu filho são bons amigos — Disse ele com um sorriso enigmático. 

— Não somos apenas bons amigos — Jimin o interrompeu — Somos namorados. 

O Sr. Jeon o encarou e seu sorriso se desmanchou, não esperava que Jimin seria tão direto.  

— Acho lindo o amor na juventude. É tão suave, tão inocente, tão inspirador... Já tive isso com a mãe de Jungkook — Ele deu um gole no café, sem desviar o olhar de Jimin —  Mas, meu jovem, a vida vai muito mais além do que o primeiro amor. 

— Diga logo o que quer. 

— O que quero? Como um pai preocupado e cuidadoso, quero um futuro feliz e seguro para o meu filho. Sei que seu pai o abandonou, e fico imensamente triste por isso, deve ser devastador se sentir desamparado...

— Não estou desamparado e nem nunca estive. Nunca precisamos de homem nenhum pra cuidar de nós, minha mãe foi o suficiente. Nunca me faltou nada, ela sempre cuidou de mim e agora eu cuido dela.

— Admiro a força de sua mãe, uma mulher batalhadora. Com toda certeza você deve muito a ela, ela merece o melhor, e estou disposto a te ajudar quanto a isso.

— Não estou entendendo aonde o Senhor quer chegar.

— Dê um futuro melhor para sua mãe, esse é o ponto. Sei que você tem um certo interesse em se tornar médico, é inteligente e vai conseguir. Porém, isso pode demorar um pouco, posso ajudá-lo nessa questão. Não apenas com isso, sei que moram de aluguel e pagam caro, posso lhe dar uma casa, ou um carro, posso dar o que você quiser — Jeon pegou uma maleta e a colocou na mesinha. Quando a abriu, Jimin viu que estava abarrotada de dinheiro — Isso é um presente, tem o suficiente para você mudar de vida, posso dar a quantia que quiser, é só me pedir. Eu só preciso que você faça uma coisa... Se afaste do meu filho, deixe-o em paz e suma.

Por um momento, Jimin olhou incrédulo, seus olhos alternando entre a maleta de dinheiro e o Sr. Jeon, que mantinha um sorriso singelo e gentil. No entanto, o medo que sentia antes foi rapidamente substituído por um sentimento avassalador de ódio e nojo.

— Você está me subornando? Está tentando me comprar?

— Todos têm um preço, Jimin. Só preciso saber o seu.

— Não estou à venda! Buscar um futuro melhor pra minha mãe não envolve dinheiro sujo e manipulação — Respondeu Jimin, sua voz carregada de determinação. Ele encarou o Sr. Jeon, recusando-se a ceder ao jogo proposto. — Eu não trocaria o amor que tenho por Jungkook por nenhuma quantidade de dinheiro. Ele é tudo para mim, e eu não vou desistir dele.

Jimin olhou para a maleta repleta de dinheiro, sentindo um misto de desgosto e repulsa. Seu olhar voltou-se para o Sr. Jeon, mas agora havia um fogo ardente em seus olhos, uma determinação inabalável.

— Não preciso dos seus favores financeiros para ser feliz. Meu amor por Jungkook não tem preço. E não importa o que você ofereça, jamais aceitarei seu suborno mesquinho. Leve seu dinheiro embora e não volte mais na minha casa!

Jeon o encarou, desmanchou seu sorrisinho e o olhou com uma expressão séria.

— Vai recusar essa oportunidade a troco de que? Um namoro bobo que logo vai acabar?

— Não é um namoro bobo, nós nos amamos de verdade. Vamos ficar juntos quer o Senhor queira quer não. Nosso amor é forte e vai superar isso.

Jeon riu com deboche.

— Estou tentando resolver isso de forma pacífica, é melhor você deixar o meu filho enquanto estou disposto a te pagar por isso. Minha paciência é curta Jimin. Agradeça enquanto estou pedindo com educação.

Jimin riu com um olhar confiante.

— Pra falar a verdade eu estava com medo, mas você só reforçou o que sinto por Jungkook. Você me deu coragem, não tenho mais medo, agora consigo ver o quanto você é patético. Me ameaçar não vai adiantar, vou ficar com ele e você não vai me impedir.

— Patético? Você não sabe com quem está lidando Senhor Park Jimin. Essa é sua última chance, tem certeza que vai recusar a minha oferta?

Jimin o encarou com olhos cheios de raiva e frustração, seu rosto contorcido em uma expressão de desgosto. Sem dizer uma palavra, ele se dirigiu à cozinha, pegou um jarro de suco gelado da geladeira e retornou à sala. Com um gesto rápido e decidido, despejou o líquido sobre Jeon, que se levantou bruscamente, chocado ao sentir o líquido frio escorrendo por sua cabeça.

— Essa é a minha resposta! Agora some da minha casa ou chamarei a polícia.

Os dois homens de aparência ameaçadora avançaram em direção a Jimin, prontos para agir, mas Jeon fez um gesto para que parassem. A ira de Jeon era evidente, seus olhos faiscavam com ódio, desejando causar danos a Jimin naquele momento. No entanto, ele se conteve, respirou profundamente, ajustou sua gravata e sorriu com uma falsa gentileza.

— Esteja preparado, Sr. Park. Espero que seu amor seja forte o suficiente para o que está por vir.

Jeon se afastou, mesmo com sua roupa encharcada de suco, e apesar da humilhação que Jimin o fez passar, saiu com a cabeça erguida, mantendo sua compostura. Seus seguranças o seguiram e Jimin respirou fundo, sentindo-se trêmulo. Fingir ser corajoso era um desafio, mas ele estava orgulhoso de si mesmo por ter enfrentado ninguém menos que Jeon, um dos CEOs mais poderosos de Seul.

...

A semana foi repleta de desafios para Jimin, que constantemente sentia que estava sendo seguido. Ele tomava precauções extras, optando por estar sempre em locais movimentados e, sempre que possível, pegando carona com Yoongi e Taehyung. Nos raros momentos em que se encontrava com Jungkook, o que acontecia clandestinamente na casa de Taehyung, Jimin não se queixava. Ao contrário, ele queria aproveitar cada instante para se entregar aos braços do seu amado. Sentia como se cada dia ao lado de Jungkook fosse um presente valioso e único, vivendo intensamente, como se fosse o último.

— Como foi sua semana? — Perguntou Jungkook, distribuindo alguns beijos em seu pescoço.

— Foi ótima — Jimin tentou desviar o olhar, não queria contar sobre a visita de seu adorável sogro.

— Você não me parece muito bem, está pálido e com a expressão cansada. Alguém brigou com você?

— Não, estou bem, é que a semana foi corrida, muito serviço e estou me dedicando totalmente ao meu curso.

— Entendo, você vai se sair bem — Jungkook beijou as mãos de Jimin — Jiminnie, você confia em mim?

— De todo o meu coração.

— Então não me esconda nada. Juro que vou consertar as coisas com meu pai, e então poderemos ficar em paz.

Jimin beijou seus lábios com delicadeza. 

— Confio em você, amor. Sei que vai dar tudo certo.

— Eu estava pensando em uma coisa bem idiota, você vai rir de mim — Jungkook fez carinho nos cabelos de Jimin, enrolando uma mexa em seus dedos. 

— Diga, eu não vou rir — Jimin deu uma mordidinha no queixo de Jungkook. 

— Lembra que no nosso primeiro encontro você me perguntou o que eu queria fazer da minha vida profissional?

— Claro que lembro. Você achou algo que quer fazer? 

— Creio que sim. Sabe aquele dia que ajudamos Namjoon com toda aquela questão da ex mulher dele?

— Sei.

— Então, eu meio que gostei daquilo, me senti vivo e realizado. 

— Como assim? Você quer ser um detetive?

— Quase isso — Jungkook sorriu —, mas não é isso. Livrar o mundo de pessoas ruins deve ser algo gratificante. Li alguns livros de Direito e Advocacia, me interessei pelo assunto e acho que quero ser Promotor — Jungkook olhou Jimin de canto. Sentiu que falou algo que não deveria. 

— Promotor? — Os olhos de Jimin brilharam ao ver que Jungkook finalmente tinha encontrado um sonho pelo qual lutar. 

— Mas isso é impossível.

— Por que?

— Desde de que nasci fui treinado e educado para herdar e administrar a empresa do meu pai. Virar promotor ou qualquer outra coisa que interfira nos planos dele está fora de cogitação.

— Kookie, por que você tem tanto medo do seu pai?

Jungkook suspirou triste.

— Nunca tive esse medo do meu pai. Na verdade, depois que minha mãe morreu sempre me rebelei, mas agora tenho algo que preciso proteger.

— Eu?

— Sim. Você é tudo pra mim, não vou permitir que meu pai encoste um dedo em você. Farei qualquer coisa pra evitar isso.

— Kookie — Jimin olhou para o chão — Eu sou a sua fraqueza?

— Não, Jimin — Jungkook beijou sua testa — Você é a minha força. 

Jimin sorriu, sem conseguir esconder o quanto aquelas palavras o deixaram feliz. 

— Ótimo, bom saber que sou a sua força. Aliás, quero te ver com aquela beca de Promotor. Você vai ficar super sexy, como os Oppas dos doramas.

— Sexy? Aquilo parece que vou cantar num coral da igreja. 

— Você fica sexy vestindo qualquer coisa e ainda mais sexy não vestindo nada — Piscou — Mas falando sério, Kookie. Se é isso o que você quer fazer, faça! Foda-se o seu pai. A vida é sua, faça o que tem vontade de fazer. Enfrente-o para correr atrás dos seus sonhos. Não se preocupe comigo, eu sei me cuidar.

— Você tem razão, estou com alguns planos em mente. Colocarei em ação assim que estiver tudo se encaixando — Jungkook olhou para o chão, perdido em seus pensamentos.

— Você é incrível e inteligente, sei que vai resolver essa situação da melhor maneira. Quando tudo isso acabar e você se formar, quero que coloque aquela beca de Promotor, esse é meu fetiche. 

— Só se você usar o seu jaleco branco de médico, o meu fetiche é esse — Jungkook riu. 

— Um promotor indo buscar algumas provas de cena de crimes na perícia médica. Seus olhares se cruzam, a química entre eles fica evidente, então eles se beijam e se entregam ao amor em cima da maca. Essa é minha nova fantasia — Jimin sorria enquanto imaginava a cena com ele e Jungkook. 

— Meu namorado é safado e fanfiqueiro. 

— Eu sei que você gosta, não da parte do fanfiqueiro. 

— Adoro todas as versões do Jimin — Jungkook o beijou, demonstrando todo o amor que sentia. 

Jimin transbordava felicidade, sentindo-se fortalecido por ter alguém tão especial ao seu lado. Saber que não estava sozinho era o combustível que impulsionava sua determinação em enfrentar todos os obstáculos que se opunham ao seu amor. Essa consciência lhe dava forças renovadas para persistir na luta, sem jamais desistir.

...

No dia seguinte, durante o expediente de Jimin, ele notou que dois rapazes sentados na mesa do canto não paravam de encará-lo. Enquanto Yoongi estava ocupado cuidando do caixa e não percebia, Jimin sentia a intensidade do olhar dos estranhos. Uma sensação de desconforto e tensão o invadiu, fazendo-o questionar se aquela observação constante era apenas fruto de sua imaginação ou se havia algo mais sinistro por trás disso. As ameaças recentes feitas pelo pai de Jungkook deixaram-no ainda mais tenso nos últimos dias, amplificando suas preocupações.

Uma linda moça de sorriso radiante adentrou a cafeteria, capturando a atenção de Jimin e dissipando momentaneamente seus pensamentos preocupantes. Ela emanava uma aura distinta das típicas burguesas que circulavam pelo centro da cidade, transmitindo uma sensação de independência, força e determinação. Seu ar parecia o de alguém que trilha seu próprio caminho, destoando das convenções sociais.

— Dia bom para um delicioso capuccino? — Jimin sugeriu com um sorriso.

— Leu a minha mente, adoraria um Capuccino.

— Não vai se arrepender, temos o melhor capuccino. 

Após atender a moça, Jimin dirigiu-se para levar o lixo para fora. O saco estava pesado, dificultando um pouco sua locomoção. Ao chegar nos fundos do prédio, uma área deserta, ele examinou cautelosamente o ambiente, sentindo-se um tanto apreensivo. No entanto, logo se tranquilizou ao constatar que não havia nada fora do comum ao seu redor. Após depositar o lixo na lixeira, virou-se para retornar à cafeteria, mas foi surpreendido pela presença dos dois rapazes que o encaravam momentos antes na cafeteria.

— Finalmente conseguimos te pegar sozinho — Disse um dos homens. 

Jimin tentou correr para um lado, mas o outro rapaz o cercou.

— Pensa que vai aonde? Você vem conosco — O rapaz puxou seu braço com força.

— ME SOLTEM! — Jimin tentou se soltar — SOCORRO!

Jimin foi agarrado pelo homem, que tapou sua boca e o arrastou em direção ao carro. Antes que o homem conseguisse colocá-lo dentro do veículo, ele foi bruscamente arremessado para o lado, fazendo Jimin colidir com o chão. Um chute poderoso foi desferido contra seu agressor.

Caído no chão, Jimin olhou com curiosidade para quem o havia salvado daquele sequestro iminente. Ficou surpreso ao perceber que era uma mulher forte, usando salto alto. Levantou os olhos e arregalou-os ao ver que era a mesma moça que acabara de atender na cafeteria. Com gentileza, ela estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar.

— Parece que temos alguns homens maus por aqui — Disse ela — Sabe o que faço com homens maus? — Jimin balançou a cabeça negativamente, admirado com a postura e a força daquela moça aparentemente tão delicada — Eu devoro eles!