Conflitos do Coração escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 7
Consequências


Notas iniciais do capítulo

Os supervisores ficam...

Yunhe acorda e...

Chang Yi se encontra...

Yunhe passa a...



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Ao perceberem que os supervisores olhavam na direção que o imperador partiu, coçando a cabeça em confusão ao mesmo tempo em que exibiam um semblante confuso, muitos dos demônios no local apenas reviravam os olhos com a cena porque a pergunta sobre punição havia sido estúpida na visão deles embora fosse compreensível porque os humanos não sabiam o que significava a marca para os demônios.

Song Wu voltou a noite com comida e como esperado, observou a jovem sentada em frente ao espelho olhando a marca de runa azul em sua orelha onde Chang Yi havia mordido após captura-la.

Yunhe sabia que havia sido muito ingênua de acreditar que conseguiria fugir ou sequer lutar com um corpo tão debilitado, além do fato de que ambos estavam em níveis diferentes. Só a aura do Chang Yi era suficiente para reprimi-la. Ele não precisou fazer qualquer esforço para subjuga-la e conseguiu, inclusive, fazer o seu poder recuar para dentro dela ao suprimi-la pelo fato das nove caudas desaparecerem com uma simples pressão de uma das mãos dele em uma de suas caudas.

Inclusive, conforme refletia sobre isso, percebeu que somente havia conseguido golpeá-lo naquele dia porque ele não tentou se defender ao mesmo tempo em que percebeu o quanto ela estava errada em relação ao poder dele e o seu julgamento errôneo há anos, atrás.

De fato, os jiaorens faziam jus ao fato de serem considerados os mais poderosos dentre as espécies de demônios e se ele tinha esse poder em terra e com a cauda cortada ao meio, Yunhe imaginava como seria no mar onde cada gota de água do vasto oceano estava sobre o comando deles e não pôde deixar de ficar estupefata. Ela não sabia que Chang era tão poderoso.

Então, ela sorri em desalento consigo mesma ao se lembrar do que ocorreu no Vale do demônio há seis anos, atrás.

Chang Yi conseguiu abalar a prisão negra que tinha as pedras que restringiam poderes demoníacos, além de trincar selos e runas junto do fato de resistir a flecha dourada fincada em sua longa e forte cauda. Mesmo com todas essas restrições e supressões do seu poder, ele demonstrou um nível insano mais de uma vez ao sacudir aquela prisão, algo que nenhum outro demônio foi capaz de fazer e depois em outra ocasião, quando atacou Lin Haoqing apesar de ficar extremamente debilitado após esse ataque.

Mesmo assim, esse último ato foi um feito inacreditável porque ele já havia sido torturado e ferido gravemente com relâmpagos. Nessas condições, um demônio nunca conseguiria reagir e ele reagiu com poderes incríveis.

Enquanto isso, ela se recordou do medo que a tomou e que foi ampliado pelo sentimento de impotência ao não conseguir se mexer junto da mordida de raiva do tritão em sua orelha, algo que nunca imaginou que Chang faria e que a fez temê-lo, algo que nunca cogitou que sentiria após eles se conhecerem. O sentimento de ser incapaz de se mexer para se afastar da fonte do seu medo somente o piorou e o transformou em terror, levando-a a ser tomada por tremores incontroláveis e um pânico sem precedentes que tomou o seu coração.

A jovem ficou surpresa ao sentir que esse medo ressurgiu com força em decorrências das suas lembranças daquele momento, fazendo com que ela lutasse para suprimi-lo a todo custo porque achava que era exagero temê-lo, ainda.

Afinal, tinha esperanças que mesmo após tudo o que fez junto do fato do jiaoren ter se tornado cruel e malvado, ele ainda não iria feri-la além da mordida na orelha e que essa punição foi realizada no calor do momento.

Pelo menos, era o que esperava apesar da reação dele ter sido desconcertante e algo que nunca imaginou nem em seus sonhos mais loucos, que o seu amado iria fazer contra ela.

Conforme observava a marca, a guardiã do vale demoníaco se recorda do fato de que muitos demônios, principalmente os machos, apreciavam marcar algo como sua propriedade.

A jovem encarava aquela marca como sendo propriedade dele, algo que a revoltou profundamente. Assim como Chang não pertencia a Shunde, ela não pertencia a ninguém. Para a jovem era insuportável porque desde criança a sua vida estava sobre o controle de outras pessoas, fazendo-a pertencer a eles, além de poderem fazê-la rir ou chorar de acordo com o capricho deles.

Por causa desse passado, Yunhe tinha uma aversão extrema de pertencer a alguém como propriedade e de ser confinada. Na visão dela, ela somente pertencia a si mesma.

— Boa noite, Yunhe.

A Guardiã do Vale demoníaco sai dos seus pensamentos com a voz da mulher que estava se tornando a sua única companhia enquanto buscava suprimir qualquer tremor que ameaçava querer surgir nela novamente ao se recordar de quando ele a mordeu.

A mestra de demônios confessava que era muito bom ouvir uma voz gentil e ver um rosto que não demonstrava hostilidade, frieza ou crueldade ou então, que a ignorava como os demais criados faziam quando vinham limpar o local e que agiam como se ela fizesse parte da parede ou dos móveis.

Um sorriso surge em seu rosto e se aproxima enquanto observava os pratos com os alimentos que ela sempre comia fora da cesta de transporte e devidamente arrumados no tampão da pequena mesa.

— Song Wu, eu fico feliz em vê-la.

— Bem, como foram as consequências?

— Uma mordida de raiva na orelha e não posso mais estender as minhas mãos para fora da matriz mágica dele. Antes eu podia estender as mãos, mas, não o rosto.

— Oh! De fato, você pode ser considerada uma encrenqueira.

— Sim. Mas, não me arrependo. A sensação de liberdade, mesmo efêmera, é indescritível. A liberdade é algo precioso. Eu sempre fui aprisionada desde criança depois que a minha família foi morta por tentar fugir comigo para que eu não fosse levada para me tornar uma mestra de demônios. Fosse no vale demoníaco, na seita do grão-mestre e agora, aqui. Chang Yi sabe o que eu mais odeio que é o confinamento e sabe que o que mais anseio é a liberdade. Por isso, ele me confinou aqui. Me isolar, impedindo de ver meus amigos é a sua punição adicional. Tudo isso é feito para me atormentar e me punir, me fazendo sofrer e consequentemente me deixando sem esperança. Eu nunca vou rever os meus entes queridos, além disso...

— Eu tenho que ir agora – ela nota o olhar triste dela ao ser cortada abruptamente – O jiaoren virá observá-la comer. Eu preciso sair para que não aja desconfiança. Afinal, as ordens são para colocar a comida e sair em seguida. Se eu não cumprir as orientações eles vão desconfiar. Eu não me importo com isso, mas, você ficará sozinha novamente e sem ter ninguém para conversar.

Yunhe se lembrou do que ele sempre fazia em suas refeições e naquele instante, torceu os punhos e começou a ser tomada por uma raiva que buscou reprimir embora fosse difícil.

Antes, ver o belo rosto dele era o esperado, mas, considerando que era um semblante frio ou cruel dependendo do humor dele ou situação, o ato dele privá-la de conversar com a sua nova amiga começou a irritá-la e a jovem mal via a hora do tritão sair junto do fato dele ter aterrorizado ela na noite anterior, além de tê-la marcado como propriedade dele.

A mulher nota as reações dela e os pensamentos da mestra de demônios pulam para Wu que sorri de canto enquanto se retirava porque o jiaoren estava facilitando para ela.

Alguns minutos depois, o belo tritão entra e fica surpreso ao vê-la comendo enquanto sentava na frente dela com um relatório em mãos ao mesmo tempo em que esperava que Yunhe olhasse para ele como sempre fazia.

Porém, para consternação dele, ela ignorava a sua existência e comia tudo sem que precisasse mandar ou ameaçar.

Ademais, o imperador do Norte buscava compreender o sentimento desconcertante de raiva para com ele que sentiu através da marca e conforme refletia no motivo dela sentir raiva, o jiaoren acreditava que este sentimento era motivado por ter frustrado a fuga.

Ao se lembrar dela fugindo, o príncipe herdeiro do oceano se recorda do fato de que manteve distância enquanto contemplava absorto a visão dela deitada no chão frio e gargalhando de felicidade genuína ao mesmo tempo em que olhava para o céu.

Chang Yi confessava que gostava de vê-la sorrir e que ela ficava linda, além de tê-la visto em sua forma natural. Livre, genuinamente feliz e desenfreada como o vento. A raiva que ele sentiu foi causada pela tentativa de fuga e por ter que interromper a bela visão a sua frente.

Ademais, a sua possessividade surgiu com ímpeto e força pela tentativa de fuga, o levando a marcá-la sem a sua autorização, algo que nunca imaginou que faria com alguém.

A marca era uma promessa que era feito a sua companheira e quando ambos eram jiaorens, eles marcavam um ao outro com uma mordida na orelha. A marca criava um vínculo ao mesmo tempo em que fornecia a capacidade de ver e de sentir quem foi marcado.

Por isso, sempre devia ser feito com concordância de ambas as partes. Para a espécie dele, a marca era como um casamento, só que para toda a vida.

Portanto, Yunhe era a sua esposa pelos costumes da sua espécie.

Porém, ele a marcou sem a sua autorização ao ser levado pelo calor do momento e por sua possessividade que neutralizou o seu autocontrole e contenção tão necessária, principalmente naquele instante, levando-o a marca-la como sua companheira e fazendo-o ficar sobre o olhar do Deus do abismo.

Quando o tritão voltou a si ao aplacar as sensações conflitosas e intensas que o tomaram era tarde demais. A marca estava ali e foi feito a força, fazendo-o se lastimar pelo fato de ter feito da sua própria vontade, independente da concordância dela

Então, Chang sai dos seus pensamentos quando ela vomita ao mesmo tempo em que suava frio, despejando o que havia acabado de comer, para depois, vomitar sangue negro, com o imperador do Norte se ajoelhando ao lado dela novamente enquanto usava os seus poderes para aliviar o seu sofrimento.

De costume, quando o tritão fazia isso, ela olhava para ele e fazia o seu pedido habitual apesar de ser sempre negado.

Porém, dessa vez, quando viu o foco voltar aos olhos dela, a humana não olhou para ele enquanto lutava arduamente para se sentar, além de não fazer o pedido usual, levando-o a arquear o cenho porque era algo inusitado.

Yunhe não queria dormir como acontecia nessas sessões.

Afinal, ela queria ficar acordada para conversar com Song Wu ao mesmo tempo em que desejava que ele fosse embora o quanto antes porque a presença dele passou a irritá-la enquanto odiava o fato de ter passado mal quando tinha alguém para conversar. Se ela desmaiasse, dormiria e quando acordasse, o seu carcereiro ainda estaria lá com o remédio.

A jovem torce os punhos enquanto sentia a inconsciência tomá-la e não pode deixar de umedecer os olhos com lágrimas de raiva pela debilidade do seu corpo e com muito custo, as impediu de derramar enquanto sentia o suor frio ensopando as suas roupas.

Com o seu olfato apurado, Chang havia detectado o cheiro salgado de lágrimas, algo inédito porque nunca a viu chorar desde que a trouxe ao mesmo tempo em que se encontrava desconcertado pelos sentimentos de raiva e de tristeza que emanavam dela após ter experimentado o cheiro pungente de medo e os sentimentos de terror para ele quando a marcou.

Gentilmente, o tritão a pegou em seus braços e a deitou na cama, a cobrindo em seguida com o cobertor, para depois, sentar longe dela, esperando ela acordar após ordenar as servas que limpassem tudo.

A mestra de demônios abre os seus olhos mais tarde naquela noite e suprime a raiva que queria brotar em seu coração porque iria acabar demonstrando em seu corpo.

Afinal, Yunhe não precisava virar o rosto para saber que o seu carcereiro ainda estava ali.

Portanto, a jovem se limita a um suspiro que era um misto de frustração e de raiva ao mesmo tempo em que torcia os seus punhos enquanto lidava com o desgosto e aborrecimento em relação ao seu corpo moribundo que também era uma prisão para ela.

Após controlar os seus sentimentos, a humana senta na cama e em seguida, se ergue e caminha na direção da pequena mesa de chá.

Antes que ele falasse algo, ela senta e toma obedientemente o remédio, orando para que o seu carcereiro ficasse satisfeito e saísse porque queria conversar muito com Song Wu.

Afinal, nesses momentos que interagia com a sua nova amiga, a jovem notou que esquecia momentaneamente o fato de ser uma prisioneira ao mesmo tempo em que conseguia sentir uma conexão com o mundo exterior, algo que era vedado veemente por Chang.

Yunhe era ciente de que devia ao tritão, mas, sempre achou um exagero o que ele fazia com ela.

Afinal, os prisioneiros tinham direito a visitas ocasionais e mesmo ela sendo uma prisioneira também, esse direito lhe era negado.

Após terminar de tomar o medicamento, a mestra de demônio torce os punhos embaixo das mangas compridas ao ver que o imperador do Norte ainda estava sentado na sua frente.

Sem desejo de falar nada com o seu carcereiro, a jovem volta para a cama e deita, olhando para o teto.

Chang Yi estreita o cenho e comenta enquanto guardava o relatório dentro das suas vestes:

— Você não falou comigo e comeu obedientemente, assim como tomou o medicamento sem necessidade de qualquer coerção.

— Não há sentido nós conversamos. Beijing-Zunzhu já deixou claro para mim naquele momento e a marca na minha orelha é um lembrete permanente porque sempre que eu olho, eu me lembro das palavras proferidas. Por que insistir em pedidos ou concessões que nunca serão permitidas? Eu já compreendi, tudo bem? Também não há nada para conversarmos por causa do meu isolamento. O que podemos falar com exceção da minha saúde que piora gradativamente? – Ela falava friamente enquanto evitava que qualquer sentimento surgisse em sua voz conforme se recordava de como fazia perante Lin Canglan e a escrava demoníaca dele, Qing Shu, no Vale do demônio.

Fazia anos que não precisava agir assim, mas, após fazer isso por toda uma vida, Yunhe achou fácil retornar a sua conduta que havia esquecido ao chegar no reino do Norte.


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