Conflitos do Coração escrita por Yukiko Tsukishiro


Capítulo 1
Intervenção


Notas iniciais do capítulo

No reino gélido do Norte...



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No reino gélido do Norte, mais precisamente em uma das melhores casas na cidade, Jiang Weiyan se preparava para sair novamente apesar do vento gélido que soprava naquele instante. Ela já se encontrava agasalhada enquanto suspirava novamente com visível aborrecimento em seu rosto.

Se não fosse o declínio financeiro da família dela, com a sua tia sendo a supervisora de alguns locais das terras do Norte como o comentado Jardim das nuvens dentre os servos, ela não estaria sendo obrigada a trabalhar como todos os membros adultos da sua família.

Afinal, eles precisavam trabalhar pelo seu sustento e seus pais eram terminantemente contra se apoiar em algumas pessoas e não trabalhar. Eles tinham saúde e se orgulhavam de ainda trabalhar em serviços de administração e de um pequeno estabelecimento comercial que pertencia a família.

Ademais, sobre o reinado de Chang Yi, o pequeno estabelecimento estava prosperando graças as regras e aos planos de desenvolvimento do Norte implementados pelo tritão. Todos viram o Norte florescer sobre sua administração e eram gratos.

O florescimento não se limitava somente no setor financeiro e administrativo, havia a segurança também que foi aprimorada com regras rígidas e punições consideravelmente pesadas, mas, que garantiam a ordem tão necessária considerando o êxodo diário de pessoas, de demônios e até de mestres de demônios que deserdavam dos seus locais de origem e que conseguiam lidar com a maldição frost em virtude de Kongming ter desenvolvido um medicamento para lidar com o envenenamento e que era fornecido gratuitamente aos mestres de demônios.

Tudo isso os fazia florescer e a família se recuperava lentamente do declínio financeiro provocado por alguns familiares sem escrúpulos que haviam arrastado a família para baixo.

Mesmo com esse frescor financeiro e recuperação gradual, mas, lenta, Jiang Weiyan ainda precisava trabalhar aos olhos de sua família e a sua tia havia arranjado um emprego para ela e que consistia em cuidar da "amante" doente do Beijing-Zunzhu (Beijing – reino do Norte e Zunzhu – Lorde ou mestre, indicando um alto status) Chang Yi ao levar alimentos até o Jardim das Nuvens.

Ela era amante apenas no nome para eles porque ela e os outros criados nunca viram o tritão próximo dela.

Inclusive, na boca de muitos era apenas uma mulher muito doente esquecida pelo jiaoren em um lugar remoto porque era distante da capital, além de ser mantida trancada no terceiro andar como se fosse uma prisioneira. Ao entrar, tinha que trancar a porta e depois, abrir para sair, não esquecendo de trancar atrás de si.

Ademais, a porta era protegida por uma barreira mágica demoníaca do tritão. Ela conseguia passar pela barreira graças a um objeto. O ato de trancar era apenas uma forma de entrar e sair através da barreira.

Não obstante, todo o tráfego no entorno era bloqueado e somente pessoas e demônios autorizados podiam trafegar. Era mais uma prisão do que qualquer outra coisa e o nível de segurança estava muito acima da prisão que existia nas terras do Norte. Uma prisão domiciliar e por isso, muitos cogitavam se a "amante" doente cometeu algum crime para ser mantida confinada porque mesmo estando doente, o fato de haver a exigência clara de mantê-la trancada podia ser aplicada apenas a prisioneiros.

— Droga! Enquanto muitos podem ficar em suas casas, eu tenho que sair para levar comida para ela porque sou a única com autorização para entrar com exceção das servas que cuidam da limpeza. Eu concordo com os boatos de que ela é uma criminosa ou algo assim. – Ela resmungava consigo mesma enquanto terminava de ajeitar as suas vestes para encarar os ventos frios que sopravam naquele instante.

Enquanto terminava de ajeitar as grossas luvas porque naquele momento, um vento particularmente gélido fez cair ainda mais a temperatura, Jiang Weiyan exibe confusão em sua face ao observar a sua tia, Jielu Weiyan se aproximando dela com alguns papeis em suas mãos enquanto exibia um rosto sério e um olhar que exibia a mais pura censura.

— Deseja falar algo? – A sua tia pergunta com um semblante sério ao ficar na frente da sua sobrinha.

— O que houve tia? Como assim, "falar algo"?

— Como você sabe, como administradora, além de administrar o local, eu recebo diariamente relatórios do Jardim das nuvens e dentre eles, havia alguns relatórios oriundos dos criados que trabalhavam no local. Eles reportaram que ouviram você discutindo com a amante doente do Beijing-Zunzhu. É verdade?

— Sim. Eu mando ela fechar a janela e ela me recusa a ouvir. Não que eu me importe com ela, mas, se a mulher adoecer, eu terei que cuidar dela. Eu mando ela sentar e comer. Mas, ela retruca e se recusa a fazer isso. Quem ela pensa que é? Nunca vi o honorável Zhushang (Lorde ou senhor assim como governante supremo ou imperador) pisar lá. Aliais, segundo os criados, eles nunca viram o jiaoren pisar no local. Inclusive, eu acho que ela é uma criminosa. Ela pode ter sido amante dele em algum momento porque é referida assim, mas, deve estar cumprindo alguma penalidade. Aquilo está mais para uma prisão de segurança máxima. Eu acho que nem a prisão que temos é tão fortemente bloqueada por uma barreira mágica tão poderosa quanto o que envolve o terceiro andar.

A mulher massageia a testa e suspira. As palavras da sua sobrinha e nítida raiva pela mulher confirmaram os vários relatórios que chegaram em suas mãos enquanto questionava a si mesmo porque não havia detectado o problema antes.

Ela desconhecia o fato de que originalmente, não daria a devida atenção a aqueles papeis, fazendo com que certos acontecimentos ocorressem como consequência disso.

Em virtude de uma intervenção inesperada, Jielu Weiyan acabou lendo os relatórios e detectou o problema envolvendo um membro da sua família. Não obstante, ainda recebeu ajuda e por mais que soubesse o motivo de aplicar tal técnica na sua sobrinha, não mudava o fato dela achar o método um pouco extremo.

Portanto, antes de aplicar este método, a tia decide tentar conversar com ela.

Então, após suspirar profundamente, a mulher mais velha fala com frieza enquanto exibia um semblante repleto de censura para a jovem, fazendo-a se encolher:

— Eu consegui outra função para você. Hoje será a última vez que vai entregar comida para ela. Hoje, você irá ficar de boca fechada, colocando a comida e depois, saindo. Entendeu? - A tia tinha esperança de não precisar usar o método proposto por aquela mulher.

— Mas...

— Entendeu? Entre muda e saia calada.

— Mas, ela é somente uma prisioneira. Nunca vimos o Zhushang pisar lá.

— Não importa o que ela é. O que importa é o cumprimento das ordens e eu estou vendo que você está tendo problemas com ela.

— Aquela bastarda fica me provocando.

— Não importa. Fique calada.

— Mas...

Ela suspira tristemente porque percebe que não tinha escolha e começa a mexer dentro da manga comprida da sua roupa.

A sobrinha arregala os olhos ao vê-la colocar um colar dourado em seu pescoço que brilhava de forma estranha, com ela vendo em um espelho do corredor, o colar perdendo gradualmente o brilho e quando vai questionar o que era o objeto, fica chocada ao perceber que a sua boca ficava selada sempre que ia tenta falar algo, fazendo-a olhar horrorizada para a sua tia.

— Eu consegui esse objeto e somente eu posso tirar. Agora, não preciso me preocupar com você discutindo com aquela mulher. Além disso, não poderá lutar ou fazer movimentos violentos contra ela. Após você voltar, eu retiro. Agora, vá.

Vendo a face implacável da sua tia, a mulher suspira e consente, saindo do local enquanto questionava onde ela conseguiu um objeto tão assustador.

Então, o som de batidas soa na porta que Jiang havia saído alguns minutos, atrás, fazendo Jielu abrir a porta por julgar erroneamente que era a sua sobrinha voltando por ter esquecido algo enquanto se sentia culpada por usar tal tática contra ela apesar de não ter tido outra escolha.

Afinal, ela tinha um excelente trabalho e a família estava se reestruturando financeiramente e socialmente.

Portanto, não podia permitir que um membro arrogante colocasse tudo a perder. Se a mulher aprisionada no jardim das Nuvens era prisioneira ou amante não importava. Não era função dela questionar ou discutir as intenções dos seus superiores. A sua função era apenas supervisionar e administrar enquanto seguia sem questionamento as ordens que eram claras e precisas.

Ademais, se a mulher fosse de fato a amante do poderoso jiaoren, as consequências podiam ser desastrosas caso ela fosse ferida pela sua sobrinha que conhecia artes marciais e mesmo que não fosse ferida, era um fato incontestável o quanto o imperador do Norte prezava as regras e as leis. Não segui-las ou quebra-las levava a várias consequências, fazendo-a temer que a sua família acabasse envolvida por culpa de uma única pessoa.

Ao abrir a porta, avista uma mulher que exibia um porte elegante, com os seus cabelos ônix presos em um elaborado penteado enquanto trajava vestes bonitas. Os olhos negros como a noite mais escura observam o entorno atentamente antes de se fixar na moradora.

Ela cumprimenta a outra mulher que pergunta após convidá-la para entrar:

— Aquele objeto...

— Algum problema?

— É bem eficaz. Qual poder você usou?

— Poder espiritual. Não se preocupe. Não é demoníaco e é de uso único.

— Você é uma mestra de demônios?

— Não. Uma estudiosa com pulso oculto. Eu tive um shifu que me ensinou tudo o que eu precisava saber. Após terminar o meu aprendizado, eu passei a vagar pelo mundo em busca de aprimoramento. Após vários anos de estudo, eu decidi me aquietar um pouco.

— Entendo. Eu ainda fico surpresa por ter confiado em você tão facilmente.

— Talvez seja o seu sexto sentido ou algo assim. Se não fosse a minha sugestão de verificar os relatórios, você poderia sofrer consequências por não ter fiscalizado adequadamente a situação envolvendo a sua sobrinha.

— Verdade. Eu devo a você. Eu não teria visto se não fosse a sua sugestão.

— O importante é que você conseguiu impedir um possível problema a curto prazo considerando o que me contou sobre o temperamento dela. Em relação ao meu pedido, tem uma decisão?

Ela suspira e fala resignada:

— Sim. Eu vou designá-la para o Jardim das nuvens. Você ocupará o trabalho que era da minha sobrinha.

— Muito obrigada.

— Saiba que pode ser considerado um trabalho inferior para os padrões das suas vestes, além do fato de que eu estou tentando compreender, ainda, o motivo de designar alguém que conheci recentemente.

— O supervisor acima da senhora concordou.

— Verdade. Ele concordou e foi permitido. Mesmo assim...

A mulher recém-chegada faz alguns movimentos discretos com os dedos e os olhos da mulher à sua frente saem de foco momentaneamente e depois, retornam junto de um rosto aliviado ao mesmo tempo em que a desconfiança de outrora havia desaparecido subitamente, com a mulher de cabelos ônix ficando surpresa ao ver como era fácil manipula-los porque conseguiu fazer facilmente com Jielu Weiyan e com o seu supervisor.

Claro, ela não precisava fazer tudo isso porque havia um método mais fácil, mas, mesmo em virtude dos seus planos, ela desejava desafiar a si mesma.

— Você começará amanhã, Song Wu.

Então, a supervisora informa o que ela teria que fazer e as regras, com a mulher concordando.

— Eu agradeço a oportunidade.

Elas conversam mais um pouco enquanto Song Wu usava poder em sua voz para sugestionar a outra, reforçando o seu domínio sobre ela.

Após terminar, se despede e sai da casa, para depois, olhar para os céus enquanto comentava consigo mesmo:

— Foi tão fácil. De fato, não há grandes desafios nesse mundo.

Então, ela se afasta, desaparecendo no vento gélido que soprava ferozmente naquele instante, não sendo possível saber quantos seriam soterrados pela nevasca uivante naquela noite.

Nessa linha do tempo, Song Wu começou a intervir nos acontecimentos. Um deles foi conseguir fazer com que Jiang Weiyan não discutisse com Jin Yunhe e consequentemente, não tentasse agredi-la como foi na linha do tempo original que ocasionou a raiva de Chang Yi, que a jogou para fora pela janela, fazendo-a cair em um lago congelado, com esse ato começando a repercussão de outros acontecimentos.

No Jardim das nuvens, mais precisamente no terceiro andar da residência, Jiang apenas coloca a comida na mesa enquanto Yunhe arqueava o cenho porque estava esperando que a mulher agisse como os outros dias, mal-humorada e divagante porque ignorava os pedidos em forma de ordem da nova empregada.

Porém, para consternação dela, Jiang apenas permaneceu em silêncio, sem dedicar um único olhar, para depois, trancar a porta atrás de si.

Enquanto questionava a si mesmo o motivo desse comportamento tão distinto dos outros dias, Chang Yi aparece como sempre fazia, visando fiscalizar as suas alimentações, assim como trazer o remédio que um médico imperial havia receitado.

Naquela noite, as falas e acontecimentos ocorrem como ocorreriam normalmente com exceção das falas sobre um acontecimento que naquela linha do tempo não ocorreu.

Enquanto isso, uma sombra observava a construção localizada do Jardim das nuvens enquanto mantinha um pergaminho em suas mãos cujas escritas surgiam na superfície com ela lendo tudo o que acontecia lá dentro.

A mulher era Song Wu e confessava que imaginava que era assim que o pergaminho se comportava apesar de ser uma cópia o que ela possuía em suas mãos e que lhe custou algumas décadas de cultivo ao mesmo tempo em que se sentia sortuda pelo fato do responsável pelo registro do destino dos mortais, demônios e imortais ser fraco para a bebida ao ponto de dormir sem muito esforço.

O problema foi conseguir dar a bebida, com ela se vangloriando por ter feito alguns doces com bebida alcóolica ao mesmo tempo em que usava uma técnica mágica para anular o cheiro do álcool justificando o amargor como parte da receita. Essa divindade adorava doces e há muito tempo, atrás, havia prometido doces a ele, com ela não imaginando que tal dívida seria útil algum dia.

Enquanto o responsável dormia, a mulher copiou os pergaminhos que desejava e aquele em suas mãos era apenas um deles. Havia outros e dentre eles, havia um em especifico e ao pensar nesse pergaminho, ela é tomada pela dor e tristeza imensurável, além de uma raiva imensa e sem precedentes.

— Song Wu... - a voz sai em um suspiro de dor e de tristeza enquanto a garganta se fechava ao se recordar daquele que tinha o mesmo nome que ela apesar dos caracteres terem um significado diferente dos dela.


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