Pelo Que Você Luta? escrita por Tricia


Capítulo 2
Sorria e Acene


Notas iniciais do capítulo

Olá, domingo é dia de postagem e eu quero fazer direitinho
Boa leitura



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Pelo menos ¼ dos guardanapos da mesa foram rabiscados com leis que serviriam em casos hipotéticos, os potes de katchup e mostarda viraram um casal, a maionese um filho e o molho de pimenta um amante.

A expressão “sorria e acene” nunca foi tão verídica porque por mais de 20 minutos foi o que eu fiz enquanto ouvia tudo que eu já aprendi de forma tão simplificada que meu professor da faculdade que amava explicações completas como a página de um livro olharia Albert Oliver como um pirralho do jardim de infância que a mãe pintava como o próximo Einstein só porque sabia quanto é 4+9.

Eu vi a pena nos olhos do garoto que trouxe os nossos pratos quando olhou para mim. Me deu até um bombom por conta da casa.

— Você sempre tem que ter em mente que um casal pode querer voltar atrás nos últimos minutos do campeonato – Albert explicava com afinco, qualquer coisa que acontecia ao redor no estabelecimento não conseguia atrair sua atenção e parar suas palavras facilmente – Já teve um cliente que me contratou para fazer o seu divorcio três vezes, nas duas primeiras ele desistiu.

— Na terceira ele foi até o final finalmente?

— Não... Ele morreu faltando um mês pra audiência. Eu até fui no enterro – deu de ombros.

Eu não sei se deveria, ou poderia, mas isso me fez rir enquanto brincava com o canudo do refrigerando. A expressão tranquila dele pelo menos confirmou posteriormente que eu não levaria uma bronca de rir de um defunto.

A explicação seguiu até o som do celular tocando fez Albert pedir desculpas, se levantar e sair de perto a passos apressados até estar do lado de fora para atender a ligação. Maneei a cabeça pescando meu próprio celular enviando uma linha completa com sinais de interrogações para Sam.

Meus olhos revezavam-se entre olhar o aparelho e o advogado que agora parecia preso em um dialogo que o fazia franzir as sobrancelhas e balançar a cabeça em acordo com o que quer que a pessoa do outro lado estivesse lhe dizendo.

Quando a ligação foi encerrada ele retornou para dentro com o aparelho no bolso e olhos de arrependimento novamente. Seria Freddie que o ligou sentindo sua falta?

— Acho que teremos de terminar nossa aula por aqui. Preciso voltar agora. Desculpe.

— Não se sinta culpado, quem tomou seu tempo em primeiro lugar fui eu, então se alguém deve pedir desculpas aqui não é você – sorri complacente.

— Se precisar de ajuda com alguma coisa no futuro não se contenha e venha até mim.

Isso não vai acontecer.

— É claro, professor Oliver.

Quando a imagem de Oliver já não podia ser vista me ergui com minha bolsa indo para dentro do banheiro, entrando em uma das pequenas cabines, substituindo o maldito vestido por outro que pelo menos tem um lugarzinho no meu guarda-roupas e saltos de verdade, que merecem meu respeito e adoração por serem bonitos.

Meu celular vibrou no bolso da bolsa quando já estava do lado de fora e eu o peguei atendendo.

— Ele acabou de ir embora – soltei enquanto bagunçava os fios castanhos e substituía o batom – Segurei o máximo que pude.

— Quer tentar fazer isso de novo?

— Não.

 – Freddie me deu um cano.

Bem feito...

— E você ainda quer ir atrás deve?!

— Agora virou questão de honra!

Eu definiria isso como teimosia, das infantis ainda por cima.

— Que seja, daqui para frente é com você. Não quero mais estar relacionada à Albert Oliver por sua causa.

— Jay...

Desliguei o celular o guardando junto com as outras coisas, saindo do banheiro em direção ao caixa aonde o mesmo rapaz que nos atendeu agora estava atrás da caixa registradora me olhando com uma confusão evidente em seu pequeno e pálido rosto.

— A conta, por favor.

— Aquele homem voltou e pagou. Ele também pediu para te entregar isso.

— Não foi o que combinamos – resmunguei pegando o pedaço de papel dobrado que me era estendido, abrindo enquanto saia.

“Gostei do almoço. Espero que se torne uma boa advogada”

Sorri.

Desculpe Albert, mas eu já sou.

 

~*~

 

— A última cliente do dia acabou de chegar.

— Peça para entrar.

Ergui-me rodeando a mesa e esperando o momento que a porta se abriu e minha assistente trazia com sigo a mulher de cabelos castanhos ondulados e pele bronzeada, os olhos percorrendo por todo lugar rapidamente com certa desconfiança e ceticismo até pousarem por completo em mim e engolir em seco como se esse fosse checkpoit de um jogo e logo não poderia voltar atrás.

 Uma sensação muito mais comum do que as pessoas poderiam imaginar.

— Senhora Elizabeth Morgan acredito – me aproximei estendendo a mão que fora prontamente aceita pela mulher – Sou a advogada Jadelyn West, é um prazer conhece-la. Sente-se.

— Acho que cheguei um pouco antes da hora marcada – comentou em uma clara tentativa de descontrair a si mesma. De relance olhei para meu relógio de pulso constante que de fato ela estava 9 minutos adiantada.

— Honestamente, prefiro pessoas que se adiantem a se atrasarem.

Sob seu olhar atento liguei o gravador o deixando sobre a mesa, cruzando as pernas, apoiando o pequeno caderno de anotações na perna e a caneta a postos. 

— Que tal começarmos?

— E por onde eu devo começar?

— Pode ser me dizendo por que deseja se divorciar? Não tenha pressa.

— Meu marido e eu estamos juntos há 13 anos no total contando com o tempo de namoro, nos conhecemos na escola e chegamos a ir para a mesma faculdade aonde acabamos ficando 2 anos separados quando ele esteve em um intercambio, mas depois reatamos quando ele voltou. As coisas funcionavam bem.

— E quando os problemas começaram a acontecer?

— Há cerca de 3 anos eu acho, depois que nosso filho entrou na escola e eu pensei em voltar a trabalhar, quando engravidei eu quis ficar o máximo possível com minha criança sabe? Kevin é bem frágil então achei que prioriza-lo no começo seria o melhor e ele concordou.

— Entendo.

— Depois que eu consegui um emprego as coisas continuaram bem por cerca de um ou dois meses, de repente havia os problemas com as babás que ele sempre dizia não estarem aptas a cuidar do Kevin; eu comecei a sentir que nossas conversas estavam ficando mais curtas e depois quando começavam a ficar longas eram porque se resumia a metade do que seria classificada como uma “briga amigável”, para você sabe, não alarmar muito o Kevin sobre as coisas. Não quero que meu filho cresça num ambiente em que os pais ficam gritando um com o outro.

Era muito evidente a grossa aliança no dedo anelar da mão que estava posicionada sobre as pernas da mulher.

— Eu entendo. Tem algum motivo que a impulsionou agora há querer o divórcio? Poderia ter pensado em terapia primeiro.

— Eu pensei e ate tentei conversar sobre a possibilidade, mas isso só gerou uma serie de brigas que só cessaram porque ele teve que viajar a trabalho e ficou um mês e meio fora de casa, quando retornou fingia que nunca havíamos tido essa conversa, os meses continuaram se arrastando a opção ignorada. Mas o que foi o estopim mesmo eu sinto que foi quando ele começou no mês passado a gritar com nosso filho porque estava irritado, se ele estivesse descontando sua raiva em mim, eu poderia aceitar e ate lidaria como venho fazendo, mas eu não quero que isso continue acontecendo com o meu filho.

— Tudo bem. Vamos resolver o seu problema então senhora Morgan. Por você e pelo seu filho.


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Notas finais do capítulo

Alguém consegue adivinhar quem será o advogado do outro lado da mesa?
Até o próximo domingo
Bjs



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