Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves
Tell e Index acharam a ordem estranha. Mas o jovem adorava explorar as cidades e vilas com o seu fiel amigo. A sua desconfiança não vinha da ordem em si, mas pelo fato de ninguém o estar acompanhando, ao menos, o que não significava que deixava de estar sendo vigiado. Recebera ordens também para não portar armas pelas ruas.
Depois de um farto desjejum, ele e Index saíram do castelo do sultão e atravessaram o pátio central envolta do portão real. O garoto reparou na destruição do estábulo real onde alguns homens trabalhavam na limpeza.
Saragat pedia para que ele saísse sem o livro nessas ocasiões. Mas depois de alguma discussão, ambos concordaram que era mais seguro que estivesse com ele.
— E então, Tell, o que você vai fazer?
— Eu quero comer esfirras e cuscuz recheado.
— Eu te adoro, garoto!
Ambos saíram do castelo e se dirigiram até as ruas. A arquitetura era simples, as ruas estreitas, a maioria das casas era de uso comunitário, com diversas famílias vivendo dentro delas. Cada residência tinha de três a cinco andares.
Tell sentia menos calor devido as sombras das casas de argila. Vestia um colete marrom e calças largas de lã branca, além de botas de couro de cano longo e bico pontudo. Na sua cintura, uma bolsa de moedas de ouro ofertada pelo príncipe Rachid como presente.
Na cabeça, um pequeno turbante com uma joia vermelha incrustrada no centro.
Era a primeira vez que andava as ruas e não via mendigos ou pedintes. Embora houvesse pessoas humildes, nenhuma delas chegava a estar em condições subumanas.
— O sultanato de Oásis parece ter tido um grande progresso.
— Sim, meu caro Tell, parte dos impostos reais é revertido para ações sociais, por isso as crianças que perderam os seus pais ou quando esses não podem mais criá-los são recolhidas aos orfanatos, lugar onde aprenderão uma profissão. Os mendigos e idosos são levados a abrigos municipais, assim ninguém precisa mendigar o pão.
— Isso é uma forma de justiça.
— Eles praticamente cultuam a justiça, não como um fim, mas como um meio.
Explorar uma cidade significava usufruir de tudo o que ela tinha de melhor, a comida, o clima, os costumes e as amizades que ele forjava era o que de mais precioso havia para o garoto. Em alguns momentos, havia percalços, mas as boas lembranças suprimiam os traumas vulgares.
A dupla finalmente chegou a feira municipal, que em Oásis se chamava bazar. O bazar era um bairro reservado ao comércio. Lá se comprava tecidos finos feito dos mais hábeis tecelões, especiarias com aromas deliciosos, frutos do mar vindo de todos os mares e oceanos, armas para todos os guerreiros, e até mesmo animais fantásticos ou extintos... tudo era um convite ao espanto.
Tell caminhava por entre as barracas com o mesmo fascínio de sempre. Se fosse para levar em conta, Index era mais maduro que o rapaz.
Enquanto a dupla se detinha olhando para um enorme animal simiesco que fazia malabares ao som de uma gaita, um jovem de andar sorrateiro se aproximava. Ao lado do mago-espadachim estava um homem que batia palmas ao som da música, quando ele se virou para Tell, percebeu o Guardião do Monstronomicom empoleirado em seu ombro.
— Mas que pássaro é este? Quanto quer por ele?
— Hã, perdão senhor, ele não é um... pássaro. Ele não está à venda.
— Como não? Ele tem asas, se tem asas pode voar. Então, deve ser um morcego-branco?
As veias de Index começaram a saltar pelo corpo.
— Eu não sou um pássaro nem morcego, seu velho senil!
— Olha, ele fala! Deve ser muito valioso, eu dou 50 moedas de Ouros.
— Desculpe, senhor, mas ele...
Vush, o rapaz que se aproximava de Tell lançou-o longe. Quando o jovem se ergueu, percebeu que estava sem a sua bolsa. Index ergueu as orelhas.
— Tell, nossa bolsa de moedas!
— Não, minhas esfirras!
O rapaz levantou-se de um salto. Se Saragat estivesse com ele, a captura do meliante teria sido mais fácil, mas Tell sabia que não podia ser dependente do conjurador, e essa era uma boa oportunidade para mostrar a sua autonomia.
O trombadinha que lhe roubou a bolsa parecia treinado na arte do furto, mais parecia um atleta que um ladrão. Ele vencia os obstáculos com a mesma agilidade que Rosicler, embora ele fosse mais racional nas escolhas, técnico por assim dizer, a ladina tinha uma atuação improvisada, mais fluída e funcional, quase como uma dança.
O gatuno se distanciou cada vez mais do bazar, até que chegou um momento em que ele não sabia mais aonde estava.
— Tell, estamos perdidos, esse roubo pode ser uma armadilha.
— Eu sei, mas não adianta nada recuar, temos que capturá-lo.
Thump, um dardo acertou o ombro de Tell, ele caiu no chão desfalecido.
— Acorde, Tell, ISSO NÃO É HORA DE DOR...
Um dardo acertou o bumbum de Index, que também caiu desmaiado por cima do corpo do garoto. Das sombras, surgiram duas pessoas. Um deles disse:
— Então, essa é a nossa esperança? Foi capturado de modo tão fácil por nossas forças, até mesmo uma caveira o poderia derrotar.
— Veja, o Monstronomicom está com ele. Essa Companhia de Libertadores é uma piada, colocam a si mesmo em risco o tempo todo. Se Oásis depender deles para sobreviver, a nação sofrerá muito. O sultão parece estar correto em não confiar a esses estrangeiros a salvaguarda do Sultanato.
— Vamos levá-los.
O outro tomou um telemago em mãos e transmitiu informes:
— Um já foi, faltam dois.
— Ótimo, para alguém que diz ter derrotado um dos Generais Atrozes, ser derrotado de modo tão fácil me parece um vexame.
— Eles não parecem grande coisa, meu Qayid Eazim.
— Nunca serão, traga Tell de Lisliboux até mim.
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