Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 14
Capítulo 3: A Guerra das Mil e Uma Noites - Parte 2




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No salão de jantar, a mesa estava posta com tantas iguarias que os convivas ficaram surpresos. Aquela foi a mesa mais rica que já tinham visto. Luxo desde a decoração a escolha do cardápio.

O príncipe tomou o cuidado para que não apenas a culinária local fosse agraciada, mas também pratos tradicionais de Flande e Alfonsim. Letícia e Tell agradeceram.

Havia dois lugares vagos na mesa. O sultão não estava a cabeceira. Alegou indisposição.

Rosicler também não apareceu. Embora tivesse sido convidada com antecedência.

Rachid ergueu-se, estava sentado ao lado da alquimista. Levantou a sua taça e ofereceu um brinde a resistência e a Companhia de Libertadores.

― Nós é que gradecemos a sua hospitalidade, príncipe Rachid. Sentimos muito a falta de seu pai à mesa.

Embora eu tenha é agradecido.

― Não se preocupe, minha cara donzela. Meu pai e adail é um homem deveras difícil de tratar. Logo ele saíra desse torpor social.

Tell enchia a boca. Comia como alguém que tivesse sido amarrado a noite inteira.

― Vejo que está bem-disposto, meu feliz amigo.

― Sim, noc, príncipe Rachid, noc-noc.

O garoto sentava-se bem a sua frente. Ao lado dele estava Saragat e depois o conjurador de Al Q’enba.

― Perdoe-me, príncipe, esse animal flandino nunca viu comida na vida.

Todos riram da piada do conjurador. Saragat sorveu um pouco de café, estava viciado na bebida. Oásis era a maior produtora de café do mundo. Aprendera a gostar do seu amargor, embora não gostava muito do pigarro que esse lhe deixava.

― Diga-nos, príncipe Rachid, há algo que não compreendo.

― E o que seria, nobre conjurador?

― Como os clãs de assassinos do deserto passaram a integrar o exército oasiano?

― É uma questão complexa... acho que não posso explicar-lhe.

― Mas eu sim, permita-me.

Amir pediu solicito e o príncipe fez que sim com a cabeça. O servo de Al Q’enba disse:

― Vou narrar antigas histórias, desde que a minha memória não falhe. Partindo do ponto em que lembro e seguindo pelos assuntos que recordo. Antes de Oásis ser fundada há cerca de vinte anos atrás, no início da Segunda Grande Guerra, o Deserto Sem Fim se resumia a dezenas de emirados e califados menores. A única coisa que nos unia era a religião. Esses povos sempre foram fiéis ao nosso deus Al Q’enba. Mas mesmo isso foi insuficiente.

O oasiano continuou a sua narrativa com um tom nostálgico e saudoso.

Zaid, já era alcaide de seu califado. E Zared, seu irmão mais novo, chefe da guarda do palácio. Amir era conjurador de Al Q’enba antes dele, e servia ao maior alcaide da história das áreas desérticas, Zabid al Názir, avô de Rachid.

Desde tempos primevos, os monstros atuavam nas guerras entre os povos do Deserto Sem Fim. Ora os humanos batalhavam ao lado dos monstros, ora os combatiam. Isso perdurou até a chegada do grande Mago Dourado, Sley Garven, o predileto dos Deuses Virtuosos. Ele iniciou a Primeira Grande Guerra de extermínio aos monstros.

― O nome do Mago Dourado era Sley Garven?

Tell de Lisliboux sentiu uma comoção ao saber o nome do Mago Dourado. Embora seu avô Taala nunca tivesse comentado muito sobre as histórias das guerras com ele, o jovem sentia uma grande admiração pelo maior herói de Lashra.

O Mago Dourado! Eu quero ser tão forte quanto você.

― Como o senhor sabe tanto sobre essas coisas, senhor Amir?

― Eu sou um velho conjurador que já viu muitos verões. Além disso, os conjuradores não são apenas magos divinos, nós temos uma responsabilidade com os ensinamentos de nossos deuses patronos e com a memória do mundo, a qual chamamos de história. Inclusive Al Q’enba foi o primeiro a denunciar os atos sórdidos de deuses como Enug, o deus dos monstros e Nalab, a deusas das sombras.

Todos se viraram para Saragat. Ele respirou fundo, aqueles olhares eram de quem queriam uma explicação. Uma gota de suor escorreu pela testa vincada.

― Não me olhem assim... eu apenas represento a minha deusa, não me responsabilizo pelos seus atos. Mas sim, é verdade. Nalab já foi uma Deusa Profana, pois era apaixonada por Enug. Mas ao ver a destruição provocada pelos monstros, ela decidiu se aliar aos Deuses Virtuosos.

O mago-espadachim estava confuso, como Nalab podia ter se apaixonado por um deus destrutivo como Enug?

― Mas, Saragat, como a deusa Nalab foi capaz?

― Eu não sei, garoto enxerido, só sei que foi assim.

Letícia Dumont que já conhecia aquela história de amor duvidosa entre deuses, deu a sua opinião.

― É inacreditável como os deuses são capazes de brincar com as vidas e com esse planeta. Criam-se seres, retiram as suas vidas. Lhes dão um mundo completo de tudo, para depois inseri-lo em caos e guerras despropositais...

Todos se voltaram para ela. Em Alfonsim, se pregava a liberdade de crenças, mas a maior parte da população era apostata. Não cultuava ou servia a nenhum deus. Era assim desde a sua fundação.

Eles haviam renunciado qualquer forma de conhecimento que resultasse da religião. Viam nos deuses não entidades dignas de culto, mas de profundo estudo e análise.

O conjurador oasiano, como um religioso conservador, indignou-se, mas soube dar uma resposta adequada a militar.

― Os alfonsinos a muito trocaram a fé pela razão. E fizeram da ciência uma conduta tão dogmática quanto a religião.

― Senhor Amir, não transforme isso num debate teológico. Estou tratando de ética...

― Esperem!

Disse Tell. Se aquilo continuasse, não haveria mais história a ser contada.

― Eu compreendo as divergências de vocês. Mas eu quero saber mais sobre as guerras, sobre o passado de Lashra. Eu não tive uma educação formal. É minha chance de saber tudo agora.

O velho cego fez que sim com a cabeça. E continuou de onde havia parado:

― Houve sedição entre os Deuses Profanos, pois para eles, os humanos não deveriam ser acolhidos ou instruídos, mas sim escravizados. Os homens deveriam servir aos deuses. Isso gerou muita discordância entre as deidades.

Amir falou da guerra travada entre as duas facções divinas. Com a derrota dos Deuses Profanos, foi instituído um tribunal divino, o Conselho das Sete Virtudes. A decisão era de que os rebeldes poderiam morrer caso continuassem a se insurgir. E Enug seria mandado ao exílio para que servisse de exemplo aos demais deuses ousassem se rebelar.

Mas Enug fugiu com a ajuda de Nalab. De modo vingativo, criou os monstros. Uma raça de seres desprovidos de razão ou virtudes. A única coisa que eles faziam era praticar a destruição e a violência. Foi nesse momento que Nalab se arrependeu e se juntou aos Deuses Virtuosos.

Mas o mal que praticara não foi esquecido. Acabou sentenciada a viver uma vida terrena inteira sem os seus poderes, apenas vivendo com a imortalidade. Sofrendo com as doenças, pragas, fome, sede, sono, o frio, a velhice e a violência mundana.

Durante cem anos ela vagou pela Terra, até que os Deuses Virtuosos a restituíram na Morada dos Deuses.

― Puxa, senhor Amir, ela deve ter sofrido muito!

― Eu que o diga, Tell, como conjurador das sombras só eu sei o quanto de tristeza elas carregam.

O garoto observou Saragat. A relação entre deusa e conjurador era forte entre eles.

― Conte-nos mais, senhor Amir, nos fale do Mago Dourado!

― Hohohoho, você parece gostar de nosso herói, hein?

― Sim, eu admiro muito ele.

― Pois bem, vou relatar a você o pouco que me lembro.

O Mago Dourado era filho de um casal de lavradores da vila de Wheevel, no Baronato de Esmirna. Nasceu no ano XVII do 12º Reinado, na casa nº 94, quando o rei Vuroda II ainda reinava.

Uma semana depois ele foi levado ao Santuário de Panteu no centro da capital do Reinado. Na ocasião, as estátuas de todos os deuses virtuoso inclinaram a cabeça na hora do batismo, à vista de todos. O povo identificou isso como um grande milagre.

Os cabelos da criança, de negro ficou dourados como as espigas de trigo do campo. Os olhos castanhos se tornaram duas pedras de safira de tão azuis que ficaram.

Em todo o mundo, conjuradores dos Deuses Virtuosos profetizaram: “Uma criança semeará a paz e destruirá a monstruosidade, esta criança em toda a sua pureza e fragilidade representa os nossos desígnios”.

― Nossa!

― Dizem que ele recebeu a energia divina de todos os Deuses Virtuosos e dominava qualquer arte mágica.

― Exceto a conjuração, Saragat. Ele achava injusto lutar usando o poder de um deus.

― Perdoe-me, senhor Amir, sempre me esqueço desse fato.

O Mago Dourado havia sido mestre de Taala de Lisliboux e de Zarastu. Além de sua própria filha.

― Então o vovô Taala foi mesmo aprendiz do Mago Dourado?

― Sim, isso é tudo que sei sobre a relação do Mago Dourado com o Lisliboux.

― E quanto a influência da guerra nessas terras, senhor Amir?

Disse Letícia agitando uma taça. O conjurador fez um gesto com a cabeça e continuou:

― Como falei anteriormente, antes do herói lashriano, embora houvesse uma grande animosidade entre as raças de homens e monstros, houve momentos de funesta colaboração entre eles. Muitos príncipes e generais se utilizaram dos monstros para atacar os seus entes. O que me faz refletir, não seriam eles monstros também?

No Deserto Sem Fim havia dois problemas para uma unidade política: os monstros e os assassinos. Resolvendo o segundo, eles resolveriam o primeiro. Mas os irmãos Zaid e Zared divergiam sobre a forma de lidar com a questão.

De acordo Zared, os assassinos deveriam ser exterminados, pois eram causa de temor. Desequilibravam a balança de poder, forçando muitos príncipes do deserto a se aliarem aos monstros para combaterem os seus inimigos. Os assassinos constituíam um clã especializado na arte de matar. Eram mais temidos que a Horda.

Tinham uma forma própria de culto, e não eram ligados por relações de sangue. Não juravam lealdade a ninguém. Viviam ocultos em suas roupas negras, numa fortaleza de pedra de difícil acesso nos confins do deserto.

Zaid pretendia fazer deles a sua guarda pessoal, e servir-se dos seus talentos na arte de matar para acabar com os seus opositores políticos. A discussão entre ambos foi acirrada, e depois de toda a altercação, resolveram que Amir julgasse pelo sangue. O fiel da Balança da Justiça pendeu para Zared.

Mas Zaid em nenhum momento desistiu de seu plano, apenas o postergou para um momento mais propício. Até que finalmente o irmão mais novo se cansou e decidiu abandonar o Deserto Sem Fim e servir ao Mago Dourado.

― O que aconteceu depois?

― O que aconteceu depois a senhorita Letícia já sabe. Ele foi acusado de debandar e foi dado como desaparecido.

Depois da Primeira Grande Guerra, o Deserto Sem Fim se viu livre dos monstros. Zaid não viu mais necessidade de formar alianças com os assassinos.

Mas há exatos vinte anos atrás, monstros começaram a aparecer e o alcaide decidiu formar um reino nos mesmos moldes da Casa de Habsburgo. Devido a sua influência, o alcaide garantiu o respeito e apoio de outros governantes do deserto. Mas não era suficiente, e durante mais de dois anos uma guerra devastou o Oriente Médio.

Esse conflito foi chamado de Guerra das Mil e Uma Noites, devido a sua duração.

― Eu sei que uma guerra com mais de dois anos parece pequena em relação a essa que vivemos atualmente contra os monstros. Mas ela foi intensa e lavou a areias com sangue por quilômetros.

Mas a coalizão antiunificação fez um acordo com o Batalhão Amaldiçoado. Zaid se desesperou e convocou o Qayid Eazim dos assassinos e lhes propôs um acordo.

― Que acordo?

Perguntaram os membros da Companhia de Libertadores a mesa.

― Os assassinos seriam a sua mais nova guarda real e o serviço secreto, caso colaborassem na criação do Sultanato de Oásis.

Saragat ficou pensativo, era um meio pouco ortodoxo de se conseguir a paz.

― Não foi uma atitude arriscada de seu adail?

― Sim, tão arriscada que foi punido com a infertilidade após o acordo. Mas apesar disso, o alcaide conseguiu o seu intento. Na Mais Triste das Noites, os assassinos mataram impiedosamente cada inimigo e opositor de Zaid al Názir. Pela manhã, mães e esposas choravam o sangue derramado dos homens. Não existia mais o Deserto Sem fim, agora, em meio ao sacrifício de tantos, surgia o Sultanato de Oásis.

― Um custo benefício alto demais para qualquer monarca.

Rachid pareceu constrangido com o relato de Amir, mas entendeu o recado de Saragat.

Letícia encarava o nobre oasiano, não mais com desprezo, mas com admiração. Ele também era vítima dos planos megalomaníacos de seu pai. O alfaraz resolveu continuar a discussão de onde o sacerdote havia parado.

― Então os assassinos deixaram de ser inimigos do Estado e passaram a ser chamados de Esquadrão Assassino Secreto.

― Tem certeza que deseja falar de assuntos de segurança nacional com eles, príncipe Rachid?

― Não se preocupe, meu bom Amir, eles também são parte da nossa segurança nacional agora.

O jovem de pele cor de bronze relatou como funcionava a estrutura da atual guarda real.

Na base da hierarquia, estavam os fid’ai, assassinos aprendizes. No nível intermediário estavam os rafeek, esses já executavam missões em grupo e em companhia de um d’ai, esse último era um assassino graduado que já realizava missões sozinhos. Eram os mais fortes e respeitados.

O mais completo e poderoso assassino garantia a liderança do grupo. A ocupação do cargo de Qayid Eazim não era feita nem por votação, nem por hereditariedade, mas sim por duelos de vida ou morte entre vários d’ai.

Em caso de morte do líder dos assassinos em missão ou por outro fator, a vacância do posto era feita depois de um combate entre d’ai voluntários, tudo sob testemunho de cem outros assassinos.

― Mas que coisa cruel!

Letícia Dumont não acreditava em toda aquela crueldade.

Como eles podem ser tão... monstruosos?

― Isso não são práticas humanas.

― Não, verdade seja dita, minha honorável donzela, esse método é inumano. Mas foi uma das exigências para a fundação da nossa guarda real. Nunca ousamos interferir em seus códigos e costumes. Do mesmo jeito que eles não interferem em nossa política interna, e se mantém fiéis na manutenção da Casa de al Názir.

Depois disso, todos terminaram o jantar em silêncio. Havia uma guerra surgindo naquela semana e falar de tantas batalhas mexiam com o espírito.

***

No término do jantar, a Companhia de Libertadores se despediu da mesa, deixando Rachid e Amir para trás. Todo o grupo se dirigiu até o quarto de Tell e Saragat.

A alquimista e o conjurador de Nalab trancaram a porta atrás de si e espreitaram alguma escuta através de telemagos. Checada a situação, Letícia disse para que Tell se sentasse, teriam grandes revelações a fazer.

― Mas a Rosicler ainda não chegou!

― Não se preocupe, contataremos ela em algum momento.

― Eu começo ou você começa, Saragat?

― Primeira as “damas”.

― Então, tudo bem. Tell, não sei se você percebeu o seu desenvolvimento na área de magia e alquimia. Você consegue fazer uma forte emissão de energia mágica, embora pareça não controlar bem a quantidade. Mesmo assim é surpreendente.

― Eu sei, eu treinei e me esforcei muito, professora Letícia.

É verdade, Tell, mas não é só isso...

O servo de Nalab também se sentou. O garoto estava desconfortável com toda aquela observação, sentia-se uma cobaia.

― Você se lembra quando ressuscitou Saragat com a Pedra Filosofal em Alfonsim, Tell?

― Sim, foi incrível!

― Pois é, mas no processo você acabou recebendo energia do artefacto. Isso alterou a estrutura do seu fluxo mágico.

― Espere aí, senhorita Letícia, quer dizer que todo o poder do Tell foi despertado e otimizado pela Pedra Filosofal?

A mulher confirmou com a cabeça a Index. A criatura ergueu as orelhas em espanto.

O conjurador achava aquilo inacreditável. Alguém havia recebido uma grande quantidade de energia mágica em estado puro e continuava vivo.

― Mas, mas eu... isso pode me prejudicar?

― É difícil dizer sem testes e estudos comprobatórios. Se estivéssemos na Real Academia Alquimista, nós teríamos os equipamentos necessários para estudar o seu caso. Você é o primeiro humano a sofrer uma transmutação e continuar vivo, Tell, isso é o que te torna único.

― Espere, mas e o Saragat?

― Não, a questão dele é diferente. A Pedra Filosofal reverteu os malefícios provocados pelo veneno de Pazuzu. Saragat morreu por falência múltiplas dos órgãos. Seu fluxo mágico também foi desintegrado no processo. Mas quando o processo ocorreu, ele tinha todas as funções vitais cessadas. Ele estava morto.

O mago-espadachim não sabia o que dizer. Não queria ser uma aberração.

― Então é por isso que eu aprendo as coisas bem rápidas?

― Sim. Não só isso, o seu fluxo mágico se fortaleceu. Sua energia mágica é uma das mais poderosas que já vi, pirralho. Mesclar a esgrima flandina e magia arcana foi um golpe de sorte, mas aprender transmutação em menos de uma semana, isso só um gênio pode fazer. O que não é o seu caso.

Index e Tell deram língua para o mascarado. O embuçado sorriu.

O jovem coçou os cabelos crespos. Ergueu-se do assento e andou de um lado para outro no quarto. O Guardião do Monstronomicom estava em sua cabeça, e repetia as gesticulações de Tell. Ele temia que isso de alguma forma o levasse a morte, ou acabasse o transformando em um monstro.

― Isso pode acabar me matando de alguma forma?

― Não podemos afirmar nada, Tell. Como uma alquimista, posso dizer que a Pedra Filosofal não foi projetada para produzir malefícios.

― Ouvi dizer que ela conferia a imortalidade!

― Nossa, eu sou imortal?

Bong, Saragat deu uma cajadada na cabeça de Tell. O galo denunciou a sua fragilidade.

― Não, você não é imortal.

O garoto derramou uma torrente infinita de lágrimas. O galo de Tell ergueu Index de sua cabeça.

― Mas não é só isso moleque. O Monstronomicom está em constante transmissão de energia mágica de você para ele, e vice-versa. Uma espécie de relação simbiótica. O que tudo indica que para o livro funcionar, precisa de uma troca de energia mágica mútua. Como só usuários de energia mágica podem utilizar, ou pessoas dos Lisliboux, fica fácil saber o porquê.

Saragat explicou que alguns artefactos só podiam ser usados por determinadas pessoas. Os magos-artífices tinham modos de preparar armas que só pudessem ser manipuladas pelo guerreiro que a encomendara ou pela família dele. Era um modo de proteção.

O livro parecia seguir o mesmo propósito. Mas isso não ocorria sem a consciência do usuário. Logo essa transmitância mágica deveria ocorrer quando o mago desejasse e não de modo automático.

― Então vocês acreditam que a energia da Pedra Filosofal que absorvi é a responsável pela troca incessante de energia entre mim e o Monstronomicom?

― Também não temos certeza. Mas sim, é uma teoria válida. No mínimo, ela deve ter acelerado o processo. Há quanto tempo você sente isso, Tell?

― A troca de energia mágica? Ah, bem, desde Flande. Eu só não tinha a percepção mágica que tenho hoje. Com as lutas e o treinamento, as coisas começaram a ficar mais claras.

― Então, por ora, podemos dizer que Taala construiu o Monstronomicom para trocar energia mágica com o usuário. Sabemos que a monstruosidade é absorvida pelo livro e os monstros são catalogados. Pelas figuras, eles parecem menos agressivos que os reais. Mas porquê?

Essa era a difícil pergunta. Mas já era tarde da noite, decidiram que a vida respondesse.


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