Love is War escrita por teffy-chan


Capítulo 3
Capítulo 3 - O megafone com que tentei gritar está quebrado




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O megafone com que tentei gritar está quebrado

Como é difícil enganar a mim mesma

Eu cairia para você me ver, mas você não vê

 

 

Alguns dias passaram e eu melhorei da gripe. Quem diria que o remédio de Kaito ajudaria. Cantarolava enquanto ajeitava o cabelo em frente ao espelho do banheiro quando uma cabine abriu-se e Luka surgiu atrás de mim.

— Céus, sua voz é tão ruim quanto seu caráter — Luka comentou enquanto lavava as mãos.

— Como é? — perguntei, encarando sua imagem no espelho.

— Acha que não percebi que está tentando roubar meu namorado? — acusou — O Kaito é meu. Fique longe dele, para seu próprio bem.

— Ele não é uma propriedade para ser seu — rebati — Além do mais, ele sempre conversa com outras alunas. Você ameaça todas elas?

— As outras meninas não estão interessadas nele. Elas sabem o lugar delas — Luka deu de ombros — Mas você… — ela encarou-me, estreitando os olhos — Olhe para você. Uma garota simplória, com cabelos mal cuidados. Tão infantil, andando por aí com essas marias-chiquinhas. Quem olharia para você, sua pirralha? — segurou uma mecha do meu cabelo.

Talvez ela o puxasse só para começar um briga. Se eu revidasse a culpa cairia sobre mim. Ninguém acreditaria que a descendente de uma família de Condes agrediu uma estudante. Sempre sobra para o pobre. Felizmente Luka soltou meu cabelo. Ao invés de puxá-lo, aproximou o rosto do meu ouvido, como se confidenciasse um segredo.

— O Kaito é muito amável então não sabe distinguir gentileza de amor e acaba não percebendo quando alguém está dando em cima dele, entende? Mas eu sei diferenciar muito bem — Luka sussurrou no meu ouvido — Eu não posso perder o Kaito de jeito nenhum, então fique longe dele. Preciso ficar com ele, então pare de dar em cima do meu namorado, ou juro que vou transformar sua vida em um inferno.

Ela afastou-se e exibiu um sorriso falso.

— Ah, também aconselho que pare de cantar, você não leva o menor jeito. Talvez deva concentrar-se naquele negócio de células que o professor disse outro dia. Conselho de amiga, viu? — saiu do banheiro como se nada tivesse acontecido.

Permaneci parada no mesmo lugar por alguns instantes, suando frio. Aquela garota era mesmo cruel. Por que o Kaito estava com alguém como ela? Ele merecia coisa melhor! Merecia alguém como eu.

Mas será que eu era melhor do que Luka? Por mais esnobe que ela fosse, tinha uma certa razão, só estava tentando impedir que outra pessoa roubasse o namorado dela. Afinal, assim como eu, ela queria ficar com Kaito.

Espere… ela disse que “precisava” ficar com Kaito, e não que “queria” ficar. Alguém que está apaixonado costuma dizer que “quer” ficar com a pessoa de quem gosta, certo?

Talvez fosse minha imaginação misturada com ciúme falando mais alto. De qualquer forma, ela não apenas me ameaçou, mas também ofendeu minha voz. Logo eu, que faço parte do clube de música da escola! Não posso deixar as coisas assim. Ela disse que vai transformar minha vida em um inferno se eu insistir em ficar com Kaito, certo? Pois eu transformarei a vida dela em um inferno primeiro. E de quebra provarei que minha voz está longe de ser ruim.

 

 

 

~~~~~X~~~~~X~~~~~

 

 

 

 

Naquela noite fui à casa de Kaito, o que não foi fácil. Disse aos meus pais que ia visitar uma amiga, mas a parte difícil foi chegar à casa dele. Ou melhor, mansão. A família de Kaito era rica, às vezes esquecia-me disso. Ele morava em um bairro nobre da cidade. Para minha sorte ele havia sido membro do clube de música no começo do 1° ano letivo, mas desistiu alguns meses depois e juntou-se ao clube de esgrima. Corria um boato de que Luka o convenceu a trocar de clube. Eu não duvidada de que fosse verdadeiro.

De qualquer forma, graças a isso, ainda havia o endereço dele nos registros dos membros e ex-membros do clube. Encontrei a casa dele, mas era impossível entrar. Os portões eram altos e havia seguranças. Não podia simplesmente bater na porta e dizer que vim visitá-lo a essa hora, podia?

Talvez pudesse… eu não era nenhuma ladra, era apenas uma amiga da escola. O máximo que iria acontecer era o segurança dizer “não”.

Deixei meu plano maluco de lado quando percebi que a luz de uma das janelas do segundo andar estava acesa e ouvi risadas vindas de lá. Nossa, ela realmente ria alto para eu escutar daquela distância.

Mas é claro que estava rindo. Quem não ficaria feliz na presença de Kaito? Só podia ser o quarto dele, visto que era a voz de Luka que eu estava ouvindo. Não entendi completamente o que ela dizia, mas claramente estava feliz. Ouvi uma voz masculina em seguida, um pouco mais séria. Era Kaito, como imaginei.

O que ela estava fazendo ali? Já estava anoitecendo, eles já estavam tão próximos assim? Por isso me chamou de pirralha mais cedo… meu rosto queimou só de imaginar as coisas que eles já poderiam ter feito. E meu coração apertou dolorosamente por ter sido com ela.

Por que Kaito estava com alguém tão mesquinha como ela afinal?

Não podia permitir que isso continuasse.

Era como se meu corpo se movesse sozinho. Antes que me desse conta, havia pego o megafone que trouxe na mochila e o apontei na direção da janela de Kaito. Quem precisa de microfone afinal? Se é para cantar, então farei isso com estilo. Provarei que minha voz está longe de ser ruim, e de quebra finalmente direi o que sinto para Kaito.

 

 

Ah, um céu limpo sem nuvens, mas não tão exótico

Não consigo controlar meus sentimentos

Como eu posso… o que eu posso…

Chorar, não… eu não vou

Te amo

 

 

Havia algo errado. Digo, além de estar cantando na janela de um garoto comprometido para a rua toda ouvir. Minha voz estava falhando apesar da minha garganta estar em perfeito estado. Ora soava alto demais, ora soava aguda. O megafone estava quebrado.

Não consegui terminar a canção, mas não foi por isso. De repente uma chuva desabou sobre mim.

Chuva de lixo.

Papel amassado, pontas de lápis, vidro quebrado e até cascas de frutas. Limpei os olhos e ergui a cabeça a tempo de ver Luka segurando uma lixeira vazia. Como ela acertou aquilo em mim daquela distância eu nunca vou saber, mas não importa. Eu provavelmente merecia aquilo. Cantar que amava um garoto com a namorada dele bem ali… céus, que idiotice.

Ouvi Kaito gritar alguma coisa, mas não prestei atenção. Entretanto, quando o vi na janela, saí correndo. Não podia permitir que ele me visse naquele estado. Meu braço sangrava por causa de um caco de vidro que me acertou. Meus olhos lacrimejavam e eu não sabia se era por causa do fedor de lixo ou por causa da vergonha mesclada com tristeza que sentia. Talvez fosse as duas coisas. Não importa. Agora Kaito sabia sobre os sentimentos que eu nutria por ele e fui completamente humilhada por causa disso. Ele provavelmente estava rindo de mim.

O amor era mesmo uma guerra. E eu a perdi.

 


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