Abaixo das estrelas escrita por Mandalay


Capítulo 2
Os excessos de vazio de Spirit




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O forte odor de tabaco o fazia torcer o nariz estando ao lado de Stein, era como se a fumaça fosse capaz de impreguinar todos os pelos de seu corpo e não contente em dominar o corpo também se apossava das roupas que ele usava, o tornando quase uma chaminé ambulante, o grande mistério se dava pelo jaleco que ele sempre usava ainda continuar branco. Era claro que a lavagem de roupas ainda existia no mundo de dissecações do velho doutor maluco mas, se ele optava por lavá-las era uma questão ainda sem resposta aparente. Talvez a presença de Marie marcasse alguma mudança nesse aspecto mas quem seria ele mesmo para se preocupar com a higiene de seu tão detestado torturador?

Spirit passava longe de ser masoquista, isso com toda a certeza.

Ainda assim, era de se impressionar que mesmo a anos sem fumar Stein ainda conseguisse carregar traços de seu costumeiro hábito.

Marie uma vez lhe contara que fumar o lembrava da insanidade que sentira quando o Kishin ainda era um problema sem solução nas mãos deles, os seniores, que estavam reunidos em um dos bares que costumavam frequentar quando ainda não passavam de formandos para celebrar os velhos tempos como também, para colocar suas viagens em dia. Azuza sendo a que se saía em disparada com muitas histórias para contar de suas passagens pelo Oriente Médio e Pólos Norte e Sul; aparentemente suas habilidades de tiro a longa distância ainda eram muito requeridas, resultando em boas memórias para relatar aos amigos de academia. Se comparados a ela, Stein e Marie dificilmente conseguiriam viajar com a filha inquieta que tinham e ele tão pouco, se preocupando em auxiliar Kid no que fosse possível com relação a Shibusen, bem quando poderia simplesmente se aposentar enquanto Death Scythe.

A verdade é que sem mais a presença do antigo Shinigami ele se sentia estranhamente deslocado de sua realidade e mesmo ali, ladeado de rostos conhecidos e lembranças agradáveis, a noção de perda de motivo se tornava cada vez mais difícil de ser ignorada.

Basicamente sua existência parecia perder um pouco do brilho de outrora.

Como se os seus tempos dourados já houvessem passado mas, pelo o que ele conseguia recordar, estes mesmo quando o carregavam de motivo também não eram tão resplandecentes assim, já que ele se acostumara a preencher suas falhas e lacunas e vazios com os maiores excessos que conseguia pagar.

Sua fama de mulherengo certamente vinha daí.

Enquanto seu maior conforto, diante de tudo aquilo o que passara até aquele momento de reunião, ainda continuava o mesmo.

Maka.

Sua filha.

— Uma dose por seus pensamentos?

A voz de Marie era sóbria e doce quando colocara um copo pequeno preenchido por um líquido cor de cobre a sua frente no balcão.

Stein parecia entorpecido o suficiente do outro lado, rindo de algo que Sid lhe contara.

Um suspiro e em seguida sua garganta queimava.

O copo estava vazio.

— Como se sentiria se perdesse a M.M.?

— Perder? Perder como?

— Perder, Marie. Como se sentiria se sua filha morresse de repente?

Uma careta desgostosa colorira o rosto da arma e se não estivessem em um ambiente fechado, Spirit tinha certeza de que ela faria dele um churrasco completo. Mas por fim, ela apenas virara a cara.

— Que pergunta de se fazer.

— Você que quis saber no quê eu estava pensando.

— E que pai pensa em perder a filha?

— Um que quase se sacrificou pela dele.

Os dedos dela eram alvos, a pele bem mais clara que a dele, quando uma das mãos segurou a dele sobre o balcão.

— Mas isso já passou, não?

— E as vezes eu me pergunto como seria para ela se eu não estivesse mais aqui, ou como seria se ela não estivesse... me perdoe Marie, acho que exagerei na bebida.

— Tudo bem mas se quer realmente saber, eu ficaria tão desolada quanto fiquei quando perdi o B.J. e tenho certeza de que Stein também ficaria. Seria uma dor que nós nunca deixaríamos de sentir e também, não sei se ele ainda estaria comigo caso isso acontecesse.

— O luto de um filho é algo para uma vida inteira e tenho certeza de que a sua filha odiaria te ver desse jeito Spirit.

Stein observava as lentes de seus óculos, aparentemente alheio a conversa dos dois, para depois encará-lo sério.

Ele deu um tapinha no ombro do amigo.

— Sim, e você está certíssimo. Como já disse, eu bebi demais e agora vou embora. Diga aos outros que me senti mal ou algo assim.

Do lado de fora a noite o agraciava com o tempo parado, as nuvens corriam pelo céu mas não havia vento algum no chão, como um abraço desagradável. Fora ali que o rosto de sua filha viera a mente e seus pés apenas seguiram e seguiram, sem parar mesmo quando o corpo cambaleava, em direção ao apartamento que ela dividia com sua arma e a gata, que também era uma bruxa.

ah, que surpresa fora a de ser recebido pelos olhos vermelhos de Maka. Ela estivera chorando antes de recebê-lo, por qual motivo?

O abraço fora mais apertado do que ele estava acostumado a receber dela.

Não havia algo melhor para a alma de um pai errante como ele do que receber um afeto tão genuíno de sua única família.


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Notas finais do capítulo

Foi sem querer mas dias depois de dar por encerrada a primeira história da série que consegui terminar essa que acabaram de ler, que foi a que me deu a ideia de "Abaixo das Estrelas" em si e pensei que ligar o final de uma a outra, mesmo que sutilmente ficaria legal. E ficou! E, como fui eu a inventar a filha da Marie com o Stein decidi que o nome dela seria M.M. pois pensei que ficaria bonito como uma homenagem a memória do B.J., no caso da Marie.



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