Crise de fé - Avatrice escrita por KodS


Capítulo 4
Barganha


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu não sei manter prazos.
.
Mentira, eu fiquei longe porque eu tava fazendo um curso de conservação de papel, coisas normais de bibliotecários, sabe como é? Papel velho, bichinhos, fungos... afins.
Sim! Nas minhas férias de verão (sem ar condicionado), porque aparentemente sou trouxa, digo, workhollic.
É isso, agora acabou e posso focar só nas minhas meninas ♥ Acho que ainda sai mais duas fics de Warrior Nun, uma narrada pela Ava (da voz da cabeça da Ava mais especificamente, aquela safada) dos dois meses que passaram na Suíça e uma songfic baseada em Runway da Aurora.



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There goes my heart beating

‘Cause you are the reason

I’m losing my sleep

Please, come back now

 

— Bea! 

O coração de Beatrice batia acelerado com a voz desesperada de Ava batendo pelas paredes. Não havia dormido nada naquela noite, revirando na cama, jogando as cobertas para o lado e vagando pelo quarto buscando se exaurir o máximo que conseguia, mas nada adiantava. 

Haviam sido três noites disso, três noites que havia perdido Ava. 

Talvez estivesse começando a alucinar, era normal em quadros graves de insônia.

Se deitou outra vez, encolhendo as pernas e enrolando os braços ao seu redor e por, um instante, quase podia sentir o peso ou o calor de Ava ao seu lado. 

Toda a raiva do dia anterior, se dissolvendo como se nunca tivesse existido. Ela não podia odiar Ava, não podia sequer sentir raiva disso. Não pode no dia em que ela fugiu do convento e nem quando moravam juntas, ou quando trabalhavam no bar e a amiga se atrasava para aproveitar a piscina. 

Se levantou e caminhou com passos lentos até o quarto que pertencia a ela.

Fechou a porta com delicadeza e encarou a janela aberta do outro lado. Alguém deveria ter esquecido de fechar e agora todo o quarto parecia sagrado.

 

And there goes my mind racing

And you are the reason

That I’m still breathing

I’m hopeless now

 

Em algumas noites quando estavam nos Alpes, Ava resmungava e acordava suada, às vezes eram pesadelos, outras vezes… não. 

Beatrice se reservava em ficar virada para a parede, esperando que algum sinal aparecesse ou o sono voltasse e quase sempre funcionava. Ela conseguia voltar a dormir em pouco tempo, ignorando o que quer que sua curiosidade lhe pedisse para espiar. 

Havia aprendido que sua curiosidade era inconveniente, Lilith uma vez lhe chamou de bisbilhoteira, mas a verdade é que costumava ser contida. Isso era mais difícil em relação a Ava. 

Naquelas noites distantes, uma parte de sua cabeça queria lhe garantir que eram sempre pesadelos e que ela deveria se virar e olhar, tentar ajudá-la. A outra parte, queria espiar justamente por ter certeza de que não eram pesadelos, essa era um pouco mais difícil de conter. Nesses momentos, fechava bem os olhos, agarrava o colar da irmandade entre as mãos em posição de oração e tentava bloquear os sentidos com uma prece até que os barulhos parassem. 

Em uma noite, Beatrice estava tomando água quando os barulhos começaram. Ela parou contra a parede, encarando o teto e pensando no que faria até conseguir cruzar a distância até sua cama de novo, a outra opção seria adormecer no sofá, mas então um par de palavras lhe chamou a atenção. 

— Não, Bea!

Largou o copo com rapidez sobre a mesa e se ajoelhou ao lado de Ava e segurou seu rosto, seus ombros e suas mãos. Tentando que o excesso de contato pudesse trazê-la de volta ao mundo acordado.

  — Eu estou aqui! Ava! — ela chamou, abraçando a amiga junto ao peito. — Eu estou aqui!

Ela se afastou a tempo de ver os olhos de Ava se abrindo, desorientados e então brilhantes de reconhecimento.

A Irmã Guerreira, então, apertou suas mãos, seus abraços e se colocou contra a curva do pescoço, aquele lugar que já pertencia a ela.

— Bea, não vai embora, por favor.

Beatrice sabia dos problemas de Ava com abandona e não viu outra escolha se não aninha-la em seus braços, acariciando os cabelos até que ela dormisse novamente.

 

I’d climb every mountain

And swim every ocean 

Just to be with you

And fix what I’ve broken

‘Cause I need you to see

That you are the reason

 

Beatrice acordou com o sol em seus olhos, o cheiro de Ava ainda estava na roupa de cama e isso a ajudou a adormecer.

Naquela manhã, se sentia mais viva, decidida a consegui-la de volta, nem que para isso tivesse que ir para o inferno e voltar e precisava estar preparada. Vestiu sua roupa de treino, tomou o café da manhã e se juntou às outras irmãs.

Derrubou todas, uma após a outra, esquecendo-se de auxiliá-las sobre como melhorar a postura e observar seus oponentes para melhorar sua luta. Sua cabeça estava afastada de tudo outra vez. 

Três dias.

Três dias que se sentia afastada de sua vida. Com a alma distante de seu corpo de uma forma irreversível. Talvez se lutasse o suficiente, se sacrificasse seu corpo o suficiente e sofresse como Jesus, talvez, só talvez pudesse reaver o que perdeu. 

Por isso pulou o almoço e o jantar para se dedicar à oração e à luta. Ava era mais importante.

Tão importante que a dor que sentia em suas mãos, em seus pés ou em sua barriga vazia se tornava suportável. O suor escorria por seu rosto e pingava no tatame de borracha, criando pontos tão pegajosos como seu corpo. 

Três dias que não se alimentava direito.

Estrelas brilhavam em sua visão nublada e a dor explodiu em sua cabeça, fazendo com que Beatrice se curvasse por um momento. Se obrigou a parar, deitada de costas, encarando o teto.

Sempre foi disciplinada, garantindo que tivesse condições físicas e mentais para ser o melhor que já havia sido. 

Já eram três dias que não se importava com isso.  

Se levantou mais uma vez. Se colocou em posição de luta e voltou a treinar com a mesma força de antes. Se do outro lado da máquina de Jilian Salvius não havia dor e nem morte, então não importava seu estado físico quando passasse por ela. 

Tudo ficaria bem quando encontrasse Ava.

E então tudo ficou preto ao seu redor e seus sentidos a abandonaram.

 

There goes my hands shaking

and you are the reason

My heart keeps bleeding

I need you now

 

O lugar onde acordou era muito claro, as paredes brancas refletiam a luz do sol e fazia seus olhos doerem com a claridade, diferente da sala de contenção. Beatrice estava sozinha na sala pequena, com os leitos vazios à sua volta. 

Havia desmaiado, mas isso não significava nada. Ainda se sentia forte e pronta para continuar treinando. 

Precisava continuar treinando se queria ir atrás de Ava. 

Jogou os pés para fora da cama e tocou o chão gelado, mas a fraqueza a deixou tonta outra vez.

— Não existe nada do outro lado, Bea.

Não era a voz que Beatrice queria escutar, na verdade era exatamente quem desejava evitar. 

— Não para você.

Talvez nunca fosse se acostumar com a forma como Adriel havia deformado o rosto de Lilith. Sempre tiveram suas diferenças e brigas constantes, mas eram irmãs e a perda dela havia doído, mas não tanto quanto tê-la de volta daquela forma. 

Não reconhecia mais aquele ser. Não eram sobre as escamas que tomavam seus braços ou as asas de couro que se estendiam de suas costas, mas sobre algo mais sombrio que havia tomado conta de sua amiga desde o dia em que a encontrou ao lado de Adriel.

Mais uma pessoa querida que Adriel havia lhe tomado. 

— Michael esteve bem. 

Até se tornar um explosivo de divinium. Pensou, mas escolheu não acrescentar isso.

Foi tudo o que respondeu, sustentando o olhar de Lilith. 

A mulher caminhou lentamente e se sentou ao lado de Beatrice. O carinho que haviam compartilhado por tantos anos ainda existia sob a casca grossa que - agora - cobriam a pele que uma vez havia sido humana. 

Talvez Lilith também tivesse alguma salvação.

— Eu não posso falar sobre ele, Bea. — sua voz era doce, como se tentasse acalmar uma criança e Beatrice se perguntou se havia mais pessoas por trás daquela conversa. — Mas eu sei onde eu estive e não é nenhum paraíso. 

O silêncio se estende entre elas. Do lado de fora, um passarinho parecia cantar, a vida parecia seguir e ninguém era afetado pelo luto de Beatrice ou pela falta de Ava. O mundo não havia parado, não havia sucumbido. 

— Mesmo que ela esteja viva, mesmo que volte, quantos anos devem ter passado para ela? 

Beatrice continuou sem responder e Lilith levantou.

— O que quer que esteja do outro lado, não se importa com a gente. — Ela segurou as mãos de Beatrice e buscou seu olhar. — Não comigo, com você ou com qualquer uma das irmãs e eu não acho que seja diferente com Ava. — Então se inclinou e beijou seus cabelos de forma fraternal. — Fique bem, minha irmã.

Espero que estejamos do mesmo lado. 

As palavras que Lilith havia lhe dito naquele dia, voltavam agora, mais claras do que nunca. Um eco de seus próprios pensamentos.

 

And if I could back the clock

I’d make sure the light defeated the dark

I’d spend every hour of every day

Keeping you safe

 

Não conhecia aquelas pessoas, mas tinha certeza de que conhecia aquele lugar. 

Testavam sua força e seus sinais vitais todos os dias e pareciam mais satisfeitos toda a vez. 

Estava se recuperando bem, havia se recuperado bem. 

Mas toda vez que chamava por Bea, que perguntava se poderia ir embora. Lhe pediam para esperar um pouco mais. 

Ava não sabia por quanto mais poderia esperar, sentia o desespero e a dor de Beatrice como se fossem dela.

 

I don’t wanna fight no more

I don’t wanna hide no more

I don’t wanna cry no more

[...]

I need you to hold me tonight


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Notas finais do capítulo

É isso, até mais.
Faltam mais 3 capítulos apenas.



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