La Belle Anglaise escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 24
23. Abalos Angustiantes.




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Entrando em seu quarto e batendo fortemente a porta, Katherine gritou cheia de frustração e raiva. Como ele ousou ter feito isso!? Falar aquelas terríveis palavras!? James era um maldito violento! A princesa novamente gritou, quase beirando as lágrimas.

— Não! Não vou me abaixar por tão pouco.— Indo para frente da penteaderida, ela analisou seu rosto e arrumou o cabelo.— James é um mentiroso. Obcecado por mim, um ciumento. Fredrik Adolf... ele faz parte do meu... um desejo oculto. Mas Wilhelm, ele é meu. Que homem não me quer?

A imagem do próprio Wilhelm veio a cabeça dela. Katherine novamente gritou. James a havia envenenado, agora essa dúvida não saia da marquesa. Nenhuma das palavras de Bravandale saiam da cabeça dela!

— Desse jeito vou ficar louca! Oh Wilhelm, por que as coisas devem ser assim?... Por que você não me responde, Fredrik Adolf?— Não haviam lágrimas nos olhos de Katherine, apenas muito desespero em sua voz.— Os homens da minha vida trazem mais problemas que alegria. Como eu queria minha mãe!

Sentindo que uma lágrima estava prestes a descer, Katherine ergueu a cabeça e encarou séria o próprio reflexo no espelho. Sem lágrimas, ela não iria deixar Berkeley Hall com os olhos vermelhos como uma fraca. Respirando e suspirando, a marquesa sorriu e afastou-se da penteaderida, o melhor agora seria esperar por Wilhelm, para então eles irem embora.

O tempo passou e chegou o horário do almoço, as damas da marquesa até mesmo foram chamá-la. Mas nada do príncipe Wilhelm, ele não estava em lugar nenhum.

— O príncipe não chegou conosco?— No almoço, logo após a marquesa perguntar pelo marido, Lord Torrington perguntou confuso.— Mas ele entrou com nosso grupo no bosque.

— É um bosque tão lindo.— O comentário de Lady Torrington caiu em ouvidos surdos.— Talvez ele quisesse passar um momento sozinho.

Nenhuma crise existencial de Wilhelm durava tanto assim. A menos que... Katherine imediatamente encarou o sorridente Bravandale, ele estivesse com raiva. James percebeu esse olhar.

— Desculpe, meu amor, mas seu mein Prinz não é problema meu.— Meu amor!? Esse desdém dele era...— Certamente o alemão queria se aliviar, conhecer...

— Suas calúnias me ferem, James. Você não é melhor que Wilhelm, muito pelo contrário.— Perdendo um momento a calma, a marquesa falou fria. Todos na mesma encaravam Katherine e James.— O que você fez com meu marido, Bravandale!?

O silêncio na mesa ficou ainda mais intenso. A acusação de Katherine chamou atenção, uma má atenção. Não era surpresa, apenas ela sabia como James poderia ser violento. O duque encarou a "melhor amiga" e deu um desdenhoso olhar ofendido.

— Eu? O que eu poderia fazer com o alemão? Ele é maior que eu.— O estômago dela embrulhou ouvindo a ironia de Bravandale. Katherine se arrependia tanto de não ter tacado o chicote no rosto dele.— O mein Prinz está com as garotas de Ernel.

Perdendo o ar, a marquesa soltou seus talheres, que estavam pesados como que pedra. Novamente isso!

— Você está sendo desagradável, James.— Horrizada com o duque, Grace foi a primeira a falar.

— Desagradável é pouco.— Josephine completou irritada.— Suas palavras são as de um homem cheio de fraca virilidade...

— Fica calada!— Faltou apenas James jogar uma faca em Lady Ricketts. Todos ficaram em silêncio. Acalmando-se, Bravandale sorriu malicioso na direção da marquesa.— As meninas de Ernel são lindas. Seu marido vai gostar muito Katherine, uma delas tem seios iguais aos seus.

Passou dos limites essa... ofensa! Levantando-se do seu lugar, Katherine saiu rapidamente em direção a porta. Ela não precisava ouvir isso, mulher nenhuma precisava. Mas antes de sair, a marquesa encarou friamente o duque de Bravandale.

— Você é um homenzinho muito tolo e idiota.— Olhos foram arregalados e James levantou-se raivoso.— Vejamos se um dia terá o que mais deseja!

Abrindo a porta com raiva, Katherine passou e a fechou com mais raiva ainda. Depois a marquesa correu para o quarto, não com o objetivo de chorar, mas sim para gritar raivosamente. As coisas estavam fugindo do controle! E tudo era culpa dela!

Katherine estava com raiva de ter aceitado o convite de James, ter ido ao encontro de James. Ela estava com raiva pelas ações de James, das palavras dele. Por pensar em Fredrik Adolf. Mas principalmente, Katherine estava com raiva por começar a acreditar em James! Onde estava Wilhelm!?

A tarde acabou e a noite começou, mas nada do príncipe. A ansiedade e preocupação da marquesa apenas aumentava, a cada instante ela olhava pela janela do quarto, esperando pelo marido. E a cada instante as palavras de Bravandale tomavam mais conta ainda da cabeça dela. Até que deu meia-noite, e uma batida foi dada na porta do quarto.

— Bess, eu já disse que não vou jantar com aquele porco!— Antes mesmo de abrir, Katherine gritou. Mas apenas para deixar claro.— Mande James para... Wilhelm!?

Era ele!... Não parecia ele! Levando as mãos a boca, Katherine assustou-se, quase gritou, o que aconteceu com Wilhelm!? O príncipe encarou confusamente a esposa tentou falar:

— O que o dumm...— Fazendo uma careta de dor, Wilhelm gemeu e levou a mão a cabeça.— Katherine, mande alguém trazer algo para comer.

O pavor dela passou e foi substituído pela curiosa fúria. O que aconteceu com Wilhelm!? As roupas dele estavam sujas, cheias de folhas, rasgada em algumas partes, até mesmo a peruca empoada ele perdeu!

— Onde você estava, Wilhelm? E o que aconteceu com a sua roupa, com você!?— Ele teria ficado muito animado com garotas? Deus, Katherine se repreendeu pelo pensamento.— Fiquei tão preocupada.

Ouvindo essas perguntas, o príncipe gemeu e simplesmente foi na direção da cama.

— Não quero falar disso. Só quero comida, paz...

— Mas eu quero saber!— Ela precisava de uma explicação para acalmar os ânimos. Wilhelm não deu atenção e deitou cansado na cama.— O que as pessoas irão pensar se eu não der uma explicação!? Diga-me, Wilhelm!

— Que pensem a merda que quiserem, mas eu quero apenas descansar.— Não era assim que funcionava, Katherine negou com a cabeça. O príncipe começou a tirar as roupas.— E também um banho, cheio de espuma e aromas doces.

A paz da marquesa estava sendo tirada dela e ele não ligava para nada.

— E o que eu vou pensar!?— Acabando de tirar a camisa, o príncipe encarou a esposa assustado.— Diga logo, Wilhelm. Você está escondendo algo?

Como essa pergunta era humilhante. Os lábios da própria Katherine tremiam assustados.

— Escondendo? O que eu poderia estar escondendo!?— Ele estava indignado.— Eu cai do cavalo e fiquei desacordado por horas. Satisfeita?

Extremamente, mais até do que ele imaginava. Mas ainda assim...

— Como assim caiu do cavalo? Nunca vi você cavalgando antes, mas parecia hoje fazer muito bem.

— Eu não lembro.— Como não lembrava? Katherine semicerrou os olhos.— Sei apenas que cai, bati a cabeça e estou com enxaqueca.

Como um homem simplesmente caia de um cavalo? Deveria haver um motivo. Talvez um susto, algum problema com a sela, ou talvez ele estivesse muito rápido... De qualquer forma, Katherine estava disposta a acreditar, parecia verdade.

— Vou chamar Bess.— O príncipe assentiu e deitou, ao mesmo tempo que buscava os botões da calça.— Cubra-se, por favor. Não quero as criadas desse inferno olhando para você.

Wilhelm não respondeu e Katherine saiu do quarto. Logo os outros apareceram, todos curiosos com o que estava acontecendo, e Bravandale sorrindo satisfeito. Seria um sacrifício, mas era necessário.

No dia seguinte, o mais cedo possível, a marquesa de Bristol e o príncipe Wilhelm iriam embora. Em Berkeley Hall eles não ficariam.

*****

No dia seguinte, antes mesmo que desse meio-dia, Wilhelm e Katherine foram embora de Berkeley Hall com os Courteney e os Ricketts. O casal Bristol estava indo para o Castelo de Ocenia, em Cornwall, onde a marquesa viúva já esperava eles.

Embora Wilhelm não gostasse de praias, principalmente por causa da areia e da lama, e achasse muito melhor Amelian House, Llanover Park, no País de Gales, ou Austen Manor, Cumberland, essa mudança foi muito bem-vinda, talvez a melhor decisão tomada por Katherine nesse mês. Ocenia iria servir por agora, normalmente eles passavam o verão em Cornwall mesmo.

Mas era muito complicado como essa família tinha tantas casas secundárias mas usava apenas uma minoria. Tudor House era uma dessas, apesar de grande, luxuosa e estar em Londres, os Tudor-Habsburg preferiam morar em palácios. Até mesmo ele tinha uma casa em Londres, fazia parte do dote de Katherine, mas Wilhelm não sabia nem como era esse lugar.

Sentindo uma forte pontada na cabeça, Wilhelm gemeu e levou uma mão a testa, iniciando uma massagem. Que dor terrível...

— Como uma coisa dessas continua no dia seguinte, Katherine?— A enxaqueca nunca foi tão ruim. O príncipe fechou os olhos e suspirou choroso.— O meu corpo... parece até que fui pisoteado por um touro. Que dia terrível!

Nenhuma reclamação do mundo seria o suficiente para expressar o que ele sentia. Mas Katherine ficou calada, ela estava muito calada, e isso era desde a noite anterior.

Abrindo seus olhos, o príncipe encarou a marquesa de forma questionadora. Ela olhava pela janela, distraída com seus próprios pensamentos, que, a julgar pelos ocasionais olhares que Katherine direcionava ao marido, envolviam ele. Mas ela percebeu os olhares dele.

— Algum problema?— Ela realmente perguntou isso? Wilhelm riu irônico e negou com a cabeça.— Não referindo-me a esses, mas sim outros.

— Eu que pergunto: algum problema?— A marquesa simplesmente voltou a encarar a janela.— Se assim você deseja, não irei insistir.

Além do mais, ele não tinha cabeça no momento para... insistência. Wilhelm fechou os olhos e apoiou sua cabeça na carruagem, tentando acalmou sua enxaqueca.

— Wilhelm? Seja sincero comigo.— Tão rapidamente Katherine mudou de ideia.— Você... não esconde nada de mim, não é?

Abrindo seus olhos, o príncipe encarou muito ofendido a marquesa. Esconder!?

— O que eu poderia esconder de você, Katherine!?— De tão... desnecessária que era a pergunta, ela deu os ombros sem saber. Até que... as pupilas de Wilhelm dilataram, ele lembrou de algo.— Foi o meu pai!? Ele te disse algo!? Foi um acidente, eu era apenas uma criança!

Aquele... aquele beberão não pode ter feito isso, escrito sobre isso! A respiração de Wilhelm ficou pesada, ele tentou falar, tirar mais informações, mas uma estridente dor tomou conta do príncipe, ele fechou os olhos em silêncio.

Katherine percebeu essa reação e ficou muito curiosa, com tudo. Mas, ela fechou os olhos e preparou-se.

— Seu pai nunca me escreveu, e nem seus amados irmãos. Sequer um bilhete recebi deles. Quero falar sobre... ontem.— O que havia ontem? Seria um pedido de desculpas?— Sua história, explicação... não fazia muito sentido...

— Você acha que eu estou mentindo, Katherine!?— Mantendo seu tom baixo, para sua própria paz, Wilhelm perguntou ofendido.

— Não! Nunca pensei nisso.— Ela negou veementemente, mas suas palavras seguintes não ajudaram.— É só que... não faz sentido.

— A verdade nem sempre faz sentido! A razão não explica tudo!... Arrgh!— Novamente a pontada. Era como se a cabeça dele estivesse prestes a explodir! Mas acalmou.— Você queria o que, Katherine? Quer prova maior que meu estado?... Eu já lhe dei motivos para desconfiança?

Simplesmente balançando a cabeça, Katherine tentou negar. Isso era tão conflituoso, por que então ela simplesmente não acreditava nele?

— Estou sendo tola, sei disso. Mas depois do Incidente em Bristol...

— Quantas vezes mais eu terei que pedir desculpas, Katherine!? Esqueça desse maldito incidente!— Errar é tão humano quanto viver e amar. Os dois ficaram em silêncio por um momento, talvez fosse até melhor... Não. Wilhelm não conseguia!— Eu sempre estive do seu lado, te apoiando. Mesmo quando você deu um golpe de Estado.

— Não jogue isso em mim, Wilhelm! Pelo menos não matei ninguém!— Muito menos ele! Wilhelm tinha uma consciência limpa.— Fredrik Adolf nunca teria feito isso comigo. Ele iria me apoiar incondicionalmente!

— Se Fredrik Adolf é assim tão bom, por que você não casou com ele!?— Teria os poupado de muitos infortúnios.

— Ah Wilhelm, eu tentei e fiz isso com todas as minhas forças.

Nesse momento, com todas essas palavras sendo ditas, a raiva entre os dois dissipou-se. Essas... Isso doeu, muito fortemente. Esquecendo a dor de cabeça, e o desconforto no corpo, Wilhelm sentia apenas uma dor no coração. E ter consciência de que tudo era verdade, apenas deixava as coisas piores.

Não aguentando mais olhar para o rosto da esposa, que estava transbordando arrependimento, o príncipe virou a cara.

— Então me desculpe por ser um obstáculo para o amor de vocês dois.— Era tão irônico tudo isso. O pai dele dizia a mesma coisa.— Mas é isso que eu sou mesmo, um obstáculo para o amor dos outros.

Sempre foi assim, ele sempre fez questão de deixar isso bem claro... Não percebendo, Wilhelm acabou sendo levado pelos sentimentos e uma lágrima solitária desceu de seus olhos.

Percebendo isso, o arrependimento de Katherine ficou ainda maior. Ela fez Wilhelm chorar, isso nunca havia acontecido antes. O coração dela estava em fragalhos.

— Por favor, Wilhelm, não leve minhas palavras a sério, eu...

— Chega de explicações!— Perdendo a paciência, o príncipe gritou estridente.

Assustada com toda essa raiva do marido, a marquesa calou-se e voltou a olhar pela janela. O resultado dessa discussão não seria nada positivo.

Fechando seus olhos com força, Wilhelm apoiou sua cabeça na carruagem e limpou sua teimosa lágrima. Ele odiava perder a calma, mas sentimentos eram coisas tão... difíceis de controlar. Tudo isso tinha apenas um culpado, disso o príncipe tinha certeza. Bravandale deve ter envenenado a cabeça de Katherine com tolices e desconfiança. Só poderia ter sido isso.

O resto da viagem aconteceu em silêncio, nenhuma palavra foi trocada entre os dois. Nem mesmo quando chegaram no Castelo de Ocenia.

Percebendo que a carruagem do casal Bristol havia chegado, a marquesa viúva foi receber a filha e o genro no pátio principal, mas antes mesmo dela sair, Katherine entrou com rapidez no castelo.

— A viagem foi desagradável, minha...?— Antes que Elizabeth pudesse acabar, a marquesa passou pela mãe sem dar atenção. Logo depois o príncipe também entrou.— Aconteceu alguma coisa, Wilhelm?

Ele também não respondeu, simplesmente passou pela viúva e foi para a escada.

— O de sempre! Aconteceu o de sempre!— E Wilhelm subiu, mas não deixando de gritar:— E tudo é culpa do dumm Bravandale e do muito confiável Fredrik Adolf da Suécia, aquele...

Esse último nome paralisou a marquesa viúva e ela deixou de ouvir tudo a sua volta. Fredrik Adolf estava novamente causando brigas, esse homem estava se tornando uma presença insuportável. E tudo era culpa... Levando a mão ao broche, com uma miniatura de Alfred, que prendia o fichu sobre seus ombros, Elizabeth murmurou alto:

— Como pudemos deixar isso acontecer, Alfred? Por que fizemos isso? Nossa filha sofre.— Tudo era culpa deles. O aperto da viúva aumentou.— E eu estou sozinha, você me deixou sozinha, Alfred.

Uma lágrima ameaçou descer, mas Elizabeth segurou, voltou a calma e colocou um sorriso no rosto. Ele iria ver Richard e Anne agora, seus netos deveriam vê-la sorrindo. Mas isso não mudava o fato que... estava fugindo do controle.

****

27|08|1782 Buckingham House, Londres

"Nessa terça-feira, 20 de agosto de 1782, entre as quatro e cinco da tarde, morreu em Lower Lodge, Windsor, Sua Alteza Real, o príncipe Alfred, depois de um longo período de doença.[...] Pedimos a Deus que console suas Majestades, o rei e a rainha."

Buckingham House estava terrivelmente sombria nesse dia. Para falar a verdade, toda a Grã-Bretanha estava sombria. Estava acontecendo agora, na Abadia de Westminster, o enterro do filho mais novo do rei e da rainha, o príncipe Alfred. O menininho havia morrido depois de meses sofrendo com os problemas da inoculação contra a varíola.

Alfred nunca foi uma criança muito saudável e forte, mas isso não fazia a morte dele ser mais fácil de suportar para o rei e a rainha. Muito ao contrário, George trancou-se sozinho com seus demônios e Charlotte chorou amargamente, tanto que as lágrimas nem saiam mais.

— Como uma coisa dessas pôde ter acontecido comigo!?— Não caiam mais lágrimas, mas a voz chorosa e expressão inconsolável de Charlotte já mostravam muito.— Pensávamos estar protegendo nosso Alfred da varíola, mas foi isso mesmo que o tirou de nós!

Sentada ao lado da rainha, Elizabeth não sabia ao certo o que dizer, como consolá-la. Apenas ouvir era bom, mas nem sempre o suficiente.

— A inoculação não é o método mais seguro, pode acontecer... problemas, mas é a única forma de salvação.— Ouvindo as palavras da amiga, a rainha gemeu dolorosamente.— Não! Perdão, Charlotte. Não sei nem o que dizer.

— Sua presença é o suficiente, Elizabeth. Afinal, George quer sofrer sozinho.— Tentando segurar o choro, Charlotte falou e fungou.

— Saiba que entendo a sua dor, minha amiga. De fato eu nunca perdi um filho, mas sei como é perder um Alfred.— Que irônico isso. A viúva suspirou e estendeu a mão a rainha.— A dor nunca some, mas fica menor.

Com o passar do tempo, a tristeza ia embora e sobravam apenas as boas lembranças. A rainha tentou sorrir, agradecida com essa ajuda, mas ela não conseguiu.

— É tão irônico que meu Alfred teve esse nome em homenagem ao seu Alfred, e agora ambos estão... Desculpe-me pela divagação.— Fechando os olhos com força, Charlotte segurou as lágrimas entre soluços.— Mas o que mais me preocupa no momento é o rei. George disse que se tivesse sido com Octavius, ele morria junto.

— Quando estamos de luto temos a tendência de falar coisas terríveis.— Sorrindo consoladora, a marquesa viúva tentou acalmar a rainha.— O rei está apenas abalado.

— Octavius é o favorito de George, ele ama aquele menino.— Negando com a cabeça, Charlotte não conseguia esquecer as palavras do rei. Até que, com os olhos arregalados, ela encarou a viúva.— Oh Elizabeth, um dia teremos que inocular Octavius, e Sophia também!

A voz da rainha voltou a ser chorosa, ela estava quase chorando com a perspectiva de perder novamente um filho, talvez até o marido. Percebendo isso, e quase ficando desesperada, Elizabeth pegou a mão da amiga e sorriu consoladora.

— Sophia e Octavius são crianças saudáveis, Octavius principalmente, além de ser forte. Nada vai acontecer.— Uma mesma desgraça não acontecia duas vezes. Mudando esse pensamento, a marquesa viúva apertou a mão da consorte real.— Se minha Charlotte estivesse aqui, eu mandaria ela tocar algo para alegrar você.

Se Katherine não estivesse na Abadia de Westminster, acompanhando o funeral do príncipe Alfred, ela também poderia fazer isso. Era nessas situações que não ter filhas solteiras era um problema. Mas muito compreensiva, a rainha negou.

— Já é alegria o suficiente saber que nossa Charlotte está tocando para a corte em Viena.— Finalmente um sorriso estendeu-se na rainha.— Ela é o arquiduque ainda estão em Viena? Ou já foram para a corte eleitoral em Bonn?

Sim, seria bom para Charlotte mudar de assunto, tentar se distrair. Sorrindo, Elizabeth negou.

— Apenas quando Maximilian Franz for feito regente da Colônia.— Infelizmente, ser eleitor da Colônia estava fora de questão.— Creio que a única filha minha que brilha em sua própria corte é Elizabeth. Pelo menos ela não tem reclamação alguma de Dresden.

— A corte de Viena é muito formal. A família imperial é o centro de tudo e pode ser difícil lidar com os Habsburg.— Elizabeth assentiu concordante. Os Tudor-Habsburg ainda eram Habsburg, talvez mais Habsburg que qualquer outra coisa.— Pelo menos nossa Charlotte tem seus filhos.

O sorriso da marquesa viúva estende-se lembrando dos netos austríacos, Franz Ferdinand e Maria Theresia. Era uma pena que ela nunca os veria.

— Parecem ser duas crianças lindas. Assim como Maria Augusta e August.— Esses últimos sendo os filhos de Elizabeth, a eleitora da Saxônia.— Minha segunda filha nunca reclama da Saxônia. Ela passa o verão no Schloss Pillnitz e tem a sua disposição uma das maiores galerias de arte do mundo. Elizabeth é satisfeita.

Muito diferente de Katherine, sempre reclamando da irreverência de Wilhelm, e Charlotte, que odeia a frieza de Maximilian Franz. Mas todas eram felizes, nenhuma poderia se declarar infeliz.

— Eu espero que, na minha velhice, ainda sobre alguma filha para cuidar de mim.— Sendo tirada de seus pensamentos, a viúva riu das palavras da rainha.— Estou sendo sincera. Se eu pudesse, manteria solteiras todas elas.

— Mas então como nossas famílias seriam unidas?— Pois os Tudor-Habsburg ainda seriam Hanôver, um dia.

As duas consortes riram com a pergunta. Enfim uma risada, para Elizabeth estava sendo um alívio ouvir esse som.
— Tenho oito filhos homens, não é possível que nenhum deles tenham filhos para juntar nossas famílias!— Novamente as duas riram. Era impressionante como Charlotte perdeu a timidez nesses mais de vinte anos.— E Katherine? Como vai ela e Wilhelm?

Agora foi o sorriso da marquesa viúva que vacilou. Charlotte lembrou Elizabeth dos problemas de Katherine com Wilhelm, ou talvez fosse vice-versa... não importava muito. Suspirando tristemente, o sorriso da viúva tornou-se melancólico e preocupado.

— Estão como sempre. Discutindo, gritando duras verdades e depois se agarrando, beijando e... nem crianças estão fazendo mais.— Embora estranhamente continuassem a fazer amor. Era difícil não escutar. Elizabeth encarou receosa Charlotte.— Na verdade... eles tem um problema, um muito grande... Não sei se devo dizer... eu prometi...

A voz dela morreu. A marquesa encarou a rainha tristemente, Charlotte com certeza sabia como era suportar os problemas dos filhos, os príncipes eram muito problemáticos afinal. Mas... era muito difícil.

— Não preciso saber qual o problema para lhe ajudar, minha amiga.— Sorrindo, a rainha garantiu a marquesa.— Embora... devo confessar que estou curiosa com esse problema.

— Eu poderia dizer que é a distância, mas isso é um resultado do problema, que tem nome, título e até nacionalidade...— Parando instantaneamente, Elizabeth hesitou em falar. Mas... que seja como Deus desejar.— Charlotte, recorda-se do príncipe Fredrik Adolf da Suécia, o duque de Östergötland?

A rainha assentiu, então a marquesa falou e disse tudo que a muito queria compartilhar com alguém, especialmente com Katherine.


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Notas finais do capítulo

* Comecemos pelo título do capítulo. Eu estava analisando os outros títulos e cheguei a conclusão que parece uma novela mexicana, onde os protagonista têm mais momentos tristes que felizes, e apenas no último capítulo essa alegria é plena, se bem que... não importa muito.

* Quem me acompanha desde o início, falo de O Desabrochar de Uma Dinastia, sabe que não é a primeira vez que falo de varíola.

* O Eleitorado da Colônia era governado por bispo e padres católicos, o próprio Maximilian Franz era um sacerdote católico, mas eu mudei isso para construir minha história.

* O fichu era como um xale, que as mulheres usavam sobre o vestido cobrindo os seios, pescoço e ombros. Normalmente era usado em momentos informais e durante o dia.

* La Belle Anglaise no Pinterest: https://pin.it/7ATunsW



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