Era manhã quando os onze cavaleiros de ouro foram convocados ao décimo terceiro templo. A maioria estava com uma cara de sono imensa, mas cumprindo com seu dever, apareceram no local:

— Se não me derem um bom motivo… — Saga estava bocejando e coçando os olhos.

— Que horas você foi se deitar, amigo? — Aldebaran perguntou, cruzando os braços para manter a formação dos onze.

— Que deitar o que, touro? Rolou uma puta treta lá no Tik Tok, fiquei acompanhando. Acabou era umas quatro e meia, ai eu deitei minha cabeça no travesseiro e já acordei com a notificação de vocês enchendo meu saco.

— Você é folgado demais. Nem sabe porque é um cavaleiro. — Shaka resmungou.

— Cavaleiros que impõem respeito podem dormir até o meio dia. Se não fosse por essa Deusa que tem FETICHE EM ACORDAR CEDO… — aumentou o tom de voz propositalmente, para que chegasse aos ouvidos de Athena.

— Eu lá vou interromper meus compromissos importantes apenas porque você é surtado e não consegue ficar um minutinho sem ouvir história da vida alheia? Cala a boca, vai. Olha só, escutem — A menina parou na frente de todos, apoiando seu báculo no chão. — Shion disse que chega daqui a pouco, quero mostrar para ele que meus guerreiros são minimamente competentes. Se comportem!

“Sim, senhorita Athena…” eles disseram em uníssono, porém sem demonstrar qualquer interesse ou empolgação.

— Ótimo! — deu um sorrisinho antes de continuar — Agora eu e meus cavaleiros de bronze temos um compromisso merecido. Na verdade, eu preciso dar esse mérito para o Shun, afinal ele foi um dos principais contribuidores para o acordo de paz com o meu tio Hades.

— Não precisa falar assim, minha deusa. Apenas cumpri com o meu dever e estou muito feliz — estava segurando uma cesta de piquenique grande — De qualquer forma nós não iremos para muito longe. Tem uma praia aqui perto e se precisarem de ajuda…

— Se virem, não nos chamem! — completou Hyoga — A terapeuta que lide com a loucura de vocês, pois subindo as escadarias há quase três meses atrás, eu quase entrei em surto.

— Hyoga… — Camus começou.

— E você é outro! Vai ter que comer o pão que o diabo amassou nessa terapia. E eu quero um pedido de desculpas quando voltar — afrontou. O mago de gelo colocou a mão no peito, incrédulo.

— Acho que vocês dois precisam de uma sessão exclusiva — Milo ria. — Qualquer um percebe que a relação entre vocês vai de oito a oitenta em um piscar de olhos, não precisa ser um especialista para notar que isso está afetando ambos…

— Por favor, silêncio… — Afrodite pediu sôfrego. — Eu precisava de pelo menos meia horinha de silêncio pra conseguir processar as coisas depois de acordar, e vocês falando assim não estão colaborando…

— Depois reclama que o Hades chamou a gente de lerdos. — Máscara da Morte complementou.

— Enfim… como eu disse, por favor, comportem-se. A terapeuta chega às oito, vai dar tempo de vocês reencontrarem o Shion e conversarem igual gente. Agora, tchauzinho! — Virou de costas e fez sinal para os cavaleiros de bronze a seguirem.

— Depois me contem o que aconteceu. Preciso fazer um estoque novo de piadas sobre vocês — disse Seiya em tom zombeteiro antes de partir.

— Que menino prodígio… — Aiolos sorriu, orgulhoso. Aioria olhou para ele, erguendo uma sobrancelha.

...

Passaram-se cinco minutos desde a partida da Deusa e corta a cena para os dourados relaxando a postura: Mu e Aldebaran se sentaram nas escadas, o tibetano encostado em seus fortes braços e de olhos fechados. Saga estava sentado com Milo, Máscara da Morte e Shura, contando fofocas — na verdade, o capricorniano queria material para suas palestras. Aioria, Aiolos e Afrodite estavam jogando tapão. Shaka e Camus estavam somente existindo e negando com a cabeça por tamanha bagunça logo cedo.

Pouco tempo depois, avistaram dois rapazes chegando no final da escadaria com uma mala de rodinhas: um tinha a pele bem mais madura, e o outro parecia ser tão jovem quanto Aiolos — que era o mais novinho ali, apesar de ser o mais velho.

— Pois bem, né? Eu fico dezoito anos fora e quando volto… vocês não mudaram nada. E isso não é um elogio — logo reconheceram a voz de Shion, o antigo grande mestre.

— Educado como sempre — Camus revirou os olhos. — Quem é esse do seu lado, mestre? É seu namorado?

— Meio novinho para ser namorado dele, né? — Shaka complementou.

— Vocês acharam que era o namorado dele? Ah, não! Sou eu, Dohko de Libra! — Ele fez uma pose extravagante, transbordando charme.

— Ah, ok. — Camus deu de ombros. O chinês pareceu decepcionado.

— Levantem-se, imprestáveis e incompetentes. Eu estava tranquilíssimo lá no retiro, mas infelizmente vocês não conseguem fazer nada sem causar uma catástrofe.

— Para a sua informação, Mestre… esses “imprestáveis incompetentes” conseguiram um tratado de paz com Hades, coisa que você e essa sua geração passada não conseguiu. De nada. — Shaka havia se aborrecido.

— Bela bosta. A geração seguinte tem a obrigação de superar a anterior e os meus finados colegas não precisaram dessa baboseira de terapia — ajeitava a barra de sua túnica — Eu espero que a profissional consiga dar conta, pois aqui é só "um eita atrás de eita".

— Resumindo, ele chamou a todos de problemáticos em série — traduziu o libriano jovial — Está sentindo isso, Shion?

— Um cavaleiro raso disse pelo cosmo que uma moça se aproximou da barreira. Deve ser a nossa terapeuta — olhou para Mu e Saga — Alguns de vocês podem trazê-la aqui sem grandes impactos? Ela é apenas uma civil e não vai aguentar essa subida.

— Beleza, eu faço isso — disse o geminiano — Outra dimensão! — uma moça caiu do céu sobre os seus braços — Prontinho! — colocou-a com delicadeza no chão.

— Bom dia… — disse a terapeuta ainda atordoada — Eu juro que estava pedindo informação para um outro rapaz. Como eu vim parar aqui?