Depois de tantas batalhas, a Vila da Folha ainda estava de pé. Os estragos eram aos poucos consertados. A vila se reconstruía com todos trabalhando juntos pelo bem maior.

A notícia de que em uma semana passaria um raro cometa visível a todos da aldeia trouxe uma nova onda de ânimo. Muitos ali sequer tinham visto algum na vida e todos precisavam de um dia de descanso e festejo para recarregar as energias.

— Vocês sabiam que o festival do cometa também é chamado de festival do amor? — Ino comentou, sabendo a reação que viria a seguir.

— O que? Como assim? — Sakura tratou de questionar. — De onde tirou essa ideia?

Um sorriso glorioso surgiu no rosto da loira. Sempre gostou de ser a pessoa que trazia as boas novas.

— Quando estava na floricultura, ouvi duas senhoras falando que a cada cinquenta anos passa o cometa do amor. Disseram que é o dia perfeito para se conquistar quem ama. Que uma declaração sob a presença do cometa é um selo de amor eterno.

Então aquele era o motivo de Ino ter chamado uma a uma para elas terem um "dia das garotas". Estava ansiosa para compartilhar sua nova descoberta.

— Isso explica você ter insistido tanto para virmos às compras. — Tenten comentou. — Você realmente acredita nisso?

Ino franziu o cenho indignada com a desconfiança e retrucou:

— Acha que eu acreditaria em algo sem provas?

— Do jeito que você anda desesperada, com certeza. — Sakura provocou, arrancando uma risada de Tenten.

— Tudo bem, testa de marquise. Só não reclame depois que o Sasuke estiver caidinho por mim. — a loira jogou o rabo de cavalo para trás, que foi contra o rosto de Sakura.

A outra estava prestes a dar um puxão no seu cabelo quando a voz suave de Hinata se pronunciou pela primeira vez em meio àquela conversa.

— E como você sabe que isso funciona, Ino?

Hinata tinha crescido bem. Continuava um pouco tímida, como todas ali sabiam, porém não se escondia e sempre concordava em acompanhá-las em seus passeios pela vila, escutá-las falando sobre seus dias, irritações, teorias e conquistas. Era uma ótima ouvinte e incentivadora.

— Obrigada por perguntar, Hinata. — Ino voltou a contar, animada pela deixa que a amiga deu. — Uma dessas senhoras disse que foi na noite do último cometa que ela aceitou os sentimentos do seu marido e estão juntos até hoje.

— Golpe de sorte. Isso não prova nada. Eles já deviam se gostar antes disso e o cara só escolheu a noite do cometa para ser um dia especial. — Tenten replicou, ainda não acreditando na história.

— Como eu dizia... — Ino voltou a falar. — A outra senhora concordou com ela e disse que ainda se lembrava de quando o marido se declarou naquele festival e que casaram no ano seguinte, por isso estava tão animada com a ideia da neta ter a chance de conquistar o garoto dos sonhos no dia do cometa.

Estavam passando em frente ao Ichiraku quando Naruto, Sai, Shikamaru e Choji saíram com cara de quem tinham comido um verdadeiro banquete.

— E aí, meninas? Tudo bem? — Naruto acenava com um sorriso no rosto como sempre.

Elas acenaram, mas Ino tratou de puxá-las para mudar de rota.

— Ué? Achei que o objetivo fosse se declarar aos meninos. — Tenten comentou. — Sai estava bem ali.

— Eu sei, mas quero que ele me veja no dia do cometa. Uns dias sem nos falarmos vai fazê-lo ficar com saudades de me ver. Assim não vai ter como resistir a magia do amor que estará no ar. — Ino suspirou bem apaixonadinha. — Sem contar que ainda tem o Sasuke. Nunca se sabe quem vai se declarar primeiro.

Sakura a fuzilou com o olhar.

Depois de tanto tempo fora da aldeia, Naruto tinha conseguido finalmente cumprir sua promessa e trazer o amigo de volta a Vila da Folha. Entretanto, o rapaz ainda estava no hospital e preferia não receber nenhuma visitas, pelo menos não as de Sakura e muito menos de Ino.

— Não acho que ele irá ao festival. Nem sei se ficará na Vila.

Tenten falou, ainda que soubesse ser um assunto bastante delicado para elas, principalmente para Sakura. Por isso, optou por mudar de foco.

— Não que eu acredite muito nessa coisa de cometa do amor, mas acho que você deveria aproveitar isso para se aproximar dele, Hinata.

Imediatamente o rosto da jovem ficou avermelhado.

— O que? Quem?

— Do Naruto, quem mais seria?!

Sakura segurou o ombro da amiga, tentando transmitir autoconfiança.

— Acho que é mesmo uma ótima oportunidade. Por que não convida ele para irem juntos ao festival?

— Isso! — Ino tocou outro ombro da garota. — Vocês passeiam, conversam e depois só dizer seus sentimentos quando o cometa passar e...

A caminhada das quatro parou abruptamente. Aquilo só significava uma coisa.

— Jutsu possessão das sombras. — Ino murmurou e olhou para trás, vendo o colega de equipe com cara de poucos amigos. — O que você quer, Shikamaru? Não está vendo que estamos num dia para garotas?

— Acho que o dia para garotas terá que esperar. Temos uma missão.

Não demorou para que Akamaru viesse de frente, pulasse em Hinata e lambesse seu rosto, animado. Estava tão grande que ficava da mesma altura que ela quando de pé.

— A Quinta Hokage também nos deu uma missão. — Kiba e Shino agora estavam a frente delas. — Vamos, Hinata?

Ela assentiu, despedindo-se das amigas e seguindo para junto dos colegas de equipe.

— Não esquece de pensar no assunto. — Ino gritou quando estavam mais afastados.

— Garanto que você teria mais sucesso que a Ino. — Sakura também grita em provocação.

— Sucesso em quê? — a voz de Naruto ao fundo faz Hinata estremecer por um momento, antes de escutá-lo reclamar de um possível soco de Sakura antes dela mandá-lo deixar de ser intrometido.

◇ ♤ ◇

O céu começava a dar sinais de que em breve o sol iria se pôr e a escuridão tomaria seu lugar. Tinham saído há pelo menos seis horas da Vila da Folha quando finalmente conseguiram retornar com o cansaço e a satisfação da missão cumprida.

— Quando a Quinta Hokage disse que precisávamos localizar um membro extremamente valioso daquela família, eu jurava que YoYo fosse real. — Kiba protestou.

— E ele é! Trouxemos ele de volta. Missão cumprida. — Shino retrucou, não demonstrando qualquer surpresa com o rumo que a missão tomou.

— Você entendeu muito bem o que estou falando. Ela disse que era um cachorrinho perdido. É claro que eu e Akamaru íamos encontrá-lo rápido.

Eles tinham recebido uma missão que parecia perfeita. Simples e rápida com direito a descanso no fim do dia e um belo sucesso no currículo.

Encontrar o pobre YoYo que supostamente teria se perdido ou, talvez, sido sequestrado.

Obviamente que Kiba assumiu a missão com orgulho. Não podia imaginar o quão assustado devia estar o pobrezinho, ainda mais depois de dois dias sem conseguir voltar para casa. Teria dormido bem? E comido? Estaria machucado?

Depois de rodarem toda Vila e procurarem aos arredores, acharam YoYo junto a uma família viajante com duas crianças com não mais de seis anos.

A descrição de um filhote de pelagem negra e olhos coloridos em azul e verde cada batiam. Com exceção do fato de se tratar apenas de um boneco de pelúcia. E pior: como tirariam daquelas duas criancinhas que estavam tão alegres com ele?

Depois de horas com Akamaru brincando com elas de cavalinho, Shino mostrando os voos de borboletas e ida de Hinata até a própria casa, além de toda calma dela conversando com as pequenas, eles finalmente tinham conseguido trocar YoYo por dois ursinhos de pelúcia da garota.

— Encontramos, Kiba. Você foi incrível! — Hinata falou, sorrindo e acenando com as patinhas do cãozinho de pelúcia que trazia nos braços.

Um sorriso ladino escapou no rosto do rapaz.

— Não teríamos conseguido sem você.

Ela sorriu de volta.

Assim que entraram na sala, uma senhora baixinha correu até Hinata e praticamente arrancou-lhe o cãozinho dos braços.

— Finalmente! Achei que fossem incapazes de encontrar meu querido YoYo.

Antes que Kiba pudesse protestar quanto às informações vagas, a mulher depositou um saco de dinheiro sobre a mesa. Tirou uma tesoura do cinto e abriu um buraco nada cuidadoso na barriga do pobre animalzinho. Mesmo não sendo de verdade, Kiba quase sentiu a dor do boneco.

— Aqui está!

A velha senhora tirou uma garrafinha de dentro do boneco, abriu e deu um generoso gole. Demorou apenas alguns segundos para que soluçasse e seu rosto começasse a ficar vermelho.

— Esse saquê é herança de família. Não poderia perder de forma alguma.

Então ela deu as costas e saiu sem dizer mais nada.

— Não acredito nisso! — Kiba bufou quando já estavam fora do prédio.

— Cumprimos a missão. Fizemos o que devíamos fazer. — Shino novamente se manteve profissional.

— Entendo o que quer dizer, Kiba. As criancinhas teriam cuidado muito melhor dele. — Hinata tocou o ombro do amigo e sorriu.

Mais uma vez, seu corpo o traiu e esboçou um sorriso ladino que durou alguns segundos antes de outra voz invadir a conversa.

— Hinata!

Sakura e Ino se aproximaram com uma animação impossível de disfarçar.

— Oi, meninas! O que houve?

— Pensou na ideia? — o sorriso de Ino indicava que ela tinha mais para falar sobre o festival e a passagem do cometa.

— Terminaram a missão? — Sakura perguntou apenas para confirmar o que ela já sabia. — Então peço licença que vamos roubar a Hinata. Até, meninos!

Hinata nem conseguiu se despedir direito. Seja lá qual fosse as novas descobertas, pareciam boas, pois até mesmo Sakura estava eufórica.

Toda essa animação fazia Hinata querer se esconder. Lembrava muito bem da ideia que Tenten dera mais cedo sobre se declarar para Naruto e só de pensar nisso seu rosto ardia.

— O que há de errado com elas? — Kiba perguntou, olhando para Akamaru como se o mesmo soubesse a resposta.

— Coisas de menina, eu acho. — Shino retrucou. — Vamos comer?