O sinal tocou marcando o início do horário de almoço. Os alunos iam saindo de suas salas, uns gritando, outros correndo para encontrar com os amigos que estavam em outras salas. Duas garotas destacaram-se no meio da multidão, uma com cabelos roxos e outra com cabelos azuis.

– Conseguiu responder a última questão, Mari? – a feiticeira segurava um pergaminho, relendo as perguntas.

– Sim, mas estava um pouco complicado. Acho que só errei a parte de descrever a formação de um escudo.

– Só isso? Mari, eu nem sabia como começar a escrever! Estou tão ocupada que nem sei mais... – a garota tirou a mochila das costas e encostou-se em uma parede –... a diferença entre uma tarântula e uma tarântula de fogo! – ela guardou o pergaminho dentro da mochila e continuou andando.

Mari não disse nada, até a hora em que saíram para o refeitório, que já estava lotado.

– Onde estarão as outras meninas? – Mari ergueu-se nas pontas dos pés para tentar enxergar em meio à multidão de alunos esfomeados.

– Oi, meninas – Jin se aproximou delas – viram a Amy?

– Oh, olá, Jin! Infelizmente, nós não a vimos... – Arme estava surpresa. Afinal, Jin estava perguntando pela namorada. Será que eles iriam reatar?

– Achei – Mari a puxou, indo em direção ao canto mais afastado do refeitório. Duas mesas estavam unidas, para receber dez pessoas, sendo que cinco delas já estavam sentadas.

– Mari, Arme e... Jin? Vai almoçar conosco? – Sieghart o mirava com curiosidade, achava que o amigo iria se afastar deles assim como se afastou da namorada.

– Na verdade, não. Estou procurando a Amy.

– Desculpa Jin, mas você não vai encontrar ela aqui – Lire tirava do saco de papel um lanche – desde ontem ela tem evitado a gente. Até acordou mais cedo!

– Ah, ok. Então, eu vou nessa.

– Não se esqueça da “Aula de História sobre as mais Diversas Terras do Nosso Mundo”, Jin – Lass segurava um refrigerante, olhando, de vez em quando e disfarçadamente, para Elesis.

O rapaz de cabelos vermelhos se afastou e saiu do refeitório, indo em direção ao ginásio. Iria chamá-la para sair, tentar explicar, tentar convencê-la de que ela era importante, e que o seu gosto de luta era apenas uma fase. Mas nem mesmo ele conseguia se convencer disso. Começava a sentir que já não era mais como antes. Talvez o fato de ter alguém que sempre esperaria por ele o fez ficar acomodado com relação aos sentimentos de Amy.

– O que eu posso fazer? – ele parou e contemplou, por alguns segundos, as folhas douradas de uma árvore se desprenderem e caírem, indicando que o outono já chegou...

Estavam quase terminando o almoço quando Ronan se aproximou da mesa; estava vermelho e carregava uma espada. Ryan se assustou e engasgou com o refrigerante.

– Ryan, tudo bem? – Lire dava tapinhas nas costas do irmão, tentando ajudá-lo.

– É, estou bem! – Ryan desvencilhou da irmã e parecia irritado com o fato dela ter tentado ajudá-lo.

– Ronan, por que demorou? – Arme deu um espaço na cadeira para que o namorado pudesse se sentar.

– Treino de espada. Demorou mais do que pensei.

– Trouxe seu lanche, está aqui – Arme entregou o pacote com o lanche para o namorado que sorriu.

– Ih, gente! Agora é o meu treino de espada! – Elesis se levantou da mesa e chamou Lass, não sem antes ficar vermelha – Vamos jantar fora hoje?

– É uma idéia – Lire levantou-se também – os oito aqui, pode ser? Amanhã é sábado, então não faz mal voltarmos mais tarde pra cá.

– Ótimo! – Sieghart pegou a mochila e foi andando em direção ao corredor que levava as salas de aula – até mais!

– Eu também vou indo – Mari pegou um pergaminho da mochila e foi para a porta oposta da qual Sieghart saiu – aula livre.

– Tenho que ir Ronan – Arme deu um selinho no namorado e se afastou, seguindo Mari.

Ronan levantou-se da mesa pouco depois e seguiu pelo corredor. Ryan foi para o ginásio, teria aula de luta, juntamente com Jin.

Ryan segurava um saco de pancadas, esperando a sua vez. Jin socava com tanta força que nem Ryan e nem ninguém dentro do ginásio se surpreenderia se o saco de pancadas fosse jogado longe.

– Ow, vai com calma, cara! Quer me matar? Não que eu ligue, mas se for pra morrer, quero morrer com o meu corpo intacto...

– Foi... mal...Ryan! – Jin finalizou a frase chutando com força o saco de pancadas – eu to com tanta coisa na cabeça que nem consigo mais pensar direito! Não sei o que vou dizer pra Amy...

– Que tal... não quero mais nada com você? – Ryan trocou de lugar com Jin e começou a treinar – é útil. Gostaria de poder dizer isso pra Lire.

– Não, nem pensar. Mas o que acontece? Eu tenho visto você e a Lire brigarem com freqüência nesses últimos dias.

– Não é nada. Ela acha que eu sou impulsivo, que não penso em ninguém e nem em conseqüências, que tenho me irritado facilmente ou algo do gênero. E, pra ser sincero, isso está me deixando irritado! – Ryan deu um soco tão forte que fez o saco de pancadas dar um giro no ar e acertá-lo na cabeça, jogando-o no chão.

– AH, DROGA! QUAL É O PROBLEMA DISSO?! MAS QUE (nesse momento, as palavras de Ryan se tornaram inaudíveis)!!!

– Menos, Ryan! – Jin o ajudou a se levantar, rindo um pouco do amigo.

– Tá, tá! Ah, quer saber? Cansei! Continua socando, falou?

Jin não falou mais nada. Não iria aconselhar o druida, pois não sabia nem como resolver o próprio problema. Iria, com certeza, falar com Amy.