Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves


Capítulo 29
Epílogo: Fé pública




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Parte 1

Os fogos de artifício espocavam nos céus como se fossem novas estrelas a nascer.

O jovem buscava em algumas dessas estrelas os rostos de seus pais e avô. O exercício lhe trouxera uma lágrima aos olhos. A lembrança de ter matado o Labatut o oprimia.

De repente, ele corou, no frio intenso da noite, sentiu um calor percorrer o seu corpo.

— Sei do você que precisa, mano, e é de um abraço.

Embora permanecesse imóvel, ele se sentiu melhor e também agradecido. O cheiro da pele da ladina o excitou de tal forma, que ele teve que se afastar dela.

— Que foi dessa vez, disse algo errado?

— Não, uh, quer dizer, não...

A voz chorosa de Tell soou nos ouvidos de Rosicler, e ela imaginou que ele ainda era sensível demais, ainda não estava preparado para matar um inimigo.

— Eu sei, veio, tudo aquilo foi terrível pra você. Mas ele não era humano, viu.

As palavras da garota soavam baixas, quase sensuais em seu ouvido. Afagando o seu cabelo, ela roçava o seu busto nas costas do mago-espadachim, que não se manifestou.

Desapontada com a melancolia do jovem guerreiro, ela o convidou a entrar na casa do armeiro, o grupo discutia sobre a última luta e o futuro da companhia.

— Tenho que reconhecer senhor Zared, o pivete foi incrível nessa... ah, olha ele aí!

O anfitrião, que desde o retorno não tinha tido tempo de falar com Tell o cumprimentou.

Devido ao estado emocional do Lisliboux, seus amigos resolveram não participar nem se pronunciar na festa que a Federação de Comércio do Norte estava realizando em todas as suas sete estações. Todos se sentaram à mesa e direcionaram os seus olhos para o neto de Taala.

— Parem de me olhar assim! Até você, Index?

— Desculpe, Tell, mas tenho que concordar, a sua coragem e determinação foram admiráveis. Agora mais quatro tipos de monstros estão catalogados, inclusive uma categoria especial, ou seja, só existe apenas um monstro que integra os Generais Atrozes.

Isso significa que só existe um lobisomem e um bradador, não tem erro...

Saragat narrou sobre a batalha contra o gorjala com todos os detalhes.

Zared abanava a cabeça, ouvia atentamente. Quando o relato terminou, ele disse curioso:

— Então, Zarastu está usando seres inanimados para transformá-los em monstros! Isso pode significar que o selamento que prende Enug está se desfazendo...

— Pode significar também um blefe da parte do general Labatut. Não sabemos se todos os monstros podem realmente ser purificados.

— Perdoe-me, senhorita Letícia, mas não é bem assim. Imagine que nunca teremos a real extensão dos poderes do rei Zarastu, nem ao menos sabemos se ele ainda é um humano como alegam os líderes da Resistência ou apenas mais um monstro disfarçado.

O jovem mordeu os lábios e folheou o Monstronomicom. Ele viu os novos monstros. Labatut estava lá, imponente com seu tacapaço, porém muito mais amigável que antes.

— Se ele não fosse um humano que decidiu usar o poder de Enug, então como o meu avô o conhecia, hein? Eles pareciam, sei lá, íntimos?

A indagação pairou no ar, uma resposta para a questão parecia impossível naquele instante. O garoto perguntou qual o próximo destino da Companhia de Libertadores.

Zared se pronunciou e disse que buscaria uma coisa no seu quarto. Minutos inteiros se passaram sem que este voltasse, e quando o fez, trazia um mapa à mão. Estendendo o mapa sobre a mesa, ele traçou uma linha irregular com um pedaço de carvão recortando a Cordilheira de Bashvaia e muitas vilas até chegar a certo lugar.

— Deserto Sem-Fim?

O mascarado ficou estupefato com a indicação, aquele país era extremamente fechado a estrangeiros, mas gozava de boa fama por ter barrado os monstros durante anos.

— Não se chama mais “Deserto Sem-Fim”, hoje todo este território forma uma única nação chamada de Oasis. Este país está sofrendo assédio da Horda para fazer um acordo de paz, era uma das poucas nações que não estavam subordinadas a Cidade Real. Vocês terão passe livre para lá, é só dizer que Zared os enviou a Zaid al Názir.

— Espere, al Názir? Quem é ele, o seu pai?

— Não, Rosicler, na verdade, ele é o meu irmão mais velho.

Todos aceitaram o novo destino indicado pelo bom Zared. Mas a viagem teria que esperar talvez alguns dias, eles estavam exaustos demais para uma longa viagem dessas.

Parte 2

Um grupo de monstros avançava por uma floresta de carvalhos. As tochas iluminavam o caminho. Dentre eles estavam caveiras, orcs, ogros e tikbalangues. Esses últimos tinham corpos humanoides e cabeça de cavalo, os seus membros superiores eram grandes e ossudos. As pernas eram patas de cavalos que terminavam em cascos grosseiros. Suas crinas eram rijas e possuíam belos rabichos, assim como os equinos.

— Alto, escutem!

O tikbalang que liderava o grupo fez um sinal para que o seu pelotão parasse.

— Não estamos ouvindo nada?

Os monstros atrás dele pareciam nem entender a sua pergunta e julgaram ser uma piada.

— Mas e esse cheiro, vocês estão sentindo?

— Olha aqui, pangaré, pare de nos assustar, viu!

Um ogro com diversas cicatrizes pelo rosto rosnou para o tikbalang que retrucou:

— Vamos avançar por sua conta e risco.

Treplicando com um sorriso, o ogro virou-se para os companheiros e sorriu. O pelotão nem bem saiu da floresta e já pôde ver o fogo que consumia a vila. A ordem que haviam recebido era a de pilhar e sequestrar os habitantes do vilarejo.

— Outro grupo está aqui, vamos monstros, essa vila é nossa.

O fumo ascendia aos céus e encobria o brilho das estrelas. Gritos de dor e agonia se faziam ouvir na vila. Os monstros apertaram o passo para chegar até ela. Todo o local ardia em chamas. Mas para surpresa geral, não havia um contingente de monstros no local, mas apenas um único e exótico monstro.

— Deus que me amparaste em toda a vossa glória, toma esse sacrifício em tuas mãos...

Vestido numa casaca preta com listras rubras verticais, e uma elegante cartola meio inclinada, o monstro continuava a rogar ao seu deus Enug em alta voz.

— Ei, camarada, aqui quem fala é o capitão Zarco do Batalhão Furioso. Quem foi que lhe deu ordens de atacar esta vila?

— Escute, Meu Senhor, como o sangue dos incrédulos geme na terra. Oh, seres néscios...

O tikbalang olhou ao redor. Centenas de pessoas sangravam pelas ruas com feridas de perfuração. Muitas queimavam ainda vivas enquanto o monstro orava.

— Olhe para mim, monstro, qual é o seu nome e a quem você está subordinado?

Quando o monstro girou a sua cabeçorra, o lume das chamas revelou a sua estranha face. A sua cabeça era constituída de uma grande abóbora. De dentro dela saia uma fumaça por horripilantes orifícios, como se fossem feitas à faca, elas simulavam os seus olhos e boca. A bocarra se abriu mostrando um fogo-fátuo roxo que crepitava dentro de sua cabeça.

— Meu nome é O’lantern, eu estou subordinado ao único e verdadeiro Deus, Enug.

Como os seus olhos não passavam de buracos preenchidos com chamas ardentes, o seu sorriso pareceu mais insano e ao mesmo tempo inexpressivo para os que o observavam.

— Idiota, não sabe que estamos prestes a iniciar uma longa batalha com Oasis? Seu estúpido, todos os humanos devem ser levados a presença de nosso rei imediatamente para que assim ele se sirva dos humanos como...

— Eu os matei porque não reconheceram o poder de meu deus Enug. E aqueles que interferirem, mesmo sendo monstros, devem receber a mesma punição que os hereges.

Zarco apoiou os seus longos braços no chão e inclinou a cabeça de cavalo para baixo. Flexionando os joelhos, ele preparou-se para fazer a sua melhor conjuração. Saltando no ar, ele girou no próprio eixo e os fios da crina começaram a se soltar numa chuvarada de dardos. Se acertassem o adversário, elas poderiam imobilizá-lo.

Quando ele terminou o seu ataque, Zarco pousou no chão. Ao observar que o inimigo estava cheio de seus dardos, ele disse ofegante:

— Essa é a minha conjuração mais poderosa, não há como fugir da Chuva Espim.

Os dardos que trespassaram O’lantern queimaram em contato com a sua pele. Ele levou a sua mão esquerda enluvada até a cintura. Os seus dedos de tamanhos variáveis sacou uma rapieira com guarda semiesférica e com ornados floreados.

— Os inimigos de Deus, são os meus inimigos.

O grupelho de monstros avançou contra ele, e no fim, todos acabaram mortos.


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