Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves


Capítulo 27
Capítulo 5: Palácio Vulcano - Parte 5




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Era difícil dizer com precisão o quanto o Palácio Vulcano era imponente. Em todos os seus aspectos, era uma construção ímpar, tão singular quanto o local da construção. Construído a beira do vulcão da Cordilheira de Bashvaia, ele cobria metade da cratera e sua única segurança era uma série de escoras metálicas.

— Esse com certeza é o maior castelo que eu já vi nesse mundão, veio!

Quanto tesouro escondido num deve ter lá, mermão?

A ladra tinha os olhos brilhando como se fossem duas pedras preciosas. O servo de Nalab a tirou de seu devaneio.

— Não adianta sonhar com roubos agora, sua larapia malfazeja, lá deve tá cheio de... Engraçado, desde o começo dessa jornada não fomos atacados por nenhum outro monstro! Com certeza o castelo deve tá cheio de monstros, é uma emboscada da Horda.

Embora não tivessem sido recepcionados por guardas, todos estavam à espera de um ataque. O risco de uma armadilha era real, todos já estavam cansados. Mesmo com o revezamento das batalhas, era difícil manter o vigor para combater um exército inteiro.

— Eu sinto a presença de milhares de monstros aí dentro.

O comentário de Index deixou todos sobressaltados. Quando o encapuzado abriu o portão, para surpresa geral, não havia ninguém.

— Innnnndex!

— Olha aqui, seu mascarado hermafrodita, eu consigo rastrear monstros e ponto final, tá bom? Mu-umu.

Para evitar uma confusão maior, o jovem Lisliboux calou a boca do guardião.

Olhando por todo o salão, parecia vazio, as colunas sextavadas e os mosaicos davam um ar clássico e aconchegante à decoração.

O teto era extremamente alto, e lá na abóbada, era possível ver afrescos pintados.

— Uau, que elegante.

— Grande coisa, Enug estendendo o dedo para tocar o de Zarastu seminu, é até nojento quando se olha por muito tempo, sua herege.

— Eu não estava admirando as personagens representadas, mas sim o valor estético.

— A beleza não se resume a técnica, mas sim a representação ideológica do belo.

— Mas a maior beleza do mundo é recriar o mundo a sua própria imagem.

A voz grave retumbou pelo salão, em contraposição com o ambiente iluminado e suave, a criatura de pele negra como a noite emanava uma aura assassina. Trajando um kilt quadriculado em vermelho e azul e portando um tacape, Labatut demonstrava um grave ar de satisfação e contentamento.

— Todos os meus subordinados foram derrotados por vocês. Realmente, tão fazendo jus a esse negócio de Libertadores, né não?

Nem mesmo Adamastor barrou esses caras, ai, ai, eles vão dar trabalho. Ah, porque eu tô me preocupando com isso? Droga, eu sou o general aqui...

— Vou dar uma chance pra vocês, gurizada, joga tudo que é arma no chão que eu deixo vocês dar um tibum no vulcão.

— Você é que vai mergulhar nele? Seu otário barrigudo... Sempre quis dizer isso.

— Ah, é, Rosicler, parabéns, com isso a sua diplomacia perdeu uns dez pontinhos.

A ladina deu língua para o mascarado.

Tell tomou a dianteira do grupo e fixou seus olhos no gorjala. O general atroz riu-se ao rever o garoto.

— Então, este é o filhote de Taran? Sinceramente esperava que estivesse mais velho.

— Ora, seu... onde está o meu avô, hã? Diga!

— Se você vencer, eu digo o que aconteceu com ele.

Rangendo os dentes, o jovem empunhou as duas espadas e avançou contra o adversário.

O monstro fez o mesmo, os companheiros nem tiveram tempo de intervir.

O monstrengo defendeu-se das lâminas com o seu grande tacape e mediu forças com o seu oponente. O mago-espadachim aplicava toda a sua força para repelir o monstro.

— Se você soubesse como está o seu avô atualmente, você choraria.

— Cale-se!

— Tell...

Aproveitando-se da distração de Labatut, a ladina tentou cravar uma adaga nas suas costas. O punhal resvalou e foi cair à distância do inimigo.

— Você não está lutando sozinho, mano, lembra disso?

— O que foi isso, um mosquito?

Pegando a perna da garota em pleno ar, ele jogou-a ao chão. A gatuna saiu a deslizar pelo piso. Mas antes que pudesse continuar a atacar o garoto, Labatut foi atingido por um tiro. Letícia descarregara diversos cartuchos, sem que ele se movesse.

— A pele desse sujeito é feita de que afinal?

— Podem tentar, atirem, me esfaqueiem, mas não podem me ferir.

— Vamos ver se é verdade o que diz. Projétil de Luz.

— Gourmand.

A esfera de energia se formou e depois de lançada, rapidamente desapareceu na bocarra do gorjala.

— O quê? Ele comeu o seu Projétil de Luz!

— Eu sei, Index...

Alimentando os seus músculos com a energia mágica do garoto, ele o golpeou com a sua arma, fazendo-o recuar a vários metros de distância.

A Mugen ficara no chão, agora o jovem só tinha uma única espada para lutar. Ele a empunhou com as duas mãos e usou a Transmutação Ígnea que lhe foi ensinada. Toda a lâmina da Justiceira estava envolvida em chamas crepitantes.

— Coma isso...

— Será que não vai me dar indigestão?

Cravando a espada no piso, Tell passou a correr na direção do general atroz deixando uma trilha de chamas atrás de si.

— Rosicler, Letícia, peguem esse desgraçado, e Saragat... acaba com ele.

— Moleque infeliz, tu tá destruindo o piso do salão.

— Bote na conta do rei!

Tell ergueu a Justiceira e aplicou um corte diagonal de baixo para cima, como previra o gorjala. Abrindo uma deformada mandíbula, ele consumiu toda a chama que envolvia a espada. Após absorvê-las, ele soltou um arrotou expelindo uma grossa camada de fumo.

— Isso foi um erro, garoto, com a conjuração Gourmand eu posso devorar qualquer coisa, mesmo magia, eu hã...

Ambos os seus potentes braços estavam dominados pelo ioiô de Rosicler, e as pernas pelas transmutações telúricas de Letícia.

Mesmo assim o monstrengo revidou girando no próprio eixo, fazendo as duas serem lançadas para longe dele. O gorjala nem teve tempo de comemorar, uma redoma de sombras envolveu a cabeça do general atroz.

— Ah, já tinha me esquecido de você, conjuradora das sombras.

— Conjurador das sombras.

— Que seja.

O adversário absorveu a Obnubilar de Saragat. O conjurador arqueou o corpo para trás para desviar de um soco.

— Deusa que nunca me desamparaste, repreende as forças malignas... Escudo Nébula.

Um escudo de sombras espiralado surgiu, mas esta não era a defesa propicia para ataques físicos, e a mãozorra de Labatut alcançou a garganta do mascarado. O mesmo não se desesperou, as suas companheiras deram-lhe cobertura.

— Suas idiotas, morram...

E voltando-se para elas, ele vomitou chamas. Letícia desviou o fogo usando transmutações telúricas. A Gourmand também possibilitava usar o ataque absorvido pelo monstro. Saragat fez um rogo e pousou as mãos nos olhos de Labatut.

— Deusa Nalab, senhora da escuridão e dos reinos sombrios... Caligem.

A perda da visão foi automática. O gorjala apertou ainda mais o pescoço do mascarado, mas para a sua surpresa, o conjurador se desfez em suas mãos como um líquido. E encapuzado escorreu pelo chão e se tornou a sombra, e a sombra por sua vez transformou-se no servo de Nalab, de modo que eles agora tinham os lugares trocados.

— Seu infeliz, eu não estou enxergando nada...

— E nem vai enxergar mais nada. Deusa que repousa no trono da escuridão... Impulso Sombrio.

As sombras percorreram o corpo do servo de Nalab como uma onda de choque e formaram uma aura escura ao seu redor, atingiram um perímetro de três metros de raio.

A pele do general atroz esfarelou. Como se fosse feita de metal. Por baixo da derme enegrecida e de aspecto metálico, via-se toda a sua estrutura muscular. Aos poucos a pele foi se regenerando de modo vagaroso.

— Viu só, não adianta fazer nada, o resultado será a completa derrota de vocês.

— É com você, Tell...

Saragat deu passagem ao mago-espadachim, que munido das duas espadas, aplicou um corte envolvido com as chamas.

— Corte Fulminante.

Labatut foi dividido ao meio e todo o seu corpo passou a cremar como numa fogueira. Crac-cric, enquanto carbonizava, o gorjala soltou um largo sorriso insano.

O jovem guerreiro mantinha as duas espadas em volta de flamas ardentes.

— Diga onde está o meu avô, agora!

— Garoto, você deve ser muito tolo. O que pensa que vai acontecer se encontrar o seu avô agora? Vai abraçá-lo? Beijá-lo? Só que não! Seu pobre coitado.

— Pobre coitado é você, seu monstrão de uma figa...

Rosicler interviu ironicamente e pôs a mão no ombro do garoto, lhe dando apoio.

— Você é o pobre coitado aqui, e será purificado, sacou?

A agente da Real Força Espagíria se agrupou junto com o servo de Nalab. O quarteto olhava o corpo tostado e fumegante do Labatut, um mero humano não aguentaria aquele calor.

A metade do general da cintura para cima bateu palmas, como se aplaudisse a desenvoltura de seus algozes.

— Realmente, vocês são dignos de nos enfrentar. Entretanto, se eu não os derrotar, mesmo que eu venha a morrer nesse processo, será uma vergonha para o Batalhão Colossal.

Plaft-plaft, as camadas de queimaduras caiam de seu corpo. Para cada palma que ele batia, o piso e as paredes vibravam como se estivessem despertando algo.

— Venham até mim, monstros. Vamos mostrar a glória de nosso deus Enug...

De todos os lados surgiram monstros. Entre eles, as gárgulas, criaturas aladas, com todo o seu corpo em pedra-sabão. Possuíam semelhanças com os morcegos, como asas e caudas. Em suas faces grotescas, presas agudas eram visíveis. Os olhos eram globos vermelho-sangue.

— Essas criaturas são nojentas...

A gatuna não parecia nada feliz com a visão daqueles seres cheios de muco e fungos.

— Pior do que aqueles ali?

O mascarado apontou na direção das paredes, e de lá surgiram os armeiros da Horda.

Os anões também estavam presentes, as criaturas pequenas possuíam longas barbas puídas e cabeças calvas, usavam gibões de couro, e outros aventais. Muniam-se com pesados malhos. Seus narizes arredondados lhes davam feições deformadas e assustadoras, muito menos simpáticos que os gnomos.

— Escutem monstros, esses inúteis têm a coragem de vir até aqui e nos enfrentar, vamos mostrar que nós monstros só tememos o nosso grande poder. Polimerização Mágica – Hecatombe.

Os milhares de monstros, como se tivessem sido atraídos por um imã, foram sugados para perto de Labatut, que neste momento se transformara numa massa de energia amorfa. A massa arroxeada crescia a cada monstro absorvido.

Quando terminou, um exército inteiro tinha desaparecido no centro da fusão.

— De todas as conjurações monstruosas, essa é a que eu mais odeio...

Saragat viu restas de luz adentrar e inundarem o salão do Palácio Vulcano. Todo o teto havia sido destruído pela imensa criatura que emergira no local.

— Contemplem o poder de Enug...


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