Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves


Capítulo 25
Capítulo 5: Palácio Vulcano - Parte 3




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De toda a Cordilheira de Bashvaia, a 6º Estação era a mais bela de todas, havia centenas de termais e cachoeiras. Muitos creditavam curas milagrosas as suas águas.

— Realmente a FCN é uma nação muito rica.

— Rica a ponto de só ter dinheiro, né não?

A alquimista teve que concordar com Rosicler. As duas seguiam Tell, Index estava no alto de sua cabeça dando língua para Saragat, que vinha na retaguarda.

As corredeiras de água faziam um som ensurdecedor, o volume era tão alto que era preciso gritar em alguns momentos para ouvirem uns aos outros.

— Quem será o chefe dessa estação aqui, hein?

— Se estiver correto em meus cálculos, ele deve ser o tenente desse batalhão.

— Não precisam procurar-me tão longe, humanos, ergam os vossos olhos.

E como a voz suave tinha ordenado, eles assim fizeram. Bem em frente à cachoeira, um imponente ciclope trajando uma túnica resplandecente flutuava. Os joelhos se dobravam e os pés se entrelaçavam na frente do umbigo. As mãos formavam sinais meditativos, uma aura fulgurante o envolvia. O seu único olho se fixava em Saragat.

O grupo se encontrava na margem da queda d’água, à espera de um ataque. Os heróis ficaram impressionados com a calma do monstro.

— Diga-me, homem, como podeis conjurar sobre o nome de uma deusa tão vazia quanto Nalab? Não sabeis que as sombras são enganosas?

O mascarado sorriu, as veias saltavam do seu pescoço, mas ele manteve a compostura. Sentando-se em cima de uma pedra, o encapuzado retrucou as palavras de Optentrion.

— Como poderá chamar-me de cego, tendo tu visão unilateral das coisas? Vos é que não sabes que a sombra tem uma cor, e que a cor que te serve como brasão revela medo...

Diferente da ladina, Letícia se atentou ao simbolismo da cor. O amarelo era a cor da heráldica do Reino dos Monstros. O estandarte da Horda se resumia a uma horrível face rubra bordada num plano de fundo amarelo. A carranca, diziam alguns, era um autorretrato de Enug, deus dos monstros.

— O que está tentando fazer, quer me convencer de alguma coisa, senhor olho-gordo? Se enxerga, vai, com um olho desse e você continua a não enxergar nada, não é mesmo?

— Enxergo muito mais do que a vista alcança, humano. Vi inclusive as suas lutas, examinei a tua fé, e embora ela me intrigue, não sinto nenhum poder advindo dela. A sombra atrai fraqueza, pois é nela que os covardes costumam se esconder.

Saragat ergueu-se rangendo os dentes, aquilo era mais que uma provocação, era uma blasfêmia. Mas pensando melhor, se conteve, aquele era mais um que deveria ser purificado pelo Monstronomicom, as suas mãos envolveram o Cajado Nebuloso.

— Pode ser verdade, muitos podem se esconder nas sombras, mas muitos outros nascem das sombras e passam a buscar um sentido em sua vida, uma razão de existir, por assim dizer. Mas o que não posso admitir é que alguém como Zarastu use isso para promover caos e desordem em nome de um deus que nunca promoveu nenhum benefício ao ser humano. Nalab, ao contrário, me deu um sentido, minha fé é um instrumento em suas mãos.

A criatura gargalhou, e recompondo-se, levitou a uma altura mais baixa e mais próxima da companhia. Tell embainhou a sua espada, ele estava reticente.

— Esse aí parece ser um inimigo difícil, viu, Index.

— Tenha cuidado, garoto, ele tem uma essência monstruosa enorme.

A ladra que ouvia os cochichos mordeu os seus lábios, Index nunca errava as previsões.

— Um instrumento de sua vergonha. Se assim for, não há erro em vossas palavras. Não é à toa que a vossa deusa abandonou a presença de meu deus e senhor para servir a ideais vãs e doutrinas mortas. De que serve a vida humana, cerceados e coagidos por moral e ética, para que estas coisas servem? Enfraquecidos pela ausência do instinto e castigados pela lei e ordem forçadas... Homem, tolo do homem.

— Existe um motivo pra minha deusa não acompanhar as maquinações de Enug, e isso é porque teu deus é um CHATO DE GALOCHAS! E para terminar, olhinho de vidro, o que diferencia um ser humano de um tolo, é a ausência de monstruosidade.

Splash, saltando nas pedras que ficavam acima da superfície da água, a gatuna sacou as suas adagas e se preparou para atacar.

— Escuta aqui, capa-preta, chega dessa de aula de teologia sacou!

— Rosicler tem razão, ataquem com tudo que tem, Transmutação Aquosa – Cornetas de Água.

Repousando as mãos na correnteza, a militar alfonsina criou diversas tromba-d’águas. Colidindo-se com o tenente, o ataque abriu espaço para um ponto cego.

A ladina sacou todas as suas lâminas e começou a atirá-las continuamente no inimigo. Para surpresa de todos os presentes, nenhum dos ataques surtiu algum efeito no adversário.

— Humanos, ingênuos e fracotes. Os seus estratagemas sempre esbarram na incapacidade, foi assim com a tomada da Cordilheira de Bashvaia. Vocês precisavam ver a empolgação de quando os mercenários derrotaram o nosso pequeno regimento de caveiras, anões, gnomos e gárgulas! Mas quando eles viram os cinco alto-oficiais do Batalhão Colossal, eles depuseram as armas e fugiram daqui...

Em volta de Optentrion, dezenas de formas geométricas formavam uma flor de lótus, e elas o protegiam como se fossem um escudo. Emitiam um brilho incandescente nas pupilas do trio de guerreiros, de modo que tiveram que proteger o rosto da luminosidade.

— Esta é minha bela Iantra. Ela pode me proteger de qualquer ataque, físico, mágico ou até mesmo o ataque de um deus.

Droga, todos esses desgraçados além desse tamanho todo possuem defesas poderosíssimas, que apelação...

Saragat estava impassível, assistia a luta com a impaciência digna de quem se sente incapaz e desnorteado. Sentado com a mão esquerda sustentando o queixo, ele refletia.

— Ah é, vamos ver se essa barreira é tão forte assim.

Sacando duas pistolas, Letícia iniciou uma sequência de tiros que acabaram por esbarrar no poderoso escuro de energia dourada.

Rosicler também usara as suas facas, mas não conseguira êxito nenhum.

Optentrion fechou o seu olho. Os círculos, semicírculos e triângulos se contraíram como pétalas, o escudo era uma flor fechada.

— Deixa comigo meninas, eu vou colher essa flor pra vocês!

E vindo de cima, o garoto lançou um Projétil de Luz, e logo após aplicou um estoque com energia mágica empregada na Justiceira. Uma pétala se desfez no ato, mas logo se regenerou. O mago-espadachim se reagrupou com as duas novamente.

— Vejam a defesa dele, não é tão poderosa assim.

— Como descobriu o segredo de Iantra sozinho, garoto?

— É, tipo assim, foi show de bola, mano!

— Vejam a Iantra não é uma barreira mágica convencional. Ela é um conjunto de pequenas barreiras sobrepostas, isso exige muito mais concentração e energia do que uma barreira comum. Meu vovô disse que não se pode manter a concentração e energia em vários escudos ao mesmo tempo, por isso eles podem ser fáceis de quebrar se vocês atacarem em grupo e coordenadamente.

As duas garotas se entreolharam assustadas, depois elas pousaram as mãos no ombro de Tell e aproximaram o rosto tão perto que ele não pôde deixar de ficar constrangido.

— NOS DIGA O QUE FAZER!

— Hã, olha eu, espera, me deixem respirar aqui...

Só faltava ser um pouco mais velho, Tell.

O Tell é inteligente, veio. Rapaz, ele até que num é de se jogar fora não.

— Escutem, está bem, vamos fazer um ataque contínuo visando toda a barreira mágica.

— Sim, é um ótimo plano.

— Vamos lá, olhudo, aqui vamos nós...

E o trio tomou cada um à sua posição e se puseram a atacar o ciclope sem nem ao menos parar para respirar. Com granadas e poções variadas, a alquimista impunha o ritmo. Tell usava projéteis de luzes e Flux Lux, Rosicler usava as suas afiadas adagas. E num ataque circular contra o tenente, o trio destruiu todas as barreiras.

— E lá vai à última...

Antes que o ataque de Tell pudesse atingir a barreira, Optentrion sumiu de vista.

— Mas o quê?

— Mas como é que um negoção daquele desaparece assim, veio?

Vrunsh, o rugido agudo foi aumentando a cada segundo. O raio veio pela retaguarda dos guerreiros, era uma rajada de energia enorme, com variadas cores, como um arco-íris.

— Droga! Saiam daí, seus lerdos!

Antes que o ataque atingisse as garotas, a conjuração foi interceptada.

— Essa foi por pouco.

Uma gota de suor enorme escorreu pela máscara de Saragat. O mascarado estava pasmo com a última cena que havia presenciado: usando das suas espadas, o mago-espadachim defendeu as suas companheiras.

Ele desviou o Canhão Óptico com apenas duas lâminas cruzadas... espere, mas aquela é a Mugen de Titã Cubo!

— É incomum que alguém perceba o meu teletransporte. Mantra não deixa rastros de energia.

— Durante toda a nossa investida você ficou com o olho fechado, ou você é muito confiante ou estava preparando outra conjuração mais poderosa. Além do mais, estamos lutando perto de uma superfície reflexiva, posso ver tudo que esteja acima de nós.

— Uhu! É isso aí Tell, mostrou pro olhudo quem é que manda.

— Obrigado, Index, mas essa luta ainda não acabou.

Bem, conseguimos desviar desse golpe, mas nada garante que conseguiremos desviar de outro. Temos que antecipar os movimentos do adversário.

O monstro unóculo preparou a barreira mais uma vez, a alquimista então disse:

— Ataquem com tudo!

E mais um turno ofensivo teve início, com uso de suas pistolas, a alfonsina destruiu várias camadas da barreira. Os companheiros contribuíram atacando conjuntamente.

No fim, quando o ciclope tentou usar a conjuração Mantra, ela lançou uma Poção Fog, o nevoeiro denso cobriu o monstrengo. O tenente se teletransportou, mas tornou-se perceptível quando a cortina de fumaça surgiu junto com ele.

— Vai lá, Tell, agora é com você!

— Pode deixar.

E usando uma pedra para ganhar impulso, o jovem empunhou a Justiceira com as duas mãos e aplicou um estoque bem no olho de Optentrion. Spliz, o fluído ocular escorreu pela lâmina, a dor foi tão grande que a única reação do ciclope foi pôr as mãos no rosto e soltar um grito estertorante.

O garoto retirou a espada e desceu de onde estava. Já no solo, ele limpou a lâmina na correnteza da cachoeira. Perdendo aos poucos a consciência, o monstro desabou nas águas. O mago-espadachim abriu o Monstronomicom e recitou as palavras mágicas.

— Vamos retirar o corpo da água.

O homem purificado parecia um sacerdote. Saragat o olhou não mais com desprezo, mas com a estima comum aos homens fervorosos.


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