Um Reino de Monstros Vol. 3 escrita por Caliel Alves


Capítulo 19
Capítulo 4: Entre colossos - Parte 2




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— Muito bem, Tell, você cumpriu metade do treino, falta pouco.

— Unhun, eu estou pronto.

— Ótimo, adoro ver o meu aluno bem-disposto.

Com uma velha espada enferrujada, o mago-espadachim iria concluir os treinos. Embora não fosse a espada que queria, ela iria servir para o treinamento.

— Agora você aprendeu a agitar as moléculas, mas isso só provocaria uma mudança no estado físico da matéria. Nosso objetivo aqui é alterar os átomos, não as moléculas.

— Olha, Letícia, essa linguagem é muito complicada para o Tell, não?

— Não, Index, não há mistério aqui, é só seguir como eu ordenei.

— Arrasa, Tell!

A criatura alada tomou distância do garoto e planou no ar batendo as suas orelhas.

A alquimista acenava com a cabeça, incentivando o pupilo a realizar a alquimia. A militar transmutou o solo e formou vários bonecos de terracota a frente do jovem para que ele desferisse o golpe.

— Vai lá, garoto, não precisa se conter.

— Está bem... Professora Letícia, como é que a senhora consegue realizar tantas transmutações poderosas sem recitar as fórmulas?

Uma gota de suor enorme escorreu pelo seu belo rosto.

Ele me chamou de “senhora”!

— Olha, Tell, não precisa me chamar de senhora, ou de senhorita, tá? Me chama só de Letícia.

— Tá bem.

Ah, a quem eu quero enganar, ele é só um garoto de doze anos...

— Na transmutação, nós não precisamos recitar nada para fortalecê-las, já que não criamos nada. Os alquimistas apenas modificam as estruturas atômicas aplicando a sua energia mágica na matéria. No início, o seu gasto de energia será convencional, mas ao longo do tempo isso mudará, e grandes transmutações serão feitas com o mínimo de energia mágica.

O rosto do aprendiz se iluminou como se tivesse recebido a luz de um farol. Ele empunhou a espada com uma mão, entretanto, a lâmina não ficou ereta o suficiente. Sendo uma espada larga, o Lisliboux teve que empunhá-la com as duas mãos.

O que está acontecendo aqui? Eu já empunhei uma lâmina de chumbo!

O Guardião do Monstronomicom riu ao ver o esforço em vão do jovem.

— Essa espada é de duas mãos, garoto, não vai conseguir esgrimi-la com uma mão só.

Há pedido de Z, a alquimista deu a Tell o chanfalho para que este treinasse usando as duas mãos. A depender do resultado, ele teria uma espada com um modelo diferente.

— Ah tá, então, está bem.

Com um rápido movimento, ajeitou a sua postura e se pôs numa posição de ataque.

Haaaaaaaa, eu só preciso concentrar a minha energia na lâmina da espada e atacar...

Empreendendo uma corrida, o mago-espadachim avançou contra o fantoche de barro e o golpeou dividindo-o em dois. Embora algumas faíscas tivessem saído da espada no momento do corte, isso não convenceu a mestra do rapaz que meneou a cabeça.

— O que foi? Não viu as fagulhas? Eu quase consegui!

— Não foi bem assim, Tell, desculpe.

Os ombros dele caíram. Havia se esforçado tanto para no fim não executar a transmutação direito! Mas essa era só a primeira tentativa.

— Preste atenção, o seu objetivo agora não é produzir calor, mas inflamar o oxigênio.

— Me desculpe, eu não sou formado em Química...

— O quê?

— Nada, não.

O mago-espadachim empunhou a espada novamente e preparou um golpe. Suas duas mãos seguraram a espada com tanta força que ela parecia grudada ao seu punho.

O jovem lembrou-se dos ensinamentos de Clapeyron. Ele dizia que se o espadachim fizesse da lâmina uma extensão do seu corpo, não precisaria temer a nada, pois, o espadachim e sua arma seriam um só.

Só que aqui tem o fator magia, mestre de armas...

— Lá vou eu!

Diligentemente, o jovem desferiu um poderoso corte. As fagulhas crepitaram mais altas, sem necessariamente produzir fogo.

— Tell, lembre-se, a ira sem direcionamento é selvageria, mas a ira aplicada com objetivo é força. Nossos sentimentos não produzem efeitos, ações produzem efeitos. Nossos sentimentos têm origem nos nossos pensamentos, imagine o objetivo sendo cumprido e o sentimento será o mesmo.

Tá bem então, os pensamentos geram sentimentos!

O filho de Taran visualizou os bonecos de argila cremando até as cinzas, ele se divertiu por um momento com a imagem, embora odiasse machucar os outros. Desde cedo havia aprendido que a violência gerava uma onda maior de violência.

— Então, eu imagino que vocês estão queimando, e sinto a ira me queimar também...

Letícia sentiu algo assustador, não era comum que seu aluno agisse descontrolado.

A espada obtusa começou a emitir um leve lume rubro, e aos poucos, o fumo ascendeu ao ar. Logo após, o ar em volta do chanfalho ardeu e formou chamas. A espada chamejou e as flamas desceram pelo cabo até atingir as mãos do jovem.

— Haaaaaaaa, quente, quente, quente, quente, fu-fa-fu-fa.

Ele soltou a espada no mesmo instante e passou a assoprar as mãos. A alquimista foi até o jovem estendendo-lhe uma poção Água Benta.

— Eu fui queimado, como?

— A transmutação é diferente das outras magias, Tell. Nas magias arcanas o usuário não pode ser ferido pela sua própria magia, a não ser por uso indevido da técnica ou erro na recitação, além é claro, de ter a sua magia rebatida pelo oponente. Conjuradores devido a sua fé também não podem ser machucados pelas suas conjurações, desde que não fraquejem na fé. Mas a transmutação pode te machucar caso te atinja.

Quando a militar disse o motivo do mago-espadachim ter se ferido, Index ficou pasmo.

— A transmutação é muito perigosa Tell, deixe-a pra lá.

— Não, eu vou até o fim.

— Mais importante do que proteger o Monstronomicom é proteger a vida do usuário.

Tendo as suas mãos curadas pela poção, o Lisliboux pegou a arma e preparou-se de novo.

— Quer dizer que a transmutação pode me machucar no ato preparatório por que ela é uma reação alquímica e não uma magia em si?

— Exatamente.

— Diga-me, professora, quais os verdadeiros riscos de usar essa Transmutação Ígnea?

— Se você não dosar a quantidade necessária de energia mágica você pode sofrer até combustão espontânea. Toda magia é perigosa, não aconselho usá-la em ambientes fechados, pois, consumiria o ar e você poderia até morrer asfixiado.

Tell fez que sim com a cabeça e se virou para os seus alvos. Os estáticos inimigos de barro mantinham a sua agressividade, como se fossem bravos guerreiro a encarar o jovem. O mago-espadachim fincou o seu pé direito no chão e o outro mais atrás e empunhou a espada na vertical, fazendo com que a mesma ficasse o mais perto do seu rosto.

— Eu sei que você consegue, Tell.

O guardião encorajava o amigo dando volteios ao redor do jovem. Ele por sua vez matinha a sua concentração. Com os olhos fechados, imaginou um átomo. Uma estrutura circular formada por várias pequenas esferas, algumas giravam em torno de um centro com dois grupos esféricos brigando pelo mesmo espaço.

É isso, tudo se resume a energia.

Quando o garoto abriu os olhos, correu em direção dos hipotéticos adversários. Ele sentia algo muito mais forte que a ira: autoconfiança.

— QUEIMEM!

O chanfalho ardeu envolto em chamas tão espessas que antes mesmo de atingir os manequins de argila, os mesmos já se desintegravam. O calor intenso deixou Tell e os expectadores com os lábios secos. Quando terminou, só havia pó onde antes havia bonecos de barro.

— Espero que a espada que Z esteja forjando aguente uma Transmutação Ígnea.

Letícia virou-se para o garoto. Olhou as suas mãos, o mago-espadachim segurava apenas um cabo sem lâmina, a espada havia derretido.


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