O Homem que Perdeu a Alma escrita por Willow Oak Acanthus


Capítulo 19
Capítulo XVII - O inferno me deixou paranoico.


Notas iniciais do capítulo

Oi oi :)
Sumi, né? Desculpa gente. Tive um bloqueio, e honestamente, precisava descansar.

Eu não sei se vale a pena encher o saco de vocês com a minha ladainha, mas lá vai: Esse capítulo é transitório, e parando para pensar, são nesses capítulos que consigo focar nos detalhes e nos diálogos. Eu espero que vocês gostem...

Várias sementinhas da discórdia foram plantadas hoje. Quando é que iremos colher elas, ein?

Boa leitura ♥



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Ponto de vista de Sam Winchester.

Abaixo a cabeça, não concordando com absolutamente nada disso.

Sinto uma vontade imensa de sair dali, e é exatamente isso o que eu faço. Dean, Bobby, Jesse e Hazel se entreolham quando saio andando a passos duros, claramente incomodado.

Saio pelo pórtico, e caminho em direção ao Impala 67. A tarde se estende no céu, como um véu. Os ventos frios me circundam enquanto passo a mão pelo capô do carro, sentindo um tipo estranho de nostalgia. Resolvo me encostar em frente a porta do carona, meu lugar oficial, e fico ponderando sobre tudo o que tenho que assimilar.

É tão óbvio para mim que estão escondendo algo, que chega a ser enlouquecedor. Mas eu conheço Dean o suficiente para saber que pressioná-lo contra a parede não vai adiantar, e não quero exigir nada da Hazel depois de tudo o que ela passou. Não confio e nem gosto do idiota do irmão dela, e Bobby vai me dar um belo de um tapa se eu o perturbar demais. Ergo a manga da camisa de flanela marrom, onde a mordida cravada em minha pele começa a cicatrizar, lentamente. Nada faz sentido.

Se Crowley veio até aqui para matá-la, como ele conseguiu escapar? E pior! Por que precisou ir até o vale das sombras para tentar capturá-la?

Fico ruminando essas informações desconexas por um tempo, até que vejo Dean saindo pela porta da frente da casa do Bobby e vindo em minha direção. Fico chutando algumas pedrinhas no chão, irritado. Ele traz consigo duas cervejas em suas mãos, e se encosta ao meu lado no carro, sem dizer nada.

Ele estende uma das cervejas para mim, e eu a pego silenciosamente. Sorvo o líquido gelado, apertando tanto a garrafa que posso quebrá-la a qualquer momento.

—Sei que não gostou nada da ideia dele... - Ele começa a dizer, bebendo um gole da sua garrafa – Eu também não fui muito fã. Mas infelizmente, ele tem fundamento.

—Você deve saber disso mais do que eu, aparentemente, todos sabem mais do que eu. Nem vou discutir...- Resmungo, olhando para o horizonte.

—George White confirmou o fato de que ela bloqueou os próprios poderes, Sammy. Quando conhecemos Jesse e ele nos falou dos gatilhos e tudo mais, as informações se encaixaram. – Dean me olha com um ar preocupado, e eu apenas o encaro com uma expressão irritada no rosto – E ela não vai estar realmente em perigo. Estaremos por perto, e ao menor sinal de perigo maior...

—Dean, você melhor do que ninguém sabe como são as caçadas. Não existe isso de estarmos no controle e intervirmos na hora certa. Isso é tão irreal que chega a ser burrice. – Bebo mais um gole da cerveja, e limpo a boca com as costas da mão.

Dean suspira, e me encara.

—Não temos opção melhor, Sammy. Se quisermos que ela acesse os próprios poderes, ficando forte o suficiente para se defender de tudo o que está atrás dela, precisamos arriscar. E acredite, isso me machuca tanto quanto a você. Vê-la em perigo. – Seu olhar carrega dor e preocupação, e eu franzo o cenho.

Como isso poderia machucar a ele tanto quanto a mim? Me questiono mentalmente, genuinamente confuso. Resolvo não falar nada, afinal... ele cuidou dela e a protegeu durante os últimos meses, pelo que me contou. É claro que se importa com ela.

Mas daí comparar o que isso significa para nós dois...

Acende uma coisa lá no fundo da minha mente, mas eu resolvo deixar para lá. É loucura minha, provavelmente. Acho que o inferno me deixou neurótico e paranoico.

—Você a treinou junto a Bobby, certo? – Pergunto, olhando-o no fundo dos olhos. Ele assente, e eu me desencosto do carro, ficando de frente para Dean – Ela aprendeu a atirar? A se defender?

—Ensinei a ela tudo o que foi possível com o tempo que tínhamos, Sammy. Foram duas semanas intensas, sem pausas. É óbvio que a maioria das coisas só se aprende na prática, mas... ela vai dar conta.

Assinto, não tão convencido.

Não estou duvidando da capacidade dela. Eu só sei os perigos de uma caçada, e de como podem sentenciar a morte até mesmo o mais experiente dos caçadores. Sei que ela é forte e determinada, mas nunca vou conseguir deixar de sentir um aperto no peito com a ideia de ela estar entrando no negócio de família.

Me lembro, anos atrás, quando nos conhecemos e a minha maior prioridade era mantê-la longe desse mundo sombrio e cruel. Mas agora, sabendo o que sei... vejo que não tenho mais esse poder. Ela está inserida nesse mundo tanto quanto eu, e isso não tem volta.

E não é nada justo.

—Vocês... conversaram? – Dean especula, cautelosamente. Termino de beber a cerveja e deposito a garrafa perto do pneu. Coloco as mãos dentro dos bolsos do jeans, e respiro fundo.

—Ela me contou sobre a avó ter mentido, anos atrás. Descobri que, na verdade, ela não queria que eu fosse embora. E descobri que a avó a fez acreditar que eu simplesmente a havia deixado... – Sacudo a cabeça de um lado para o outro, ainda incrédulo e indignado com isso tudo – Dá para acreditar em uma coisa dessas? As coisas poderiam ter sido completamente diferentes...

—Quando ela me contou sobre o que acreditava, eu quase bati o carro... – Dean fala isso pensativo, enquanto passa a mão nos cabelos loiro-escuros – Porque, embora você nunca tenha me falado o que tinha acontecido, eu o via indo ao hospital todos os dias, e voltando arrasado para casa. Eu sinto muito mesmo, Sammy. Por tudo isso...

Assinto, agradecido por ele se importar. Dean sempre esteve ao meu lado, nos piores e nos melhores momentos. Ficamos em silêncio por um tempo, mas então Dean me olha curioso:

—E depois? Conversaram sobre mais coisas? – Franzo o cenho para ele, porque novamente, sinto que ele sabe de algo que eu não faço a mínima ideia.

—Depois ela me contou que usou os poderes em você e viu tudo o que tinha acontecido conosco nesses últimos anos... – Suspiro, ainda chateado por saber que ela me viu pelos olhos de Dean, cometendo todos os erros possíveis – Existe muita coisa para ser dita, entende? Eu sinto que não sei nada do que aconteceu com ela nos últimos anos, sinto que preciso a conhecer novamente, e vice e versa. Não sei se teremos tempo para isso, meio a esse caos. E isso é bem frustrante...- Me encolho quando uma lufada mais forte de ar frio passa por mim. Dean fica pensativo por um momento, e então fala:

—Achei que vocês tivessem se acertado, lá em cima. – Ele coça a nuca, meio constrangido por tocar no assunto – Pelo modo como vocês desceram constrangidos e felizinhos, como se fossem dois adolescentes novamente. – Dean sorri para mim, de canto – Não rolou nada?

Suspiro, cruzando os braços e pensando em tudo o que aconteceu nas últimas horas.

—Eu quase a beijei. – Digo isso, olhando para as minhas mãos que passearam pelas suas costas e sua nuca. Quase posso senti-las quentes, como se a energia dela estivesse comigo – Mas Bobby interrompeu. Acho que foi para melhor... – Coço a nuca, contrariado e confuso – Não posso apressar as coisas. Mas foi tão inevitável...

Dean me ouve, enquanto me fita com um olhar difícil de decifrar.

—Sei que não é da minha conta, mas levando em consideração que estamos todos correndo um risco sério de vida... – Ele dá de ombros, e suspira – Nada pode ser cedo demais, e sim, tarde demais, não acha?

Penso sobre suas palavras, relutante.

—Ela está em um momento tão delicado... e eu também. Foi irresponsabilidade minha, o que quase aconteceu lá em cima...- Passo a mão pelos meus cabelos, frustrado – Ela me disse que não sabe como agir perto de mim, acho que mesmo sabendo a verdade sobre tudo agora, ainda desperto nela sentimentos negativos. E não posso culpá-la, quer dizer... olhe tudo o que aconteceu com ela... – Suspiro, me lembrando de como encarei sua boca tão de perto, acreditando que ia provar seus lábios novamente. Mal nos reencontramos e eu já ia beijá-la como se não houvesse amanhã. Isso é tão errado— É egoísmo colocar os meus sentimentos, sejam quais sejam, acima do que ela está sentindo. Sabe, eu nunca a superei...

Jura?! – Dean diz, ironicamente, enquanto me ouve – Eu não tinha percebido!

Rolo os olhos para ele, e pigarreio.

—Mas ela me superou, em algum momento. Ela foi para a faculdade, e com certeza teve seus casinhos por aí...– Digo, revivendo mentalmente a lembrança amarga de ter a visto, anos atrás, com o braço de um garoto ao redor da sua cintura. Dean parece se recordar de algo:

—Ela namorou um sem graça chamado Noah Andrews...- Ergo as sobrancelhas quando escuto isso. Dói lá no fundo. Namorou?! Eu sei que fiquei com outras garotas durante os anos, e imaginei que ela também tivesse ficado.

Mas namorar? Isso é gostar de alguém o suficiente para acreditar que pode ter um futuro com essa pessoa. Isso, como eu havia previsto, é superar alguém.

Tento não parecer tão abalado, mas acho que meus olhos não mentem. Dean me olha preocupado, e se apressa a dizer:

—Ei, me escuta, ok? Hazel e eu tivemos uma conversa um dia. E eu perguntei sobre você... – Tento prestar atenção em suas palavras, mas estou tão baqueado com a notícia que fico até um pouco zonzo. Tento disfarçar, fazendo minha cara de “nada” – Ela sempre ficou na defensiva ao falar sobre você, na verdade. Mas nessa conversa, me contou sobre esse tal de Noah Andrews que eu te falei. Sabe o que ela me disse?

Não tenho certeza se quero ouvir, penso.

Dou de ombros, tentando parecer maduro sobre isso.

—O que ela te disse? – Questiono, com medo do que estou prestes a descobrir. Dean coloca a mão em meu ombro e me olha bem no fundo dos olhos.

—Que terminou com o cara porque ele não era você. Ela não disse com essas palavras, mas falou algo meio poético e cafona sobre procurar os seus olhos nos olhos dele, o tempo inteiro. O resto da conversa foi ela deixando bem claro o quanto você havia partido o coração dela... – Uma pequena fagulha se acende dentro de mim, ao saber disso. Sei que é um sentimento egoísta, sei mesmo. Mas saber que ela não conseguiu ir adiante com alguém por minha causa me dá um certo alívio. Porque talvez haja alguma esperança...

Sou horrível. Definitivamente. Egoísta, egoísta, egoísta...

—De qualquer maneira, como eu havia dito, precisamos nos conhecer novamente... – Respiro fundo, massageando com o polegar a mordida em meu braço, por cima da flanela, sentindo uma dor incomoda no ferimento, que parece me lembrar o tempo inteiro de que estou sendo privado de informações – Será que a cor favorita dela ainda é verde? Sua banda favorita ainda é a mesma? Ainda odeia café? Como foi na faculdade, ela fez amigos ao longo do caminho? Esse Noah, tratou ela da maneira como ela merece? Tanta coisa...tanta! Quero conhecer as novas versões dela, e quero que conheça as minhas... – Aponto para o meu peito, com as sobrancelhas erguidas – Não acho que ela vá gostar do que encontrar em mim, mas...esse é o primeiro passo. Não vou pular passo algum com ela.

Dean absorve minhas palavras, e me dá um tapinha nas costas, pensativo.

—Eu torço para que tudo dê certo, Sammy. – Dean me disfere um sorriso, e eu retribuo, sorrindo para ele também.

XXX

Ponto de vista de Hazel Laverne.

Estou arrumando as minhas coisas dentro da mochila, repassando mentalmente tudo o que eu aprendi durante meu treinamento com Dean e Bobby. Não temos margem para erros.

O pôr do sol em laranja pálido se estende pelo céu, enquanto uma garoa fina se faz presente. Tenho certeza absoluta de que uma nevasca irá cair, cedo ou tarde. Sorrio sem querer, pensando na minha mãe.

E em como sempre víamos a primeira nevasca do ano juntas, fazendo desejos para os flocos de neve.

Me lembrar do passado é como me lembrar de outra vida. Me sento na cama e fico revisando a minha lista de contatos do Blackberry, os olhos sempre pairando nos nomes de Charlie e do Sr.Hudson.

Queria tanto ouvir a voz deles. Mas não posso...

Sei que eles pensam que estou internada em alguma instituição, cuidando da minha mente perturbada. E por isso não estranharam a falta de contato. Mas o que acontece quando tempo demais se passar e eu continuar desaparecida de suas vidas? Vão pensar que eu nunca me importei com eles? Porque me importo. E muito.

Estou perdida nesses pensamentos quando ouço alguém batendo a porta.

—Entre! – Digo, depositando o celular na mochila. Sam abre a porta devagar, meio sem jeito. Ele me disfere um sorrisinho fraco.

—Já está arrumando suas coisas? – Ele me questiona. Faço que sim com a cabeça, me levantando. Sam entra no quarto, as mãos nos bolsos e uma postura preocupada – Você tem um tempinho?

Franzo o cenho, e em seguida aquiesço.

—Claro. Já terminei de guardar tudo... – Digo, incerta sobre o que vem a seguir. Seus olhos verde-oceano me fitam, fazendo um arrepio me percorrer.

—Então vem comigo, El.

Sam Winchester me conduz para fora dali, sem me dar maiores explicações.

XXX

Estamos no ferro velho do Bobby, a garoa quase parando de cair do céu. Sam retira uma glock do cós do jeans, e me entrega a arma, levemente desconfortável.

—Sei que treinou com o Dean, e tenho certeza de que Bobby lhe ensinou tudo o que sabe. Mas eu ficaria mais tranquilo se pudesse te passar algumas dicas também, antes de cairmos da estrada. Se importa se fizermos isso? – Ele me olha com aquele olhar de cão abandonado, e me lembro de como ele saiu andando bruscamente da sala no momento em que eu aceitei a ideia de Jesse.

Assinto para ele, e me posiciono firmemente no chão, enquanto vasculho o ambiente com o olhar a procura de um alvo. Ergo a arma quando percebo uma garrafa de vidro depositada sobre o para-brisa de um carro ao longe.

Quando aperto o gatilho, erro por alguns centímetros. Fico decepcionada e envergonhada por ter errado. Olho para Sam, que estava examinando cada movimento meu durante todo o tempo. Ele se aproxima e vai até as minhas costas, ficando bem atrás de mim.

Até prendo a respiração por um breve momento. Seus braços me envolvem, conduzindo os meus braços para um posicionamento que segue a linha do meu ombro. Estou segurando a arma firmemente enquanto ele parece corrigir a minha postura, mas é difícil manter o foco em qualquer coisa que não seja nosso contato físico. Dean, que estava arrumando algumas coisas no Impala, se aproxima, curioso.

—Coloque um pé mais para trás, El. – Sam me diz, perto da minha orelha. Sinto um arrepio me percorrer, e faço o que ele pede. Suas mãos, que antes seguravam meus braços, descem para a minha cintura, segurando-a de maneira firme – Seu ponto de equilíbrio está aqui, percebe? Deve ficar rígida nessa região para aguentar o tranco do tiro... – Assinto, com o coração disparado. Como posso prestar atenção em qualquer coisa agora? Suas mãos firmes me soltam, e eu fico do jeito que ele havia conduzido – Pode atirar agora. – Ele diz isso com uma voz confiante, e pelo canto do olho, vejo Dean nos encarando, analítico e com os braços cruzados.

Aperto o gatilho, e dou um sorriso quando acerto a garrafa em cheio com a bala.

Sam sai detrás de mim, sorrindo orgulhoso.

—Você é muito boa, Laverne. – Ele diz, e então se vira para Dean – Você a ensinou a atirar com várias armas? Espingarda, pistola, etc? – Sam pergunta de maneira especulativa. Dean assente.

—Sim, ela sabe lidar com o impulso e com o gatilho de cada uma das que temos disponíveis... – Dean responde, se aproximando um pouco mais de nós dois – E estudou muito com Bobby, também. Fique tranquilo, Sammy... – Dean bate nas costas do irmão e sorri para mim – A Laverne está pronta para isso. Mas estou curioso... como sabia que o que ela precisava era apenas uma mudança de postura, e não de mira? - Dean o olha genuinamente curioso, e eu também. Sam sorri para baixo por um momento, parecendo ponderar se responde a pergunta ou não.

—Eu conheço o corpo dela como ninguém. - Ele diz, percorrendo os olhos pelo meu corpo inteiro de cima a baixo antes de se retirar dali, deixando Dean e eu para trás.

Meu rosto está queimando, e Dean dá uma risadinha.

—Quer saber? O cara é bom... - E após fazer esse comentário, se retira dali, me deixando sozinha para digerir tudo o que acabou de acontecer.

XXX

Estou sentada na escada, observando as estrelas do céu. Uma das poucas coisas que gosto no Kansas é o fato de que o céu aqui é sempre muito limpo durante a noite.

Estou tão incerta sobre tanta coisa.

A porta da frente se abre, e um cobertor é colocado em meus ombros. Sam Winchester se senta ao meu lado, também envolto por um cobertor e com uma caneca fumegante nas mãos. Ele sorri para mim, timidamente, e me entrega a caneca:

—Não tinha mirtilo, apenas camomila. Mas... acho que vai te deixar quentinha do mesmo jeito. – Seguro a caneca em mãos, e sorrio para ele após bebericar um pouco do chá.

—Então você se lembra que o meu chá preferido é de mirtilo. – Constato, e ele assente, se aconchegando no próprio cobertor. Os grilos cantam por toda a parte.

—Me lembro de tudo, El. De cada detalhe... – Ele me olha no fundo dos olhos, as bochechas vermelhas pelo vento frio, os cabelos levemente bagunçados – É claro que, estou perdido sobre as coisas novas. Quer dizer... as pessoas mudam, né?

—Não mudam tanto assim. – Digo, tomando mais um gole do líquido quente – Eu tenho os mesmos gostos que tinha quando era mais nova, só... amadureci em alguns aspectos, como todo mundo faz, eu acho... – Suspiro, me lembrando de como precisei crescer mais rápido que a maioria das pessoas graças as minhas experiências traumáticas – Penso nas pessoas como prédios. Podem ser pintados, reformados, a fachada inteira pode ser modificada. Escadas podem se tornar elevadores..., mas a essência original permanece.

Ele assimila as minhas palavras, e concorda.

—Então, eu quero conhecer as suas...reformas. – Ele usa a minha metáfora de maneira cautelosa – Quais escadas viraram elevadores?

—Hm...é difícil simplesmente dizer, eu nem sei se a gente se dá conta das mudanças na correria do dia a dia. E se você me perguntasse? – Proponho. Ele sorri, nostálgico.

—Como o jogo das perguntas que fizemos quando nos conhecemos? – Ele questiona. Coro imediatamente, porque é doce saber que ele se lembra mesmo dos detalhes. Assinto.

—Exatamente como no jogo. Eu também tenho direito de te fazer perguntas... – Digo, interessada e receosa ao mesmo tempo – Combinado?

Ele pondera por um tempo, mas finalmente assente.

—Você foi feliz na faculdade? – É a sua primeira pergunta. Tomo um gole do chá, e suspiro pensativa. Olho para o horizonte, porque encarar seus olhos é difícil.

—Fui sim. Eu consegui me sair bem no que queria, não tive tanta dificuldade quanto achei que teria, e fiz uma amiga incrível. O nome dela é Charlie, e ela foi mais do que uma amiga, foi um porto seguro para mim quando eu mais precisei. – Tento não soar triste ao lhe contar essas coisas, porque não quero me aprofundar nelas. Se eu me aprofundar na saudade que sinto das pessoas, irei me afogar— Eu fiz um longo estágio no The Post graças a NYU, e bom... foi incrível. – Sorrio um sorriso fraco, e ele assente.

—Tem alguma das colunas que escreveu no The Post para me mostrar? – Ele questiona, e eu o encaro. Mas gostaria de não ter feito isso, porque sinto um frio na barriga agudo todas as vezes que meus olhos fitam os seus – Eu adoraria ler algo escrito por você.

—Quem sabe um dia desses eu te mostro alguma coisa, quando a poeira abaixar. – Digo meio que tentando desconversar, porque fico nervosa perto dele. Aquele tiro que errei mais cedo, errei porque ele estava ali. Quando estou perto dele, pareço desaprender a fazer as coisas – Minha vez. Como foi em Stanford?

Sam respira fundo, e olha para baixo por um momento.

—Eu fui muito bem por um bom tempo, entende? Até fiz alguns amigos. Eu ia me aplicar para algum estágio, mas então o meu pai sumiu e... – Sua voz morre, e ele dá de ombros – O resto você já sabe. Larguei tudo e fui com Dean atrás dele. O resto... o resto é história.

Aquiesço, me encolhendo mais no meu cobertor. Estou grata que ele me trouxe um, pois o frio está chegando aos meus ossos.

—É... o resto é história, de fato. – Digo, pensando em tudo o que os irmãos Winchester passaram nos últimos anos. Ele pigarreia.

—Um passarinho verde me contou que você teve um namorado... – Coro imediatamente, e olho para baixo. Ele ri.

—Eu não sabia que o Dean era tão fofoqueiro... – Digo, coçando a minha nuca, constrangida. Ele assente.

—Você não faz ideia do quanto. Bom, enfim... ele me disse que você teve um namorado. Ele foi legal com você? – Tenho dificuldade para decifrar o seu olhar. Ao mesmo tempo que parece estar em sofrimento, parece contido. Suspiro fundo, e paro para relembrar meu relacionamento com Noah.

—Ele foi legal sim. Ele é de origem árabe então sempre foi um cavalheiro, e honestamente foi muito melhor para mim do que eu fui para ele. – Sinto um gosto amargo na língua só de me lembrar de como fui indiferente aos sentimentos de Noah. Me lembro até hoje do seu olhar castanho ferido quando terminei com ele, sem grandes explicações além de “não sinto o mesmo por você” – Não fui a pessoa mais legal do mundo com ele, entende? Eu não estava... disponível emocionalmente para ele.

—Entendo... – Sam diz, pensativo – Eu... sinto muito. Que não tenha dado certo.

Suas palavras não soam tão honestas, soam mais educadas do que verdadeiras.

Ou talvez seja só impressão minha e ele realmente sinta muito. Talvez... talvez não se importe com quem tenha sido meu namorado ou não. Mas eu quero que ele se importe. Muito.

Com isso em mente, decido o tema da minha próxima pergunta:

—Por que surtou com Jesse quando achou que ele era meu namorado, Sam? – O encaro bem no fundo dos olhos. Ele parece ficar desconcertado por um momento, mas então se recompõem.

—Não parecia o cara certo para você. Se é para te ver com alguém, que seja com um cara que pelo menos não seja fumante, né? – Seu sorriso é fraco, e algo dentro de mim se contorce. “Se é para te ver com alguém...” então ele quer que eu siga em frente? É isso?

Bom... era esse o plano, não era? Então por que me sinto como um balão murcho ao fim da festa de quatro de julho?

—Entendi... – Digo, tentando não parecer muito desolada. Ele fica confuso, franzindo o cenho para mim.

—Eu disse algo errado? – Ele questiona. Faço que não rapidamente.

—Não, por quê? – Tento me fazer de desentendida.

—Você me pareceu triste de repente. – Ele constata. Bebo um pouco mais do chá, e nego com a cabeça.

—Impressão sua. É sua vez de perguntar... – Tento mudar o foco do fato de que ele sempre sabe quando estou mentindo.

Ele suspira e olha para os meus lábios, me fazendo respirar mais fundo involuntariamente.

—Você ia retribuir o meu beijo, hoje mais cedo? – Sua voz é baixa, sussurrada. Fico imediatamente desconcertada, pois seus olhos ainda estão direcionados aos meus lábios. Tento abrir a boca para respondê-lo, mas não consigo. Meu nervosismo não permite.

Meu cérebro simplesmente não funciona com ele me olhando assim.

—Passo. – Digo, por fim, a boca seca. Ele ri.

—Não podia passar a pergunta, mas eu vou ser um bom garoto e vou permitir isso só dessa vez, mas eu também vou ter direito a pular uma pergunta sua, El. – Ele diz, se encostando no corrimão da escada ao lado dele. Meu coração, que estava acelerado por esse tempo todo, começa a se acalmar aos poucos.

—Certo. Hm... o que acha de Jesse? – Questiono, os olhos especulativos para ele. Sam sorri de lado, aquele sorriso que ele dá quando quer manter algo em segredo.

—Passo, Laverne. – Assinto, frustrada. Ele não gosta de Jesse, se eu tinha qualquer sombra de dúvidas... agora não tenha nenhuma – Dean e você ficaram próximos nesse meio tempo? – Ele questiona, o olhar analítico.

Respiro fundo e volto a sentir meu coração se acelerar. Não sei por que fiquei nervosa, talvez seja pelo fato de saber que Dean provavelmente ainda não contou a ele sobre o que ele esteve sentindo por mim. Também tenho certeza de que não contou do beijo.

—Sim. – Pigarreio, e coloco uma mecha do meu cabelo para atrás da orelha, nervosamente – Ele virou um amigo muito próximo, Sam. Não sei o que teria feito sem ele, honestamente.

Sam assente, pensativo. Seu olhar se torna levemente sombrio por um momento, mas então volta ao normal.

—Você tem sentido... falta? – Pergunto, cautelosamente. Ele franze o cenho primeiro, sem entender. Mas ao ver meu olhar preocupado e minha dificuldade com as palavras, ele mesmo completa a pergunta:

—Se tenho sentido falta de beber sangue de demônio, é isso que quer saber? – Ele suspira ao fim da pergunta, triste. Faço que sim com a cabeça, porque é uma preocupação genuína. Ele olha pensativo para o horizonte, de maneira taciturna – Não queria que você visse esse lado meu, El.

—Por quê? – A pergunta escapa dos meus lábios. Ele sorri para o chão, frustrado. Aquele sorriso que a gente dá para não desabar.

—Você viveu sua vida inteira convivendo com o vício dos seus pais, e eu sei o quanto isso te afetou. – Ele diz isso tudo de maneira cautelosa, e então me olha nos olhos – A última coisa que eu queria que você visse quando olhasse para mim, é um viciado, Hazel.

Ele fica em silêncio por um momento, com dificuldade de continuar.

—Não é isso que vejo quando olho para você, Sam. – Me apresso a dizer, meu coração se partindo um pouco mais por saber que é assim que ele se enxerga.

—Mas é o que eu sou, Hazel. Para responder a sua pergunta, sim, eu sinto falta. Tenho sentido falta desde o minuto que voltei para a vida... – Ele respira fundo com dificuldade, os olhos com uma raiva contida – E se eu tivesse a oportunidade, sei que eu faria besteira. E eu sei que isso é só o começo...minha vontade vai piorar mais e mais...

—Você não tem culpa disso, Sam. – Digo, querendo abraçá-lo.

Ele faz que não com a cabeça.

—Tenho, sim. Sei que eu fiz o que eu fiz por um “bem maior” ... – Ele faz aspas no ar – Mas no fundo, eu aproveitei cada gota de sangue como a porra de um vampiro.

Seu olhar se enegrece, e então ele olha para o chão. Ficamos em silêncio por um tempo, porque não faço ideia do que posso dizer. Realmente quero abraçá-lo, mas não consigo.

Simplesmente não consigo.

—O que aconteceu, assim que chegou em Nova York? – Ele pergunta, o olhar ainda ferido. Abaixo meus olhos, me lembrando de toda a dor e sofrimento daqueles primeiros meses.

—Eu... fiquei muito mal, Sam. Havia visto coisas que... – Fecho os olhos e deixo minha voz morrer por um momento. O demônio de olhos amarelos, meu pai possuído enfiando a faca em minha mãe, o fogo se alastrando e queimando a minha carne... Respiro fundo e reabro os olhos – Que ninguém deveria ver. Estava me recuperando das queimaduras... – Passo a mão sobre o casaco, por toda a extensão do meu braço esquerdo. Ele ainda não viu o estrago. E por mim, nem nunca vai ver. É tão feio que nem eu consigo olhar. Ele sentiria nojo de mim, como eu sinto nojo de mim mesma – E não estava processando nada do que aconteceu. Tinha te perdido, e logo depois eu também perdi... – Minha voz morre, e eu paro de olhar para ele. Engulo um choro que me ameaça no fundo da garganta. Não consigo contar a ele sobre o aborto, não agora. Respiro fundo e encho meu peito com coragem – Perdi tudo, Sam. Minha avó acabou me jogando em uma instituição, fiquei lá por um ano. Me convenceram de que eu era maluca... – Solto uma risadinha irônica e rápida, e volto a olhar para baixo – Tomei remédios até pouco tempo atrás. Foi isso o que aconteceu.

Quando finalmente tenho coragem de encará-lo, vejo seu olhar cheio de dor e culpa.

—Eu sinto muito, El. Que tenha passado por tudo isso. Principalmente que tenha passado por tudo isso acreditando que eu tinha te deixado para trás... – Ele sacode a cabeça em negativa, provavelmente ainda indignado com a descoberta sobre o que a minha avó fez. Acho que nunca vamos nos recuperar disso – Eu queria ter estado lá para você.

—Está tudo bem agora. – Digo, sorrindo meio a dor dos meus olhos – Eu sobrevivi, um dia de cada vez. Eu sempre sobrevivo.

Ele sorri para mim também, mas ainda vejo a dor em seus olhos, assim como sei que ele vê nos meus.

—É minha vez de perguntar... – Digo, terminando o chá rapidamente e depositando a caneca no degrau debaixo – Quando foi que seu cabelo ficou tão longo, ein?

Ele dá uma risada extensa, e eu acabo rindo também. Que bom que a minha tentativa de descontrair deu certo.

—Você não gostou dele assim? – Ele pergunta, ainda sorrindo. Fico vermelha, e o encaro nos olhos.

—Ah, eu gostei. Acredite... – Digo, e me arrependendo do meu tom. Acabo de deixar claro o quão o acho atraente. Ele me olha de maneira especulativa, e eu pigarreio – Só queria descontrair.

—Você gastou uma pergunta preciosa só para descontrair, El? – Ele usa um tom divertido ao dizer isso, e eu assinto, ainda sorrindo – Vou te perguntar algo leve então. Você ainda abomina café? – Faço que sim com a cabeça, torcendo o nariz. Ele ri – É, acho que algumas coisas realmente nunca mudam...

—Minha vez. Quão assustador é um Wendigo, de zero a dez? – Pergunto, tentando parecer o mais tranquila possível. Seu olhar se torna preocupado, e ele fica pensativo antes de me responder.

—Dez, sempre, para todas as criaturas. Todo o cuidado é pouco. O medo é o que te mantem viva quando se está cara a cara com um monstro, Hazel. Não se esqueça disso. – Assinto, ouvindo suas palavras com atenção. Ele assume uma postura séria – Sei que você concordou com isso, e vou respeitar sua decisão. Sei que precisa acessar seus... dons, se quisermos ter alguma chance contra tudo o que está por vir. Mas quero que saiba que eu sou profundamente contra esse método, de te colocar em perigo assim.

—Eu suspeitei, na hora que você saiu andando... – Digo, me lembrando dos seus passos duros e da sua cara de quem queria matar alguém. Ele assente.

—Eu saí daquele jeito porque não queria discutir com ninguém. E eu de cabeça cheia posso ser um completo idiota... – Ele respira fundo, e então me olha no fundo dos olhos – Hazel... eu tenho mais uma pergunta. E por favor, não minta para mim. Se quiser apenas não responder, isso é ok, mas... não tente mentir para mim. É pior quando você faz isso.

Engulo em seco, e sinto seu olhar me atravessando.

—Ok... – Digo, nervosamente – Qual a sua pergunta?

Sam abaixa os olhos para o próprio braço, e ergue a manga do casaco de flanela marrom. Meus olhos percorrem as marcas de dentes em seu braço, e eu engulo em seco.

—Quando eu caí na jaula, em Detroit, eu não tinha isso no meu braço. Quando voltei a vida aqui, bom...como pode ver, acordei com essa mordida. E é recente, eu sei que é. Eu a sinto coçando e latejando... – Seu olhar é confuso, e eu me sinto ruindo por dentro. Ele sequer imagina... – Isso me faz acreditar que eu vivi algo de que não me lembro. O que você sabe, Hazel? O que todos vocês sabem, mas estão escondendo de mim?

Fico em silêncio, e abaixo os olhos. Não consigo encará-lo. Se olhar nos seus olhos por tempo demais, vou lhe contar a verdade.

E a verdade o destruiria agora.

Abro a boca e busco as palavras, mas nada sai. Por sorte, a porta da frente se abre e Jesse sai por ela. Sam e eu olhamos para ele, que parece perceber que interrompeu algo pelo seu olhar.

—Hm... foi mal. Eu não sabia que vocês estavam aqui.

Me levanto, envolta no cobertor em meus ombros, e Sam faz o mesmo.

—Eu... preciso ir dormir. – Digo, tentando sustentar o olhar de Sam. O olhar ferido de quem sabe que estamos mentindo para ele – Me desculpa. – Sussurro, com dor no olhar por não conseguir contar a ele metade das coisas que precisam ser contadas. Ele assente, decepcionado, porém compreensivo.

—Está tudo bem. Durma bem, El. Até amanhã... – Ele se vira e se apoia na coluna do pórtico, e eu aquiesço.

—Boa noite, Sam... – Passo por ele e então passo por Jesse, que me encara curioso – Boa noite, Jess.

Meu irmão sorri e me dá um tapinha no ombro, e eu desapareço pela porta.

XXX

Ponto de vista de Sam Winchester.

—Eu não queria ter atrapalhado. – Jesse diz, se apoiando na cerca do pórtico. Seu olhar é sincero, e eu tento dar um sorriso simpático em sua direção.

—Tudo bem. Estávamos só conversando... – Digo pensativo sobre a conversa que acabo de ter com a El. Jesse assente, e acende um maldito cigarro.

—Por quanto tempo namoraram? Antes de... tudo? – Ele me olha especulativo. Cruzo os braços e olho para o horizonte.

—Um ano. – Digo, sem dar a ele muita abertura para mais perguntas.

—É, é bastante tempo. Nunca tive um relacionamento longo assim. Na verdade... nunca tive relacionamento algum para ser sincero. Não sei como essa coisa de amor funciona. – Ele traga o seu cigarro, meio amargurado e meio pensativo – Achou que eu fosse namorado dela, não é? Por isso foi um idiota comigo, antes?

Fico constrangido, e me sinto um pouco mal. Mas só um pouco.

Tem algo nesse cara... que não me desce.

—Foi mal, aliás. – Me limito a dizer – Não foi legal da minha parte.

—Água debaixo da ponte, Winchester... – Ele diz, com um sorriso de lado e um olhar enigmático – Fique tranquilo. Não precisa gostar de mim, mesmo.

Cerro meus olhos para ele.

—Você também não precisa gostar de mim, Turner. – Rebato, tentando analisar o que é que me incomoda tanto nele. E então, ergo as sobrancelhas quando percebo.

Ah.

Ele tem muitos traços semelhantes aos de Harvey. O queixo, o formato dos olhos, a voz...

Tudo nele me lembra o pai idiota dela.

O pai que batia nela e que tentou me matar uma vez. Isso explica o motivo de eu ter vontade de socar a cara dele todas as vezes que ele abre a boca. E isso não é justo.

O garoto não tem culpa de se parecer com o pai.

—E nem gosto, caso tenha ficado alguma dúvida. – Ele me provoca. Porra, ele também não se ajuda né? Rolo os olhos para ele, que caminha até mim, com um ar de quem quer mais é me provocar mesmo, o cigarro pendendo de seus lábios e a postura debochada – Preferiria que ela ficasse com o Dean, mas gosto é gosto.

Cerro meu punho.

—Como é? – Pergunto. Ele sorri de lado, sarcástico.

—Sabe, durante esse tempo que você esteve fora, eles ficaram bem próximos. – Ele dá de ombros, e joga a guimba do cigarro no chão, pisando nela. Ele exala a fumaça remanescente do seu pulmão perto demais do meu rosto – Acho que se você ficasse fora por tempo o suficiente...eles teriam dado certo.

É tudo rápido demais. Minha visão fica branca por um momento, e a próxima coisa que acontece é que estou segurando Jesse contra a parede, pelo colarinho, pronto para moer ele na porrada por insinuar uma coisa dessas.

—Escuta aqui, vamos esclarecer as coisas... – Começo a dizer com os dentes cerrados, os olhos nos dele enquanto os nós dos meus dedos ficam brancos – Eu não confio em você, eu não gosto de você. Eu fui o idiota primeiro, e por isso peço desculpas. Mas agora você está fazendo por merecer, e se eu fosse você, não faria isso.

Ele começa a rir, e a minha vontade de meter o soco na boca dele só aumenta.

—Ah, Winchester... se você apenas soubesse. Você pode ter sangue de demônio e ganhar uns poderes se beber sangue suficiente...mas eu? Eu sou metade demônio, seu idiota. O único motivo pelo qual eu não te jogo pelos ares agora mesmo, é porque me importo demais com Hazel. E infelizmente... ela se importa demais com você.

—Não tenho medo de você, ou dos seus poderes idiotas. Eu fui trancado e torturado pelo diabo em pessoa. Seja lá o que você pense que pode fazer comigo... pense novamente. – O solto, porque não quero ir para as vias de fato. Assim como ele, me importo demais com a Hazel e infelizmente... ela se importa demais com ele.

É um ciclo a qual estamos, aparentemente, presos.

—Disso em você eu gosto. – Ele dá uma batidinha no meu peitoral, com um ar irônico – Você segura tudo até o final, mesmo quando sabe que vai perder. É admirável, sério. Por exemplo... você insiste em tentar reatar com a minha irmã, mesmo quando sabe que você não é bom o suficiente para ela...

—Estou interrompendo alguma coisa? – Dean abre a porta, olhando de maneira séria para nós dois. Turner é o primeiro a olhar para Dean, e então eu faço o mesmo – Que merda é essa? – Meu irmão pergunta.

—Sam e eu estávamos deixando as coisas claras um para o outro, só isso. – Jesse se afasta de mim, e antes de entrar pela porta, dá uma batidinha no ombro do meu irmão – Ainda estou torcendo por você, amigo. Vai que ela cai na real.

E então, sem dizer mais nada, some dali. Dean me encara, confuso.

—Do que é que o pirado está falando? – Ele ergue a sobrancelha. Estou com tanta raiva fluindo pelo corpo todo, que apenas faço que não com a cabeça.

—Nada. Não vale a pena. Nos desentendemos de novo, só isso. Vai ser uma viagem e tanto... – Resmungo, lembrando que ficarei preso com Jesse em um carro por horas e horas. E do fato de que terei que trabalhar no caso ao lado desse imbecil. Que ótimo. Dean suspira, e dá uma batidinha no meu ombro.

—Bom...vamos, você precisa descansar. Cairemos na estrada cedo amanhã.

Ele me disfere um olhar preocupado, e eu assinto.

Mas a cada degrau da escada que subo, as palavras de Jesse reverberam em minha mente.

“Acho que se você ficasse fora por tempo o suficiente...eles teriam dado certo.”

Não. Não vou deixá-lo entrar na minha cabeça assim. Dean não faria nada disso.

Sequer considerar isso é loucura.

O inferno me deixou paranoico.

 


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Notas finais do capítulo

Como diz naquela música do Pink Floyd:
Hello? (Hello? Hello? Hello?)
Is there anybody in there?
Just nod if you can hear me
Is there anyone home?

Olá? (olá?olá?olá?)
Tem alguém aí?
Apenas acene se puder me ouvir
Tem alguém em casa?

Comentem fantasminhas. ♥
XOXO



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