Se adaptar a um bebê em sua rotina foi inicialmente um desafio para Namor e Shuri, mas uma tarefa executada com muito amor. Era comum T'hani chorar bastante e querer a atenção dos pais, mas sua ama pessoal, Bektchel, estava ajudando muito nisso.

A jovem era a mais velha de três irmãos e estava acostumada com bebês, o que surpreendeu muito sua rainha.

—Sabe de uma coisa? Eu não pude deixar de me sentir um pouco perdida no começo - confessou Shuri a ela, segurando T'hani em seu colo - eu sempre fui a irmã caçula, meu irmão é mais velho que eu e sempre foi, eu nunca vi outra criança crescendo por perto e quando eu vi o T'hani, eu o achei a menor coisa e a mais delicada que eu já tive em mãos, senti o peso da responsabilidade de cuidar dele e senti medo de fazer algo errado, mas agora me sinto bem melhor, sei exatamente o que fazer, e muito graças a você, obrigada por sua ajuda.

—Não há de que, Majestade - a moça curvou a cabeça em igual gratidão.

—Bom, eu adoraria conversar mais, mas temos um dia cheio pra esse mocinho hoje e pra nós todos - Shuri olhou para o filho, rindo.

Aquele era o dia escolhido para T'hani ser apresentado oficialmente como príncipe diante de toda Talokan. O evento seria realizado à beira mar, honrando a rainha que vinha da superfície e que tinha dado à luz ao menino que era o motivo de sua celebração.

Antes que tudo acontecesse, Shuri decidiu banhar T'hani, uma tarefa normal para aliviar as formalidades do dia, como ela tinha se acostumado a lidar com situações assim. Observando o menino na água, Shuri não pôde deixar de pensar em como aquele era seu elemento, corria em seu sangue estar naquele ambiente e T'hani sempre se acalmava quando estava perto da água.

Com a mão apoiada nas costas dele, Shuri o sentiu se esforçar para ir para mais baixo, o que a assustou de início, sua reação natural foi erguê-lo ainda mais para a superfície, mas T'hani se empurou com mais força ainda para baixo, num movimento rápido que sua mãe não conseguiu prever. Antes que pudesse fazer alguma coisa, Shuri o viu sorrir por debaixo d'água, completamente bem, chegando a transformar o sorriso numa risada.

Ela deu um longo suspiro de alívio, até mesmo de orgulho e admiração.

—É claro que você ia respirar debaixo d'água - Shuri riu baixinho, olhando para o filho - com certeza, o filho do seu pai... Griot, pode analisar a capacidade do príncipe de respirar debaixo d'água em profundidades maiores?

—São completamente compatíveis com as capacidades do rei, respiração normal tanto em profundidade marítma como na superfície - analisou a IA.

—Obrigada - a rainha agradeceu.

Era algo esperado, mas que Shuri nunca tinha prestado atenção ou verificado antes. Sendo uma pessoa da superfície, esperava ter um bebê como os da superfície, que como ela, respiraria apenas em terra firme, mas claramente os genes talokani eram mais fortes, o que deixava claro o quanto T'hani era príncipe deles.

Depois de mais alguns momentos de admiração, ela terminou de arrumar T'hani e os deixou sob os cuidados de Bektchel para ela mesma se arrumar. Mergulhada em Talokan, ela encontrou seu marido, ocupado com os preparativos do dia.

—Shuri, o que faz aqui? - ele questionou, mas feliz por sua presença - achei que estava preparando tudo lá de cima.

—As coisas tomaram rumos diferentes, mas para melhor - ela sorriu, deixando-o tipicamente curioso.

—Prossiga, minha esposa - ele pediu, ávido para que ela terminasse.

—A apresentação de T'hani pode mais que nunca ser feita aqui, acabei de constatar que ele respira como um talokani, aliás, como você! - ela anunciou alegremente - nada mais apropriado para a ocasião, o príncipe de Talokan ser celebrado em Talokan.

—Um verdadeiro herdeiro... - Namor se permitiu rir enquanto a abraçava - é uma ótima ideia, vou pedir a mudança agora mesmo.

Ele contatou o mensageiro mais próximo e tudo foi mudado para acontecer no fundo do mar. Sem mais delongas, ali estava a família real, imponente e diante de todo o seu povo. Erguido na frente de todos por seu pai, T'hani recebeu as bençãos e canções do xamã, que sua vida fosee longa, próspera e feliz, e que servisse a Talokan com o mesmo afinco de seus pais.

Depois disso, todo povo pôde ver T'hani de perto, o admirando um pouco mais. A mesma admiração foi sentida em Wakanda, quando Shuri e Namor visitaram o lugar justamente para que o filho conhecesse o restante da família.

—Ele é um bebê muito fofo... - exclamou Toussaint, encantado pelo primo.

—É uma criança linda e forte, meus parabéns! - T'Challa disse ao cunhado e à irmã.

—Obrigado, somos mais felizes por ter T'hani conosco agora - Namor sorriu aos elogios.

—E como você está, Shuri? Correu tudo bem durante o parto? - Nakia quis saber esses detalhes.

—Sim, eu tive muita ajuda - ela afirmou - senti medo, mas ao mesmo tempo coragem, sabe, era ele dependendo de mim o tempo todo e eu só conseguia pensar nele no momento.

—Como uma verdadeira mãe, o papel combina com você - T'Challa disse com orgulho.

—Obrigada - ela agradeceu segurando a mão dele.

De volta para casa, os dias voltavam a seguir o curso padrão com que Shuri e Namor tinham se acostumado. Durante a passagem desses dias, um detalhe de destaque não passou despercebido pelo casal real.

Desde que Shuri tinha anunciado a gravidez, a ferida que Namor tinha no tornozelo estava começando a mostrar sinais de cura completa. Aos poucos, as penas das asas foram brotando novamente, até pouco depois do nascimento de T'hani, estarem em um estado perfeito.

Depois de ser inspecionado pelo xamã, Ku'kul'kan tentou voar novamente pela primeira vez em mais de um ano. Ergueu-se devagar, testando o quanto realmente estava bem, quando se sentiu seguro e confiante o suficiente de que sua asa estava bem, ele saiu zarpando pelo céu, numa sensação de liberdade que não sentia há muito tempo, o que provocou uma gargalhada genuína da parte dele. Tudo estava perfeito, desde que Shuri tinha se tornado sua esposa.

Contente com as boas notícias, Namor procurou por ela, esperando passar um tempo com sua família. Ele os encontrou à beira da praia, brincando com a areia de alguma forma.

—Olá a vocês dois - ele se juntou a eles suavemente.

—Olá, meu amor - Shuri olhou para cima e sorriu para ele - estávamos nos divertindo até você chegar, espero que não estrague a brincadeira.

—Eu achei que tinha ficado feliz em me ver - ele sabia que ela estava brincando, então acabou a beijando rapidamente.

Interrompendo-os do momento de afeto, T'hani engatinhou até o pai, tocando justamente sua asa recém recuperada.

—Ah você percebeu isso, meu pequenino - Namor comentou, segurando o filho no colo a seguir.

—Sua asa está ótima - Shuri comentou quietamente.

—Você percebeu antes, não? Minha recuperação, mas não disse nada - seu marido replicou depois de assentir.

—Ainda era um assunto delicado pra mim - ela explicou, ainda de forma suave.

—Isso ficou pra trás, meu amor - ele tocou o rosto dela ternamente - agora, mais do que nunca, temos até um filho juntos.

—Eu sei - ela riu baixinho, observando T'hani.

—Sabe o que eu penso? Você provocou minhas feridas e as curou também, depois - Namor comentou - assim que eu soube da sua gravidez, meu tornozelo começou a se curar, e ele está ótimo agora, depois de T'hani nascer, vocês me devolveram a vida e me deram a cura, presentes dos deuses enviados a mim...

—Eu amo como você me ama... - foi o que restou a ela dizer depois de mais uma declaração do marido.

Para mostrar que o amava também, Shuri o beijou com toda intensidade que podia. A vida podia ter unido os dois de uma forma incomum, mas com certeza, eram o melhor um para o outro.