Desejo e Poder, O Império de Han escrita por MyraNLacerda
Reino de Zhao, Cidade de Yin
As areias vermelhas rodopiavam no céu em uma intensa tempestade de areia. No reino de Zhao existem três tipos de areia. A amarela que percorre os limites do povoado. A branca no sul do reino que se mistura com os resquícios do inverno que vem de Yuan. E a vermelha, a mais quente e utilizada em rituais do povo do deserto. Não há nada de especial ou mágico nelas, apesar de que o povo acredita que a areia vermelha deve ser utilizada na cura e recuperação daqueles que ficaram enfermos ou impossibilitados de atuar no exército. As dunas de areia cercam cada construção do reino de Zhao, os escondendo e os protegendo de forasteiros.
Em Yin estava um grupo de soldados que escoltavam o príncipe mais velho. O homem de pele dourada se iluminava pelo sol que o beijava em seu ponto mais alto. Ele era dono de uma beleza inigualável. Ombros largos e fortes, braços firmes e mãos calejadas. Seu rosto era calmo e tomado por uma barba por fazer, e o seu sorriso fazia qualquer mulher estremecer, ainda mais quando ele dançava.
O príncipe possuía o costume de vagar entre as cidades e parar nos estabelecimentos que investiu. Aquele era o seu favorito, por exemplo, A Fragrância, uma casa ocupada por belos homens e mulheres em trajes finos e transparentes que trabalhavam em prol do prazer carnal, mas por baixo dos panos traziam informações de todo o continente.
A Fragrância é um estabelecimento que impõe poder e curiosidade, as pessoas que o frequentam são clientes da nobreza e em sua maioria estrangeiros, mal sabem eles o propósito real daquele lugar.
Su Tu estava em um aposento vermelho, aquele era especial, tecidos de seda deslizavam do teto aberto e arejado, tapetes brancos preenchiam o piso e os assentos de madeira eram reclinados. Sua escolta aguardava do lado de fora enquanto ele se jogava no assento e esperava o show começar. A música iniciou segundos depois, e três dançarinas entraram. Suas vestes vermelhas deslizavam por seus corpos em uma transparência que não reservava nada para a imaginação.
O príncipe sorriu. Ele amava aquela atenção, aquele desejo e o cheiro entorpecente que o deixava alucinado e louco. Não demorou muito para que se levantasse e se jogasse nos braços das mulheres de peles douradas — da cor do povo de Zhao — e dançasse como se não houvesse amanhã.
Seus corpos se misturavam e se envolviam em uma dança erótica. Ele se curvava em direção ao pescoço mais próximo e o beijava devagar. Seus lábios deslizaram para o lóbulo da orelha da mulher e ele ronronou para ela — O que descobriu?
A mulher tocou seus cabelos com delicadeza, sua boca desceu sobre a garganta do príncipe e o mordiscou ali enquanto seus corpos ainda balançavam pelo ritmo acelerado do músico.
— É como você disse — sussurrou contra sua pele bronzeada — haverá uma competição em breve e uma exibição de poder para todos os nobres presentes.
Ele avançou sobre a mulher que dançava colada em suas costas, seu corpo se moldando ao dele. Suas pernas se encaixaram e ele tomou seus lábios nos dele e murmurou quase como um sussurro, inaudível para quem estivesse do lado de fora.
— Quem estará presente?
Entre beijos e gemidos contidos, a mulher lhe respondeu — Representantes de todos os reinos de nosso continente. Convites ainda estão sendo enviados, e outros exigidos.
Su Tu arrastou seus lábios para o ombro da mulher que se enroscava contra si e questionou o que ela dissera, e então respondeu — Alguns estão se oferecendo, há boatos de que o Rei dará sua primogênita em casamento.
Ele se afastou e a olhou como se procurasse qualquer indício de mentira. Ela dissera a verdade, algo estava abalando as estruturas de Han, e talvez, fosse aquela garotinha.
O príncipe se afastou — Podem se retirar — e caminhou para o assento reclinado.
A ordem não precisou ser repetida, elas saíram e o músico as seguiu, mas não antes de acenar respeitosamente para o príncipe e receber um bilhete secreto. Uma nova missão.
Su Tu deixou sua cabeça descansar no assento e encarou o teto aberto respirando com dificuldade. Não tinha muito tempo que o nome da princesa estava em todos os cantos do continente, boatos e mais boatos começaram a surgir nos últimos meses sobre a garota. Ele franziu a testa enquanto tentava organizar os pensamentos. Todos sabiam que no continente não existiam mulheres no centro ou em qualquer posição de poder e comando, mas os boatos que surgiram eram todos voltados a esse assunto. A mudança do século. O Reino de Han, um que muitos anos atrás estava em guerra, e que murmúrios de novas guerras eram comentados em outros reinos, possuem cerca de quatro príncipes, e nenhum ser capaz de governar é simplesmente ridículo. Talvez…
Ele se levantou, estava começando a entender o que se passava na cabeça da mulher que nunca conhecera, mas que recentemente começara a incomodá-lo.
A porta do aposento vermelho se abriu, era um mensageiro.
O garoto baixo e magro se curvou em respeito ao príncipe e ofereceu a mensagem que estava em suas mãos.
— O Rei ordenou que se preparasse para ocupar o lugar de emissário para o Reino de Han.
Su Tu abriu o envelope que mantinha a mensagem conservada, e olhou o convite que acabara de escutar da mulher… aquela que ele sequer prestou atenção.
Um convite para observar a batalha de nomeação do príncipe herdeiro entre os filhos do Rei. Seu pai possuía aquela informação antes dele, e ele não entendeu como. Acreditava ser o centro de inteligência e informação de Zhao, mas seu pai ainda tinha muito a lhe ensinar.
— Qual a probabilidade disso ser uma coincidência? — perguntou, mais para si do que para o garoto à sua frente.
— Zero — o menino sorriu em simpatia — O Rei continua sendo mais inteligente que Vossa Alteza — o garoto se curvou e se retirou mantendo a porta aberta.
Su Tu trincou os dentes irritado, não diria nada ao menino, afinal, ele era servo de seu pai e ele não tinha poder nenhum sobre o jovem.
— Alteza, — disse um dos guardas que o escoltava — devemos ir? Suas malas estão prontas e já carregamos os presentes.
O príncipe tentou suavizar a expressão em seu rosto, mas não conseguiu se acalmar totalmente.
— Não, mudanças de planos. Vamos a Han.
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