Desejo e Poder, O Império de Han escrita por MyraNLacerda


Capítulo 7
006 O Reino de Han




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808107/chapter/7

Reino de Han, Capital Shanyao

 

A viagem foi longa, mais do que o esperado, afinal, o Príncipe de Yuan havia se machucado e precisaram parar na cidade mais próxima para suturar os ferimentos do rapaz. Mesmo com o príncipe enfaixado, tiveram que ir devagar. Infelizmente, por conta das dificuldades que encontraram na Floresta dos Perdidos, a princesa não pôde viajar na mesma carruagem que o Príncipe de Yuan e sua única companhia, além de sua serva, era a cara inexpressiva do capitão que a protegia do lado de fora montado em seu cavalo. Não era divertido provocá-lo, seu rosto permanecia sempre o mesmo.

E enquanto não possuía muitas opções de entretenimento, não do jeito que ela gostaria, abria e fechava o baú secreto buscando por livros e os lendo no decorrer do caminho. Livros que ninguém imaginaria vê-la lendo, sua serva não poderia dizer, mesmo que encarasse o título do livro ela não sabia ler. Li Hua possuía uma paixão pela literatura e pela cultura do Reino, e além das questões sociais, ela devorava livros cujos temas eram proibidos. Bom, para as mulheres sempre foi proibido. Livros de romance adulto com conteúdo questionável. Ela se divertia, em algumas páginas possuía até mesmo desenhos que ensinavam as posições do ato sexual, seu rosto sequer ruborizou. Ela ria baixo com as sobrancelhas arqueadas em divertimento e surpresa, chegou até sussurrar:

— Como é possível fazer isso?

— O que está lendo, Vossa Alteza?

— Um livro que vai me ensinar a cuidar dos meus esposos, suponho — inclinou a cabeça para o lado tentando visualizar o desenho na página seguinte.

Xiao Bai abriu a boca, mas desistiu de questionar. Era melhor que não soubesse.

Suas leituras no decorrer da viagem alternavam em conteúdos cultos e outros nem tanto. Ela precisava aprender ambos os lados, primeiro precisava administrar um reino. Segundo, precisava administrar sua família e manter o interesse de seus esposos sobre si. Li Hua sabia que seria muito difícil convencer os ministros sobre suas ideias distorcidas. Homens, em geral, estavam acostumados com aquilo que possuíam e poderiam ter muito mais se quisessem procurar. Eles se importavam muito mais com os casamentos em excesso em sua árvore genealógica do que com serviço prestado com zelo e justiça — O que era um verdadeiro problema. O fato é: ter mais mulheres é o ponto. Então, se ela quisesse transformar seu reino em algo que mulheres pudessem fazer o mesmo que os homens, ela precisaria, infelizmente, abordar uma segunda estratégia para os núcleos familiares.

— Xiao Bai — murmurou para sua serva, seus olhos ainda percorriam o material em suas mãos — você acha que os homens aceitariam se casar com a mesma mulher se houvesse uma outra alternativa para manter suas linhagens?

Não só os homens, mas muitas mulheres possuem essa mentalidade de que quanto mais filhos — homens — obtiverem, maior será a linhagem. Por isso, precisava pensar em uma alternativa que valeria o aumento da linhagem, mesmo possuindo apenas uma mulher como a principal do núcleo familiar.

A garota ergueu o olhar para o rosto de sua senhorita, indecifrável. Apesar de perguntar a ela, a princesa não a encarou e nem exigiu uma resposta, mas mesmo assim quis contribuir.

— Alteza, os homens de Han amam o fato de terem concubinas. Se, como a senhorita, desejarem ter seu próprio harém, acredito que sim. Se houver uma desculpa para terem uma mesma mulher e outra ao mesmo tempo, acredito que se permitirão compartilhar.

A princesa desviou o olhar da leitura pouco interessante para o rosto de sua serva. As bochechas estavam coradas e os olhos levemente apertados, como se pensasse em cada palavra que havia dito.

— Sim. Os Han gostam de esbanjar suas mulheres, como suas próprias conquistas. Se eu tirar isso deles, posso ter problemas.

Xiao Bai assentiu depressa.

— Mas seria maravilhoso não se sentir um objeto de conquista.

— Eu sei — os lábios da princesa se curvaram em um sorriso, mas não o bastante para atingir os olhos.

Li Hua percebeu a dificuldade que enfrentaria no futuro, embora não fosse oficial que seria a Princesa da Coroa, a Princesa Herdeira do Reino de Han, ela precisava começar de algum lugar. Ter o apoio de sua avó lhe abriria muitas portas fechadas no mundo masculino, e tendo abertura, ela poderia conquistar qualquer coisa.

Um toque suave no batente da carruagem fez com que Li Hua conferisse sua postura e se ajeitasse no assento.

— Sim?

O cocheiro falou com a voz baixa e pouco audível:

— Estamos nos aproximando da cidade de Shanyao e há uma comitiva.

Li Hua franziu a testa, mas respondeu com graciosidade:

— Que maravilha — Xiao Bai franziu a testa e lançou um olhar preocupado para sua princesa que apenas colocou o dedo indicador sobre os lábios e pediu que mantivesse silêncio sobre qualquer coisa que pensara.

Aparentemente todos sabiam da chegada do Príncipe de Yuan.

Li Hua colocou a cabeça para fora da carruagem pela janela ao seu lado direito, o capitão a cumprimentou com um aceno breve, mas ela não lhe devolveu o olhar ou o gesto respeitoso. Seus olhos miraram o final da estrada, a Cidade de Shanyao. As muralhas de pedra podiam ser avistadas de longe, as torres se estendiam ainda mais para cima do que as muralhas, e por elas longas bandeiras do Reino de Han — que eram colocadas e retiradas todos os dias.

A entrada estava festiva. Músicos e acrobatas dançavam e divertiam a quem quer que entrasse e saísse da capital. Os grandes portões de madeira estavam escancarados, poucos guardas faziam a vistoria daqueles que transitavam entre a capital e as outras cidades do reino, eles estavam mais interessados na bagunça do lado de fora. Logo à frente havia duas fileiras de homens vestindo uma túnica vermelha que apenas os ministros da corte real utilizavam, e em suas cabeças um chapéu preto que prendia todo o cabelo e o escondia, moldando-o sobre a cabeça.

— Estamos nos aproximando, Alteza — avisou o capitão em uma voz baixa, ela o encarou com os olhos levemente arregalados, havia se esquecido de sua presença por meros segundos.

— Certo. Redobre sua atenção — avisou ela e retornou para dentro da segurança da carruagem.

Xiao Bai a olhou e sem fazer qualquer som, perguntou quais seriam os próximos passos, a princesa apenas balançou a cabeça como se dissesse para não fazer nada.

Li Hua escondeu seus pertences no baú secreto, não deixaria nada a mostra para aqueles idiotas da corte de seu pai. Respirou fundo algumas vezes, e quando a carruagem parou vestiu a máscara da princesa sorridente e boba. A princesa apontou para a saída da carruagem com o queixo, Xiao Bai entendeu o sinal para que saísse e aguardasse do lado de fora com a mão estendida para ajudá-la a descer os degraus.

A princesa atravessou o grosso tecido que a separava da multidão, o rosto sorridente e os olhos brilhantes refletindo sua alegria e aventura recente.

Estendendo sua mão para Xiao Bai, mas antes que pudesse sequer tocar a mão de sua serva, um homem alto avançou tomando o lugar dela, ele havia se movido com rapidez e precisão.

Li Hua estava cercada por homens bonitos desde a infância, e encontrá-lo ali aliviou toda a tensão sobre encontrar os ministros na entrada da cidade. Huan Yue era muito bonito. Sua pele pálida e olhos escuros eram como os da princesa. Seus longos cabelos estavam escondidos — para o pesar da garota a sua frente — sob o chapéu obrigatório dos ministros. Seus lábios rosados e carnudos eram chamativos demais, mas ela desviou sua atenção para os olhos do rapaz mais uma vez.

— Bem-vinda de volta, Vossa Alteza — o rapaz sorriu e piscou sedutoramente para ela, suas mãos se encontraram e o toque macio quase a fez cantar de felicidade.

— Jovem Mestre Li — sorriu para ele, uma surpresa agradável, e desceu os degraus com sua ajuda, as mãos sempre firmes nas dela lhe dando equilíbrio e sustentação.

— Fomos avisados de sua vinda… — ele olhou para a outra carruagem, passando a mão da princesa para o seu antebraço, mesmo sendo proibido o toque, a acompanhou pela estrada até os ministros — e do Príncipe de Yuan.

Ela semicerrou os olhos e sorriu para ele com graciosidade permitindo acompanhá-la.

— Como ficaram sabendo tão rápido?

— O Reino de Yuan nos enviou uma carta e um emissário. 

Li Hua inclinou a cabeça e ampliou o sorriso.

— Um emissário? — o rapaz assentiu — Que inesperado.

Ele franziu a testa e encarou seus pequenos olhos.

— Por que inesperado?

— Não achei que o Príncipe estaria aqui como um convidado do Rei.

Huan Yue sorriu e soprou em seu ouvido, distraindo-a.

— Não só como convidado do Rei, mas como negociante pela paz entre o Reino de Yuan e Han.

— Interessante.

A princesa conteve o tom desagradável e apenas sorriu e falou docemente. Algumas coisas não estavam alinhadas, o controle estava fugindo de suas mãos, e em breve iria descobrir como o Palácio estaria após as confusões que arranjou.

Aproximando-se dos ministros, ela se desvencilhou do toque do rapaz que adorava. As mãos sentiram a falta daquele toque macio de um homem que nunca sequer tocou uma espada ou fizera um trabalho manual.

Alguns homens sorriam para a princesa, outros a mediam de cima para baixo e calculavam suas ações.

— Saudações, Vossa Alteza a Primeira Princesa — cumprimentaram em grande coro e então curvando-se respeitosamente, aguardam a sua ordem, ainda com os olhos baixos.

Ela estendeu a mão direita e ordenou que se levantassem.

— Princesa — pigarreou um homem baixo de voz fina e de grande protuberância — é uma honra recebê-la — olhou para trás de forma ansiosa, como se buscasse a aprovação de alguém para o que iria dizer a seguir — Soube que passou por algumas dificuldades.

Li Hua sorriu.

— Dificuldades? — Olhou em volta em busca de seu irmão que agora escoltava o Príncipe de Yuan — Não tive nenhuma dificuldade, o Quarto Príncipe cuidou muito bem de todos nós.

O homem sorriu, satisfeito com o que quer que ela tenha lhe dado como arma.

— Claro, o príncipe é muito capaz em seu serviço ao reino.

— Com certeza — ela inclinou a cabeça e ampliou seu sorriso gentil ao dizer: — nenhum príncipe em nosso reino é incapaz de fazer alguma coisa.

O homem arregalou os olhos. Eles haviam recebido sua mensagem e antes que pudesse dizer qualquer coisa, o Quarto Príncipe com o Príncipe de Yuan em seu encalço, chegaram próximos o suficiente para que os ministros se curvassem em respeito ao Reino de Yuan.

— Saudações, Vossa Alteza o Quarto Príncipe — disseram mais uma vez em coro e se curvaram em um cumprimento respeitoso. — Saudações ao Príncipe de Yuan.

— Podem se levantar — ordenou o Quarto Príncipe e todos eles relaxaram em suas posições formais.

Outro ministro se aproximou, este mais velho e com uma barba longa esbranquiçada, o homem andava relativamente rápido para um senhor em sua idade já avançada.

— Vossa Alteza, Sua Majestade ordenou que viéssemos recebê-los. Portanto, cumprimos o decreto real — curvou mais uma vez, a voz grave e envelhecida chamou a atenção da princesa, ela o conhecia.

— Fico feliz com sua recepção — o Quarto Príncipe semicerrou os olhos e lançou um olhar rápido para Li Hua que parecia manter a fachada da boa princesa — Só não estava preparado para essa recepção, Ministro dos Ritos.

Li Hua anotou sua função, iria precisar dele para legitimar sua posição quanto ao núcleo familiar que gostaria de implantar.

O homem engoliu em seco.

— Perdoe a nossa falha em comunicá-lo, Alteza. Hoje fomos notificados da chegada do Príncipe de Yuan — o velho lançou um olhar rápido para o Príncipe de outra terra.

— Entendo — disse e lhe deu as costas voltando-se para o príncipe de outro reino — Irei escoltá-lo até o Palácio Real para que se encontre com Sua Majestade — acenou levemente com a cabeça, um príncipe cumprimentando respeitosamente outro príncipe, de igual para igual.

— Será um prazer, Quarto Príncipe — devolveu o cumprimento e se virou para a princesa que os observava silenciosamente — Será uma honra para mim se nos acompanhar, Alteza — ele sorriu maliciosamente, ela conhecia muito bem aquele sorriso e por isso se aproximou com o mesmo sorriso de orelha a orelha.

— Claro, Príncipe de Yuan.

Os três deram as costas aos ministros da corte e se dirigiram para as carruagens que os levaram para dentro da capital e em seguida para o Palácio Real, enquanto os ministros se apressaram em voltar para a corte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desejo e Poder, O Império de Han" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.