As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 21
O Diário de Nealie




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Após retornarem ao palácio, Aethel e seus amigos encontraram Mabel Pines acordada; a garota havia sido libertada do feitiço de Nealie.

Dipper correu até a cama e abraçou a irmã, com lágrimas, enquanto ela segurava um brioche com creme de morangos; ninguém se atreveu a interromper aquele momento entre irmãos

Aethel se aproximou de Mabel e lhe estendeu a mão esquerda, mas a garota preferiu pular no garoto e lhe dar um abraço de urso.

Jack, Danny, Rosa e Sam estavam felizes, mas como nem conheciam aquela garota, preferiram apenas sorrir e manter certa distância, em sinal de respeito.

 Seguindo as orientações de Aethel, um grupo de camareiras levou Mabel para se trocar, pois o rapaz desejava que a garota apreciasse um belo chá com bolinhos e, caso o clima ajudasse, levá-la para uma agradável cavalgada no bosque.

Sem esperar, Mabel saiu com as camareiras, logo voltando em um vestido branco bordado a ouro, sem armação interna, com mangas rendadas e uma faixa branca com flores douradas que, prendida no ombro esquerdo, seguia até o lado direito da cintura e era fixado por uma fita que servia de cinto.

De certa forma, a garota parecia uma versão nobre de uma camponesa, principalmente pelo chapéu branco e sapatos negros que usava, porém, o ouro, a faixa e a qualidade do tecido não deixavam ninguém se enganar: aquela garota não era uma simples moça do campo, mas uma protegida de Aethel, o imperador de todos os ghalaryanos.

Enquanto Mabel se preparava, Aethel perguntou sobre Jazz, ao que o mordomo respondeu que essa ainda estava junto de Atreu e Salazar, tentando acalmar o rei dos franco-armanianos.

Aethel nem pensou em falar com Juba; o rapaz sabia o quanto aquele rei do oriente o odiava e também estava ciente do quanto Juba desejava tomar extensos territórios ghalaryanos.

Antes que o imperador se perdesse novamente em seus pensamentos, Spud e Trixie apareceram com balões de festa, apitos e chapéus de festa.

Sem mais demora, Aethel, Mabel, Spud, Trixie e os outros seguiram o imperador até uma área próxima ao jardim, apropriada para piqueniques.

Jake e Danny conversavam animadamente, Sam e Rosa olhavam para os meninos e depois riam, apaixonadamente, Dipper não saia de perto de Mabel e Trixie mexia uma jarra de cristal com ponche de frutas.

Spud começou a contar uma série de piadas que fizeram todos os presentes darem muitas gargalhadas, inclusive Aethel, embora o imperador não entendesse metade delas.

De repente, Roland II e Blair apareceram trazendo flores e bolinhos para Mabel, sendo saudados por Aethel, que logo os convidou para participarem daquele momento alegre.

Era bom deixar as obrigações de lado de vez em quando, mas o imperador já era experiente demais para esperar que aquele momento durasse muito, de forma que não se surpreendeu quando Severo, o senador, cruzou a magnífica porta de ébano e entregou ao rapaz uma mensagem de Salazar, que dizia:

 

“Tudo perdido.”

 

“Tudo perdido”... nada mais do que isso. Ainda assim, essas palavras prenunciavam as mais tempestuosas desgraças para o futuro.

Sem baixar o olhar, Aethel disse baixo para Severo, com um alegre, porém falso, sorriso:

— Sorria, meu bom senador. Não deixe que percebam seu medo.

Aethel não desejava que seus amigos, que se divertiam tanto no piquenique, descobrissem que, a partir daquele momento, seu reino dourado estava em guerra com o reino de Franco-Armânia.

Após chamar Arquimedes, Aethel pediu que a ave e o senador ficassem ali, distraindo os amigos e, acima de tudo, não permitissem que o clima festivo fosse quebrado:

— Mabel acabou de escapar da morte – disse o imperador – Cavalheiros, não quero destruir essa comemoração alegre com essas questões menores de Estado.

É claro que Severo não gostou da ideia, mas respeitou a decisão de seu imperador, que seguiu até seu quarto e mudou de roupa, pois precisava apresentar-se de forma adequada perante o senado.

Vestindo um traje inteiramente preto, composto por casaco com mangas fiadas a prata, calças com fios de prata, botas e no pescoço um medalhão com um dos brasões reais da casa de Ryu (sendo esse composto por um dragão oriental em posição de combate), o imperador caminhou até a ala do palácio onde os senadores já deveriam estar reunidos.

Aethel sentia-se preocupado, mas já não havia mais nada a se fazer, a não ser enfrentar o problema de frente, como sempre havia feito, desde quando era mais jovem.

Quando abriu as portas do grande salão, o rapaz fitou os senadores por algum tempo, imaginando o que estariam pensando dele naquele momento. Alguns deles duvidavam das capacidades daquele garoto em lidar com uma crise como aquela, mas Aethel não se intimidou.

Seguindo até seu assento, localizado ao fundo do salão e centralizado com a porta, o rapaz esperou que todos fizessem silêncio, dando início a sessão:

— Que tenha início agora, esta sessão do senado… Cavalheiros, a algumas horas Juba III, dos franco-armanianos, declarou guerra a Ghalary. Embora o tenhamos recebido como a um irmão, ele decidiu nos ver como inimigos… Juba desafia nossas fronteiras, faz exigências absurdas e agora nos ameaça com seu bárbaro exército; isso é intolerável!

Os senadores bateram os pés e clamaram, furiosos, por medidas mais duras contra a Franco-Armânia, enquanto o imperador seguia com seu discurso de guerra:

— Senadores, assim como todos vocês, eu preferia a paz, porém, o inimigo extrangeiro se levanta para nos destruir… A partir de agora, nosso império está em guerra com a Franco-Armânia e seus aliados, incluindo a república de URSI; senhores, a “guerra” é a palavra do dia.

Após terminar seu discurso, um senador idoso se levantou e começou a falar:

— Irmãos do senado, desde que eu era garoto tenho ouvido falar dos “filhos do oriente” e de suas barbaridades; os antigos falam de uma terra onde os homens são presos em grilhões de ouro, os pobres são esmagados pelos caprichos dos ricos e onde um povo venturoso e zombador louva seus reis como deuses vivos. Lembro-me, meu imperador, dos tempos de Antônio, quando os bárbaros do oriente não se atreviam a levantar suas mãos cheias de ganância, para rapinar nosso império… Mas esses são fatos de tempos antigos.

O senado ficava, cada vez mais, inquieto, conforme o velho senador falava suas palavras, que continuaram:

— Antes de armar nosso exército e enfrentar a ameaça franco-armaniana, meu senhor, lembra-te do seguinte: esses filhos do oriente não são como nós; não são homens de valor, dedicados à ciência e defensores da liberdade… Não! São homens de belial, dedicados a violência, escravidão e ganância; gente com a qual não se pode dialogar. Majestade, bem sabemos que desejava a paz, pois és um homem de valor, apesar da sua tenra idade, mas nossos inimigos não desejam mais do que destruição e morte.

Os senadores aplaudiram as palavras do velho senador, que olhou para seus irmãos de ofício e prosseguiu:

— Ghalary foi e é, desde os tempos da erupção minóica, lar dos que amam o saber, a paz e o bons valores, pelos quais todos os homens de bem estão dispostos a morrer para proteger: Ghalary representa a civilização, e esses franco-armanianos são a mera barbárie primitiva e irracional!... Por essa razão, meu jovem – mas capaz – imperador, digo o que meus irmãos anseiam ouvir: meu senhor, Aethel, imperador… a destruição dos bárbaros é o vosso dever divino; a Franco-Armânia deve ser destruída, de forma a não restar pedra sobre pedra, folha sobre folha, restolho sobre restolho!

O senado começou a aplaudir, mas Aethel ficou em silêncio e, desembainhando a Excalibur, posicionou-a no chão, como a uma cruz, ajoelhando diante da espada:

— Que Deus esteja conosco – disse Aethel – para que o nosso inimigo não prevaleça sobre nós. Que sejamos fortes como Vladimir e sábios como Ivan, que não haja excessos de nossa parte e que o conflito seja breve.

Como mandava a tradição, os senadores abandonaram a sala e se dirigiram até o edifício do senado para uma sessão extraordinária, onde Salazar seria convocado para cuidar dos assuntos internos da capital, enquanto Aethel estivesse combatendo Juba na fronteira leste.

Após esvaziarem o salão, Aethel ficou sozinho, sentado em sua cadeira e olhando para o vazio.

É claro que o rapaz não gostava de Juba, mas havia algo no discurso do distinto senador que fez Aethel se incomodar. Independente do que pudesse pensar acerca dos franco-armanianos, aquele não era um discurso que ele teria feito, apesar da eloquência.

Aethel estava desanimado demais para perceber a presença que surgia repentinamente: era Jazz Fenton.

A garota ajeitou seus lindos cabelos ruivos e caminhou até Aethel, estupefata com o que tinha assistido.

Sorrindo de forma melancólica, Aethel se levantou de sua cadeira oficial e caminhou até a moça, sem dizer uma palavra.

Após um silêncio sepulcral, Jazz não pôde mais se conter:

— Aquilo foi a coisa mais hedionda que eu já vi; não é possível que concorde com aquilo!

Após fitar a garota, Aethel caminhou para fora do salão, parando na grande porta e, após ajeitar sua camisa, pediu que o assunto não fosse comentado ainda com os outros.

Antes de ter uma resposta, o rei partiu, sem dizer mais nada.

É claro que Jazz não aceitaria ficar sem respostas, especialmente porque todos estariam em perigo, inclusive Danny, Sam e Tucker, caso uma guerra acontecesse.

Jasmine Fenton sabia que apenas Aethel poderia evitar o conflito que nem ela e Atreu conseguiram, então correu atrás de seu amigo real, determinada a colocá-lo contra a parede caso a paz não estivesse em seus próximos discursos.

Não foi difícil encontrar o jovem imperador, que agora estava em um extenso corredor, com paredes limpas, cobertas por grandes placas de mármore branco tão perfeitamente encaixadas, que as linhas de junção eram quase impossíveis de serem percebidas.

Havia uma fileira de colunas de mármore branco polido, com bases de ouro esmeradamente trabalhadas, além de caules e folhas douradas que rodeavam as colunatas como trepadeiras de um jardim.

Na parede direita havia uma fileira de pinturas com molduras de ouro e folhas de prata, retratando os antigos reis e rainhas de Ghalary.

Aethel olhava fixamente para um dos quadros, o que atraiu Jazz: tratava-se de uma linda pintura onde se via um homem com barba e bigode castanhos, assim como seus cabelos muito bem penteados, pele clara, olhos castanhos e um lindo uniforme vermelho, com dragonas e alamares de ouro.

Seu rosto era gentil, fazendo a garota pensar que, provavelmente, o homem era digno da coroa ricamente adornada com diamantes que, de forma solene, estava em sua cabeça.

Olhando com mais atenção, Jazz notou um segundo quadro, retratando uma mulher magnificamente adornada com um colar de diamantes, uma tiara cheia de safiras que alternavam entre diamantes menores, cabelos longos e castanhos, olhos verdes como esmeraldas, pele rosada e jovial e um par de brincos de diamantes, armados em prata. Além disso, a linda mulher possuía lábios vermelhos, que escondiam um beijo secreto no canto direito que, muito diferente de Nealie, não era repulsivo ou cheio de malícia; aquele beijo era como aquele que as mães guardam para seus bebês, sempre que eles acordam assustados a noite e começam a chorar.

Aethel disse a Jazz que as pinturas retratavam Antônio Aureliano e Sophia Ryu: o imperador e sua imperatriz que, anos atrás, foram mortos pela maldita revolução.

— Mas existe alguém na segunda pintura que você não conseguiu ver. – disse Aethel.

Jazz olhou as duas pinturas novamente, mas não conseguia ver mais ninguém, então o rapaz explicou que o segredo começava no olhar alegre de Sophia:

— Ela sorri porque vai testemunhar um milagre… – disse Aethel, segurando uma lágrima – Em sua barriga ela estava carregando o príncipe Nikolas. Ele nasceria em poucos meses.

Nesse momento, Jazz percebeu que a barriga de Sophia estava um pouco crescida, denunciando que, muito em breve, aquela mulher seria mãe.

— Onde eles estão? – perguntou Jazz, ao que Aethel respondeu que todos estavam mortos.

— Eu já tinha ouvido isso, mas o menino não pode ter… – disse Jazz, sendo interrompida pelo rapaz, que negou qualquer possibilidade de sobrevivência.

De acordo com o jovem rei, Nikolas havia sido mais uma trágica vítima do furor revolucionário que contaminou o império, tal qual uma doença maligna.

— Jazz… sei que está fazendo juízo de valor sobre mim, mas acredite… estou fazendo o possível. Pelo bem do meu povo, chega de guerras. Não quero que o tragédia de Antonio se repita.

— Então porque ficou em silêncio diante daquelas barbaridades!? – Questionou a garota, buscando respostas no olhar pesado do amigo.

— Jazz, algumas vezes as coisas não funcionam como a gente quer. Se dependesse de mim, eu evitaria a guerra… Estou tão cansado de conflitos! Às vezes fico pensando se não estaria mais feliz cuidando de uma horta na floresta, enquanto o pão assa no forno a lenha, como eu costumava fazer quando ainda vivia com Merlin.

Já sentindo-se um pouco sonolento, Aethel convidou Jazz a seguir junto a ele até o jardim, antes que os outros sentissem a falta dos dois, ao que a garota aceitou, ainda que fosse difícil esquecer os últimos acontecimentos.

Aethel não era cego para as preocupações da adolescente, de modo que colocou o braço direito sobre o pescoço dela e lhe respondeu que estava tudo bem; independente do que acontecesse, ele não permitiria que nenhum mal caísse sobre ela ou qualquer outro inocente.

Após chegarem ao jardim, Mabel correu para abraçar o rapaz mais uma vez, ante o olhar de todos, mas não foi retribuída, o que a deixou um tanto incomodada.

O imperador estava com a cabeça cheia demais para dar atenção a esses pequenos momentos de alegria, mas assim que se deu conta de sua falta, desculpou-se e retribuiu o abraço, como se fosse um ursinho de pelúcia.

Apesar disso, apenas Mabel percebeu o quanto aquele abraço era mais do que um mero cumprimento entre amigos; talvez pela força ou pelo tempo de duração, aquele abraço soava quase como uma despedida acalorada.

Sem perder tempo, ela perguntou se estava tudo bem, sendo respondida de forma positiva.

Spud preparou-se para contar mais piadas, mas Mabel fechou os olhos e, como se lembrasse de um segredo importante, correu até o quarto, logo voltando com um pequeno caderno:

— Quando eu acordei, ele estava debaixo do meu travesseiro – disse Mabel – Acho que a fada do dente esqueceu meu dólar, hahaha.

Olhando com atenção, Aethel pegou o objeto e folheou suas páginas amareladas, tentando entender do que se tratava, logo ficando surpreso com as anotações iniciais.

Todos se reuniram para saber do que se tratava, ao que o rapaz respondeu:

— Isso pertenceu a ela: é o diário de Nealie.

Dipper propôs queimar o livro, mas Mabel não deixou, dizendo que era um presente do rei Morpheus e da princesa Camille.

É claro que Aethel não entendeu do que ela estava falando, mas não se preocupou muito com isso; Mabel era suficientemente sábia quando o assunto era algo incompreensível para os literatos mais elevados.

Como todos se aglomeravam para saber o que o diário dizia, Mabel pediu que Aethel começasse a ler, sendo prontamente atendida:

— Algumas datas estão meio confusas, além disso, Nealie tinha péssima inglês caligrafia… Nem Merlin conseguiria ler isso sem dificuldades, mas vamos ver se eu consigo… “Nesta manhã vi um homem vestido de vermelho, que tinha um cestinho de maçãs. Roubei uma maçã e os guardas me perseguiram. Eu corri como a deusa Mdb, mas eles me pegaram; levei um tapa no rosto e depois me jogaram no lago… Mamãe vai ficar contente com a maçã…”, essa parte está difícil de entender, depois está escrito “...talvez seja mágica e possa curar a mamãe”. Considerando a linguagem simples e o tipo de relato, com certeza Nealie o escreveu quando ainda era criança.

— Então a mãe dela estava doente? – perguntou Jake – Pobre garota…

— Todos têm uma vida triste – rebateu Aethel – A dor não justifica nossos pecados!

— Galera, nem comecem! – disse Sam – Aethel, continue lendo.

Após limpar a garganta, o imperador continuou:

— “Hoje vi um bispo com roupas fiadas a ouro. Meu irmãozinho e eu ficamos escondidos em cima de uma torre em construção e pudemos ver tudinho; o bispo era gordinho e careca, mas tinha uma maçã na mão esquerda que parecia muito gostosa. Meu irmãozinho disse que gente do ‘topo’, essas que moram nos castelos, podem comer maçãs porque tem ouro. Um dia eu vou poder ter muitas maçãs, então mamãe vai poder comer quantas quiser e ficar forte”, mais uma pausa, seguida de rabiscos, então “... papai não comeu maçãs. Ele morreu lutando contra uns homens feios com escudos de madeira e espadas, que vieram de um lugar chamado ‘norte’, que é muito frio”... interessante.

— Ela parece ter associado maçãs a status. Provavelmente tinha uma vida difícil, com uma mãe doente e um irmão pequeno para cuidar… – disse Spud, mas Aethel rebateu:

—Pelo menos ela tinha uma mãe! Eu não tenho ideia de quem foi a minha. Além disso, eu fui criado por um mago: tecnicamente, meu irmão é uma coruja!

— Cara! Que semancol todo é esse? – perguntou Trixie – É a história de uma criança faminta com a mãe doente! Você não tem coração não?

— Coração? Tenho… – respondeu Aethel – E ela quer arrancá-lo com uma lança! Vocês estão sentindo pena de uma mulher que é o próprio demônio! Já esqueceram o que ela fez com a Mabel?!

Antes que a discussão seguisse, Rosa pediu que todos parassem, e Mabel completou dizendo que não guardava mágoas de Nealie:

— Mabel – disse Aethel – Você é um anjo disfarçado e Nealie é a encarnação do mal. Mas vamos continuar com a leitura. Logo veremos os atos diabólicos dessa feiticeira… vejamos, sim, já encontrei, “Mamãe está ficando muito mais doente, mas não vou deixar nada acontecer com ela! Ontem de noite ela falou que tem umas maçãs de ouro em uma terra chamada, como era mesmo? Acho que era alguma coisa como Tihr Non Ogue, Tír na Fallen, não, acho que era…”, agora tem uma pausa, depois ela recomeça “perguntei ao meu irmãozinho, Gregório, ele disse que o certo era ‘Tír na nÓg’, uma terra mágica onde ninguém envelhece nem morre! Mamãe disse que a vovó contou que lá tem maçãs de ouro que curam qualquer doença! Nossa mãe vai ficar bem, eu sinto isso!”.

Fazendo uma pausa, Aethel leu algumas poucas passagens das páginas seguintes, onde Nealie narrava como procurou a terra encantada dentro de troncos de árvores, em lagoas que pareciam muito bonitas, nas ruínas mais antigas, perto da floresta e até dentro da pia de batismo da igreja local!

Infelizmente, o padre a expulsou à vassouradas, impedindo que a garota mergulhasse a cabeça na possível entrada do reino mágico.

Seguindo com a leitura, Aethel parou em uma parte interessante:

— “Hoje conheci um rapaz bonito, com olhos cinzas como as pedras de uma catedral. Toquei nos cabelos dele, eram escuros e bonitos, tenho que escrever aqui antes de esquecer. Mas o melhor de tudo é que ele consegue fazer mágicas! Eu vi ele fazendo os peixinhos do lago nadarem ao redor dele, mas fora da água! Implorei que ele me contasse sobre a maçã mágica, então ele me contou sobre um tal de Héraclus, que tinha uma madeira que quebrava tudo e também uma capa feita com a pele de um leão”, agora ela faz mais alguns rabiscos e continua “O menino me contou que o Héraclitus roubou maçãs de ouro de uma árvore mágica que tinha uma cobra… fiquei pensando se era a mesma cobra que fez a Eva comer a maçã. Depois perguntei ao padre e ele me explicou que não; a árvore era diferente. Espero que Deus me ajude a chegar na árvore certa para pegar uma dessas maçãs e curar a mamãe”.

Após tossir um pouco, Aethel olhou para Mabel e continuou a ler:

— “Meu amigo me contou que o tal de Hércales levou a maçã da mamãe para um rei, mas o homem não quis, então ele ficou com elas todas”, interessante, Nealie fala de uma única maçã, mas depois fala que Héracles ficou com “elas”, no plural… agora tenho certeza de que era uma criança escrevendo. Como será que ela conseguiu esse caderno? Na idade média custaria uma fortuna, além disso, não se trata de um palimpsesto.

Após uma pausa, Aethel prosseguiu com a leitura:

— “Meu amigo me mostrou um canteiro de flores hoje e depois me deu uma maçã verde (ele é alguém muito poderoso, tenho certeza) talvez possa curar minha mãe ou saiba um jeito…”, muito interessante, então Nealie também tinha seus problemas, mas encontrou um bom amigo para ajudar… ou estragar tudo.

Sem entender, Mabel perguntou quem era esse amigo, ao que Aethel respondeu:

— Ela riscou o nome em quase todo lugar, mas ainda se pode ler com algum esforço: não tenho dúvida alguma de que o nome dele era Gael…


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Notas finais do capítulo

Tír na NÓg:
Vinda da mitologia irlandesa, Tìr na NÒg é uma terra mítica, de eterna juventude. Foi visitada por muitos heróis, mas é mais conhecida pelo mito de Oisín, que ali habitou ao lado da princesa Niamh. Em certo mito, quando sai desta terra encantada e volta à Irlanda (sua terra natal e da qual sente muita falta), Oisín acaba não seguindo certas recomendações de sua esposa e, por essa razão, se torna um velho.


Palimpsesto:
Trata-se de um papiro ou pergaminho que foi reutilizado uma ou mais vezes. As mensagens antigas eram apagadas ou raspadas para darem lugar a textos mais novos. Isso foi bastante comum na idade média, devido ao elevado preço dos pergaminhos.



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