As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 13
Mabel em Slumberland




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Você já esteve em Slumberland? Sabe onde ela fica?

Além do véu que separa o mundo físico do fantástico, onde os mais belos sonhos materializam-se com a mesma simplicidade de uma equação matemática resolvida por um velho professor, você chegará a uma terra estranha e misteriosa; uma terra de sonhos. 

Lá, em uma dimensão cuja entrada aos adultos foi para sempre bloqueada (pois eles carecem de fé) existe um paraíso fantástico, cheio de encanto e beleza.

 Cruzando a floresta misteriosa você chegará em Slumberland, a terra governada pelo alegre rei Morpheus.

Todos já estiveram lá, mas quando as pessoas crescem se enchem dos números em planilhas de contabilidade (acreditem crianças, números são muito importantes para as pessoas grandes, mas os pequeninos não devem se preocupar com isso; é só “coisa de gente grande”, como os adultos, orgulhosamente, gostam de dizer), mesas de escritório, pedaços de papel sujo com desenhos, metal redondo com relevos…

E se esquecem de Slumberland.

Para as crianças, por outro lado, o glorioso reino de Morpheus é motivo de eterna celebração pois, ainda que elas não saibam seu nome ou desconheçam que lá estiveram, posso afirmar com a autoridade de uma pessoa grande: elas estiveram lá! Elas vão para lá sempre que sonham com coisas belas, deixam-se levar pela imaginação ou apenas devaneiam durante as tediosas aulas de geografia no colégio (e digo isso com todo o respeito e consideração aos professores de geografia do mundo inteiro).

Às vezes, porém, alguns adultos se lembram que já pisaram no grande palácio de Morpheus, andaram por seus jardins e sofreram com as travessuras de um certo Flip, o que os inspira a compartilhar suas desventuras em Slumberland com os outros, sejam pessoas crescidas ou crianças, por meio de livros, desenhos, peças ou por obras de arte.

Na verdade, para chegar a cidade principal era preciso atravessar, como já mencionado, uma floresta de clima até que agradável, porém, para a jovem Mabel Pines o caminho foi um tanto mais imediato, de forma que ela apareceu no meio do grande salão do trono, onde assentava-se o risonho Morpheus e sua amada - e um tanto solitária - filha, a princesa Camille.

—Ih, acho que interrompi alguma coisa importante - Mabel falou, levantando-se do chão o mais rápido que pôde.

Olhando melhor, a garota percebeu que o salão era grande, feito ou coberto de mármore, tendo ao centro um grande tapete vermelho que se estendia até a entrada do salão, que possuía um piso tão polido que refletia as imagens de todos os presentes, assim como faria um espelho.

Mais ao fundo, haviam dois pequenos lances de escadas (nada demais, o primeiro tinha quatro degraus e o segundo tinha cinco) que terminavam em dois majestosos tronos de ouro: um a esquerda, onde se sentava Camille e outro centralizado com a entrada do salão, com a precisão de uma flecha do divertido Robin Hood, que servia muito de bem de assento ao rei Morpheus.

O trono à esquerda era menor, na verdade, talvez nem devesse ser chamado assim, já que se tratava de um assento romano sem encosto, inteiramente feito de ouro, com uma almofada vermelha e dois braços parecidos com tubos, desses usados para guardar documentos importantes.

Quanto ao rei, possuía um trono grande e majestoso, com encosto e uma confortável almofada - e certamente seu manto vermelho com arminho ajudava a tornar o trono ainda mais confortável.

O rei era uma figura imponente, com pele clara, olhos azuis e gentis, barba branca e bigode farto, coroa de louros verdes na cabeça, braceletes de ouro puro, sandálias douradas que faziam par com o peitoral de couro e aquele saiote grego que, de forma inegável, conferia ao monarca um ar grandioso e nobre, contudo, sem que o visual parecesse esnobe ou amedrontador.

De fato, ter medo de Morpheus seria como temer pela segurança do velho Pernalonga, quando esse está sendo perseguido pelo tolo Hortelino; o velho rei poderia até ser grande, mas seu coração era feito de ouro, transbordante bondade e carisma.

Quanto a Camille, a princesa (que naquele exato momento fitava Mabel com olhar interrogador), era uma garota muito distinta, talvez com sete ou oito anos, talvez um pouco mais, pele clara, cabelos negros, olhos azuis e rosto proporcional, além de uma pequena coroa ligada a uma tiara dourada.

A princesa era uma garota curiosa, que usava um bonito vestido turquesa - a princesa das cores -, com um manto de arminho azul celeste preso por um broche de ouro com uma pedra azul ao centro, e um belo colar de ouro, que descia até a cintura e depois se ligava a uma faixa que acompanhava o vestido até o chão.

Mabel não conseguiu olhar a princesa por muito tempo, pois lamentou estar com sua roupa empoeirada até que, por meio de um passe de mágica, viu-se com um vestido azul limpo, um colar de ouro com um diamante no fim (que acabou combinando com o medalhão), cabelos soltos e penteados, sapatinhos azuis e um pequeno bilhete nas mãos, que dizia “Agradeça depois. Não esqueça da missão, cuidado com seu medalhão e não dê ouvidos a Flip. Ass: G.”

Caminhando com cuidado, Mabel saudou o rei e a princesa, logo pedindo para falar com o monarca.

Um grupo de soldados com armadura dourada, lanças e braçadeiras com relevos muito bonitos, correram até a garota e a cercaram, perguntando quem ela era e o que queria.

Assustada, Mabel se atrapalhou toda e provocou um risinho alegre em Camille, que pediu que os soldados deixassem a menina em paz.

Com seus olhos cheios de compaixão e gentileza, Morpheus pediu que Mabel se aproximasse e falou:

—Minha jovem, seja bem vinda a Slumberland, a doce terra dos sonhos… Não precisa ter medo, sou o rei Morpheus e essa ao meu lado é minha filha, Camille, a princesa dessa terra. Qual é o seu nome, minha querida? O que a trouxe até aqui, minha jovem?

—Majestade, senhor… Quer dizer, muito prazer, vossa alteza… - disse Mabel - Vamos lá, garota, você consegue… Certo, majestade, meu nome é Mabel Pines e eu vim de um mundo esquisito, sem vida… foi o Gael, aquele feiticeiro, que me enviou pra cá… ele disse que eu tinha que procurar a última brincadeira que ele fez com a Nealie… ela é uma bruxa malvada, ela não gosta do Aethel…

—Minha nossa, tenha calma! - disse a princesa - Não estamos entendendo você.

—Desculpe, princesa, mas eu estou um pouco nervosa… saí de um mundo triste e vim parar em um mundo bonito como esse, bem no meio de um salão com um rei e uma princesa!

—Eu compreendo… - respondeu amavelmente o rei - Pelo que entendi, você veio aqui por meio dos encantos de Gael, faz muito tempo que não o vejo… Ao que parece, ele pediu que a senhorita viesse aqui para buscar algo, não é isso?

—Sim, majestade - respondeu Mabel - Mas não sei o que estou procurando.

—Eu sei - disse a princesa - Deve ser aquele caderno que o Gael sempre carregava com ele! Está guardado na Torre Tecelada, dentro de um alçapão que dá direto em um corredor que segue até um quarto no porão do palácio! Infelizmente, há algum tipo de mágica protegendo esse quarto, de modo que só é possível acessá-lo por meio da torre.

—Sim querida, eu me lembro - respondeu o rei, com expressão pensativa - Gael me pediu para guardar aquilo com cuidado e jamais ler… nem sei o que está escrito naquele caderno. Mas com certeza deve ser algo importante. Minha filha, já que você conhece bem a localização do caderno, poderia guiar nossa convidada até ele?

—Mas é claro, papai! - respondeu a garota - Fico muito feliz em ser útil.

—Eu gostaria que nosso querido Nemo estivesse aqui, mas acho que Bombom vai ser suficiente para ir com vocês duas…

—Boa ideia, meu rei, mas acho que eu poderia dar uma mãozinha - alguém disse, para surpresa de todos os presentes.

Surgindo em meio a multidão bem vestida, soldados, professores engraçados de grandes chapéus pontudos e damas com vestidos espalhafatosos, todos viram uma figura engraçada e cheia de confiança, que logo foi identificada pelo ruminar daquelas pessoas, que disseram em uníssono “FLIP!?”

—Esse é o meu nome - disse Flip, com um sorriso de Tom Sawyer - Flip, o rei da diversão!

Apesar das recomendações de Gael, Mabel não conseguiu deixar de sorrir com Flip.

Tratava-se de um jovem com roupinha de palhaço: um casaco laranja muito bonito, calças com listras brancas e laranjas, sapatos brancos e um pouco grandes, chapéu coco laranja com uma faixa amarela, três grandes botões também laranjas que se destacavam em um colete da cor creme e uma gravata borboleta amarela com bolinhas laranjas de grande tamanho, que escondia completamente o pescoço de Flip.

 Sua pele era clara, com nariz um pouco redondo e olhos verdes, porém, tirando as bochechas e a boca, todo o rosto era coberto por uma tonalidade de verde limo (que fez Mabel perguntar se era mesmo uma pintura ou se aquela pele, de fato, era verde).

Seus cabelos negros eram um pouco espetados e suas orelhas arredondadas, porém, era o que Flip matinha constantemente na boca que chamava mais a atenção: um bastão (que Mabel logo percebeu ser parte d euma bengala doce natalina) com faixa branca e vermelha sabor menta.

Com jeito típico de cavalheiro, Flip se curvou em direção a Camille para beijar sua mão, porém, a princesa tirou-a rapidamente, enquanto pedia que o amigo não se esquecesse de saudar a nova convidada do palácio.

Segurando o chapéu, Flip pegou a mão direita de Mabel e a beijou, deixando um perfume de menta que a garota conseguiu sentir quase que imediatamente.

—Está bem, Flip - disse Morpheus - Mas não vou deixar à segurança de vocês três ao vento… Bombom, por favor, se apresente.

Rapidamente, surgiu um garoto com pernas que lembravam bengalas de natal, com faixas amarelas e laranjas, um colete que bem lhe caia como se esse fosse algum tipo de pajem, mangas verdes, sapatos com alças longas e grandes pompons, que muito alegraram Mabel, camisa laranja (que a garota Pines pensou se era uma camisa real ou apenas parte do corpo de Bombom) com grandes botões laranjas, uma gola digna de Elizabeth I, um chapéu pontudo, semelhante a uma casquinha de sorvete, com uma bolinha fofa na ponta e um pequeno calção creme, que completava sua indumentária agradável.

Sua pele era clara e rosada, seus olhos verdes e seus cabelos dourados tocavam os ombros, como se Bombom fosse um príncipe dos contos de fadas.

—Estou aqui, para servi-lo, vossa majestade - respondeu Bombom.

—Por favor, pode levar as crianças até o caderno de Gael? Não quero que se distraiam e acabem se perdendo - disse o rei, enquanto fitava Flip, com um riso.

—Como desejar, vossa majestade. Irei junto com sua alteza e seus amigos, mas como nem sei que caderno é esse, gostaria que a princesa servisse de guia quando chegássemos na torre.

—Excelente ideia - respondeu o rei - Mas é melhor que partam agora; se conheço Gael, ele deve estar bastante incomodado para enviar alguém em seu lugar na busca deste caderno.

Sem esperar, Flip, Camille, Mabel e Bombom, o garoto-doce, cruzaram o grande salão e foram até os jardins do palácio, onde Mabel viu as mais maravilhosas flores e plantas, dos tipos que só existem na imaginação.

Havia fontes jorrando água cristalina, peixinhos nadando, colunas de mármore branco com detalhes em ouro, banquinhos dourados, pássaros multicoloridos e um céu noturno com nuvens brancas e calmas.

Sem esperar, a princesa assobiou e surgiu diante dos quatro uma carruagem redonda e dourada, atrelada por duas zebras e com um pavão no topo.

Após entrarem, os jovens acomodaram-se confortavelmente no veículo, enquanto um condutor gordinho usando um manto verde e uma imensa cartola, guiou a carruagem em direção a Torre Tecelada, onde estava guardado o caderno do mago.

Mabel não conseguia parar de pensar em qual seria a travessura que Gael pregara em Nealie, “será que ele a fotografou de pijama?” imaginou a garota, logo dando uma risada bastante animada.

 -Oh, não! Esquecemos dos bolinhos! - disse Bombom, enquanto se desculpava com Camille.

—Que mancada - disse Flip - Você devia se envergonhar, Bombom! Você desonrou todos os reis, rainhas, pajens, nobres etc., que Slumberland teve desde o dia em que ela passou a existir!

—Não exagere - respondeu Bombom - É apenas uma falta com a senhorita Pines. Como ela chegou de repente e saímos rápido do palácio, esqueci-me completamente disso.

—Olha só, não precisa disso, sério - respondeu Mabel, que já estava gostando daquele grupo - Eu não vou ficar muito tempo mesmo… eu acho.

—Nossa, mas que medalhão bonito esse! Posso ver? - perguntou Flip, com um olhar de travessura iminente.

Enquanto Mabel tentava afastar as mãozinhas corruptas de Flip daquele valioso medalhão, a princesa ordenou que o amigo se aquietasse e, sem perder tempo, orientou a garota Pines a jamais perder aquele medalhão:

—Ouça bem, Mabel - disse a princesa - Você não chegou a Slumberland dormindo, mas foi trazida aqui pela magia de Gael, portanto, sem esse colar talvez não consiga sair daqui nunca mais. Me pergunto porque Gael não veio pessoalmente, mas ele deve ter suas razões…

—Vocês já o conheciam? - perguntou Mabel.

—Sim - concordou Flip - Ele vinha aqui às vezes, para descansar a cabeça de todos aqueles estudos malucos do Merlin, mas eu sempre deixava ele louco, hahahaha, roubando seus cadernos, fazendo ele entrar em perseguições ou expondo-o a situações engraçadas, como dançar em um baile na frente de todo mundo ou mergulhar em uma fonte com manto e chapéu, hahahaha… Até que ele ficou tão aborrecido que preferiu parar de vir até aqui. Disse que se eu não o deixasse em paz, ele acabaria reduzindo Slumberland a cinzas.

—É… - suspirou Mabel - Acho que ele é o tipo de pessoa que cumpriria esse tipo de ameaça…

Distraidamente, Mabel se virou e admirou as belas construções daquela terra maravilhosa, com seus palácios, bibliotecas, torres pontudas, cúpulas douradas e até uma grande torre arredondada, que terminava em uma construção cúbica onde se via um grande relógio.

Próximo a um grande pátio, Mabel viu um dinossauro de pescoço alongado, igual a um diplodoco, que Camille logo apresentou a Mabel:

—É uma velha amiga, nossa querida Gertie - disse a princesa, com um sorriso - Foi presenteada a meu pai por um senhor chamado Winsor McCay, quando ele veio aqui a muito tempo. O senhor Winsor nos disse “cuidem bem dela, ela pode ser meio atabalhoada, mas é também muito simpática e um pouco tímida”. Ele também disse que  de onde ele veio não havia mais criaturas iguais a Gertie e, por isso, ela ficava um tanto solitária. Felizmente, papai se afeiçoou a Gertie e arrumou um bom lugar para ela ficar.

—As pessoas não têm medo? - perguntou Mabel.

—Não, Mabel - respondeu a princesa - Às vezes até descem pelas costas de Gertie, como um escorregador. o senhor McCay disse que, um dia, pessoas do mundo dele também viriam aqui para conhecerem a Gertie e brincar com ela.

A conversa prosseguiu durante mais algum tempo, até que chegaram finalmente na chamada “Torre Tecelada”, que causou um grande susto em Mabel: era uma torre grande, com vários andares, colunas, janelas, escadarias e até alguns jardins, porém, nada ali fazia sentido.

A construção parecia uma grande ilusão de ótica, com escadas que estavam tanto embaixo quanto no teto, colunas que se viam tanto no interior profundo da torre quanto do lado de fora dela, corredores que se fundiam as paredes, embora também estivessem em áreas abertas, do lado de fora.

Se a descrição do que se via ali parecer confusa é porque a construção em si não fazia qualquer sentido: tudo ali desafiava a lógica.

Para uma pessoa grande aquilo tudo pareceria uma bagunça sem sentido que, por ser ilógica, deveria imediatamente cair no esquecimento…

Felizmente, no grupo de Mabel não havia pessoas grandes, pois assim que ela e seus companheiros desceram da linda carruagem, o cocheiro foi embora (era uma boa pessoa com coração juvenil, porém, ainda era gente grande e não entenderia as aventuras na torre, de modo que sua alteza, Camille, teve o bom senso de ordenar que ele retornasse ao palácio).

Para ser gentil com o cocheiro, ele conduziu a carruagem pelo caminho mais longo, só para permitir que Mabel pudesse admirar um pouquinho da terra dos sonhos, então pode-se considerar que seu papel foi, de algum modo, destacado nesta grande aventura.

Bem, voltando ao essencial, o grupo não podia esperar mais, então cruzaram o grande portão de entrada e logo se viram no interior da maluca Torre Tecelada.

Aquele lugar era a síntese da falta de ordem que tanto havia aborrecido Gael no passado, com escadas que se cruzavam sem se cruzar e corriam pelos tetos e pelo chão, estando em todo lugar, sem estar em nenhum!

Se havia centro de gravidade naquela sala, não poderia ser apenas um, já que era possível caminhar pelos tetos e paredes enquanto se andava pelas escadarias e entrava-se em passagens que saiam de vários lugares e conduziam para muitos outros pontos daquele lugar confuso.

A velha “relativity” de M.C. Escher devia ter servido de modelo para aquela obra irracional, de modo que foi muito difícil para Camille sair do labirinto de escadas e chegar ao topo, onde se via um lago com peixes que estava tanto embaixo quanto em cima, a depender do ponto daquele lugar onde se estava.

A questão é que, caso Mabel estivesse ao centro, o lago localizado no chão parecia, sem mais nem menos, aparecer em cima, para molhar os cabelos da garota, porém, ele não subiu, apenas estava ali desde sempre, o que se provava por Camille e os outros que, ainda na porta, viam e até tocavam naquelas águas, ainda localizadas aos seus pés.

Abrindo um alçapão próximo a um arbusto, Camille guiou os amigos até um corredor onde, de forma estupenda, Mabel se viu diminuindo de tamanho, conforme caminhavam por ele.

No começo, estavam do tamanho normal, porém, ao final da caminhada, se viram na altura de um grupo de camundongos simpáticos que, apontando com seus focinhos uma entrada na parede, lhes mostraram uma portinha.

Sem esperar, Mabel a abriu e, como num passe de mágica, o grupo voltou a ter o tamanho normal.

Mabel já estava se sentindo confusa e um tanto “abilolada” com aquele lugar maluco, então pediu a Deus que aquela fosse a última sala, o que parece ter sido atendido pois, de fato, era sim a sala final; não era grande, mas havia uma pequena mesinha com um caderno fechado que brilhava.

Inesperadamente, Flip pegou o medalhão de Mabel e abriu a fechadura do caderno, que se revelou como sendo um diário: não propriamente de Gael, mas de Nealie e Gael.

Para Mabel, aquilo representou uma grande surpresa, pois a garota esperava por um álbum com fotografias vergonhosas, iguais às de seu tivô, Stan, ou um livro com magias poderosas que fossem capazes de transformar a rainha das feiticeiras em biscoito ou talvez um sapo.

—O diário de Gael… e Nealie? Mas o que isso quer dizer? - pensou Mabel - Será que é igual aos diários do tivô Ford? Se for assim, o Dipper vai ficar fissurado nesse caderno.

—Não exatamente - respondeu Flip - Pelo que estou vendo aqui, a primeira metade do caderno tem uma caligrafia de garota, só o restante que parece letra de garoto… Acho que o diário era da Nealie, mas o Gael pegou e passou a usar. Será que ele roubou o dela? Hahahahaha, e eu achando que ele não tinha senso de humor! Roubando o diário de uma garota! Hahahahaha.

—Não tem graça, Flip! - respondeu a princesa Camille - Ela deve ter ficado muito chateada com ele, tente imaginar como uma garota se sente quando um menino lê o diário dela… Agora imagine como ela deve ter ficado com o Gael não apenas lendo, mas roubando o diário!

—Isso não foi cavalheiresco - respondeu Bombom, com um suspiro.

—Ah gente, mas meninos são assim mesmo - disse Mabel - Eu mesma já li as coisas do meu irmão e a gente ficou numa boa, sério.

—Ele descobriu? - perguntou Flip, desconfiado.

—Descobriu sim, mas eu já tinha lido, então era tarde, hahaha - respondeu Mabel.

Entre risos, o grupo resolveu retornar e, felizmente, não foi nada difícil, já que a pequena sala de Gael era ligada ao palácio real, como um quarto secreto no porão.

Correndo, o grupo subiu algumas escadas e cruzou corredores bonitos e protegidos por guardas vestidos de azul e segurando alabardas, até chegarem ao quarto da princesa, onde Flip devolveu o medalhão e Mabel resolveu xeretar no diário:

—”Hoje conheci uma menina no bosque, ela estava chorando e eu a ajudei. Pelo que me contou, um grupo de soldados lhe bateu no rosto e ela caiu no chão molhado; pelo que entendi, ela estava olhando um cavaleiro comprar uma maçã…”Estranho - disse Mabel - Essas anotações não parecem ser do Gael que eu conheci, acho que são de quando ele era mais jovem…

—Porque diz isso? - perguntou Camille.

—É que o Gael que eu lembro é formal e sombrio, enquanto aqui ele parece mais informal, sabe? Sem falar difícil ou de forma assustadora, entendem?

—Eu não vejo Gael desde que ele mergulhou na fonte do jardim, então não entendo - respondeu Flip - Ele sempre pareceu sério, mas do tipo que sabia se divertir.

—O quê?! - perguntou Mabel - Desculpem galera, mas o Gael era do mal, todo sombrio… Quer dizer, ele tentou dominar o meu mundo! Também tentou matar o Aethel e acabar com o Dipper!  Além disso, ele me largou no meio da sala do trono, bem no chão e pagando um mico; nem sei como alguém igual a ele conseguiu pisar na terra dos sonhos, entenderam, meus amores? Terra dos “SONHOS”!

—Minha nossa - disse a princesa - Mas ainda gosto de pensar que ele era apenas alguém sério que guardava segredos… e, se um dia ele foi tão mal, provavelmente voltou a ser bom. Ninguém tão malvado teria te dado um vestido tão bonito e esse colar protetor… além disso, ele te mandou para Slumberland, que é o melhor lugar de todos! Ninguém mal mandaria seus inimigos para os domínios do meu pai.

—Nem vou questionar - disse Flip - Se ele ficou mal e ainda assim te mandou pra cá, então o problema não é maldade; é só burrice mesmo.

Entre risos, Mabel se alegrava com seus novos amigos, mas o medalhão brilhou e ela teve que se despedir, prometendo retornar assim que fosse possível, trazendo Dipper, Aethel - o grande rei - e até Gael, caso aquele mago ranzinza estivesse disposto a ter um pouco de diversão além daquele livro sinistro que ele tanto lia (Mabel tinha certeza de que devia ser uma obra terrível, como “Drácula” ou o nefasto “Malleus Maleficarum", porém, como temia enfurecer Gael, preferiu apenas ficar quieta e acenar).

—Volte logo, Mabel, o Nemo vai adorar te conhecer! - gritou Camille.

Em meio a um grande clarão de luz, Mabel Pines desapareceu, para o lamento de seus novos amigos.

—Acha que ela volta mesmo, princesa? - perguntou Flip.

—Mas é claro - respondeu Camille - Na verdade, acho que não deve demorar… Ela falou desse tal de rei Aethel… Ouvi papai comentar sobre ele recentemente durante o último jantar e ele parece interessante.

—Vossa alteza tem razão, Flip - disse Bombom - A senhorita Mabel é uma amiga e é natural que amigos voltem a se ver, mais cedo ou mais tarde.

—Ok, ok - respondeu Flip - Já entendi, espero que ela volte trazendo o Gael. Vou adorar pregar uma peça naquele “joão certinho”, junto com o Nemo.

Entre risos, o trio continuou conversando, até que Camille pediu aos funcionários um pouco de chá e biscoitos, pois nada é tão agradável de se fazer em uma noite tão bonita como aquela, do que apreciar uma xícara de chá com biscoitinhos de chocolate, creme e outros mais.

Bombom foi convidado a ficar e Camille se alegrou com o garoto-doce, que aceitou ficar,  mas foi o malandro Flip quem mais a animou:

—Chá é boa ideia, biscoitos também… Mas posso pedir alguns bolinhos? - perguntou o rapaz, tendo resposta positiva da alegre princesa.

Flip estava um pouco cansado de suas bengalas de menta e precisava trocar um pouco os sabores em sua boca por algo menos refrescante, como bolinhos de chocolate ou tortinhas de morango.

—O que mais será que tinha naquele diário? - perguntou Flip.

—O que quer que estivesse escrito ali - disse Bombom - Devia ser um grande segredo de Gael. Lembro que ele estava sempre lendo e conversando com sua majestade, o rei Morpheus.

—Seja o que for, - disse Camille - Saberemos se for para saber… Vamos todos torcer para que Mabel fique bem e retorne.

Assim que o chá com biscoitos e bolinhos chegou, todos começaram a comer, enquanto se perguntavam sobre o que acontecera a Gael, quem era o rei Aethel e, como não podia deixar de ser, falavam também de Mabel e dá impressão que ela lhes havia deixado…


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Notas finais do capítulo

Robin Hood:
Famoso fora da lei que, de acordo com a lenda inglesa, roubava dos ricos para dar aos pobres. Considerado um dos maiores heróis da Inglaterra, aparece em inúmeros contos, poemas e livros.
Se realmente existiu, provavelmente viveu no século XIII.

Pernalonga:
Pernalonga ( ou Bugs Bunny, no original) é um personagem surgido em 1940, no curta animado “A Wild Hare”. Sendo uma mistura entre coelho e lebre, o Pernalonga apareceu em muitos curtas animados das séries Looney Tunes e Merrie Melodies, sendo famoso até os dias de hoje.

Hortelino:
Hortelino Troca-Letras (Elmer Fudd, no original) é um personagem que apareceu em muitos curtas da série Looney Tunes. Trata-se de um caçador que sempre entre em conflito com Pernalonga e seu amigo/rival, o pato Patolino (Daffy Duck). Hortelino é famoso por repetir constantemente a letra “L”.

Tom Sawyer:
Personagem criado por Mark Twain (1835 - 1910), cuja primeira aparição foi na obra “As Aventuras de Tom Sawyer”, de 1876. O personagem também aparece nas continuações da história, sendo elas “As Aventuras de Huckleberry Finn” (1884), “As Viagens de Tom Sawyer” (1894) e “Tom Sawyer, detetive” (1896).

Elizabeth I:
Elizabeth I (1533 - 1603), às vezes chamada de “A Rainha Virgem”, foi rainha da Inglaterra, sendo a quinta representante da dinastia Tudor. Filha de Henrique VIII, teve a mãe, Ana Bolena, executada em 1536.

Diplodoco:
Dinossauro de grande porte, com cauda e pescoço alongado e, algumas vezes, confundido com o braquiossauro. O diplodoco viveu no período Jurássico.

Gertie:
Dinossauro que aparece no curta “Gertie the Dinosaur”, de 1914. O curta foi escrito e dirigido por Winsor McCay.

Winsor McCay:
Zenas Winsor McCay (1869 - 1934) foi um cartunista norte-amaericano e pioneiro da animação. Sua mais famosa criação foi Little Nemo, em 1905. Nemo apareceu no curta dirigido por McCay, “Little Nemo”, em 1911 (cujo sucesso foi tão grande que motivou Winsor a colorir os quadros um um, produzindo uma versão do curta em cores).
McCay também produziu outros curtas, além de Little Nemo.

"Relativity":
Litografia de M.C. Escher, publicada em 1953. A obra retrata um tipo de salão com escadas onde as leis da gravidade não são aplicáveis. É uma de suas litografias mais famosas.

M.C. Escher:
Maurits Cornelis Escher (1898 - 1972) foi um artista gráfico holandês, cujas obras comumente retratam cenários e construções impossíveis, por vezes trazendo efeitos de ilusão de ótica.

Alabarda:
Lança antiga, cuja ponta é atravessada por uma lâmina em forma de meia-lua.

Drácula:
“Drácula” é a mais famosa obra do escritor irlandês Bram Stoker (1847 - 1912). Foi publicado em 1897. A história gira em torno de um vampiro que ameaça Londres.

Malleus Maleficarum:
Também conhecido como “Martelo das Feiticeiras”, trata-se de um manual inquisitorial, publicado na Alemanha, em 1487. Foi escrito por Heinrich Kraemer (cerca de 1430 - 1505) e Jacob Sprenger (entre 1435 e 1438 - 1495).



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