Moeda de Troca escrita por Miss Siozo


Capítulo 18
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O tempo passa de maneira uniforme, nem os relógios, tampouco os calendários mentem. No entanto, quando falamos sobre a percepção do tempo, esse sim é diferente para cada um. Para os deuses, a vida humana é como um sopro e um acordo de mil anos é quase como uma década para um humano. O que seriam três anos para Hades? Provavelmente nada. Para Saori, que vive em um corpo humano, o tempo trabalhou e seu rosto de menina deu rosto à de uma mulher jovem e forte. Os adolescentes perderam seus traços mais juvenis quando finalmente se tornaram adultos, mas e o interior mudou?

 

— Já disse para você parar de se segurar tanto para me atacar! — disse o mestre ao seu pupilo — Em um combate real seria massacrado ao dar tamanha chance a um inimigo — lançou um ataque cósmico que foi evitado — Mas sua esquiva continua ótima e melhorando!

 

— Estou feliz só de conseguir acompanhar a velocidade da luz sem problemas — deu um sorriso amarelo — Eu acabo me segurando mesmo para atacar, o meu antigo mestre sempre reclamou disso. É um treino e não há necessidade.

 

— Quem tem que dizer se há ou não necessidade sou eu, Shun — fez um sinal de “pausa” — Sabe, você evoluiu muito, curou o seu cosmo, aprendeu e desenvolveu técnicas novas, mas esse seu tipo de atitude pode levá-lo à morte. Dar chances ao inimigo é o mesmo que deixar a si mesmo sem nenhuma. É isto que quero que entenda.

 

— Me desculpe, Minos — sentou-se no campo de treinamento — Sempre acho que é possível resolver as coisas pela via do diálogo, sabe?

 

— Eu entendo e é até preferível pensar assim. Sei que como membro do clube de debate do seu colégio, você dificilmente perderia em uma argumentação, mas tem quem não queria ouvir ou entender. Geralmente esse grupo é o que já parte para o ataque. E aí? O que fazer?

 

— Imobilizar ou deixar o oponente incapacitado.

 

— É um bom caminho, mas e se ele escapar? Se essa pessoa fizer mal a outras pelo caminho? Não se sentiria culpado por ter dado tamanho benefício?

 

— Qualquer caminho acaba sendo igualmente difícil, mas não quero matar ninguém.

 

— Sabe, depois de ter vivido outras vidas e ter enfrentado muitos inimigos, eu aprendi que não posso perder tempo. Eu costumava me deleitar com o sofrimento que causava nos inimigos, como um sádico, mas depois vi que além de ser cruel, pois acaba com a dignidade do oponente, aquilo poderia vir a me prejudicar, seja por descuido ou caso eu fique em desvantagem numérica em seguida. Por isso, é melhor agir rápido — suspirou — Quer dar uma oportunidade ao seu adversário? Tente avaliar o cenário primeiro. Caso incapacitar não seja o suficiente, dê a ele uma morte digna. Na vida de um guerreiro geralmente há apenas duas opções: matar ou morrer.

 

— Acho tão injusto uma vida valer mais do que a outra…

 

— Infelizmente o mundo é assim. Lembra de quantas coisas repugnantes ouviu dentro daquele tribunal?

 

— Sim, eu infelizmente lembro.

 

— Temos que dançar conforme a música até que tenhamos a oportunidade de mudá-la — explicava — Quando você chegou aqui há quatro anos atrás, ninguém sabia ao certo o que esperar ou fazer contigo.

 

— Foi uma adaptação difícil.

 

— Só que agora tens o respeito de muitos aqui. Seu olhar mudou a forma como julgamos, foi criada uma prisão que funciona como reabilitação para as almas que merecem uma nova chance no futuro e além disso tens trazido as almas perdidas para o lugar no qual precisam estar.

 

— Realmente é coisa demais para alguém como eu, mas ainda tenho a sensação de que ainda fiz “pouco”, sabe?

 

— Eu acho que você está pronto para o próximo passo. Vamos sair logo deste local secreto, o Imperador Hades nos espera em Giudecca.

 

— Já faz tempo que eu não o vejo.

 

— Vocês se desencontram bastante — riu — Estão sempre bastante ocupados, mas ele disse que poderia falar com ele quando estivesse pronto para a próxima missão. É difícil ele dar permissão para interrupções. Vamos aproveitar — disse em tom leve.

 

 

Na Fortaleza Submarina, Poseidon se encontrava satisfeito ao ver todo o seu exército reunido no pátio. Sentia-se grato pela ajuda que os espectros de seu irmão deram nos últimos anos e enfim poderia liberá-los para retornar aos seus respectivos postos no Submundo. Ao mesmo tempo, não se sentia tão satisfeito com as notícias vindas da superfície. Sua atuação junto à Athena, ainda não engajou da forma esperada. Mesmo sendo figuras influentes no meio humano, como Julian Solo e Saori Kido, ambos não conseguiram reunir tanta gente influente à causa e estão “nadando contra a maré”. O grande problema é que viram o “milagre das geleiras” como uma nova oportunidade de retomarem com o ritmo acelerado de poluição, principalmente a poluição do ar. 

 

O deus dos mares divagava sobre essas questões há algum tempo. Não desejava romper com o acordo de paz, pois via o quanto isso era benéfico para si e seu exército, mas entendia que era necessário “recalcular a rota” para que seus esforços não fossem desperdiçados. Gostaria de discutir isso melhor com Athena e Hades, mas falar com eles separadamente não seria de bom tom.

 

— Boa tarde a todos! Fico feliz ao ver meu exército aqui completo. As últimas escamas foram conquistadas nesta manhã e desejo meus parabéns aos novos marinas! — iniciaram os aplausos — Também gostaria de agradecer aos espectros aqui presentes que nos ajudaram na reconstrução e na formação dos novos marinas. Ox de Górgona, poderia vir até aqui?

 

— Sim, senhor Poseidon, o que deseja? — perguntou a Estrela Terrestre da Corrida.

 

— A partir de hoje, vocês espectros estão liberados de suas obrigações aqui. E antes de partirem, te peço um pequeno favor — estendeu um envelope — Entregue-o à Hades, por favor.

 

— Certo.

 

— Liberados! — e assim partiram — Kanon? Onde está?

 

— Estou aqui, senhor Poseidon. O que deseja?

 

— Hoje estou liberando Kanon de sua obrigação para conosco. Ele trabalhou arduamente aqui e encontrou uma pessoa a altura de trajar a escama de Dragão Marinho, a nossa marina Débora — deu um sorriso — Não irei remoer o passado agora. Apenas digo que seu débito aqui está quitado e pode retornar ao Santuário de Athena. E também irei pedir para que entregue este envelope em mãos à ela.

 

— Agradeço pela chance que me deu para me redimir, pensar sobre os meus atos e treinar esta mulher fantástica que é a Débora. Partirei grato e com meu coração em paz. Obrigado, senhor Poseidon — pegou o envelope e partiu.

 

— Agora peço que retornem aos seus afazeres. Nos próximos dias passarei a instaurar mudanças que são necessárias por aqui e benéficas à vocês, logicamente. Até!

 

 

Em Giudecca, Hades acabava de receber seus espectros que retornavam de Poseidon, assim como recebeu em mãos a carta de seu irmão. A divindade deu o restante do dia livre para esses subordinados que aproveitaram a oportunidade com alegria. Já que finalmente estava em posse total da força de seu exército, ele poderia aplicar os ajustes que tanto desejava, mas antes parou para ler a carta do deus dos mares.

 

— Então ele deseja uma reunião formal junto de Athena? — pensou alto — Antes disso, ainda tenho mais um detalhe para resolver… — viu Minos e Shun chegarem ao salão — Olá!

 

— Boa tarde, Senhor Hades — Minos se curvou e Shun repetiu o gesto.

 

— A que devo a visita dos dois? Principalmente a sua, Shun. A última vez que o vi estava mais baixo.

 

— Realmente, já tem bastante tempo que não nos víamos pessoalmente, apesar do contato remoto — era difícil se manter relaxado em meio de uma figura tão imponente quanto o deus à sua frente — Eu cresci um pouco sim, cinco centímetros só.

 

— É notável, mas creio que não seja o assunto que os trouxeram até aqui — sentou-se em seu trono — Falem, por favor.

 

— Gostaria de dizer que Shun está pronto, senhor. Concluímos nosso treinamento.

 

— Para que Minos dizer isso, significa que já está mesmo preparado para a próxima missão que tenho em mente, mas antes tenho um pequeno teste para realizar contigo, Shun. Minos, está liberado de seus serviços por hoje. 

 

— Certo, Senhor Hades — o reverenciou — Até logo, Shun. E não se esqueça sobre o que conversamos hoje, por favor.

 

— Eu não esqueci. Obrigado.

 

— Nós vamos até o castelo na superfície. Seu teste será lá — usou seus poderes para se transportar imediatamente para  lá — Minos sabe que fisicamente e cosmicamente está apto para realizar inúmeros feitos. A nossa questão atual é referente a origem.

 

— Origem? Que origem? — perguntou confuso.

 

— A sua história de vida, meu jovem. Estava destinado a ser o meu receptáculo desde a sua concepção, assim como também estava em seu destino ser um cavaleiro de Athena. Por algum tempo senti que fui responsável por transformar seu destino, mas, na verdade, fui apenas um meio de concretizá-lo.

 

— Eu não estou entendendo mais nada. O que o senhor quer dizer?

 

— Eu consultei um oráculo. Não posso dar mais informações sobre. Apenas devo assegurar que se desenvolva mais o seu potencial ao meu lado para cumprir com seu destino — caminharam até chegarem a uma espécie de masmorra. Hades viu o olhar receoso do mais novo e continuou a falar: — Vai ficar tudo bem. Só preciso fazer este teste longe dos olhares curiosos do Submundo. Antes, tenho uma pergunta.

 

— Estou ouvindo.

 

— Além do Cavaleiro de Fênix, teve algum contato com alguém do exército de Athena enquanto esteve no mundo humano?

 

— Não, senhor. Apenas com o meu irmão.

 

— Sente falta de sua antiga vida?

 

— Das pessoas.

 

— Sei que Minos o treinou para que fortalecesse a mente, ainda mais contra tipos de ataques mentais. Sei o quanto acha a ideia de ler a mente invasiva, mas precisarei testá-la por mim mesmo. Sua provação é se mostrar vulnerável à mim mais uma vez.

 

— Certo — o jovem engoliu a seco. Não tinha nada a esconder do Deus dos Mortos, mas ainda sentia medo de ter sua cabeça revirada por ele — Como quiser — prendeu-se às correntes da masmorra e Hades terminou de atar o rapaz à parede.

 

— Tentarei ser mais cuidadoso do que fui durante a guerra santa.

 

— Eu agradeço por isso — disse um pouco menos apreensivo.

 

Somente por ter se colocado à disposição da vontade de Hades, Shun já passou pela sua provação, mas o imperador desejava estar dentro daquela mente novamente. Assim continuou o que iniciara. Explorava o máximo que conseguia com cuidado e observava o interior puro e levemente melancólico de seu subordinado. Teve a certeza do jovem ser incorruptível e verdadeiro em tudo o que sente e diz. Ainda carrega o respeito e carinho à Athena e seus antigos companheiros, ao mesmo tempo que conseguiu algumas conexões verdadeiras em seu império.

 

— É um potencial tremendo para grandes feitos, mas necessita ser melhor lapidado — comentou ao sair da alma do rapaz desacordado — Um passo de cada vez, pequeno humano. Um passo de cada vez. Terá um novo papel, não definitivo, pois muito há de acontecer — começou a soltá-lo das amarras e limpou com um lenço o rosto levemente suado e o rastro de sangue que saiu do nariz de Shun — Além disso, uma grande tormenta o aguarda, mas tenho certeza de que dará conta das pequenas tempestades que aparecerão junto de seu novo papel.


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Notas finais do capítulo

O que será que Hades está sabendo? Palpites sobre o que ele vai aprontar?
Até o próximo capítulo!



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