Penumbra escrita por Dafne Guedes


Capítulo 1
Introdução


Notas iniciais do capítulo

Para quem quer saber o que estava ocorrendo em Hogwarts enquanto Grace vivia sua vida, Harry procurava suas horcruxes, aqui vai:Olívia Weasley.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807739/chapter/1

 

 

Ela havia ouvido falar o suficiente de Hogwarts para não ficar surpresa com o quão separatista podia ser. Tudo havia começado no Expresso de Hogwarts; Olívia era nova na escola, mas não nova o suficiente para se sentar junto com os primeiranistas. Sua prima, apesar das recomendações da mãe, não a havia convidado para sentar-se na cabine com ela e seus amigos; então Olívia e seu gato estavam por sua própria conta.

                O expresso de Hogwarts era barulhento e cheio. Era hora do almoço; e Olívia ainda não havia achado uma cabine para si. Em Ilvermorny, eles iam para a escola através de Pó de Flú, e, mesmo que não fosse, lá ela tinha seus próprios amigos que dividiriam a cabine com ela. Na Inglaterra ela tinha apenas seu gato de consolo, Pukwudgie, que sua tia materna, que estava doente demais para cuidar dela na América, a havia dado de presente de despedida. Era um conforto vago.

                Ela se sentia fazendo o caminho contrário do resto do mundo. Os ingleses estavam saindo aos montes de seu país, para fugir da guerra, e sua tia a mandara para o olho do furacão. Parecia não acreditar na grandiosidade dela; no quanto era perigosa e maligna, mas, mesmo ali, entre pessoas jovens, ela conseguia sentir a perversidade no estranho ar gelado de setembro. Uma desesperança palpável entre seus colegas. Olhares furtivos, cochichos baixos demais para que ela os ouvisse.

                Nos primeiros dez minutos de viagem, um grupo de adolescentes, apenas um pouco mais novos que ela, deram olhares para dentro de sua cabine, procurando lugares vagos. Como estavam num grupo de seis (lotação máxima da cabine) não ficaram com ela, mas Olívia percebeu que logo um grupo menor (talvez de primeiranistas excitados e barulhentos) logo invadiria seu espaço.

                Tensa, Olívia passou os dedos pelo tecido vermelho grosseiro do assento. O tecido tinha bolinhas do longo uso, e partes duras como se algo viscoso houvesse sido derramado, depois secado ali. Olívia gostava da textura de coisas macias, como linho, algodão, seda, tule, veludo e organza. Ela havia transformado, para a ocasião de seu primeiro dia de aula, um lírio rosa-chá da casa de sua tia-avó Muriel, onde ela estava ficando até as aulas começarem, em tecido de linho laranja, que ela costurara e costurara até que se tornasse um adorável vestido de verão. Agora, achava que a veste em nada combinava com seu humor sombrio, ou com as pesadas nuvens de chuva.

                Finalmente, seus temores se confirmaram. A viagem já estava durando uns bons trinta minutos quando duas garotas de cabelos escuros colocaram o rosto na porta de seu compartimento, procurando um lugar para se alocarem na viagem. Olívia as encarou de volta um segundo, então virou a cabeça para a janela, onde algumas gotas de chuva escorriam, distorcendo a paisagem verdejante de montes do lado de fora. Em Ilvermorny, a montanha onde ficava a escola era cercada por floresta temperada; árvores altas e animais –e tinha muita cor. Folhas alaranjadas, flores roxas e amarelas. Aqui tudo era verde, como um planeta alienígena.

                Ela ouviu mais do que viu as duas meninas entrarem na cabine e ficarem a dois assentos de distância dela, sentadas de frente uma para a outra, conversando baixo. Olívia queria se virar e se apresentar; não costumava ser tão tímida na America, mas algo sobre a recepção fria que tivera tanto de sua tia-avó, que não gostava de crianças, quanto de sua prima, que não mostrou nenhum interesse em conhece-la, Olívia estava insegura sobre a recepção britânica.

                Olívia começou um sonho acordado onde ela pegava uma chave de portal de volta para a América e fazia uma surpresa para sua tia. As aulas em Ilvermorny haviam começado desde agosto, mas não seria um problema acompanhar a sua turma, com ajuda de suas amigas, especialmente. Sua tia devia ficar chateada, e não se apiedaria quando Olívia descrevesse o martírio que havia sido seus quinze dias desde que chegara ali. Mirtyle diria que ela nem dera uma chance à Inglaterra, que era a terra de seu pai.

                Mas seu pai era o que as pessoas chamavam de um “solteiro convicto”, ou seja, um canalha, que engravidara sua mãe em uma viagem à América e depois só aparecia duas vezes no ano para uma visita. Olívia não queria ser britânica, nem meio britânica, se era assim que se comportavam os homens ali. Agora, é claro, segundo sua tia, não adiantava guardar rancor, porque ele vira um sinistro uma tarde e morrera no dia seguinte.

                A levou um segundo para notar que suas colegas de compartimento estavam em absoluto silêncio e, curiosa, Olívia virou-se para encará-las, e notou que estava sendo encarada de volta.

                As duas meninas tinham cores semelhantes; olhos claros, cabelos escuros, peles pálidas, mas não eram de fato parecidas. Uma delas era pequena, mignon ou petite, de peitos pequenos e quadris estreitos, e a outra tinha uma cintura fina e peitos que se apertavam na parte da frente de seu vestido, querendo pular para fora, o que não parecia incomodá-la pelo modo que suas costas retas se portavam.

                A mais magra delas se inclinou ligeiramente para frente, seus olhos inteligentes no rosto de Olívia.

—Qual o seu nome? Você se parece muito com uma garota que conhecemos. –Disse ela, finalmente. –Gina Weasley, sabe quem é?

                Olívia se perguntou se elas seriam amigas, mas, do que brevemente conhecera de Gina, não achava que eram. Gina tinha jeito de moleca, embora de um modo provocador que os garotos provavelmente gostavam, mas que deixava as meninas irritadas. Aquelas duas tinham ares femininos e exuberantes, Olívia sabia dizer pelo forte cheiro de perfume feminino que entrara com elas na cabine; elegante, floral, intenso.

—Gina é minha prima. –Olívia respondeu. –Eu sou Olívia.

                A garota se inclinou novamente para trás, um sorriso no canto dos lábios.

—Você é americana. –Notou. Então virou os olhos para a outra. –Eu disse que era uma Weasley. Todos os ruivos em Hogwarts são.

                A garota dos grandes peitos revirou os olhos gatunos.

—Eu não sabia que existiam Weasleys na américa. –Disse ela, como se estivesse falando de um animal exótico que só existia em uma parte do mundo.

                Olívia sentiu suas bochechas ficando quentes.

—Somos uma espécie bem distribuída geograficamente. –Sorriu cínica para as duas.

                Ao invés de se ofenderem, porém, elas sorriram de volta, parecendo de fato terem gostado do que ouviram. A menina mais larga estendeu uma mão fina cheia de anéis para ela.

—Eu sou Guilhermina Peverell, mas pode me chamar de Mina. –Se apresentou. –E esta é Astória Greengrass. Então... o que você veio fazer na Inglaterra quando todo o mundo quer fugir daqui?

                Olívia não pôde deixar de pensar que era exatamente aquilo que ela pensara mais cedo –e um dos argumentos que ela usara com sua tia para ficar em Ilvermorny.

—Minha tia está doente e me mandou para morar com minha família inglesa. –Olívia resumiu, aceitando uma varinha de alcaçuz que Astória a ofereceu.

—Com os Weasley? –Ela perguntou. –Que estranho. Por que não senta com a Weaslette, então?

—A perdi na entrada. –A americana mentiu. –E não quis procura-la depois.

                A resposta mais verdadeira seria dizer que Gina a havia dado um perdido. Talvez nem intencionalmente; as duas garotas entraram juntas no trem, pois o tio, Arthur, a havia buscado com a tia-avó Muriel. A tia Molly dissera a Gina para enturmar Olívia, mas, assim que estavam no expresso, ela saiu andando em direção a uma garota loura e sumiu nas multidões no corredor.

—Você vai para a Grifinória, suponho? –Astória perguntou, olhando suas longas unhas pintadas de nude. –Pelo menos o uniforme vai combinar com seu cabelo.

—Achei que só sabíamos nossa casa depois do teste do chapéu. –Olívia observou, um pouco tensa, se perguntando se havia algo em seu rosto que dizia que ela iria para a Grifinória. Havia ouvido um pouco sobre as casas e, tendo sido uma Pukwudgie quando em Ilvermorny, a casa que representava o coração de um bruxo, vinha desejando ir para a Lufa-Lufa.

—Em alguns casos membros de uma mesma família vão sempre para a mesma casa. –Astória explicou. –Os Greengrass são sonserinos há anos. Meus pais foram sonserinos, e minha irmã e irmão também foram, assim como nossos avós.

                Olívia lembrou-se brevemente de ter sido avisada para que ficasse longe de sonserinos, “especialmente naqueles tempos” segundo sua tia-avó. Lembrou-se também da impressão separatista que tinha de Hogwarts, de como os grupos pareciam ser definidos pelas cores em seus uniformes.

—Os Peverell não. –Mina interviu, jogando as pernas para cima do assento que ela ocupava sozinha, enquanto Astória e Olívia dividiam o outro. –Quero dizer, somos o último galho restante dos Peverell, mas é uma árvore colorida. Meu pai era sonserino, minha mãe lufana. Eu sou corvina. –Então ela parou e pensou. –Mas é verdade. Algumas famílias vão sempre para a mesma casa. Como os Weasley. Todos os Weasley são grifinórios, há séculos.

—Ah, isso é. –Astória concordou. –Genético como ser ruivo. Você deve ir também, mesmo que seja americana. Ilvermorny também é dividida em casas, não é?

—É diferente. –Olívia explicou. –Cada casa é uma parte do bruxo: coração, espírito, mente e corpo.

—Eu seria corpo. –Mina sorriu maliciosamente. –É minha parte preferida de um bruxo.

—Não sei se funciona assim. –Astória revirou os olhos, mas sorriu também.

                Mina fez um beicinho com seus lábios pintados de rosa.

—Astória seria coração. –Provocou, fazendo a outra garota ficar com as bochechas rosadas. –Você viu Draco já esse ano, depois do que ele fez?

—Ah, cale a boca. –Astória revirou os olhos e se voltou para Olívia, que observava a interação curiosamente, já se adaptando à dinâmica de provocação. –Qual era a sua casa?

—Pukwudgie. –Respondeu com orgulho. –É a casa do coração. Os Pukwudgie são ferozes e independentes, mas muito amorosos. Acho que parece com a Lufa-Lufa, afinal, o animal é o texugo. Espero ir para lá.

—Não vá. –Astória bufou. –Sonsos e bonzinhos demais, todos eles.

—Não são. –Mina interviu. –Gosto de muitos lufanos, como Rolf e Tamsin. –Ela se virou para Olívia. –Astória está apenas chateada porque o rapaz que ela gosta é apaixonado por uma lufana.

                Astória adquiriu um ar distante.

—Duvido que ela queira algo com ele depois do ano passado. –Disse sombriamente, e virou a cabeça para olhar o movimento do corredor.

                Olívia sentia que não devia perguntar, mas era dada a falar tudo que lhe vinha à cabeça.

—O que aconteceu ano passado?

                Astória lançou a Mina um olhar que dizia “vê o que fez?”, e de repente o ar na cabine ficou mais denso e pesado, difícil de respirar. Mina não pareceu sentir; ela parecia uma daquelas pessoas muito confiantes para deixar de falar em tabus.

—Você deve saber que no final do último ano letivo a escola foi invadida e nosso diretor, morto? –Olívia fez que “sim” com a cabeça, embora houvesse ouvido falar sobre o assunto apenas superficialmente. –Bem, esse garoto estava envolvido na confusão. Ele é um Comensal da Morte na verdade.

                Ocorreu a Olívia que talvez sua tia-avó tivesse alguma razão no que dissera sobre os sonserinos. Não podia conceber a ideia de estar apaixonada por alguém que se envolvia em assassinatos e grupos extremistas intolerantes. Mas daí talvez a própria Astória fosse uma extremista intolerante, embora não o tivesse parecido até agora. Mina também parecia muito natural sobre o assunto todo.

—Ele não queria, você o viu durante todo o ano passado. Assustado pelos cantos do salão comunal. –Astória defendeu, parecendo amuada. –A namoradinha dele é nascida-trouxa, afinal.

                Olívia não via o que uma coisa tinha, tão diretamente, a ver com a outra, mas não queria insistir no assunto. Por outro lado, Mina não parecia conhecer limites.

—Eles não estão mais juntos, não é? –Apontou. Então olhou para Olívia e pareceu se lembrar de algo. –Na verdade, ela é namorada do seu primo, Fred Weasley, agora.

—Ah. –Olívia ficou surpresa por saber de quem eles estavam falando. Vai ver era essa a vantagem de ser uma Weasley; conhecer pessoas. –Grace.

—Não fale esse nome em voz alta! –Exclamou Mina, mas então lançou um olhar jocoso a uma Astória cada vez mais amuada, e Olívia entendeu que era uma brincadeira.

—Ah, cale a boca! –Foi a única resposta da sonserina.

                Durante todo o resto da viagem, Olívia ouviu sobre o castelo, sobre a comida, sobre os lugares, as aulas e os professores. As duas garotas pintaram um quadro mágico que parecia menos sombrio do que aquele que ela pintara para si em sua mente. A Hogwarts delas tinha meninos bonitos, suco de abóbora (que elas juraram ser melhor do que parecia) e aulas puxadas, porém satisfatórias.

                Quando a noite caiu e elas estavam perto o suficiente, as meninas apontaram o exato momento em que o castelo aparecia entre duas colinas ao longe, com as torres iluminadas; e Olívia pensou que talvez não tivesse que fugir para a América.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sei que geralmente coloco uma citação ou letra de música no começo do capítulo, mas vou ficar devendo nessa história; escrevi sem ouvir nada =(



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Penumbra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.