As Crônicas de Aethel: O Livro dos Magos escrita por Aldemir94


Capítulo 7
O Misterioso Tristan e a Chegada de Merlin




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A flecha foi disparada com a precisão de um sniper a serviço do Mossad, forçando Aethel a empurrar Mabel para sua esquerda, no intuito de protegê-la; dois segundos e tudo estaria acabado.

De repente uma surpresa…

A flecha caiu após acertar uma maçã.

Björn ficou sem reação; quem ou o quê teria arruinado aquela oportunidade perfeita? Já não importava mais; tudo estava perdido, então o elfo sombrio precisava abandonar os arbustos que tão bem lhe serviram para se ocultar e avançou contra Aethel, determinado a matá-lo.

Qual a razão daquele desejo tão sinistro? Talvez nem Björn pudesse responder a essa questão, apenas sabia que o discípulo de Merlin era uma ameaça a seu mestre, aquele que poderia restaurar a ordem e por fim ao caos.

Mabel fitou os olhos daquele elfo e notou algo que não percebeu quando o conheceu, poucos dias antes; uma profunda tristeza.

A garota abaixou os olhos, sentindo que devia prestar algum respeito àquele olhar desolado, ainda que pertencesse a alguém que lhe ameaçava a vida e quase matara seu amado irmão, Dipper.

Björn se deteve por um momento, tentando colocar a mente no lugar, em seguida, sacou duas pequenas adagas, cada uma de cerca de 12 ou 13 cm, das próprias mangas e avançou contra Aethel; as esperanças de Merlin precisavam morrer ali, com o aluno do grande mago.

Aethel avançou contra o elfo, estendeu o braço esquerdo e lhe aplicou uma palma forte no centro do tórax, deixando o elfo sem ar.

Como um bom observador, estava claro para o rapaz que Björn não estava preparado para um combate e, provavelmente, não dominava muito bem suas lâminas.

Se ajoelhando devido a dor, Björn tentou um ataque rápido a partir de baixo, o que foi evitado por Aethel no último segundo sem, no entanto, evitar um corte na bela camisa preta que Luna lhe presenteara.

A fada tentou jogar alguns pedaços de grama no rosto do elfo, mas esse afastou-a com um tapa forte, que a deixou caída ao chão.

A seguir, Björn encheu suas adagas com uma estranha energia roxa e aplicou um corte em “X” que teria separado o braço direito de Aethel do corpo, caso Mabel não o puxasse para trás com velocidade.

As lâminas, outrora pequenas, agora pareciam espadas de quase 40 cm! Tudo graças a estranha magia sombria que se estendia pelo metal, como se fosse parte das lâminas.

Neste momento, Aethel correu em direção ao inimigo, curvou-se rápido por entre as flores, desviou de uma estocada direta aplicada pela lâmina direita de Björn. Logo a seguir, atirou um torrão de terra no rosto do adversário, cegando-o, para, em seguida, agarrar seu braço esquerdo, puxando-o para baixo e pulando para suas costas; o jogo acabou…

Segurando os braços de Björn pelas costas com força, o rapaz obrigou o elfo a largar suas adagas e permanecer ajoelhado.

A expressão de ódio no elfo era insana, ao que Aethel começou a interrogar seu prisioneiro:

—Se não quiser perder os braços, sugiro que responda minhas perguntas sem gracinhas. Quem realmente é você?! Quem te mandou e porquê está atrás de nós?!

—Devo acreditar que um “pupilo do mago” cometeria ato tão bárbaro e incivilizado? Até onde me lembro, esta é uma Era imunda, mas os mortais ainda fazem suas leis… será que neste Estado você não seria executado por essa violência? Hahaha.

—Silêncio! Mais uma insolência como essa e corre o risco de não respirar mais! Acha que tem algum direito de me dar lições de moral? É a segunda vez que quase mata essa garota, seu bárbaro! – disse Aethel.

—Bárbaro? Está equivocado, “aluno do mago”, você está sendo enganado e ainda não percebeu. Existe um selvagem perigoso, mas o meu senhor, aquele que porta a verdadeira razão, abriu meus olhos para as obras… as obras do engano promovidas por Merlin.

—Seria melhor ter dirigido sua língua sibilina contra mim, agora vai lamentar por ter ofendido o senhor Merlin; você não sairá daqui vivo, eu garanto.

—Hahaha, você vê Merlin como um sábio e visionário… mas não entende o quanto ele está errado. Meu mestre lhe mostrará… - de repente, o elfo fez um clamor - Meu senhor Gael, príncipe das sombras e emissário dos conhecimentos ocultos! Ajude seu servo caído, para que ele se levante e o sirva mais uma vez!

Neste momento, Aethel levantou o elfo pelos braços e o virou, encarando o inimigo nos olhos.

Mabel olhou nos olhos de cada um daqueles dois combatentes e começou a chorar, vendo a fúria e ódio em ambos.

Os olhos de Aethel eram de um castanho brilhante e transmitiam algo como justiça, nobreza e a fúria de um Moisés de Deus que acabava de ver seu povo negar um dos dez mandamentos, por outro lado, Björn passava com seu olhar o mais perfeito misto de tristeza, fúria, frustração e, estranhamente…

Esperança.

Mabel jamais vira olhos como os daqueles dois, mas não queria que aquilo continuasse, apenas desejava o conforto do lar e o retorno de toda aquela paz e gentileza que Aethel portava naquele bosque encantado em Eden-Ghalary.

Neste momento, o elfo foi coberto por uma névoa sombria e desapareceu sem deixar rastros.

Aethel se ajoelhou, cerrou o punho esquerdo e deu um soco forte no chão, furioso por ter se descuidado aquele ponto: agora, Björn estava livre e voltaria em breve, dessa vez preparado, para cumprir com os desígnios de seu mestre.

Mabel, ainda em lágrimas, abraçou o rapaz e pediu “por favor, Aethel, pare”, pois estava muito assustada.

O rapaz, próximo de perder a razão, fechou os olhos, respirou fundo e começou a falar:

—Deus… nossa, Mabel eu… me perdoe… eu sinto… sinto muito Mabel.

Ainda ajoelhado, Aethel abraçou Mabel carinhosamente, tentando acalmar a garota e, em seguida, se levantou e foi até Luna, mas essa já estava sendo cuidada por alguém, de igual altura a da fadinha.

O desconhecido vestia um traje formal azul, com botas pretas, abotoaduras douradas e um belo cinto com detalhes em ouro, com o que parecia ser uma rapieira presa a ele (do tamanho adequado para uma fada, naturalmente).

Seu colarinho era um pouco alto, mas lhe caia muito bem, como se fosse Napoleão em algum desfile militar.

Seus cabelos pareciam estar entre o castanho e o dourado (com certeza um efeito causado pelo pó mágico que rodeava sua figura) e suas asas eram parecidas com as de Luna.

Sua pele clara e corada parecia igual a da fadinha caída, mas seus olhos, azuis como o mar Caspio, eram cheios de confiança, romantismo e astúcia; Aethel entendeu imediatamente quem havia lançado aquela maçã na flecha.

Aproximando-se, abaixou para ficar mais próximo ao novo amigo e lhe saudou:

—Saudações, estranho. Agradeço por salvar minha vida e cuidar de minha querida Luna. Por favor, diga-nos a sua graça.

—Saudações, Aethel e Mabel. Minha graça é Tristan e fico feliz que tudo tenha acabado bem. Mas sugiro que sigamos para aquela tal “Cabana do Mistério”, pois mesmo sem aquele elfo, esta ainda é a floresta de Gravity Falls, lembram?

—Acho que tem razão – disse Mabel, enxugando as lágrimas. – esse lugar é perigoso, pode ser que os gnomos ou alguma outra esquisitice nos ataque.

Todos seguiram para a Cabana do Mistério mas, antes de entrar, Aethel pediu que Mabel lhe encontrasse depois no telhado, o que a garota prometeu fazer.

Entrando na residência, ouviram risadas vindas da sala, seguiram para lá e viram Stan, Ford, Wendy, Pacífica, Dipper, Arquimedes e um senhor de barba e bigode brancos, óculos, chapéu pontudo caído na ponta, um manto que chegava aos tornozelos (ambos, manto e chapéu, eram da cor azul celeste) e mangas largas.

Era um homem de pele clara, sobrancelhas grossas e sapatos azuis ao estilo medieval , embora as pontas de seus calçados fossem pequenas.

De modo geral, a distinta e simpática figura aparentava grande sabedoria e respeito: aquele senhor era Merlin.

Aethel ficou feliz em rever seu mentor e amigo, ao que Merlin abraçou seu discípulo como o pai que acabava de ver o filho chegar da escola:

—Fico feliz que tenham chegado, estávamos ansiosos pelo seu retorno, mas… o que houve com a camisa, meu jovem? – perguntou Merlin.

—Fomos atacados pelo elfo sombrio, mas eu lhe ensinei a se portar na presença de uma dama. – disse Aethel.

Todos olharam para Aethel, preocupados, mas o rapaz fez pouco caso da situação e apresentou a todos Tristan, aproveitando para contar sobre como o pequenino lhe salvara a vida.

Merlin pediu que os jovens, Mabel, Aethel e Luna, descansassem, pois tinha importantes considerações a fazer, mas decidiu ser mais imediato, quando seu pupilo mencionou que o elfo nomeara seu mestre como Gael.

Acomodados na sala em almofadas improvisadas (pois não havia assentos suficientes para todos), o mago começou a contar sobre Gael e a estranha relíquia que Stan havia roubado de madame Min:

—Foi a muito tempo, antes de Arthur e seus cavaleiros formarem a Távola Redonda e trazerem paz a Inglaterra. Naquela época, Vortigern, o rei, governava o país com mão de ferro, oprimindo os camponeses e atacando aldeias rebeldes. Era uma época de violência extrema e caos generalizado.

 -O senhor, madame Min e Gael combateram a tirania de Vortigern, não é mesmo? Mabel e eu assistimos uma peça das fadas contando a lenda.

—Sim, jovem Aethel, nós três lutamos para trazer paz aquele reino, mas depois de Vortigern começaram a vir outros vilões e invasores que desejavam dominar a Inglaterra… as guerras pareciam não ter fim… então nó três nos juntamos para confeccionar um artefato poderoso que pudesse proteger nossa amada terra: criamos o “Coracor”.

—Espere um instante, está dizendo que esse treco que eu tenho no pescoço é algum tipo de mágica doida pra afastar ladrões? Quê raios de mandinga é essa, que eu não sabia?! – disse Stan.

—Senhor Stanley Pines, eu lhe asseguro que o artefato de madame Min que está em seu pescoço é totalmente seguro na forma em que se encontra, mesmo se você fosse algum golpista procurado por estelionato, roubo ou qualquer outra infração qualquer. – respondeu Merlin.

Stan ficou em silêncio, olhou para as pessoas na sala e tentou esconder a cara, envergonhado ao se lembrar de sua vasta ficha criminal.

—O importante é dizer que o Coracor funcionava como uma bateria de poder imenso, capaz de energizar uma grande metrópole, como New York ou Londres, por milhares de anos! Imaginem o que ele seria capaz de fazer a um ser-humano comum; buscamos criar um amuleto que ajudasse os justos e humildes a se defenderem dos invasores bárbaros, mas acabamos criando algo que traria ruína caso caíssem em mãos corruptas.

—Isso é incrível! Um objeto tão poderoso poderia criar tanto caos quanto o Bill! – disse Dipper, animado com uma possível aventura a caminho.

—Rapazinho, Bill Cipher possuía grande poder, mas nem ele possuía energia concentrada tão imensa. O Coracor… Tanto poder só pode ser comparado ao dos deuses: Anu, Zeus, Poseidon…– respondeu Merlin.

Aethel levantou em sobressalto:

—Björn atacou Dipper e Mabel porque os ligou a mim e ao senhor, mas porque ele estaria aqui, em Gravity Falls?! O mundo é imenso, mas ele estava procurando alguma coisa justamente aqui. Ele sabe… não, na verdade… Gael sabe onde está o fragmento. 

—Fragmento? Do que está falando, filho? – perguntou Stan.

—Stanley - começou Ford - o que você tem no pescoço é apenas parte do Coracor; não reparou que ele parece incompleto? Uma medição simples mostra que devem haver, ao menos, mais duas partes da peça completa e, considerando a energia que meu equipamento detectou apenas nesse pequeno colar, o senhor Merlin deve ter vindo aqui para impedir que esse pedaço de joia caia nas mãos de Gael.

—Brilhante, senhor Ford, está correto – respondeu Merlin– mas receio que Aethel também tenha razão, um elfo sombrio nem deveria existir nesta Terra. Com certeza Gael sabe que vocês dois, Stan e Ford, possuem  o “fragmento da raposa.”

—Cara! Se o Stanford tem razão, então precisamos localizar os dois outros fragmentos o quanto antes! – disse Wendy Corduroy, pegando um machado atrás do sofá.

—Acalme-se Wendy, sem os outros fragmentos Gael não poderá fazer muita coisa, além do mais, Merlin deve ser mais poderoso que ele. – disse Aethel.

—Mas se esse velho, me desculpe, “distinto senhor” – disse Pacífica. – tem o poder para acabar com esse bruxo do mal, então não pode cuidar disso de uma vez?

—Não, minha jovem. Gael se oculta nas sombras, Merlin e eu o temos procurado há séculos. – disse Arquimedes.

—Ford, o piu-piu tá falando de novo. Isso é perturbador. – disse Stan, com expressão de medo.

—Como é? “Piu-Piu”?! Mas que insulto! Vou lhe dar um livro de boas maneiras, seu grosseirão! – respondeu Arquimedes.

—Qual é, seu periquito empoleirado?! Não banque o sabichão comigo, ou vou anunciar a temporada de caça às corujas! – rugiu Stan.

—Olhe aqui, seu batedor de carteiras patético! Estou cansado das suas insolências! Me respeite, seu moleque! – gritou Arquimedes.

—Fale assim mais uma vez comigo, eu te desafio! Cadê meu rifle, Ford?! – vociferou Stan.

—BASTA! – gritou Pacífica Northwest.

Todos ficaram em silêncio, surpresos com a reação da garota, à exceção de Merlin, que começou a rir.

Pacífica segurou a mão de Dipper, timidamente, um pouco envergonhada por ter atraído tanta atenção daquela forma (pois é sabido que os Northwest apreciam atrair a atenção para si através de seu status, luxo e glória; nunca por acessos de fúria).

Aethel percebeu a reação de Pacífica e se lembrou de um antigo amigo que tivera na escola, antes de conhecer a Merlin; seu nome era Cornélio e era conhecido pela fé, paciência e autocontrole (embora o próprio Aethel não tivesse certeza se alguma vez pisara em uma escola).

Aethel costumava se distrair quando recordava de seu passado, mas naquele momento era preciso que ficasse atento ao que acontecia à sua volta, então Mabel lhe tocou nas costas, despertando o rapaz de sua viagem ao passado.

“Obrigado, Mabel”, disse o rapaz, então pediu que Merlin falasse mais dos fragmentos e da localização de todos, ao que o mago prosseguiu:

—Bem, continuando, Gael, Min e eu logo percebemos que o Coracor era poderoso demais para ficar perdido por aí, então o separamos em três partes e cada um ficou com uma delas: o corvo ficou com Gael, a raposa com Min e a coruja comigo. Continuando, Min se separou de nós e seguiu o caminho do mal, mas não era tola a ponto de se arriscar com um objeto que não era capaz de dominar, então apenas o guardou e, presumo, esqueceu-se dele. Infelizmente o de Gael está perdido (embora eu acredite que meu antigo amigo ainda o tenha guardado, em segurança) e, quanto ao meu… bem… não imagina onde ele está?

—Deus de Abraão!... Então o fragmento da coruja está mesmo aqui… em Gravity Falls!? Sabia que Gael estava atrás dele e que havia enviado Björn para buscá-l. Gael deveria saber onde Min guardara o fragmento da raposa, então guiou os Pines até a casa dela, depois os ajudou a chegar até aqui com ele, pois precisava garantir a segurança do fragmento da raposa! Por isso o senhor me enviou até aqui… para recuperá-lo. – disse Aethel.

—Isso mesmo, meu rapaz. Você precisa reunir as partes que faltam e formar o Coracor completo, antes de Gael faça isso primeiro e complete seu desejo final… – sentenciou Merlin.

—”Desejo final”? Ele vai tentar dominar o mundo? – perguntou Wendy.

—Bem, - começou Aethel - o mais provável é que, fortalecido pelo Coracor, ele erguerá seu exército de decaídos (afinal, precisará de um exército, como dito nas lendas) e invadirá Ghalary… o senado está enfraquecido e o exército disperso em inúmeras frentes de batalhas. Gael tomará o poder, destruirá Merlin, madame Min e o senado… depois conquistará o seu mundo, Mabel. Então será o fim. 

—Derrotamos Estatisticator e Bill Cipher! Não será um bruxo de 900 anos que vai destruir nosso mundo! – disse Dipper.

—Bill era… espere um instante, meu rapaz… Gael e eu temos idades próximas… quantos anos você acha que eu tenho? – perguntou Merlin.

—Todos! Nem um menos. – riu Arquimedes.

—Está cheio de suas gracinhas, não é mesmo, Arquimedes? Talvez deseje rir um pouco conosco… depois que eu o transformar em um HOMEM. – disse Merlin.

—”Homem”? Ah, não acredito! – duvidou a coruja.

—Farei! Deus sabe que sim – disse Merlin, tirando sua varinha mágica da manga. – quer ver?

—Nã-não, espere, está bem, está bem, vou dormir um pouco lá em cima. – disse a coruja, voando para o sótão.

—”Está bem”, hahaha, nunca me canso disso… a única ameaça que ele receia…– disse o mago.

—Merlin, então vou precisar de uma espada, Björn está ficando perigoso. Mabel e eu fomos atacados e eu estava desarmado. – disse Aethel.

—Não, meu rapaz, você não deve usar espadas, ainda não. – respondeu o mago.

Aethel não questionou a decisão do mestre; sabia que Merlin tinha suas razões.

O feiticeiro continuou, dizendo que o fragmento da coruja estava escondido no fundo do lago de Gravity Falls, mas que Aethel era o único que poderia pegar a peça, além dele próprio; tudo era uma forma de fazer Gael de bobo e mantê-lo longe da peça.

Stan queria perguntar sobre o que era Ghalary, exército de decaídos etc., mas Aethel pediu para se retirar, pois sentia-se cansado precisava se recompor para a busca de amanhã.

Tristan carregou Luna até o quarto do sótão e Mabel foi atrás deles, pois desejava ver Aethel, porém, quando ela chegou no quarto, logo percebeu que o rapaz estava no telhado (pois o quarto estava vazio).

Ela ouviu o rapaz do lado de fora e se aproximou; ele estava recostado, ofegante, fazendo uma oração, o que fez Mabel permanecer escondida, pois não desejava atrapalhar algo tão pessoal.

Ele estava agradecendo por voltar em segurança, com frases como “Tua mão, Senhor do Exércitos,  restitui o servo fiel a morada segura”, mas eram as palavras de perdão que mais chamaram a atenção da garota; ele lamentava ter perdido o controle contra Björn e deixado Mabel tão chocada, sentia que jamais deveria ter se descuidado daquela forma:

—(...)Senhor, me exaltei demais naquele momento, minha vantagem era baseada na raiva e descontrole de meu adversário, mas eu também perdi o controle… se Merlin estivesse ali, jamais teria permitido essa falha. Me perdoe, Deus, por minha ira… e por colocar a Mabel em perigo, ela não merecia passar por aquilo tudo; deveria ter sido um dia feliz para ela.

A garota ouvia tudo, em silêncio, seus olhos começaram a lacrimejar (ela tinha chorado muito ultimamente e estava se odiando por isso); nenhum garoto com quem ela já havia saído tinha mostrado tanta consideração por ela, como Aethel estava mostrando naquele momento.

A garota inclinou-se um pouco para vê-lo melhor, mas reparou que havia uma pequena mancha de sangue na ombreira esquerda da janela; o rapaz estava ferido.

Saindo pela janela e  aproximando-se do garoto, viu que seu braço direito estava com um corte médio, sangrando.

Aethel olhou a garota ao seu lado, pediu perdão por tê-la assustado tanto e lamentou por ter colocado a vida dela em risco:

—Me perdoe Mabel, eu me enganei. Acreditei que aquele lugar era seguro.

—Você está machucado! Vamos chamar ajuda.

—Não. Está tudo bem. É apenas um corte médio, nem vai deixar cicatriz.

—Quando isso aconteceu?

—Lembra-se quando o elfo estava ajoelhado e me atacou por baixo, fazendo um rasgo na minha camisa? Foi naquele momento… por isso avancei contra ele e tentei encerrar o embate rapidamente… precisava estancar o sangramento sem que você percebesse.

—Deixa eu, pelo menos, enrolar para você. – disse Mabel, pegando uma faixa de cabelo limpa e cobrindo o corte com ela.

Os dois se olharam, sorrindo.

—Porquê você se arriscou tanto? Você e o Dipper se arriscam demais. – disse Mabel.

—Dipper, por ser seu irmão… eu porque sou seu, como você disse? “Cavaleiro de Armadura Reluzente”? "Príncipe Encantado”? Ainda me confundo com essas coisas. Você é divertida Mabel, um pouco astuciosa e exótica, mas de forma, como vocês dizem… ah, sim, de forma “fofa”, não é isso?

—Hahaha, sim, fofa, nós, de Piedmont, dizemos isso sim.

— Na verdade eu me referia a vocês, as pessoas modernas.

Mabel sentou-se ao lado esquerdo de Aethel, temendo esbarrar no braço ferido, e ambos ficaram ali, vendo o pôr do Sol.

Enquanto isso, dentro do quarto, Tristan cuidava de Luna, que já estava se recuperando.

Ela olhou nos olhos azuis de seu médico, quando se deu conta da roupa que ele vestia:

—Você deve ser um cavaleiro de elite da rainha Clarion, não é?

—Não, senhorita Luna. Não tenho ligação alguma com Clarion ou com o “Bosque das Estações”. Sou apenas um cavaleiro solitário, nada mais.

—Porém.. se veste como um príncipe. – disse Luna.

—Zelo pela boa aparência, só isso.

—É bonito demais para não ser um príncipe.

—Desde quando a aparência é prova de status? - respondeu Tristan, com um sorriso.

—Então, quem é você? De onde vem, “príncipe que não é príncipe”?

—Sou Tristan, isso já deve ser suficiente.

Com um voo rápido, Tristan pegou um caderno que estava na mesinha de Aethel e o levou até Luna, lendo algumas páginas para entretê-la.

Ele lhe explicou que o acaso o guiara até aquele jardim, justamente quando o elfo havia se escondido nos arbustos.

“Presumi que estivesse caçando, mas olhei sua mira quando ele preparou o arco”, disse Tristan, que também contou que achara uma maçã (provavelmente de alguma árvore próxima) e então correu para bloquear o disparo da flecha usando a fruta.

“Você se machucou”, disse ele, “mas eu vou cuidar de você”, prosseguiu.

Sua figura era encantadora, mas havia algo nele que despertava certa desconfiança em Luna, talvez algum elemento não captado em sua história. No entanto, diante de seus belos olhos azuis, a fada concluiu que deveria ser apenas a típica insegurança que todos sentem quando conhecem pessoas estranhas.

Ele beijou a testa da fadinha e disse que, em breve, ela melhoraria, em seguida, piscou o olho direito para ela e voou em direção a janela, desejando falar com Aethel:

—Desculpe, querida Mabel, mas precisamos que Aethel se concentre na missão de manhã um pouco. – disse Tristan.

—Eu consigo te entender?! – disse Mabel.

—Não tenho ligação com as “fadas diferentes” de Gravity Falls, mas sei me comunicar com os humanos, está tudo bem. – respondeu Tristan.

—Diga Tristan, o que deseja falar comigo? – perguntou Aethel.

—Aethel, devemos buscar a peça de Merlin amanhã, pois não sabemos quando Gael atacará, porém, quero lhe mostrar algumas cavernas com códigos estranhos que encontrei a alguns dias.

—Desculpe, mas, seguir seu conselho e acompanhá-lo até um local estranho, demanda um grau de confiança que dificilmente um estranho conseguiria em um período tão curto de tempo.

—Eu compreendo. Sei que não se deve confiar no primeiro que se vê, independente de sua aparência. Talvez o garoto possa nos acompanhar, junto com aquele senhor de óculos, assim saberá que não tentarei nada.

—Muito bem. Seja como for, devo minha vida a você. – encerrou Aethel.

O Sol estava quase se pondo, para mergulhar Gravity Falls no breu.

Mabel recostou a cabeça no peito de Aethel, enquanto ele admirava a Lua, que brilhava cheia no céu, mas, pensando bem, talvez nem fosse época de Lua cheia, o que poderia sugerir que alguém, fosse Gael ou outro, estava influenciando as forças do universo para algo grande. Sim, havia algo de mágico naquele céu noturno, com sua Lua prateada e estrelas cintilantes.

Aethel abraçou Mabel e seus olhos se encontraram, como acontece nos contos de fadas, o que deixou ambos corados.

Era uma noite perfeita para sonhar…

Pois a Lua estava linda no céu.


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Notas finais do capítulo

Rapieira:
"Rapieira", ou também "roupeira" é uma espada longa e estreita. Se popularizou a partir do final do século XVI e início do XVII. Essa espada é, particularmente, adequada para estocadas profundas e letais.

Sniper:
Atirador que dispara contra seus inimigos enquanto se oculta deles. Geralmente a palavra se refere a militares que, ocultos por esconderijos ou proteções variadas, disparam a longas distâncias.

Mossad:
Fundado em 1949, o Mossad é o serviço secreto do Estado de Israel. Sua sede é em Tel Aviv, capital oficial do país.
São famosos pela eficiência, conhecimento, habilidade e por localizarem criminosos da segunda guerra mundial que, apesar das décadas, ainda se escondem.