“ You’re no good for me 

But baby I want you 

Do you think we’ll be in love?” 

Annabeth estava em algum lugar escuro. Parada no meio de um corredor longo, com paredes e teto desgastados. A decoração se assemelhava com os palácios vitorianos, mas o lugar claramente havia sido afetado pelo tempo.  

— Mas que porra... - A garota notou que não usava mais suas roupas habituais, mas sim um vestido vermelho sangue longo, com mangas compridas e uma fenda lateral. Tocou o tecido, sentindo o aveludado da peça. Respirou fundo, sentia o coração bater mais rápido do que o normal. Não sabia o que fazia naquela mansão abandonada, ou como havia chegado lá. Decidiu que não conseguiria sair dali se continuasse parada no corredor.  

Andando pelo local, conseguiu ver mais ainda da decoração. Pilares quebrados, esculturas cheias de lascas e quadros empoeirados. Em passos lentos acabou por achar um cômodo no fim do corredor. Não tinha porta, mas a entrada era bastante espaçosa. Mesmo com o escuro, conseguiu ver que se tratava de uma estufa, parecia ser o local mais bem conservado que vira desde que chegara. As paredes eram de vidro, o teto aberto. No centro, algumas das plantas se enroscavam umas nas outras, formando um arco. Annabeth se aproximou e tocou levemente uma das rosas que compunham o item. Desatenta, acabou por machucar o dedo em um dos espinhos da flor, arfou ao ver seu sangue escorrer pela mão.  

— O que você está fazendo aqui? - Uma voz grave soou nas suas costas. A garota se virou segurando a mão machucada com a outra, assustada. Um homem alto estava parado na entrada do lugar. Não conseguia ver seu rosto direito, mas a luz da lua iluminava suas roupas. As vestes eram antiquadas e pareciam gastas. Ele usava uma calça marrom desbotada e uma blusa estilo pirata, estava descalço.  

— P-perdão? - ela disse. O homem deu um passo à frente, revelando seu rosto. Os cabelos pretos batiam no maxilar marcado, bagunçados perfeitamente. - Percy? - O homem pareceu confuso ao ouvir o nome. Annabeth percebeu que ele tinha uma coisa diferente, além do comprimento dos cabelos. Os olhos, antes verdes, eram vermelhos. Ele a encarava ferozmente, como se houvesse ficado semanas sem comer e se deparasse com um banquete.  

— Quem é este em que falas? - Ele se aproximou mais, Annabeth sentiu o coração acelerar.  

— E-eu achei que fosse... Deixa pra lá. Onde estou? Quem é você? - O homem retirou uma mecha de cabelo de seu rosto, colocando-o atrás de sua orelha. Aproximou o rosto dela, respirando profundamente. A garota estremeceu.  

— Me chamo Pedward Cullen e você está em meu lar. 

— Pedward Cullen? 

— Meu nome fica lindo em seus lábios, querida. Você tem um cheiro delicioso, senti assim que chegou. - Ele delicadamente pegou sua mão machucada, limpando o sangue que a sujava com a mão e então o levou a boca.  

— O que está fazendo?! - Annabeth exasperou. O homem sorriu, os lábios agora vermelhos. 

— Seu gosto é ainda melhor do que imaginei. - Ele puxou-a pela cintura firmemente, colando seus corpos. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios - Seu coração está batendo tão forte, minha dama. Queira me perdoar se estou invadindo seu espaço, mas você está... Me enlouquecendo. - Pedward levou o rosto até a curva do pescoço dela, depositando um beijo demorado. - Você me permitiria? - Annabeth engoliu em seco. Estava assustada, mas não tinha coragem de recusar. Fechou os olhos e esticou o rosto, dado a ele o acesso. Conseguiu ouvi-lo rir baixo e logo suas presas estavam cravadas em sua pele. A loira arfou, esperando que a dor viesse.  

Ao invés disso sentiu algo semelhante a prazer, seu corpo respondeu positivamente, a impulsionando a prolongar o ato. Correu suas mãos pelos cabelos negros dele, o incentivando a ir mais profundamente. Quando já estava se sentindo fraca, ele parou. Annabeth sentiu a cabeça pesada, como se fosse desmaiar, mas ele a segurou com firmeza. Ele fez com que ela pendesse em seus braços, os cabelos loiros quase tocavam o chão. O homem sorria, o sangue escorrendo nas laterais de seus lábios.  

— Você é minha agora. - Sussurrou. E então ele a puxou para si com força. 

Annabeth pulou da cama do quarto de hóspedes. O coração batendo como costumava ficar quando sonhava que estava caindo. Estava com calor e a respiração ofegante. Passou as mãos pelas madeixas loiras, tentando recuperar a compostura. Havia sonhado com Percy Jackson pela primeira vez. 

Já fazia alguns minutos desde a última vez que Annabeth dissera uma palavra. Desde que cumprimentara seus amigos não conseguia tirar as imagens de seu sonho da cabeça. Todos conversavam animadamente no bar da cozinha, usando seus trajes de banho enquanto música alta tocava da caixinha de som. Silena, Piper, Will e Lee estavam auxiliando Thalia na produção de mais drinks e uns tira-gostos enquanto Luke, Léo, Nico, Charles e Jason tentavam acender a churrasqueira. Em algum momento Annabeth tinha conseguido roubar um dos morangos que seria usado em uma das bebidas, ela mordiscava a fruta, o olhar vidrado na janela que mostrava o lado de fora.  

O clima lá era certamente caótico. Charles e Luke brigavam com Léo por alguma coisa e gesticulavam muito enquanto falavam. Nico tentava, sem muito sucesso, acalmar as chamas altas que irrompiam do carvão. Olhando para o fogo, a mente da loira recorreu novamente ao sonho. Os olhos enfurecidos de Percy estavam cravados na sua mente, era a memória que mais se sobressaia entre as outras. Olhos cheios de fome, de desejo. Sentia o coração acelerar sempre que visualizava a imagem na cabeça.  

— Annabeth, você planeja terminar de comer esse morango esse ano, ainda? - A voz de Silena soou ao seu lado, tirando a garota de seus pensamentos. Ela piscou os olhos algumas vezes, tentando voltar a si. - Você está bem distraída hoje, Ein? Algo em mente?  

— Eu? Ah, não. Estou com sono, somente.  

— Com sono, é? Você foi última a acordar, loirinha. - Thalia disse num tom divertido, trocando olhares com Silena. - Ou será que tem alguém ocupando a sua mente? - Annabeth mexeu-se na cadeira, desconfortável. Notou que Lee observava discretamente o diálogo.  

— Ih gente, que história é essa? - Piper perguntou. 

— Não faço a menor ideia do que vocês estão falando, sinceramente.  

— Ah, vai Annie. A Silena e a Piper podem saber sobre aquele cara que você me contou, o do aplicativo. 

— Cara? - Silena disse, de olhos arregalados – Que cara Annabeth Chase?! - A loira já estava suando frio, pensando em como sairia daquela conversa.  

— Bom dia família, sou completamente incrível e trouxe donuts para todos. - Percy chegou na cozinha carregando uma caixa enorme com o nome da padaria mais próxima na parte de cima. Annabeth respirou fundo.  

— Graças aos deuses, achei que fosse morrer de fome – Thalia disse. Todos ali se serviram de um dos doces. Annabeth se apressou ao ocupar a boca com um.  

— Ah, porra. - A voz de Percy soou do seu lado. Quando a garota se virou, se deparou com uma cena torturante. O donut dele havia basicamente explodido e a geleia escorria no canto de seus lábios. Ele limpou com o dedo indicador e então o levou até a boca. E então olhou para Annabeth. 

— Por que está me olhando assim? - Ele tinha um sorrisinho sugestivo nos lábios e só então a garota se dera conta que o encarava. E de boca aberta. Fechou os olhos com força, limpando a garganta.  

— Estou com sono, muito sono. Ainda nem acordei. Morrendo de sono. - Deu uma mordida em seu donut para evitar falar. Percy sorriu ainda mais.  

— Que sono grande ein, loirinha? - Piper brincou.  

— Também achei, esse cara do aplicativo deve estar mesmo tirando seu sono. - Annabeth arregalou os olhos. Ao seu lado, Percy franziu as sobrancelhas por um milissegundo, um sorriso lateral discreto surgiu em seus lábios, mas não tirou os olhos de seu donut. Annabeth esfregou a testa como se estivesse estressada, o rosto completamente vermelho.  

— Eu odeio vocês, muito.  

— Ih, Anna. Até parece que alguém aqui nunca usou esses aplicativos.  

— É verdade, nada de errado em querer se divertir um pouco. - Percy se pronunciou, os olhos cravados na loira. A garota não o olhou, o que pareceu diverti-lo.  

— É mesmo, nem tive tempo de apresentar vocês ainda. Percy, minha melhor amiga Annabeth Chase. Annabeth, meu primo Percy. - Thalia disse. O garoto apoiou o que restava do donut de volta na caixa e limpou as mãos com um guardanapo, estendendo a esquerda na direção da garota logo em seguida. 

— Muito prazer, Annabeth Chase. - A loira apertou a mão dele, hesitante.  

— Prazer – disse simplesmente. Ele sorriu e voltou a atenção para o doce.  

— Pelo amor dos deuses, não aguento mais essa guerra. - Nico apareceu na cozinha, ele estava suado e cheirava a fumaça. - Thalia, Luke disse que seu pai tem uma churrasqueira elétrica, podemos usar? 

— Pode sim, mas acho que tá lá na dispensa do porão.  

— Eu posso ir lá buscar! - Annabeth ofereceu-se, levantando-se da cadeira com animação. Estava ansiosa para se afastar da conversa. 

— Acho que você não consegue com ela Annie, é bem pesada. 

— Ah, eu posso ir buscar com ela – Lee se pronunciou, pela primeira vez. Ele sorriu para a loira, que retribuiu. A atenção de Percy se perdeu entre os dois, os olhos levemente semicerrados.  

— Eu conheço melhor a casa – disse por fim - Acharíamos mais rápido, vou com você. - Ele olhou para Lee, desafiador. O garoto pareceu confuso.  

— Percy, por favor. Socorro. - Jason apareceu ao lado de Nico. Estava sem camisa e ainda mais suado do que o outro garoto. Piper imediatamente desviou o olhar. - Nos ajude, o sofrimento não tem fim. - Todos olharam para a churrasqueira novamente. De alguma forma, o fogo tinha aumentado e mais uma vez, Léo parecia ter culpa no cartório, pois Luke e Charles pareciam ainda mais bravos.  

— Mas eu tenho que ir ajudar Annabeth. 

— Eu conheço a casa melhor que você, não tem problema, pode ir. - A loira disse. 

— Você não consegue trazer sozinha. - O garoto a respondeu. 

— Eu vou com ela, já disse. - Lee se pronunciou, atraindo a atenção de Percy para si. O loiro sorriu, o que fez o moreno fechar a cara. Ele andou até o lado de Annabeth, um sorriso amigável no rosto. - Vamos? - A loira não entendeu o porquê, mas Percy parecia ter mudado subitamente de humor.  

— Vamos sim, já voltamos, então. - O moreno a olhou, Annabeth sustentou o olhar por alguns segundo. Saiu com Lee sem dizer mais nada. Ela e o garoto pegaram a escada até o andar de baixo, andaram o corredor extenso até a entrada do porão. Apesar de estarem em silêncio durante todo o trajeto, a garota não se sentia desconfortável ao seu lado. Lee era quieto e sabia manter a distância, obviamente não iria forçar uma intimidade que eles não tinham. - É aqui, as escadas vão estar escuras então tome cuidado.  

— Tem mais escada?! O que diabos eles estão escondendo aqui embaixo? 

— Então, é que Zeus é meio maluco, aqui também é meio que um... Abrigo subterrâneo. 

— Oi?! 

— Eu sei, gente rica me assusta também. - Annabeth abriu a porta do porão e foi na frente, o garoto logo atrás. Quando já estavam na metade, a garota acabou tropeçando, mas Lee a segurou firmemente pela cintura. 

— Olha lá, e você dizendo pra eu tomar cuidado. - Apesar do escuro, a loira conseguiu ver o sorriso dele. - Está bem? Machucou o pé? - ele disse, ao soltá-la.  

— Não machuquei, estou bem. Obrigada, Lee.  

— Não precisa agradecer, é sempre um prazer salvar garotas lindas em perigo. - Annabeth deu uma risada leve. 

— Meu herói - brincou. Eles continuaram descendo as escadas. Quando finalmente chegaram no porão, Annabeth tateou o lado direito da parede em busca do interruptor. A luz acendeu quando ela o achou. O lugar era bastante espaçoso e surpreendentemente pouco empoeirado. Alguns beliches estavam no centro, enquanto nas laterais estavam prateleiras com mantimentos, artigos de saúde e algumas caixas com tranqueiras.   

— Nossa, acho que esse é o porão mais organizado que eu já vi. 

— Eu disse, abrigo subterrâneo e afins. Vamos procurar a churrasqueira, deve estar em alguma dessas caixas aqui. - Annabeth e Lee vasculharam as caixas de papelão. A garota encontrou todo tipo de coisa, troféus, roupas velhas, eletrodomésticos que já não funcionavam e brinquedos. Dera uma risada ao encontrar um elefante de pelúcia que pertencia a Thalia, ele estava sem um olho e bastante encardido. A morena costumava dormir com ele quando se conheceram, embora tentasse esconder isso.  

— Olha só, é você? - Lee disse, chamando sua atenção. Ele andou até ela com um livro, se tratava de um álbum de fotos. Ele apontava para uma imagem específica. Na foto, estavam ela e Thalia, vestidas com os trajes de batalha que tinham no acampamento que frequentavam quando crianças. Thalia sorria segurando seu arco, carregava uma aljava cheia de flechas nas costas. Annabeth tentava parecer séria enquanto empunhava suas adagas de plástico, mas havia falhado miseravelmente e estava completamente adorável.  

— Meus deuses, isso deve ter quase uns seis anos. - Ela disse quando ele se aproximou. Eles se sentaram no chão, cada um segurando um lado do álbum.  

— Você estava tentando parecer ameaçadora, era muito fofa! - Disse o garoto, entre risos. 

— Eu realmente era! - disse ela, também entre risos. - Tiramos essa foto no acampamento meio-sangue. É uma espécie de colônia de férias temática, tudo lá é inspirado em mitos gregos e afins. Você devia ver a cara das crianças quando contávamos o nome de nossos pais! 

— Ah, seu pai também tem um nome esquisito? Tipo Apolo? 

— Não, minha mãe, na verdade. Atena. - Annabeth o deu um sorriso amarelo, odiava mencionar a mãe em qualquer que fosse a situação.  

— Deusa da sabedoria, parece combinar com você. - O garoto disse – Mas se bem que com essa cara ameaçadora aqui poderia ser Ares.  

— Atena também é a deusa da estratégia, principalmente em guerras.  

— Então de fato combina com você, completamente assustadora. - Annabeth riu e folheou as páginas. Várias fotos das duas no acampamento estavam ali, cada uma delas fazia surgir uma memória nova na mente da garota. Uma em específico a fez parar de folhear. Thalia estava parada da esquerda, mais próxima da câmera. Ela olhava para o outro lado parecendo preocupada. Mas o que a chamou a atenção era a cena que a garota encarava. Annabeth estava correndo atrás de alguém com um olhar enfurecido, empunhando a adaga de brinquedo. A pessoa sendo perseguida era um garoto, o contorno dele estava levemente embaçado pelo movimento, mas ele estava claramente sorrindo. A loira franziu a testa, o garoto parecia familiar demais. Ela aproximou mais o rosto, tentando ver mais claramente. Ao seu lado, Lee fez a mesma coisa, parecendo estar confusa sobre o que ela procurava. 

— Hm-hm. - Alguém pigarreou atrás deles, os assustando. Os dois se afastaram instintivamente - Por acaso estou atrapalhando alguma coisa? - Percy estava parado na escada encostado na parede, os braços cruzados. Pesou o olhar em Annabeth por alguns segundos, mas logo perdeu a atenção em Lee. O garoto não pareceu abalado e sustentou o olhar.  

— O que está fazendo aqui? - Annabeth disse. 

— Vim ajudar, achei que os pombinhos haviam se perdido. - Disse com uma hostilidade inesperada. Annabeth segurou um riso. Percy Jackson estava... Com ciúme? A garota tentou lutar contra a vontade crescente de se aproveitar daquilo. Obviamente, falhou.  

— Não, estávamos apenas conversando. Lee na verdade é muito divertido. - Ao seu lado, o loiro sorriu. Annabeth quase sentiu culpa. Mas não estava mentindo, o garoto era de fato uma companhia leve e divertida. Percy sorriu, sarcástico.  

— Que ótimo. Acharam a churrasqueira? Caso não tenham esquecido que foi por isso que vieram aqui. 

— Eu achei, na verdade. Está naquela caixa ali atrás. - Lee disse. Percy acenou com a cabeça, o dando um sorriso desgostoso. Ele desceu os últimos degraus, andando até a caixa. Era certamente a mais empoeirada dali, provável que teriam que lavar bem aquela churrasqueira. O garoto levantou o objeto sem parecer ter muitos problemas e andou até eles. - Pronto, não há mais nada a ser feito aqui. Vamos? - Disse, seco. Annabeth estava achando cada vez mais difícil não rir. Estavam prestes a sair quando Lee parou subitamente. - Ah, olha só! Que bonitinha. - O garoto aproximou a mão de um buraco na parede, um pequeno inseto subiu em sua mão, andando por ela rapidamente. Annabeth sentiu a pressão cair e teria gritado se a garganta não tivesse se fechado completamente pelo horror. Lee se aproximou dela, a mostrando a pequena aranha. - Ué, você tem medo? Ela é pequenininha, olha. Não vai te fazer mal. - Ele fez menção de entregá-la o animal, o que fez Annabeth finalmente conseguir gritar. Ela se agachou no chão, as mãos protegendo a cabeça, os olhos cheios de lágrima, o corpo trêmulo.  

— O QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO? - Percy disse ao correr até eles. Ele olhou para o loiro claramente confuso e então para o animal em suas mãos. Automaticamente o garoto se ajoelhou ao lado de Annabeth, abraçando seus ombros. 

— E-eu só mostrei a aranha. Por que DIABOS você está gritando comigo? - Lee disse, assumindo uma pose defensiva.  

— ELA TEM FOBIA DE ARANHAS, SEU IMBECIL.   

— E COMO EU PODERIA POSSIVELMENTE SABER DISSO? 

— NÃO SEI, SUA AMEBA. TALVEZ O FATO DE QUE ELA ESTÁ ENCOLHIDA SEM CONSEGUIR PARAR DE CHORAR NO CHÃO SEJA UMA DICA? TIRA ESSA PORRA DAQUI. - Lee devolveu a aranha pro seu lugar e voltou até eles. Percy acariciava o cabelo da loira, tentando acalmá-la.  

— Annabeth, eu sinto... 

— Saia daqui. - Percy disse. A voz tão carregada de raiva que soou como um rugido. 

— Eu quero falar com ela. 

— SAIA, PORRA. - Lee tensionou o maxilar. Parecia tentado a falar mais alguma coisa, mas então deu uma última olhada para Annabeth e então subiu as escadas. Percy respirou fundo, a abraçando com mais força. A loira conseguia sentir o coração dele batendo forte no peito e por algum motivo, o som a acalmava. Em algum momento a garota já estava estável, mas não teve vontade de sair do aconchego, então apenas ficaram sentados no chão, abraçados. 

— Como você sabe que eu tenho fobia de aranhas? - Disse depois de um tempo. A voz saiu tão baixa que soou quase como um sussurro.  

— Você me disse no primeiro dia que nos falamos. 

— Na formatura? 

— Não, no segundo dia que nos falamos, então. No checkpoint. Eu estava te contando das minhas tatuagens e contei que tenho uma aranha no tornozelo. Você disse que eu teria que usar calça toda vez que fosse te ver. - Annabeth deu uma risadinha baixa. 

— Não acredito que você lembrou disso.  

— Claro que lembrei. - Percy disse, ainda afagava os cabelos dela.  

— Em qual lado? 

— Como? 

— Qual lado você tem a aranha? 

— Esquerdo.  

— Posso ver?  

— Você quer? Não vai tipo... Te dar um gatilho nem nada assim? - Ele disse, cauteloso.  

— É o que vamos descobrir.  

— Tem certeza?  

— Sim. Por favor me mostre o bicho peçonhento e horroroso que você tem tatuado.  

— Ei, não fale assim. Paguei dinheiro nisso. 

— Queimou seu dinheiro. - Percy deu uma risada baixa. Ele puxou um pouco a barra da calça que usava, revelando o desenho. Felizmente, Annabeth permaneceu calma. Era uma tatuagem minúscula, inofensiva. A loira estigou o braço até o tornozelo dele e o tocou, contornando a figura.  

— E então, assustadora? 

— Não... Achei até meio fofinha. - A garota o olhou. Ele sorria, parecia aliviado que nada tinha acontecido. Ela sorriu levemente, a cabeça ainda doendo um pouco e então se aproximou, o dando o mais doce dos beijos. Era um beijo tão diferente dos anteriores que haviam trocado que pareceu surpreendê-lo. Ele posicionou a mão em sua nuca, acariciando-a. Quando se separaram, o garoto sorriu admirado.  

— E a que devo tanta ternura?  

— Estou dizendo obrigada.  

— Pelo que?  

— Por lembrar. 

— Não é esforço, sabidinha. Eu que agradeço por me deixar conhecer você. - O garoto colocou uma madeixa de seus cabelos loiros atrás da orelha, acariciando seu rosto de leve. Annabeth sentiu o coração falhar uma batida. E então bater, tão forte quanto bateria se ela tivesse acabado de levar um susto.  

Soube ali, tão rápido quanto um piscar de olhos, que havia uma grande chance de que se apaixonaria por Percy Jackson. E na verdade, temia já estar no trajeto.  

— Mas pelos deuses, achei que vocês nunca voltariam com essa churrasqueira. - Thalia disse ao ver Percy e Annabeth adentrarem a sala. A loira deu uma olhada em volta do lugar. 

— Onde está Lee? 

— É, onde está aquele cabeça de piroc- 

— Percy! - Annabeth o repreendeu antes que ele pudesse terminar a palavra. 

— Estou aqui, Jackson. - O garoto disse, aparecendo ao lado da loira. - Você está bem? Me desculpe, não fazia ideia de que você tinha tanto medo assim. - Ele parecia realmente preocupado, as sobrancelhas estavam tão franzidas que quase se fundiam. 

— Estou bem, Percy me ajudou a me acalmar.  

— O que aconteceu? 

— Esse... - O moreno olhou para Annabeth, que levantou uma das sobrancelhas - ... garoto. Esse garoto resolveu que seria uma boa ideia pegar uma aranha e mostrar para ela. - Piper e Silena arfaram enquanto Will pareceu bem confuso sobre a situação.  

— Pelos deuses, Annie, você está bem? - Thalia disse se aproximando dela. A morena examinou cada canto dela, tentando procurar algo que estivesse errado. 

— Estou bem, como já disse, Percy me ajudou.  

— É mesmo? Nunca te encarei como o tipo cuidadoso – Thalia disse, uma sobrancelha arqueada para o primo.  

— Você se surpreenderia. - Ele piscou para ela e saiu, levando a churrasqueira para o lado de fora. Annabeth conseguiu ver os garotos comemorando a chegada dele.  

— Bem, de qualquer forma, estou indo. - Lee disse.  

— Ué, mas você já vai?  

— Sim, infelizmente tenho estágio daqui uma hora. Vejo vocês outro dia. Annabeth, mais uma vez, desculpa. Foi um prazer te conhecer, espero te ver mais vezes. - O garoto pegou a mão dela e depositou um beijo, a loira levantou as sobrancelhas, surpresa. - Will, você vem?  

— Não ia, mas não quero perder a carona. Vou só... me despedir dos outros – O garoto saiu da cozinha e foi ao lado de fora. Trocou algumas palavras com Nico e o deu um beijo na bochecha, o que pareceu desestabilizá-lo um pouco, todos na cozinha deram risadinhas observando a cena. Quando voltou Will tinha um rubor adorável nas bochechas. - Bem, vamos?  

— Vamos sim... Então tchau, pessoal.  

— Tchau gente, até a próxima! - Os meninos saíram, deixando apenas as garotas na cozinha. Quando a atenção da loira retornou para as amigas, se assustou ao notar que todas elas a encaravam.  

— Pelo amor dos deuses! Por que vocês estão todas me encarando assim? - disse, uma mão acima do peito.  

— Annabeth Chase, sua destruidora de corações, pode nos dizer o que está rolando com você, Percy e Lee? - Silena pressionou. O coração da loira acelerou, certamente estava passando por muitas emoções naquele dia.  

— Percy? - Thalia e Piper disseram em uníssono.  

— Sim? Vocês não podem dizer que não viram o jeito que ele esteve olhando pra ela nos últimos trinta minutos?  

— Você está viajando completamente, todas vocês estão. Literalmente conheci Lee a menos de vinte e quatro horas. 

— E Percy? - Thalia perguntou, uma sobrancelha arqueada.  

— A menos tempo ainda – mentiu - Estão vendo coisa onde não tem.  

— Talvez da sua parte, mas eles estão muito claramente a fim de você. 

— Pois eu não estou interessada em nenhum dos dois. - Mentiu novamente. 

— Annie qual é, Lee é adorável e Percy é absurdamente lindo. Você não tem nem uma pontinha de interesse? - Silena disse. 

— Silena? Gostaria de te lembrar que você é praticamente casada? - A loira rebateu. 

— Estou dando uma opinião técnica, nenhum deles chega aos pés do meu ursinho. - Todas deram uma risadinha.  

— De qualquer forma, fico feliz que você não esteja interessada em Percy – Thalia disse. Annabeth sentiu o coração bater no chão. Esperava que a amiga ficasse animada por ela estar possivelmente envolvida com o garoto, que fosse fazer piadas sobre como iriam se casar e a loira se tornasse oficialmente da família. 

— É mesmo? Porque ele é seu primo? - Perguntou, tentando parecer desinteressada. 

— Não, porque ele não presta – Thalia sorriu. Annabeth franziu as sobrancelhas, inspirando a morena a continuar falando – Eu sei, ele é meu primo e na verdade eu o adoro. Mas ele não é pra você - A morena finalizou, jogando uma das uvas em cima do balcão dentro da boca. Annabeth não gostou do rumo que aquela conversa estava tomando. Thalia provavelmente percebeu, porque voltou a falar – Loirinha, o que quero dizer é: ele não poderia te dar o que você quer, você não é de ficar brincando por aí. E é só o que ele sabe fazer. - Annabeth tensionou o maxilar. Em algum lugar de sua mente sabia que a amiga provavelmente estava certa, Thalia não mentiria para ela sobre algo assim. Sabia também que provavelmente estava se apaixonando por Percy e que se continuassem com o que estavam fazendo, ela não conseguiria sair tão fácil. Sabia de tudo isso, ainda assim...  

— Talvez eu seja de ficar brincando por aí agora – Disse, ríspida. Thalia pareceu confusa. 

— Annie, você é a pessoa mais romântica que eu conheço.  

— Talvez eu não seja mais. - Annabeth estava mentindo. Ela sabia que estava mentindo, Thalia provavelmente também sabia.  

— Anna, as histórias que eu já ouvi sobre ele. O que ele já fez com mil outras garotas... Ele não é o tipo de cara pra ser amado. Mas se você não tem interesse nele, por que está apertando tanto nessa tecla? - O sangue da loira gelou. Estava com tanta raiva que não pensou direito no que estava falando. Thalia agora suspeitava de algo, sendo sua melhor amiga. É claro, ela não perguntaria, mas ficaria de olho. Não importava, Annabeth tomaria cuidado. Não passaria dos limites, manteria sua distância com Percy. Afinal, era isso que tinham combinado. Esqueceria tudo sobre se apaixonar por ele.  

— Não estou, mas odeio que você fale de mim como uma idiota. Não somos mais crianças, Thalia. Eu sei o que eu faço. - A morena apertou os lábios, parecia magoada.  

— Okay, não falo mais disso – Disse por fim. O silêncio se instaurou na cozinha, Piper e Silena se entreolhavam nervosamente.  

— Falando no diabo... - Piper disse num tom mais baixo. Percy adentrara a sala assobiando despreocupadamente, andando até a geladeira. Tirou algumas peças de carne de lá, as colocando em cima do balcão. Quando se virou para as garotas, parou de assobiar. Todas elas o encavam em silêncio, seu rosto tranquilo se desmanchou em confusão.  

— Mas que clima é esse aqui?  

— Não é da sua conta, priminho. - Thalia disse. Ela andou até o armário e pegou o pacote de copos de plástico. Com a mão livre, pegou uma das jarras recém feitas de caipirinha e começou a se dirigir ao lado de fora. - Pois que comece a festa. - Todos a observaram sair da cozinha. Percy trocou um olhar com Annabeth, procurando respostas. Mas ela apenas sinalizou que ele ignorasse. O garoto deu de ombros e pegou os cortes que separara em cima do balcão, fazendo o mesmo trajeto que a prima em seguida. A loira suspirou e se serviu de um copo da caipirinha restante em cima do balcão, bebeu o líquido de uma vez, fazendo uma careta ao terminar. Piper e Silena a olhavam boquiabertas. 

— O que foi? Ela mesmo disse, que comece essa maldita festa. - A loira saiu com o copo e a jarra nas mãos. Colocou-os na mesa protegida do sol, onde Thalia havia colocado a outra. Conseguiu ver a morena conversando com Luke, parecia preocupada. Annabeth bufou, ainda mais irritada. Ela se serviu de mais um copo da bebida e o tomou rapidamente, sentindo o corpo esquentar. Não sabia se pela raiva ou pelo álcool. Piper e Silena se aproximaram com as outras jarras, as arrumando na mesa junto com as outras.  

— Annie, você sabe que Thalia não falou por mal. Ela só está preocupada com você. - A cabeça da loira já girava um pouco, o comentário só a deixou mais irritada. 

— Silena, eu te amo, não leve a mal o que eu vou dizer. Eu nunca tive mãe, mas não estou procurando por uma. Se você também quer uma filha Charles está bem ali. - Silena levantou as sobrancelhas, surpresa.  

— Sim senhora, não está mais aqui quem falou. - A garota retirou o short que estava usando, colocando-o em cima de uma cadeira. - Vamos entrar?  

— Vão vocês, vou passar no banheiro.  

— Okay, te esperamos então. - As garotas se despiram e entraram na piscina. Annabeth procurou Percy com o olhar, ele estava parado do outro lado da piscina, já a encarando. Ela sorriu e acenou discretamente com a cabeça para o lado de dentro. Ele acenou de volta. A loira andou até a dispensa no fim do corredor e se encostou na porta, o esperando. 

— E a que devo a honra? - Ele disse ao se aproximar. Annabeth suspirou, ele estava, como sempre, de morrer. Usava uma bermuda azul e somente isso, a loira umedeceu os lábios.  

— Você vai ver. - disse. Ela abriu a porta atrás de si e o puxou pela cintura da peça, ele a seguiu sem reclamar. A garota o encostou na parede da dispensa e fechou a porta atrás de sim, os deixando no escuro.  

— Annabeth Chase, como você é indecente. - A loira não conseguia ver, mas sabia que ele estava sorrindo. As mãos dele seguraram firmemente em sua cintura, a puxando para mais perto. A garota enlaçou os braços na nuca dele, selando seus lábios. Os dois se moviam em sincronia, como se houvessem combinado o que fazer. O garoto retirou o blusão que ela usava, a deixando vestindo apenas seu biquini. Ele a levantou do chão, enlaçando as pernas dela em sua cintura. Naquela posição a garota conseguia sentir o quanto ele a queria, estava deixando isso BEM claro. Ele separou seus lábios, depositando beijos e mordiscadas no pescoço da galera, Annabeth deixou escapar um gemido leve, ele arfou ao ouvir. O garoto afastou a alça de seu biquini, transitando suas carícias para lá.  

— Mas que porra? - A voz raivosa de Luke os assustou. O garoto estava parado na porta da dispensa completamente desacreditado. Percy colocou a loira no chão e os dois se afastaram, Annabeth arrumou a alça do biquini - Sério, Annabeth? - A loira revirou os olhos. 

— O que é, Luke? Nunca viu ninguém se beijando? 

— Thalia literalmente acabou de me contar a conversa, mas achei que você não seria tão ingênua assim de realmente ficar com ele.  

— Ouch? - Percy disse. 

— Sem ofensas, Percy. Mas você é uma puta. - O moreno deu de ombros, o que fez a garota rir- Annabeth, você sabe que ele não é o tipo de cara pra você - A loira deu uma risada baixa, sentia a raiva subindo pela garganta. 

— Mas meus deuses, o que há com vocês tentando me dizer o que eu faço ou deixo de fazer hoje? Por acaso eu estou cometendo homicídios? Deuses! Eu já disse a Thalia e vou dizer pra você agora, não sou filha de vocês, porra! Eu sei me cuidar, me deixe em paz! - Luke respirou fundo e a encarou por alguns segundos.  

— Tudo bem, te deixo em paz. Mas eu suponho que você vai contar pra Thalia sobre esse casinho?  

— Não, e você também não vai.  

— E por que exatamente não vou? 

— Porque ela vai fazer que nem você e encher a porra do meu saco! E porque eu também posso contar muitas coisas pra ela, Castellan. - Luke tensionou o maxilar, ele a olhava com um certo desgosto.  

— Certo, Annabeth. Espero que você saiba o que está fazendo. - Luke deu uma última olhada ameaçadora para Percy antes de sair, mas isso pareceu apenas diverti-lo. A loira bufou e encostou-se na parede, os braços cruzados. O moreno a olhou de cima abaixo, um sorriso malicioso em seus lábios. 

— Sabia que você fica muito gostosa com raiva? - Annabeth o olhou desacreditada, mas um sorriso surgiu em seus lábios.  

— Calado cabeça de algas. - O garoto deu uma risada.  

— Mas vem cá, qual é o lance ali? - A loira suspirou, a mão acariciando a testa. 

— Pra fazer o resumo eu era uma criança muito sensível com muitos problemas, Thalia e Luke tem esse senso de proteção comigo desde então. Eles acham que você é uma força do mal ou algo assim. - Percy deu uma risada leve. 

— Eles não estão exatamente errados, Sabidinha. Eu não sou exatamente flor que se cheire.  

— Mas é uma flor bem bonita. - O garoto sorriu maliciosamente. - Nós dissemos desde o início, Percy. Ninguém se apaixona, ninguém se envolve. Estamos nos divertindo, certo? - A loira se aproximou, as mãos deslizando sobre o peitoral do moreno.  

— Isso, nos divertindo.  

— Ótimo, então pare de falar e me beije. - Percy sorriu e a obedeceu sem demora.