Uma Era De Ordem E Honra escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 9
8. Em dias de sombras escuras, problemas são mais difíceis, então paciência, calma e ajuda.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807475/chapter/9

27|04|1759 Palácio de Hampton Court

Havia uma grande sombra de escuridão sobre os Tudor-Habsburg, uma sombra centenária de desastre, sofrimento, doenças e morte, e embora essa fosse uma sombra compartilhada por toda a humanidade em geral desde o começo dos tempos, para os Tudor-Habsburg ela parecia muito mais constante.

Desde o século 15 ela os perseguia com muita animosidade, fazendo com que essa família sempre soubesse seu gosto e nunca se esquecesse de sua presença.

A marquesa, como era de se esperar, não melhorou, muito pelo contrário, ela piorou. Isso causou uma grande ansiedade e preocupação em toda a família, fazendo com que fosse chamado um novo médico, mais jovem e moderno. E o que ele disse não foi a melhor notícia.

A marquesa tinha pneumonia, e essa notícia foi horrível, levou os Tudor-Habsburg ao ponto de esquecer o décimo oitavo aniversário de Alfred no dia dez, mas isso não era importante, sua mãe, a marquesa, era mais importante.

E no final, tudo isso os levou ao dia de hoje. Em uma das salas de estado, que iria se chamar agora de Sala Branca, no grande apartamento dos Tudor-Habsburg em Hampton Court, estavam dez lords britânicos e em sua frente estavam os príncipes e princesas da casa Tudor-Habsburgo.

Estavam todos eles com roupas pretas, e expressões eram sem alegria, embora ainda arrogantes. No meio deles, estavam Alfred e Elizabeth, sentados em duas cadeiras prateadas, que foram anteriormente usadas em Niedersieg, pelos antigos príncipes e suas consortes.

A sala havia sido modificada para se tornar algo mais formal e régio, como uma sala do trono. E nesse momento Alfred pela primeira vez se sentia como um príncipe imperial. Na verdade Alfred e Elizabeth estavam sentados lá como o príncipe e a princesa de Niedersieg, assim como também o marquês e a marquesa de Bristol. Os lords pareciam não entender bem o motivo de eles serem chamados, era melhor então Alfred explicar logo:

  — Honoráveis senhores, como bem sabem, a dez dias a marquesa Anne morreu, nos deixando para ocupar um trono incorruptível. Porém, por mais que seja uma alegria para minha pessoa saber que ela não mais sofre, é uma grande tristeza para mim saber que sou agora o marquês de Bristol, e que agora tenho muitas responsabilidades, dentre elas a de governar um principado. Desde a morte de meu augusto pai, a marquesa governou Niedersieg em meu lugar como regente, mas agora que ela se foi, esse lugar está vago.— Embora ela mesma fosse regente, com uma regência em Niedersieg.— Milordes, eu não tenho a idade para governar sozinho, nem tenho o conhecimento, e a habilidade. Posso ter na Inglaterra a idade de governar, mas não tenho em Niedersieg. Mas graças aos céus tenho os milordes, honoráveis nobres ingleses, com experiência e sabedoria, homens que foram escolhidos pela própria marquesa.— Embora George Danver, o 3° barão Hartford, não tenha sido escolhido por sua mãe, mas Alfred gostava dos Hartford.— Peço então que os milordes novamente venham em meu auxílio, e continuem a servir a minha pessoa como regentes, como era da vontade da marquesa.

Os lords em resposta se se curvaram e assentiram. Depois Alfred disse então para eles se dirigem a Sala Dourada, lá eles iriam ter sua primeira reunião. E acabou, pelo menos essa tortura, ainda faltava outras.

  — Alfred, mamãe não havia escolhido apenas nove lords? Por que então Lord Hartford também estava presente?— Alfred havia por um momento alimentado esperanças de que Anne não havia percebido.

Alfred iria ficar calado e nem mesmo responder ela, mas ele revirou os olhos. E isso foi o suficiente para abrir uma discussão.

  — Anne, não vamos dar importância para esses insignificante detalhes no momento.— O que Elizabeth fez? Henry riu atrás de Alfred. Elizabeth estava buscando uma briga, e pelos olhos de Anne, ela havia conseguido.— Alfred está tão cansado, todos estamos tão cansados, vamos deixar ele descansar, fazer as coisas como quer.

  — Você falou bem, querida Elizabeth, todos estamos muito cansados.— Anne se aproximou mais de Elizabeth, quase que perigosamente, Alfred achava.— Porque essa é a realidade, todos nós estamos cansados. Mas isso não significa mudar as coisas sem avisar.

  — Você está sendo desagradável, Anne.

Agora sim, os olhos de Anne ficaram maiores de raiva, e ela deu um passo para trás, se afastando. Mas que coisa era essa? Henry ria divertido com tudo isso, antes de se aproximar dele e falar por trás:

  — As gentis e boas são realmente as piores nas brigas, isso é tão emocionante, não?— Henry riu novamente. Alfred não estava de forma alguma emocionado. Sua vontade era simplesmente que sua mãe estivesse aqui para impedir isso.— Mas não são todos os que estão com essa mesma disposição para discussão, olhe Amélia, parece o próprio sono.

A mais jovem das princesas estava quase que dormindo em pé, inerte a tudo o que estava acontecendo. A marquesa estava brigando com a princesa mais velha, e o príncipe Henry estava rindo da situação. Alfred era marquês fazia pouco tempo, e as coisas já estavam desandando. O marquês suspirou forte.

  — Eu, desagradável? Você...

 — Já chega, Anne, e você também Elizabeth. Discussões tolas com os sentimentos a flor da pele são desnecessárias agora.— Anne desistiu de responder Elizabeth, imediatamente ela olhou para o irmão mais velho, todos eles na verdade. O comum era a mãe deles repreendendo, não ele. E Elizabeth se afastou para detrás dele.— Está na hora de descansar. Leve Amélia para o quarto dela, Henry.

  — Que agradável, novamente a mula de carga.— Era uma crítica disfarçada com um sorriso, mesmo assim Henry pegou Amélia no colo, a assustando.— Sou só eu, quem iria querer sequestrar um de nós?

  — Henry, uma dama deve ser carregada com graça e beleza. Você é o mais forte, mas se continuar assim realmente vai ser a mula de carga.— Anne falou sem mostrar qualquer vestígio da raiva de antes, logo se juntando aos irmãos.— Eu também irei para meus aposentos descansar, Alfred.

Ela nem mesmo olhou para trás. Mas Alfred sabia que Anne havia entendido e não iria ficar irritada. Ela poderia ser feroz e gritar muito quando tinha raiva, ou alguém a contrariava, mas Anne sabia perder, e sabia fazer com calma, frieza e elegância. Era bom ela ser assim. Agora que não havia mais ninguém na sala, Alfred suspirou aliviado.

Mas não, ele não estava sozinho, ao se virar ele percebeu Elizabeth, que estava de costas para ele. Ela parecia irritada com algo. Seria...

  — Alguma coisa incomoda você?— Alfred se aproximou de Elizabeth, colocando uma mão em seu ombro. Ela deu uma pequeno olhar na mão antes de balançar a cabeça.

 — Não é nada, Alfred. Talvez o cansaço.- Ela riu, mas Alfred ainda sentiu uma coisa ruim, sua voz não foi sincera. Talvez...

  — É o bebê? Você está sentindo algo? Uma dor?

Alfred tentou dessa vez tocar sua mão na barriga de Elizabeth, para ver se estava bem, mas foi nesse mesmo momento em que ela se virou para olhar para ele. Os olhos deles se encontraram, e os lábios vermelhos de Elizabeth estavam quase encostando nos dele. O olhar para os olhos, logo abaixaram aos lábios. Estavam tão perto, o doce aroma de rosas se misturava com o de lavanda, apenas mais um pouco e eles se beijavam. Por um momento, Alfred quase até fechou os olhos. 

  — Não... o bebê... ele não... não me incomoda. Me desculpe.— Alfred inclinou levemente a cabeça, as bochechas de Elizabeth ficaram vermelhas de vergonha e ela se afastou dele. Não! Alfred queria...— Perdão! Me desculpe, Alfred.

  — Mas, desculpar você pelo que?- Alfred estava confuso agora, ele olhava para Elizabeth com confusão. Ela corou mais ainda.

  — Eu...— Estranhamente o rosto de Elizabeth voltou a cor normal, mas agora não havia nem vergonha e nem sorriso, mas sim arrependimento.— Ah, Alfred! Eu causei uma confusão. Eu não deveria ter respondido a Anne, nem mesmo discutido. Não foi honroso de minha parte.

Era isso então. Alfred sorriu com essa revelação de Elizabeth. Ela não precisava ficar irritada com isso, não era um problema. Mesmo que não tenha ajudado a ele.

  — As vezes, quando estamos cheios de cansaço, é difícil segurar nossos sentimentos. Acontece, Elizabeth, eu não vou lhe repreender.— Elizabeth esboçou um sorriso contido. Alfred novamente se aproximou dela, e tocou seu delicado rosto, fazendo ela sorrir.— Agora vá descansar, quero você feliz. Apenas não faça novamente isso.

Elizabeth assentiu. Logo ela saiu da Sala Branca. Com um suspiro, Alfred se preparou ir ver os lords. Eles haviam se mostrado serem tão difíceis de lidar, e ele teria que aprender a lidar com eles, a chegar em um consenso. Se sua mãe estivesse aqui seria tão fácil.

*****

As damas de companhia de Anne, que serviam também a Elizabeth, acabaram de lhe despir de suas roupas e apenas sobrava em Elizabeth a chemise, e as damas foram dispensadas.

Era de certa forma refrescante não estar com roupas escuras de luto. Elas davam a qualquer pessoa um ar de tristeza e de morte, afinal eram quase sempre usadas apenas durante o luto. Mas para Elizabeth, estar sem elas já lhe dava mais ânimo e lhe ajudava a tirar de sua mente as preocupações que ela tinha agora como esposa do novo marquês.

Mas quando Elizabeth trocou sua chemise para sua camisola, ela se lembrou de sua outra preocupação. Sua barriga estava começando a ficar muito bem visível, logo ela não poderia mais esconder e iria iniciar seu isolamento mais cedo, Elizabeth não conseguia imaginar como Alfred iria fazer para explicar isso, nem como eles iriam agir quando a criança nascesse, eles não poderiam simplesmente dizer que nasceu com seis meses.

Mas isso era um problema para depois, Elizabeth tinha agora coisas mais urgentes a resolver, envolvendo o que aconteceu na Sala Branca. Não era em relação a discussão dela com Anne, foi algo tolo, e muito menos uma preocupação envolvendo os lords, isso não era coisa dela. A preocupação de Elizabeth era Alfred, sempre Alfred. Mas ela não poderia evitar, era difícil. Elizabeth simplesmente se preocupava.

Eles quase haviam se beijado hoje mais cedo, um sorriso aparecia nos olhos de Elizabeth ao pensar, falou pouco para ser um beijo. Alfred tocou seu rosto, a olhou gentil. Foram atos de afeto, mas que não faziam completamente a tarefa de tirar sua preocupação.

Ela foi até sua cama e deitou, ainda pensando. Mas ao mesmo tempo que ela pensava, o sono vinha tomando o seu corpo, logo Elizabeth dormia pacificamente. Mas um sono que não se mostrou pacífico por muito tempo. Havia um peso maior do seu lado, fazendo com que Elizabeth abrisse os olhos, e encontrasse Alfred também deitado a encarando.

Mas que coisa... estranha. Alfred também deve ter percebido isso porque ele ficou vermelho de vergonha. Elizabeth poderia ficar calada, esquecer, mas ela não fez isso:

  — Alfred, o que você está fazendo?— Ela falou tentando sentar na cama. Também começando a ficar vermelha.— E-eu não gosto que fiquem me encarando.

  — P-perdão! Não era meu objetivo... envergonhar você.— Mesmo assim envergonhou. Alfred seguiu ela sentando também, de repente essa cama ficou tão pequena.— Eu queria apenas guardar o seu sono.

  — Eu agradeço, mas me avise da próxima vez.— Elizabeth não conseguia olhar direto nos olhos dele, mas ela duvidava muito que um dia Alfred iria voltar a "guardar o sono" dela.— Como foi a reunião com os lords?

Alfred fez uma careta feia e voltou a deitar na cama, como se desejasse esquecer aquele momento anterior. Deve ter sido horrível.

  — Não foi uma reunião, mas sim uma competição de quem tinha mais voz, influência, e força. Acho que devo os batizar de o Conselho dos Gladiadores.

Elizabeth deu uma pequena risadinha, ao mesmo tempo que Alfred olhou para ela e balançou a cabeça, como se fosse uma inocente vítima de toda a situação. Isso a fez novamente rir, agora de verdade.

  — Foi assim tão ruim?

 — Ruim é até pouco para descrever... Foi um escândalo.— Elizabeth balançou a cabeça sem acreditar muito, mas ainda assim ela sorria.— Pois acredite.

  — Um escândalo foi que nós dois fizemos.

Alfred sorriu de deu uma curta risada. Mas nem Elizabeth achava isso engraçado, era doloroso até. Por que ela teve que falar isso? Por que ela não ficou calada? Elizabeth queria esconder seu rosto, mas não poderia. Sua reação foi olhar sorrindo fracamente para Alfred, que sorriu mostrando que não ficou ofendido.

  — Mas, eu gosto disso, sabia?— Alfred disse se aproximando mais do corpo de Elizabeth, quase que de forma automática.

  — Gosta do que exatamente?— Os olhos de Elizabeth estavam em Alfred, e na aproximação dele. Em sua cabeça, essa afirmação, essa aproximação e a pergunta, estavam todas relacionadas. Alfred olhou para ela e sorriu, um sorriso sincero e bonito.

  — Disso que estamos fazendo agora.— Agora, Elizabeth estava deitando ao lado de Alfred, sua cabeça quase encostava o seu peito.— Compartilhar os problemas, como foi o dia. Eu gosto disso. Não quero prender e guardar apenas para mim as coisas que acontecem. Mamãe fazia isso, e posso dizer que não foi bom.

 — Eu acho tão interessante como vocês falam de sua mãe de uma forma tão amorosa e saudosa, mas ao mesmo tempo são tão críticos e... repreensivos.— Elizabeth já havia percebido isso antes, entre os "mamãe não sabe compartilhar" e "ela é um exemplo honra e realeza". Alfred baixou o olhar.

  — Mamãe era um exemplo de como ser e como não ser. Ela foi perfeita em nos ensinar sobre nosso lugar, nosso status permanente, a amar esse lugar, nos ensinar que devemos também ter responsabilidade. Ao mesmo tempo que ela era arrogante, achava que poderia viver sem o apoio do povo e não gostava de compartilhar os problemas.

Alfred então se calou, talvez não houvesse mais o que falar. Mas era verdade, a marquesa Anne era arrogante, orgulhosa e distante, essas eram coisas que essencialmente não eram ruins, mas ela tinha tanto que as vezes era. Um pensamento surgiu então na cabeça de Elizabeth.

  — Será que é muito feio falar dos erros dela?— Olhando para Alfred, Elizabeth perguntou. Ele deu de ombros.

  — É o tipo de pergunta que não deve ser respondida.- Se ele dizia. Logo em seguida Alfred deu um grande bocejo, e se ajeitou melhor na cama.— Eu sei apenas que estou tão cansado.

  — Então descanse, eu vou estar aqui guardando o seu sono.— Ele sorriu para ela, e lentamente Alfred fechou os olhos.

Alfred teve um dia tão cansativo, eles todas tinha tido um dia cansativo, mas era Alfred que mais precisava descansar, passar de herdeiro a marquês não era fácil de lidar. Pelo menos havia acabado, a marquesa Anne já dormia em seu sono eterno ao lado do marido, o príncipe Frederik e dos pais, o marquês William e a marquesa Catherine.

Elizabeth não percebeu, e nem mesmo iria, mas em certo momento ela também dormiu ao lado de Alfred. Os últimos dias haviam sido muito difíceis e cansativos para ela também. A esposa do marquês sofria o mesmo que o marquês.

Por estar dormindo, Elizabeth também não percebeu o momento em que Alfred deslizou os braços sobre ela, a abraçando. Mas mesmo se tivesse visto, ela não iria reclamar, mas sorrir. Havia esperança, a marquesa se foi, e levou o inverno junto, a primavera poderia florescer agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uma informação irrelevante:

Nesse capítulo eu deixei bem frisado o cansaço que os personagens estavam sentindo. Eu fiz isso não apenas porque eles realmente deveriam estar cansados, mas porque no dia que eu escrevi esse capítulo, EU estava cansado, até com sono. É impressionante que uma edição posterior pode concertar algo.