Um Reino de Monstros Vol. 2 escrita por Caliel Alves


Capítulo 21
Capítulo 5: Semeando ventos - Parte 2




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Queimando, o veneno está queimando o meu corpo, urhg!

Saragat cambaleou para trás. Um buraco roxo era visível logo acima de seu umbigo. Um cheiro de podridão exalava da ferida, e aos poucos, o hematoma formou uma inflamação purulenta e amarelada. Tudo isso em menos de um minuto.

— SARAGAT!

— Cuidado, garoto.

O Lisliboux não ouviu a recomendação de Rosicler e partiu para salvar o amigo. Antes que o conjurador tombasse, o mago-espadachim o segurou pelos ombros e impediu a sua queda.

O corpo do encapuzado estava rijo e quente. Sua pele exalava um suor frio, as veias azuladas e tesas saltavam do corpo.

— T-ell, u-use ahrg...

— Não fale, você foi envenenado.

— É uma pena pra vocês o conjurador ter sido envenenado logo de primeira.

— Cale-se! Eu não vou te perdoar pelo que fez ao Saragat.

O capitão Pazuzu cruzou os braços e abriu as asas emanando uma lufada de ar que atingiu Tell. Mesmo assim ele manteve a posição, o mantícora o olhava altivamente.

— Não adianta, ele morrerá em menos de dez minutos, e será uma morte dolorosa e agonizante. Meu veneno demora 0,3 segundos para atingir o sistema nervoso da vítima. Após isso, todas as atividades corporais vão cessando de uma a uma. Aos poucos o veneno vai tomando o lugar do sangue e todo o corpo vai sendo intoxicado de dentro pra fora. Depois disso...

— Chega!

Um punhal voou até a face de Pazuzu, com um piparote, ele se defendeu da lâmina.

— Você errou.

— Mas eu ainda não tentei...

Cabum, um gigantesco martelo de ferro atingiu o local onde o monstro estava. Entretanto, quando a poeira baixou, Letícia percebeu que o mesmo tinha fugido.

Argh, eu gastei tanta energia mágica para essa Transmutação Metálica para não atingir o alvo!

À distância, Pazuzu sorria levitando com um leve planar de suas robustas asas. Ele levantou o seu braço direito e fez um sinal movendo o dedo indicador da esquerda para direita como se dissesse “você errou”.

— Está bem, agora é a minha vez.

O mantícora, velozmente se lançou contra a general-brigadeiro armado de suas garras retráteis.

— Tell, tente curar Saragat. Estabilize os efeitos físicos do veneno, pegue isso.

Antes de Pazuzu atingi-la em cheio, ela lançou uma cápsula de vidro para o jovem guerreiro. No frasco, era possível se ler Água Benta. Uma poção usada para cura e purificação de pessoas, lugares e objetos ou desintoxicar uma vítima.

Rapidamente, o garoto abriu a poção e despejou todo o seu conteúdo na boca do servo de Nalab. Ele cuspiu e engasgou. Só depois de algum tempo a sua respiração normalizou. O corpo ainda continuava quente, Tell se pôs a usar Cura Benedicta incessantemente.

Enquanto isso, Pazuzu confrontava Letícia e Rosicler numa batalha selvagem.

— Desista, você não é páreo para mim.

— O leãozinho tá com medinho de duas garotas?

— Você é quem deveria me temer.

Quando a ladra tentou apunhalá-lo na altura do tórax, a cauda do monstro enrolou-se em seu pescoço e a arremessou contra Letícia, que usou uma de suas transmutações para frear a garota. A alquimista aproveitou o momento para montar o seu estratagema.

— Rosicler, desse jeito nós não vamos vencê-lo. Vamos fazer o seguinte: eu irei dar combate corpo a corpo e você me dará cobertura, entendeu?

— Pode deixar, mina. Vamos chutar o traseiro do monstrengo.

A general-brigadeiro tomou a dianteira da garota e preparou um ataque recitando:

— Transmutação Elétrica – Corisco.

Os átomos de oxigênio foram preenchidos com energia mágica e alteraram a sua forma para átomos ionizados. Aos poucos a massa atômica se transformou em energia elétrica na forma de um raio avermelhado disparado pelas mãos de Letícia.

Pazuzu não se intimidou e espalmou a mãozorra direita na direção delas dizendo:

— Transmutação Magnética – Escudo Tesla.

O ar em volta do punho se transformou num enorme escudo de metal triangular que absorveu todo o Corisco, logo após a transmutação se desfez no ar.

— É inútil...

Tunc, a adaga da gatuna se encravara no ombro esquerdo do adversário, e outras mais cortaram o espaço e o teriam atingido se Pazuzu não tivesse usado suas asas para evadir.

Do alto ele percebeu que a ladra fazia o papel de suporte da alquimista.

Estratégia interessante, mas apenas as duas não serão capazes de me derrotar.

— Agora é com você, Letícia.

— Transmutação Telúrica – A Torre Negra.

A alquimista ajoelhou-se no chão e apoiou as suas mãos no solo, no mesmo instante, dezenas de pilares elevaram-se do chão e chegaram à mesma altura de Pazuzu.

— Pensou que ia escapar de nós?

Os pilares de pedra escura sustentavam as duas guerreiras. Aplicando um pouco mais de sua energia mágica, Letícia formou passarelas entre as torres pétreas. Nas laterais, apoios em forma de escadas também apareceram.

— Estamos longe demais para pedir reforço, e mesmo assim os militares estão dando assistência aos purificados. Unfh, calculamos mal. O nosso conjurador ficou muito exposto, foi um alvo fácil. Nosso inimigo conhece a alquimia, o que indica que antes de ser um mantícora ele era um dos nossos soldados. Nem sequer usou conjurações!

— Ah, saí dessa. Já tá jogando a toalha? A gente nem terminou o primeiro round. Como dizia o meu irmão mais velho, “só não tem solução pra morte”.

— E então, vocês vêm ou não?

— Nem precisa pedir duas vezes, leãozinho.

A garota de bandana enfiou a mão na cintura e retirou três adagas, cada uma delas posta entre os dedos e disparou contra Pazuzu.

O mantícora descreveu um looping, tzumm, as lâminas passaram sem atingi-lo.

Letícia saltou e gerou uma luva cheia de esporões na sua mão. O monstro alado se defendeu formando um X com os braços, o ataque nem mesmo o arranhou. O capitão aproveitou o momento e a pegou pelo pescoço a erguendo no ar.

— Sinceramente, pra atual comandante-geral da RFE, você foi uma tremenda decepção.

Dumont passou a rir. O seu inimigo ergueu as grossas sobrancelhas e indagou:

— O quê? Eu disse algo engraçado?

— Você se acha tão inteligente e não percebeu uma coisa...

— Ruohruohruoh, então me diga o que é!

— Transmutação Aeriforme – Noto.

Uma forte ventania envolveu os dois trazendo uma espessa redoma de névoa. Era impossível para Pazuzu enxergar alguma coisa. Tunc, as costas do capitão foram cravejadas com diversas facas jogadas por Rosicler.

As asas, no entanto, não haviam sido acertadas. Ele soltou a alquimista que caiu dependurando-se em uma das passarelas. Ela foi amparada pela ladina.

Dissipada a névoa cinzenta, apenas o monstro mantinha-se levitando no ar.

— Tanto esforço para isso? Suas inúteis. Ruohruohruoh, esperava mais daqueles que se dizem opositores do meu rei.

— Hihihihi, tu é muito lerdo, veio.

— O quê disse?

— A gente não tá aqui pra te derrotar, estamos aqui para desviar a sua atenção.

A ladra e a militar ergueram o dedo pra cima. Pazuzu olhou pro céu e viu que milhares de monstros envoltos em goma caíam.

Muitos estavam dentro de redomas de vento, como se estivessem engaiolados. Os dirigíveis de guerra, os tendo aprisionados em alquimias, disparavam projéteis contendo a goma-dourada.

Com um rugido, capitão Pazuzu ergueu ambas as mãos e disse a gritar:

— Viemos aqui para fazer a vontade de nosso rei e glorificar os feitos de nossa raça, se nós perdermos hoje para vocês, não seremos dignos nem de orar a Enug. Transmutação Aeriforme – Euro.

Emanada de suas garras, a massa de ar ascendeu até as nuvens e aspergiu moléculas de água nela. Aos poucos, houve precipitação atmosférica e as nuvens ficaram nubladas. A água caiu torrencialmente molhando os monstros envolvidos nos casulos de gomas, os derretendo. Em pouco tempo os monstros estavam todos soltos novamente.

— Droga, como é que vocês criam uma prisão que sai com água?

— Entendo a sua frustração, vamos mudar a fórmula qualquer dia desses.

Os trovões ribombavam nas alturas. Agora os alquimistas estavam esgotados, e por isso mesmo, eles estavam totalmente indefesos.

Planando com um leve movimento de suas asas, o capitão ironizou:

— E assim termina Alfonsim, a Cidade dos Alquimistas, sem ter direito nem a luz do sol.

— Ora, seu... Alfonsim pode até perder esta batalha hoje, mas nós lutaremos até o fim para permitir que a nova geração vença à guerra.

Estalando os dedos, os seus soldados alados tomaram posição atrás dele: esfinges, sirenes, grifos e sílfides continuavam prontos para guerrear contra Alfonsim.

— Uma visão romantizada da guerra. Infelizmente nós estamos em outro tempo. À época dos cavaleiros montados em belos alazões e trajando armadura branca acabou, aceitem os monstros, nós somos os seus superiores...

Um enorme estrondo interrompeu o discurso de Pazuzu. Vindo do mais profundo do bosque, um enorme constructo caminhava em direção ao centro da cidade.


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