Um Reino de Monstros Vol. 2 escrita por Caliel Alves


Capítulo 19
Capítulo 4: Dobrando a matéria - Parte 4




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Dias depois...

Os orcs e os goblins estavam cada qual em seu canto, e no meio da multidão, dois guerreiros se digladiavam. As ardilosas sirenes voavam em volta, incitando-os.

— Venha, nanico, e eu o apregoarei no chão como se fosse um prego, huahauhuahua.

— Não tenha tanta certeza disso, sua lagartixa gigante. Vou lhe mostrar do que nós goblins somos capazes de fazer.

Num primeiro momento podia parecer que o combate era desigual. Com uma alabarda na mão, o grande orc tentava acertar o goblin munido de um machado de guerra.

Um orc podia chegar até dois metros de pura selvageria. Seu corpo era recoberto por rijas escamas verdes-esmeraldas, e trajavam meia-armadura sobre gibões de couro cru. Suas presas saíam da boca. A íris era vertical e amarelada como a das serpentes brilhavam dentro dos elmos.

Um goblin não era maior que uma criança de dez anos, mesmo assim possuía a agilidade necessária para causar uma carnificina. Sua pele era enrugada e possuía uma tonalidade beirando o verde-musgo. Muitos tinham piercings e trajavam couraças de couro cru. Tinham feições rudes e orelhas grandes e pontudas.

Droga, o que é que tá rolando ali?

O tengu deu um voo rasante e vush, pousou no meio do círculo de monstros, impedindo bruscamente que o orc e o goblin concluíssem os seus ataques.

— Qual foi, que barreira é essa aqui?

— T-tenente Kuromaru?

— Foi culpa dele, senhor. O orc que começou tudo.

O orc no mesmo instante tomou uma postura militar e prestou continência. O goblin, para não ficar trás, fez o mesmo, e logo todos estavam formando fila no pelotão.

— Então é assim, antes que cabeças rolem pelo chão, porque toda essa treta, hein?

— Bem, hã, os goblins não queriam se sujeitar ao nosso comando, senhor. Eles disseram que jamais aceitariam um primeiro-sargento orc, eles nos chamaram de burros e...

— Foi isso o que aconteceu, meus manos goblins?

— Perdão, senhor, mas desde a formação do regimento, o senhor não especificou quem ocuparia os altos postos de comando. Acreditamos que os orcs não estão à altura de comandar o nosso Regimento de Infantaria, pois eles não sabem amarrar nem a bainha da espada no cinto.

— Ah, era só isso, a briga era para ver quem ia comandar depois de mim, isso é fácil...

Slash, num único movimento brutal a espada de Kuromaru decepou a cabeça de ambos os monstros. Todos recuaram horrorizados. O sangue vertia pela calçada.

— As sirenes serão os primeiros-sargentos e segundos-sargentos. Cada dupla de sirenes lidera uma dúzia de orcs e goblins, seis de cada. Agora vamos, mexam-se, seus otários!

As sirenes planaram e desceram ao chão acompanhado dos seus soldados.

O tengu virou-se para ao longo da rua e respirou fundo. A quatro quadras adiante estavam os alquimistas com uma linha de tiro já formada. As ruas quase todas iguais davam uma sensação labiríntica, como se por mais que se andasse menos se saia do lugar.

— Vamos, os alquimistas não têm o dia todo!

Após fazer uma revista rápida e pouco produtiva na tropa, o tenente deu de ombros.

Unfh, ao menos, se não derrotarmos os humanos com esses manos, Pazuzu sozinho o fará, ele sabe alquimias poderosas...

Uma das sirenes fez continência, deu um passo à frente e disse solenemente:

— Tenente Kuromaru, por favor, faça um discurso de encorajamento a nossa tropa.

O monstro alado, embora ocupasse um dos postos mais altos na hierarquia sintética da Horda, “não possuía capacidades para liderar nem a si mesmo”, palavras de Cora.

Maldita sirene filha de uma mãe, porca vadia, sua nigrinha de uma figa...

Ele coçou o seu longo nariz e soltou um sorriso amarelo para os seus subordinados.

— Krukrukru, vejam só, manos, hoje é o dia em que nós, nós aqui vamos chutar as bundas dos alquimistas. Vamos mostrar pro capitão que quem manda nessa joça somos nós, nois veio, tá ligado?

Os monstros se entreolharam fazendo um silêncio constrangedor.

Ah, vão pro...

Kuromaru voltou o seu olhar para a rua, a artilharia alquimista ia à sua direção.

— Vamos, monstros. Mostrem o que vocês sabem!

Num rompante, o tengu desembainhou a chokuto e correu na direção de seus inimigos. Os subordinados não precisaram ouvir a ordem de ataque e também avançaram. Tap-tap-tap, esse som ecoava por toda à cidade. Alfonsim se tornara um campo de batalha urbano.

Um alquimista, de repente, deu ordem para que os mosqueteiros parassem a marcha.

— Parem! Mirar, apontar... FOGO!

Para surpresa dos monstros, os mosqueteiros não fizeram posição de tiro.

Entretanto, o ataque aconteceu de onde menos eles esperavam. Dos andares dos edifícios, alquimistas lançaram várias Poções Fog.

Kuromaru tinha cometido um grave erro, avançara demais dentro do território inimigo. Os monstros temendo serem envenenados ou caírem adormecidos, instintivamente, taparam os narizes enquanto trombavam-se na fuga.

Tem alguma coisa errada, pra que a cortina de fumaça se o show nem começou?

Uma poção com conteúdo amarelo fosforescente foi lançada no ar. Um tiro foi disparado dum mosquete e o globo de vidro estourou. Um enorme facho de luz brilhou no céu.

— O que é isso, tenente Kuromaru?

A sirene, com o seu corpo belo e seminu, usou suas asas para se defender.

— Poxa é essa! Engarrafaram um sol pra atacar a gente.

O tengu, no mesmo instante, teve um lapso e abriu suas asas alçando voo. Há uma distância segura, olhou para o batalhão, e como ele temia, todos estavam imobilizados. Dissipado a fumaça cinzenta, ele viu o estratagema inimigo.

Como se fosse uma teia de aranha, a sombra de um encapuzado se conectara a sombra da Infantaria das Almas de Rapina, e usara o grande perímetro formado para imobilizá-los. Num único movimento, todo o regimento havia sido neutralizado.

— Filho da mãe... como conseguiu imobilizar todos de uma vez?

— Como conjurador das sombras eu posso manipulá-las, e quanto maior a projeção, maior a força com que eu posso controlá-las. Num grupo como esse, eu só precisava de uma distração para que as suas sombras fossem acentuadas. A Poção Áster fez sua parte, você, tenente Kuromaru, fez a sua.

— Ora, seu desgraçado.

— Não fique tão nervoso, nem doeu tanto assim.

— O problema é que você não pegou todo mundo não, mano. Eu to aqui, seu manézão.

Ele fala igualzinho a Rosicler, mas um motivo para eu bater nele...

— Tem certeza, passarinho?

Sinalizando para os pés de Kuromaru, o tengu finalmente verificou que as solas dos seus pés estavam cada qual ligada a uma finíssima linha negra que descia ao chão.

Tá me tirando!

O monstro alado bateu suas asas, flap-flap, mas por mais que tentasse, não conseguia romper a linha de sombras que o prendia a Saragat.

— Tell, dê uma degustação do Monstronomicom para o nosso querido amigo aqui!

Abrindo passagem entre os mosqueteiros, o garoto, com Index no ombro direito, abriu o livro e recitou a plenos pulmões:

— Eu vos purifico!

A luz mágica saiu do livro e avançou pela rua purificando dezenas de centenas de monstros em cadeia. E como num efeito-dominó, os monstros davam lugar a humanos.

— Na moral, veio. O que é isso aí?

— Isso, isso é a sua salvação, monstro.

Desesperado, Kuromaru desembainhou a espada e golpeou a sombra, a cortando.

— Tô vazando.

— Transmutação Aeriforme – Bóreas.

Uma ventania atingiu o alado em pleno voo, o jogando no chã. As suas asas foram retalhadas, e enquanto caia, a rajada de ar o despenava. O seu corpo caiu imóvel no solo.

Os mosqueteiros se apressaram em remover os humanos purificados da batalha.

— Pensei que teríamos mais trabalho com esse aí!

— Não subestime o inimigo.

O servo de Nalab se virou. Planando no ar, Letícia desceu. Ela estava no segundo andar de um prédio. Também havia sido à alquimista a lançar a Poção Áster.

— É como disse a moça, tem gente aqui muito mais forte que você, mano.

Rosicler vinha na direção contrária à dos alquimistas. Estes últimos já voltavam com as vítimas em constructos de esteira que eram mais ágeis que as antigas liteiras com tração animal que atuavam como ambulâncias. Ela girava o seu punhal na mão direita, e cuspiu no chão provocando o encapuzado. O conjurador fez uma expressão de nojo.

— Pobre Kuromaru, ele era tão impaciente... irei vingá-lo.

Antes que alguém pudesse reagir, a cauda escorpioide inoculou o abdômen de Saragat.


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