IMPERIAIS: O Herdeiro do Trono escrita por Bianca Vivas


Capítulo 3
O retorno de Sua Majestade




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Pedro lacrou a carta que escreveu com o selo imperial e a entregou ao seu secretário pessoal. Faziam dois anos que estava alojado no Palácio Imperatriz Hortênsia, em Vassouras. Fora exilado, por vontade própria e junto aos seus irmãos, pela própria mãe. Mas, agora, era hora de voltar ao Rio de Janeiro.

Era sobre isso que falava em sua carta. Não sobre sua vontade de voltar para casa. Não. Pedro anunciava a própria volta. Dentro de um ano seria coroado Imperador. Já era hora de lembrar ao Conselho de Estado, à Imperatriz Regente e ao governo quem era o verdadeiro governante do Brasil.

Nos últimos anos, o país sofrera com atentados terroristas recorrentes. Tudo porque, quando fez seu primeiro discurso após a morte do Imperado D. Luiz I, a população rompeu em apoio absoluto a ele. O próprio presidente, que era militar, se sentiu acuado.

— É pra abrir mesmo. Quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento! — Dissera, quando foi perguntado a respeito da abertura política e do discurso de Pedro.

O governo estava com medo de perder o poder, era evidente. Somava-se a isso o fato de ser ano eleitoral. Era o momento perfeito para o retorno do Imperador. Levaria consigo Augusto. Seu irmão era a pessoa que mais confiava no mundo e precisaria dele quando completasse dezoito anos e finalmente ascendesse ao trono.

O único problema era Tereza. Não poderia deixar sua irmã mais nova sozinha em Vassouras. Tampouco queria leva-la para a Corte. Não considerava que o ambiente político faria bem a menina — ela tinha apenas seis anos. Tinha que achar uma solução.

— Ainda acho que ela deve ir conosco, Pedro — Augusto interrompeu o silêncio do irmão.

Estivera, durante todo o tempo, observando o jovem Imperador. Só agora decidira se pronunciar sobre a questão remanescente acerca da partida deles.

— Ela é muito nova para ficar exposta as influências de nossa mãe e do Conselho de Estado — o menino retrucou. — Já te disse isso milhares de vezes.

— Ela é muito nova para ficar longe das influências da própria mãe. — Augusto colocou a mão no ombro do irmão. — Ela só tem seis anos.

— Pensarei no assunto. — Pedro dispensou o irmão com um aceno de mão.

— É bom pensar logo — tornou Augusto. — As malas dela já estão prontas e partiremos na primeira hora da manhã.

Augusto saiu do gabinete deixando Pedro sozinho. Era melhor que ele pensasse em todos os movimentos que faria quando chegasse ao Rio de Janeiro. E isso incluiria decidir sobre levar ou não Tereza com ele. A Princesa do Brasil podia ter apenas seis anos agora, mas, em algum momento, ela iria crescer. Quando a hora chegasse, ela poderia ser uma aliada ou uma inimiga. Tudo dependeria das influencias que a cercassem.

No passado, as monarquias tinham o hábito de mandar seus príncipes e princesas para longe — longe da corte e longe uns dos outros. Isso garantia a proteção da família real em caso de acontecer algo com o monarca soberano e seu sucessor. Não raramente, entretanto, a atitude causava rixas entres esses irmãos. Eles não viam uns aos outros como família, mas como obstáculos para chegarem ao poder.

A França do Antigo Regime era o maior exemplo disso. D. Luiz I havia feito seus dois filhos estudarem sobre a rivalidade entre o rei Henrique III — último da linhagem dos Valois — e seu irmão mais novo, Francisco, o duque de Anjou. A briga entre os dois quase colocou a França numa guerra civil. Nem Augusto e nem Pedro gostariam que Tereza crescesse para se tornar uma rival do Imperador.

A grande questão era: como evitar isso? Levá-la para o Palácio Imperial de São Cristóvão roubaria dela o direito de ter uma infância quase normal, colocando-a no centro dos acontecimentos políticos do país. Deixá-la em Vassouras a afastaria da família. Colocá-la sobre a custódia de algum nobre seria voltar aos tempos do Antigo Regime.

Pedro, então, decidiu que faria o que nenhum Imperador ou Imperatriz antes dele havia feito. Deixou seu gabinete e caminhou rumo aos aposentos de sua irmã, a Princesa Tereza. Iria deixa-la decidir onde passaria os próximos anos de sua vida.

— Irmã? — Ele bateu na porta, que estava semiaberta. — Posso entrar?

Tereza, que estava sentada no chão penteando os cabelos de sua boneca, virou-se para a porta. Ao ver Pedro parado ali, ela largou o brinquedo e correu para a abraça-lo.

— Claro. — A pequena princesa saiu puxando o irmão pela mão para dentro do quarto. — Você veio brincar comigo?

Pedro estacou diante da pergunta da irmã mais nova. Ela era tão inocente que não fazia ideia do que acontecia no mundo ao seu redor. Como explicaria a ela que não estava ali para brincar, mas para decidir seu futuro?

— Veio? — perguntou de novo, já pegando uma segunda boneca.

— É claro. — Pedro pegou a boneca da mão de Tereza e sentou no chão ao seu lado. Aquela conversa poderia ficar para mais tarde.

Não era como se ele estivesse com pena da irmã. Ele apenas precisava compensar seu próprio relapso em relação à princesa. Poucas foram as vezes, nos últimos dois anos, em que visitou os aposentos da irmã. Jamais a ajudara com as lições ou a fugir das aulas entediantes de sua tutora. Também não sabia nada sobre ela, exceto que gostava muito de bonecas — tinha várias em seu quarto cor-de-rosa.

Desde que fora exilado em Vassouras, preferiu passar seu tempo ao lado do irmão fazendo planos de tirar o poder dos militares e dá-los de volta à Coroa. Era o que seu pai queria e ele faria de tudo para honrar o último desejo de D. Luiz I. Por essa razão, se afastou de todos: serventes, primos distantes, sua mãe e, especialmente, sua irmã. Não podia deixar que uma criança ocupasse seu precioso tempo.

No momento em que Tereza pediu para que brincasse com ela, Pedro começou a ver a irmã por outra perspectiva. Por mais que ele se preocupasse tanto com ela que havia escolhido, sozinho, quem seria sua tutora, a governanta da casa e todos que fossem entrar em contato com a Princesa do Brasil, ele não havia dado a ela sua atenção. Suas ações eram vazias de significado, portanto. Tereza não precisa de um Imperador, ela precisava de um irmão.

Passados uns bons minutos que estava trocando roupas de bonecas e penteando seus cabelos, Pedro decidiu interromper a brincadeira.

— Escute, Tereza — ele a chamou.

— Você precisa ir pra alguma reunião com algum rei, é isso? — Seus olhinhos estavam abaixados e a felicidade que demonstrara quando viu o irmão à porta do quarto havia desaparecido. Tereza estava triste.

— Não, não é isso — Pedro respondeu, se sentindo um pouco culpado. — Eu só preciso conversar com você sobre algo muito, muito importante mesmo.

A pequena princesa soltou um suspiro e colocou a boneca no chão.

— Você vai voltar pro Rio de Janeiro igual a mamãe?

— Como você sabe? — Pedro estava surpreso com a capacidade que sua irmã tinha para perceber as coisas.

— Eu sempre soube — ela respondeu, como se fosse a pessoa mais inteligente daquele quarto. — Você é um Imperador, igual o papai era. E aqui não tem aquela sala que o papai sempre ia quando tinha que mandar nas pessoas.

Pedro começou a gargalhar diante da resposta da irmã. Ele nunca imaginaria que ela associava o gabinete do pai como o local em que ele iria para mandar em alguém e que, por isso, uma hora o próprio Pedro teria de voltar para o Rio. Ele passou a mão pelos fios sedosos da irmã e riu mais um pouco.

— Imperadores não mandam nas pessoas — ele disse.

— E eles fazem o quê?

— Fingem que mandam, sua boba. — Pedro deu um peteleco de leve na testa de Tereza. — Mas não é só sobre isso que quero falar com você.

Pedro endireitou a coluna e segurou a mão de sua irmã. No fundo, ainda não sabia se era correto deixar uma menina de seis anos decidir o que fazer. Especialmente quando essa menina era uma princesa. Ela precisava de toda proteção possível, uma vez que poderia ascender ao trono caso algo acontecesse com ele ou Augusto. Ela não podia começar a acreditar que poderia fazer o que quisesse.

Mesmo assim, começou a se preparar para começar a fazer a pergunta: você quer ir para o Rio de Janeiro comigo? Quando abriu a boca para proferi-la, foi interrompido por seu irmão que entrou esbaforido no quarto de Tereza.

— Pedro! Pedro! — Ele chamou. — Ela descobriu.

— O quê? — Foi tudo o que Pedro teve tempo de dizer antes que um homem baixinho também entrasse no quarto e anunciasse:

— Sua Majestade Imperial, a Imperatriz-mãe, Duquesa do Rio de Janeiro e Imperatriz Regente do Brasil, D. Hortênsia da Casa de Órleans e Bragança.

O homenzinho deu passo para o lado e deixou uma mulher alta de cabelos acobreados passar. A Imperatriz caminhou firmemente até os filhos e abriu um sorriso cínico, enquanto anunciava:

— Meus queridos filhos, precisamos conversar.

Pedro sentiu seu coração parar. A presença de sua mãe ali só poderia significar uma coisa: ela havia descoberto seus planos de voltar ao Rio de Janeiro e assumir seu lugar como Imperador tão logo atingisse a maioridade no ano seguinte. Mas, se Hortênsia achava que iria frustrar seus planos, estava muito enganada. O jovem Imperador não deixaria ninguém ficar em seu caminho.

***

A Imperatriz Hortênsia levou os dois filhos para o seu gabinete. Apenas ela e seus convidados eram autorizados a entrar, portanto, Pedro não o conhecia. Ficou perplexo com o que encontrou ali. Ao contrário do que imaginava, o gabinete da mãe no Palácio Imperatriz Hortênsia não era luxuoso. Era mais simples, inclusive, que o escritório de D. Luiz I no Palácio Imperial.

Hortênsia havia decorado o local com uma simples escrivaninha. de mogno, cuja única gaveta possuía tranca. Ali, provavelmente, era o local onde guardava alguns documentos ou cartas. Além disso, o gabinete tinha uma poltrona, duas cadeiras e uma estante com alguns poucos livros selecionados. Tudo muito simples e minimalista. Se ele não soubesse que Hortênsia participara de tudo que envolveu a construção daquele palácio, incluindo a decoração, ele diria que era obra de seu pai.

A Imperatriz caminhou até a escrivaninha e se sentou na cadeira feita de mogno. Ela apontou com a cabeça para os outros dois assentos vazios, obrigando os meninos a sentarem também. Em seguida, ela pegou uma chave e abriu a gaveta do móvel. Tirou de lá alguns papéis e uma caneta. Para a perplexidade de Augusto e Pedro, os papéis estavam em branco.

Quando ela começou a escrever o que parecia ser uma carta na folha vazia, Pedro perdeu a paciência e decidiu que era hora de enfrentar a mãe.

— Por que você está aqui, hein? — Ele perguntou, sem medir seu tom de voz. — Veio me impedir de voltar para casa?

— Pedro — Hortênsia parou de escrever e fixou seu olhar no rosto do filho —, me impressiona em como você é capaz de deduzir o óbvio.

— Então você deu viagem perdida. — O menino nem se importou com a alfinetada que recebeu. — Você não vai me impedir de voltar para o Rio de Janeiro e assumir o trono que é meu por direito.

— Um trono que você só pode assumir quando completar a maioridade, aos dezoito anos — ela completou, voltando a escrever no papel que tinha pego na escrivaninha.

Ela poderia até estar certa, pensou Pedro, mas ainda era o seu direito de nascimento. Fora que ele não suportaria mais ver as atrocidades e atentados do governo brasileiro contra a população e não fazer nada. Os militares haviam ficado no poder tempo demais. Era hora de dar um basta naquela situação.

O menino já se preparava para dizer tudo isso à mãe, mas seu irmão foi mais rápido. Augusto levantou-se da poltrona de couro e se aproximou de Hortênsia e Pedro.

— Como você descobriu os planos de Pedro, mãe? — Augusto mudou de assunto.

— Não é óbvio? — Hortênsia perguntou. — Eu interceptei a carta de nosso jovem Imperador aqui. — Ela apontou para Pedro, sentado à sua frente. Ao perceber as expressões de surpresa e raiva dos meninos, tratou de explicar: — Esse é o meu palácio, queridos. Os serventes são fiéis a mim. Incluindo seu secretário, Pedro.

— Como ousa? — Pedro estava com o rosto vermelho, seu lábio inferior tremia de raiva.

— Por que acha que trouxe vocês três para cá?

Hortênsia parou novamente de escrever. Ela afastou o papel para o lado e encarou Pedro, esperando por uma resposta.

— Para nos isolar aqui — ele respondeu por fim.

— Você é um tolo, meu filho — ela disse.

Um silêncio caiu sobre o cômodo. Pedro, pego de surpresa pelas palavras da mãe, havia se calado. Augusto abaixou a cabeça, imaginando como o irmão mais velho estaria se sentindo. Provavelmente estava ferido e com raiva.

Após a morte do pai, D. Luiz I, Pedro nunca mais fora o mesmo. Nenhum deles, na verdade. Tereza passava seus dias dentro do quarto, brincando de bonecas e saia apenas para as suas lições com a tutora. Todos os traços da menininha que gostava de correr e andar a cavalo haviam desaparecido — Tereza agora era uma perfeita lady. O próprio Augusto amadurecera bastante. Se antes gostava de passar os dias jogando jogos de tabuleiro, agora pensava bastante no futuro. Ele era o primeiro na linha de sucessão ao trono, suas responsabilidades haviam mudado.

Pedro, no entanto, era o que mais havia mudado dentre os três irmãos. Estava obcecado com o que acreditava ser a última vontade de D. Luiz I: retomar o poder para o Imperador. Augusto acreditava que esse objetivo constante, com o qual o irmão mais velho ocupava cada segundo de seu dia, era uma forma de lidar com a dor da perda, com o próprio luto.

Hortênsia, que nem sequer prestou atenção a reação dos meninos as suas palavras, selou a carta e levantou-se. Caminhou até a grande janela do gabinete e afastou um pouco a cortina. Ela olhou para baixo, como se esperasse alguém chegar. Talvez por não ter visto ninguém ali, fechou a cortina e virou-se para os filhos novamente.

— Ainda assim, Pedro, eu concordo com você — ela voltou a falar, surpreendendo seus dois interlocutores. — Você tem que voltar para o Palácio Imperial.

— Então por que você está aqui? — O menino perguntou.

Por alguma razão, sentiu seu coração acelerar. Sentia que algo muito importante estava prestes a acontecer.

— Porque você, meu filho, não entende nada de política. — Ela caminhou até Pedro e tocou seu rosto. — Infelizmente, seu pai morreu cedo demais, antes mesmo de poder te ensinar como lidar com as forças políticas que nos cercam.

Ao citar o marido, Hortênsia tocou em um ponto sensível para Pedro. Para o garoto, as palavras da mãe soaram como se ela desmerecesse Luiz. Seu pai o havia ensinado tudo o que precisava ser ensinado. Ele estava preparado. Tinha que estar preparado.

— O que quer dizer com isso? — Pedro não conseguiu esconder, na inflexão de suas palavras, a raiva que voltava a tomar conta de si.

— Quero dizer que você precisa voltar ao Palácio Imperial, mas não pode representar uma ameaça ao poder vigente — Hortênsia disse, quase suplicando ao filho que entendesse. — Eu também quero que vocês voltem a governar. Sempre quis. Mas toda Monarquia está a um passo de deixar de existir, e mesmo que seu pai nunca o tenha deixado saber o perigo que esta família correria caso os militares nos vissem como uma ameaça, todos os livros que de História que você leu devem ter te mostrado isso: monarquias não são eternas e reis que não jogam de acordo com as regras de quem realmente tem poder estão sempre prestes a perder a própria cabeça.

A fala da Imperatriz atingiu o jovem Imperador em cheio. Seu pai o havia ensinado a seguir seu coração, governar de acordo com seus instintos — era isso que gostaria de fazer. Não iria se curvar para nenhum governante ilegítimo.

— A mamãe está certa — disse Augusto, antes mesmo que Pedro rompesse em fúria.

— De que lado você está? — O menino olhou para o irmão, se sentindo traído.

— Eu estivesse pensando nisso nos últimos dias — Augusto tentou se justificar —, ninguém deixa o poder pacificamente. Sempre há luta, Pedro.

No fundo, Pedro sabia que Augusto estava certo. Ele já havia pensado nisso também, mais vezes do que gostaria de admitir. Ainda assim, a hipótese de os militares pegarem em armas para impedir que o Imperador voltasse a governar era muito distante para ele. Pensava em fazer alianças políticas e vencer através da caneta, não pela espada.

Queria explicar isso a Augusto e Hortênsia, mas sabia que não valia a pena. Restou-lhe engolir o orgulho e perguntar:

— O que sugere, mamãe? — Ele tratou de imprimir certa ironia ao pronunciar a última palavra.

— Você vai voltar para casa, mas não irá demonstrar nenhum interesse aparente em ser coroado Imperador por agora. — Hortênsia finalmente começou a revelar o plano que elaborara por tanto tempo. — Esse é o primeiro passo.

— E quais são outros?

— E como ele vai agir como se não quisesse ser Imperador depois do discurso que fez quando papai morreu? — Augusto interrompeu a conversa, sem deixar que Hortênsia respondesse as dúvidas dos Pedro.

— Seu irmão tinha quinze anos quando fez aquelas afirmações, Augusto. Ninguém leva a sério as palavras de um adolescente. — Ela descartou a pergunta de Augusto como se ela fosse uma mosca irritante e se voltou para Pedro: — Os outros passos, meu filho, você saberá quando chegar ao Rio de Janeiro. — Hortênsia voltou para perto da janela. Pedro achou que tinha visto os olhos da mãe se encherem de água. — A única pessoa envolvida nessa conspiração deve ser eu. Vocês três devem ser tidos como inocentes, casa algo dê errado.

— Que conspiração, vossa Majestade? — Pedro perguntou, cada vez mais irritado.

— Ora, Pedro. Eu já te disse: você não é o único que quer ver os militares escorraçados deste país. Você só é o mais imprudente de todos. — Hortênsia se aproximou dos filhos e suavizou a voz: — Por favor, me prometam que apenas dessa vez vocês vão me obedecer. Me deem a palavra de vocês.

Os meninos assentiram e logo depois foram mandados de volta aos seus aposentos. Hortênsia permaneceu no gabinete, afirmando que tinha assuntos urgentes para resolver. No dia seguinte, bem cedo, a Imperatriz voltou ao Palácio Imperial de São Cristóvão, deixando os três filhos em Vassouras.

Eles permaneceram lá por ainda mais tempo do que esperavam. Algumas vezes, Pedro se perguntava o porquê de concordar com a mãe. Não suportava mais nem sequer olhar para as paredes daquele palácio. Queria ir para o lugar onde poderia fazer algo. Detestava ficar com as mãos atadas, se sentia inútil.

A cada dia que passava, achava que sua mãe nunca mandaria chamá-lo de volta. A cada dia também aumentava a sua vontade de despedir seu secretário pessoal. Tinha certeza de que ele estava conspirando com a Imperatriz para mantê-lo ali, longe da Corte.

Depois de um banho quente, mudava de ideia. Hortênsia queria proteger a família, a monarquia. Ela certamente estava fazendo o que era preciso para propiciar o retorno do primogênito.

Aí, quando mais um dia passava sem ter notícias da mãe, voltava a conjecturar acerca da lealdade da Imperatriz. Não aguentava mais aquele estilo de vida. Ele tinha apenas dezessete anos, deveria estar conhecendo garotas e assistindo De Volta para o Futuro nos cinemas. Poderia fazer qualquer coisa, menos se preocupar com assuntos políticos.

Pelo menos, foi isso que Augusto lhe dissera dias antes.

Augusto, seu irmão mais novo e mais sensato que ele. Augusto deveria ser Imperador, não ele.

— Eu enlouqueceria com essa responsabilidade — dissera o menino mais novo quando Pedro perguntou-lhe sobre o tema. — A coroa é muito pesada.

— No entanto, você se mostra muito mais sensato que eu, irmão. — Essa era a verdade, por mais que lhe doesse admiti-la em voz alta.

— Pedro, papai sempre dizia que você estava pronto. Por que não confia nele? — Augusto finalmente perguntou, após um longo período de silêncio.

— Aparentemente, papai estava errado sobre muita coisa — o menino resmungou e deixou o cômodo, se dirigindo aos seus aposentos.

Mais algumas semanas transcorreram sem que nenhuma mensagem chegasse do Palácio Imperial de São Cristóvão. A vida em Vassouras ficava cada dia mais entediante. Para se distrair, Pedro se dedicou cada vez mais a seus estudos e leituras pessoais.

Numa tarde em que já estava quase perdendo suas esperanças, seu secretário pessoal pediu permissão para anunciar um membro da família imperial. O jovem Imperador sentiu o coração disparar e o estômago revirar. Seria sua mãe? Tentou manter o rosto impassível, sem demonstrar nenhum tipo de emoção. Não iria mostrar para a mãe que estava ansioso por notícias dela.

— Sua Alteza Imperial, o Príncipe Augusto — disse após receber a permissão de Pedro.

A animação do menino se esvaiu ao ouvir o nome do irmão.

— Augusto? — Pedro franziu o cenho, fechando o livro que estava em suas mãos. — Desde quando você é anunciado?

— A mamãe mandou uma carta, Pedro — disse Augusto, ignorando a pergunta do irmão mais velho. — Ela está nos chamando de volta à corte. Todos nós.

Pedro nem soube descrever o que sentiu naquela hora. Finalmente voltaria para casa. Ele finalmente começaria a cumprir o último desejo de D. Luiz I. Ele iria lutar pelo que os ingleses chamavam de birthright, ou direito de nascimento: ser Imperador. Não um governante como fora seu pai, apagado por um acordo assinado no meio da noite que o tornava apenas uma figura decorativa. Ele seria um Imperador de verdade, como os reis e rainhas europeus. 

 


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