⁃ Está pronta, querida? - mamãe falou aparecendo na porta da capela

⁃ Ele já chegou? - perguntei sorrindo ansiosa

⁃ Ainda não - suspirou se aproximando   

⁃ Mas ele vai chegar!

⁃ É claro que sim - acariciou meu ombro exposto - Você que quis se arrumar aqui, e ficou pronta cedo demais.

Assenti concordando. Mamãe estava certa. Minha ansiedade me fez acordar às 4:00 da manhã e consequentemente acordar Sara, Thea e Laurel que haviam dormido comigo após a nossa “Noite de garotas/Despedida de solteira”.

Era óbvio que eu não conseguiria dormir. Era o grande dia, o dia do meu casamento, do nosso casamento. O dia que eu seria completamente dele, o dia que nos tornaríamos um só. De todas as maneiras humanamente possíveis. O dia que sonhamos por tanto tempo. Pode parecer completamente clichê a nossa história. O típico casal popular da escola, o típico casal que se conhece desde a infância e ficam juntos. O lutador da classe e a garota líder de torcida.

Eu e Olivier praticamente crescemos juntos - toda a elite de Starling City se conhece - tínhamos a mesma idade e sempre frequentamos a mesma escola, a mesma turma, o mesmo ciclo de amigos. Tudo levou que ficássemos juntos. Mas viver no mesmo meio social não fez com que nos apaixonássemos de primeira, nós brigávamos muito. Até que, no primeiro ano do ensino médio, fomos obrigados a cuidar de um ovo. Os grupos foram escolhidos pela professora e ela decidiu que nos colocar juntos seria uma ótima vingança pelas nossas brigas durante as aulas dela. Eu virei mãe de um ovo e ele o pai. E foi aí que me surpreendi com ele, por trás daquele ar de “garoto riquinho encrenca” havia um lado sensível e podia dizer que se sairia um ótimo pai no futuro.

O trabalho consistia em fazer relatórios e registros da forma que tratávamos o ovo. Então Oliver roubou um berço de boneca da irmã dele, revezávamos a noite com o ovinho e levávamos ele para passear - parque, cinema, sorveteria… - todos os programas escolhidos por ele, eu sempre pestanejava e reclamava. Mas no fundo eu até gostava de passar um tempo sem trocar farpas e apenas curtindo a sua presença. Até que, no último dia do trabalho, aconteceu. Ele me roubou um beijo, e eu retribui. E depois desse primeiro beijo, vieram muitos e muitos outros. Nunca mais nos desgrudamos. Até que nos formamos na escola e decidimos que iríamos pra faculdade casados.

Oliver sempre gostou de luta, era a atividade extracurricular dele na escola - a minha era engenharia da computação. Ele competia pela escola e era um verdadeiro prodígio. Nunca perdia, diversos olheiros e empresários já haviam feito propostas. Mas em todas essas propostas ele teria que largar os estudos e ir embora. E ele dizia que nunca me deixaria, que me amava demais para me trocar por uma paixão qualquer. Um empresário chamado Slade Wilson vivia o sondando, dizendo que poderia lhe dar um futuro de rei, rei dos rings. Mas ele nunca aceitava. Convicto de que tinha uma vida inteira planejada ao meu lado. Harvard. Nós dois estaríamos em Boston no próximo inverno. Ele cursando Engenharia de Produção para futuramente comandar o império da sua família, e eu iria para o MIT.

O casal perfeito, com o futuro perfeito.

Estava tudo perfeito demais, e isso estava me deixando inquieta. Como se uma bomba estivesse prestes a explodir bem na minha frente.

Suspirei nervosa encarando o vestido branco que havido sido feito sob medida para mim, meus cabelos castanhos, quase pretos, presos em um coque sofisticado onde estava preso um broche - broche esse que fora usado pela minha falecida sogra em seu casamento- e o véu. O vestido havia sido presente de Robert Queen, meu sogro, e toda a ornamentação do casamento havida sido presente dos meus pais.

Papai era dono da Smoak Tech, uma grande empresa de tecnologia moderna e futurística. Ele contava comigo, após o MIT, para assumir. Já que meu irmão, Roy, não tinha tato nenhum para matemática e tecnologia. Com a empresa em minhas mãos, papai dizia que tiraria férias com mamãe pelo mundo.

Me olhei no espelho e pelo reflexo percebi uma movimentação estranha na porta, Roy, Thea e Tommy - esse último era o melhor amigo do meu noivo - conversavam nervosamente.

Ótimo, alguma coisa havia dado errado.

Merda!

Estava tudo perfeito demais.

⁃ O que aconteceu? - me virei os encarando e os três ficaram bancos como papel.

⁃ É o Oliver - Thea falou entrando na sala.

⁃ Felicity, eu preciso que você fique calma. Tá legal? - Roy suspirou parando ao lado da namorada e me olhando de cima a baixo - Uau! - elogiou - Não sabia que você podia ficar tão linda! - fiz careta para ele

⁃ Deixa de ser idiota! - perguntei olhando pra Tommy que abaixou a cabeça - O que aconteceu com o Oliver?

⁃ Ele… - Tommy olhou para Thea atônito

⁃ Ele não vem - ela disse em um rompante com os olhos cheios de lágrimas

 ⁃ O que? - falei fraquinho

⁃ Lis, ele foi embora - Roy falou me puxando pra um abraço - Mas você não está sozinha, não está!

Eu estava paralisada e me deixei ser abraçada pelo meu irmão. Me senti fria. Senti o sangue sair de todo o meu sistema, como se tudo que me fazia ficar de pé tivesse ido embora.

Oliver havia ido embora.

Eu não tinha motivos para ficar de pé.

Ele não podia ter feito isso comigo. Ele não tinha o direito. Depois de tudo, depois de tanto. Ele não podia.

A paixão de Oliver era a luta. E entre eu e a paixão dele, ele havia acabado de escolher a paixão dele. E da forma mais humilhante possível.

Oliver não me amava. Tudo não passou de um passatempo, um teatro para dar o que seu pai queria. A imagem de um futuro herdeiro perfeito. Ninguém conseguiria segurar essa máscara por muito tempo. E a dele caiu no momento em que ele se viu entre mim e o sonho dele.

Ele não me amava. Eu o amava tão fortemente. Entre ele e qualquer sonho, eu sempre escolheria ele. Porque ele era o meu sonho.

Mas eu não era o dele.