Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 39
Capítulo 39




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Lizzy olhou para o lago em frente à mansão, sentindo o peito oprimido, como se algo ou alguma coisa estivesse prestes a acontecer. Sentia a presença de Darcy as suas costas. Uma presença silenciosa e reconfortante. Mas, nem a presença do seu noivo fazia com que ela se sentisse melhor.

— Uma moeda por seus pensamentos - ele disse, com certo humor, tocando o ombro dela de forma leve, quase imperceptível.

Ela suspirou apenas por sentir aquele mero toque. Sentia falta dele, tanta que um toque tão singelo não iria aplacar o desejo que sentia por ele. Queria abraça-lo, beija-lo. Se fundir a ele, de uma forma que um fizesse parte do outro, fosse a extensão do outro. Sentia-se uma tola romântica. Apenas de pensar isso, ela conseguiu aplacar um pouco da ansiedade que sentia, desde que saiu da sala do café da manhã.

— Eu estou com a sensação inquietante de que algo vai acontecer, Darcy - ela confessou.

— E o que seria? - ele perguntou, sem fazer julgamentos, apenas acariciava o ombro dela, enviando arrepios por todo seu corpo.

— Bom...hum...como posso pensar quando me toca dessa maneira? - ela brincou.

O toque cessou de imediato e ela se arrependeu por ser tão aberta e expansiva com ele. Virou-se para Darcy, que tinha as mãos dentro do bolso da calça de equitação em tom bege. Ele parecia um pouco desconcertado e ruborizado. O que ela achou muito doce e inocente. Darcy não parecia ser um homem acostumado a demonstrações de afeto, em público. E também, não se encaixava no perfil de um libertino. Parecia ser um homem tímido e contido. Apesar de ter se permitido a ter arroubos de paixão, quando se declarou para ela e quando fizeram amor. Ela queria que ele fosse dessa maneira a todos os momentos, mas isso seria pedir muito dele. Teria que se acostumar com o fato de que Darcy apenas iria demonstrar afeto nos seus aposentos. Fora deles, seria um perfeito cavalheiro.

— Ainda não sei, mas não parasse bom - ela respondeu a ele. Lizzy nunca acreditou em sua própria intuição. Contudo, a sensação estranha que a rondava, desde que viu Lorde Clifton não desaparecia. Parecia que com aquele homem, viriam sérios problemas.

O olhar de Darcy se tornou preocupado. E ele retirou as mãos dos bolsos, apenas para pegar as mãos nuas de Lizzy e apertou-as com carinho.

— Eu tenho certeza de que nada de ruim vai acontecer. Eu prometo a você, Lizzy. Estarei aqui para protegê-la.

Ouvir aquilo era reconfortante, mas não alterou o sentimento estranho que a envolvia. Eles voltaram para dentro da mansão, depois de caminharem em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos.

 

*

 

O casamento de Bingley e Jane fora muito alegre e simples. Ao que parecia, o casal não gostava de extravagâncias. A decoração da igreja fora feita com poucas flores e a noiva entrou com um vestido em tom perolado, com véu e grinalda, parecendo um anjo, flutuando até a nave da igreja. Era possível ver Bingley conter as lágrimas, enquanto via sua noiva entrar e quando ela disse aceito, os dois sorriram um para o outro de forma doce e tranquila, trocando as alianças de forma desajeitada. Darcy estava ali o tempo todo, presente, como padrinho do seu melhor amigo e entregou as alianças. E claro, a madrinha de Jane era Lizzy, que se sentiu honrada por ser escolhida.

Lizzy teve a oportunidade de conhecer Charlotte Lucas, que também estava no casamento. Ela era a madrinha junto com Lizzy e as duas trocaram as primeiras impressões. Era possível ver o quanto a jovem Charlotte era divertida e tranquila. Lizzy descobriu que ela estava noiva do clérigo, o Sr. Collins. Não parecia triste, mas feliz por finalmente sair da casa dos pais, afinal, já contava com vinte oito primaveras. E ela sabia que era uma solteirona. O que Lizzy discordou veemente. Ela queria tanto dizer a Charlotte que uma mulher não deveria se preocupar com isso, mas como explicar a ela, se toda a sociedade vigente pensava assim? De que a mulher deveria se casar e se não se casasse, algo estava de errado com ela e seria vista como uma solteirona. E viveria para sempre da renda dos parentes, o que de certo modo, não era algo agradável.

— Eu não tinha a menor esperança de encontrar o homem ideal para mim - Charlotte confessou, enquanto andava de braços dados com Lizzy.

As duas seguiam pelo curto caminho entre a paróquia da propriedade dos Darcy, até o jardim, onde Georgiana havia preparado com a ajuda dos criados, um local para servir o almoço de casamento. O local tinha tendas e mesas espalhadas sobre o gramado, com vasos de lírios brancos no centro. Alguns criados circulavam com roupas de libré, servindo champanhe em taças de cristal, com o auxilio de bandejas de prata. Alguns dos convidados estavam em pé, cumprimentando os noivos, enquanto outros estavam sentados a mesa, servindo-se do buffet.

A voz marcante de Lady Catherine, reclamando de algo. Lizzy pode ver ao longe, que ela esbravejava com o criado, segurando uma taça de champanhe, ao lado de sua filha, Srta. Anne de Bourgh. Lizzy se conteve no lugar. Desejava muito dizer algumas verdades para aquela senhora mal amada. O pobre criado era como uma estaca, parado e silencioso. Com certeza, estava sofrendo por ouvir palavras tão rudes. Mas, logo Georgiana veio para perto da tia e a afastou, dispensando o criado, que saiu em seguida, parecendo trotar para desaparecer da vista de Lady Catherine.

— Ela é uma mulher simplesmente odiosa - comentou Charlotte em voz baixa a Lizzy.

— Como ela pode ser tão má, quando seus sobrinhos são pessoas tão amáveis? - Lizzy se perguntou.

— Possivelmente seja a criação. Soube que a falecida Sra. Darcy sempre foi benevolente com seus criados e com os aldeões da região. Era uma mulher alegre e adorava dar festas - Charlotte confidenciou, enquanto as duas se afastavam da aglomeração de pessoas.

Lizzy pode ver Darcy conversando com um senhor de cabelos brancos e um olhar bondoso, além de uma barriga protuberante. Seu olhar a seguia. Ela não pode deixar de sorrir e recebeu um pequeno sorriso dele de volta. Mas, logo seu rosto se tornou sério. Saber que somente ela despertava o lado alegre e divertido de Darcy, a deixava em êxtase.

— Gostaria de saber mais sobre ela - comentou Lizzy, quando a mãe de Darcy - Gostaria de tê-la conhecido.

— Com certeza, ela nunca teria deixado a própria irmã fazer algo como isso - Charlotte disse em tom de julgamento - Uma dama deve saber fazer suas criticas, sem parecer afetada.

Mas, logo riu do próprio comentário, assim como Lizzy.

— A senhorita não acredita em nada do que disse, acredita? - Lizzy provocou.

— Nem um pouco - Charlotte respondeu, com um sorriso cumplice - Onde a senhorita estava, enquanto eu morava em Hertfordshire?

— Muito distante Srta. Charlotte, muito distante.

A conversa delas fora interrompida pelo aparecimento do Sr. Collins, que parecia falar pelos cotovelos, sem ser de fato ouvido. Lizzy logo percebeu que aquele homem era entediante e cheio de lisonjas, que com certeza, não eram verdadeiras. Falou sobre o quanto a decoração era bonita, mas não tanto quanto as decorações feitas por Lady Catherine. E o quanto o vestido de Lizzy lhe caia bem, mas não tão elegante quanto o próprio vestido de Lady Catherine. E dama em questão havia optado por usar um vestido em tom esmeralda, volumoso e com um espartilho muito apertado, deixando entrever seus seios. Até mesmo usava uma peruca em tom lilás, abanando um leque, sem parar. Ela era uma visão estranha, em volta de jovens que se vestiam de forma discreta, sem deixar de ser elegante.

— Espero muito poder ser convidado para seu casamento com o sobrinho da minha bem feitora - O Sr. Collins disse em tom afetado - Sei que ela não aprova o casamento, mas com toda certeza, será um casamento grandioso, afinal, o Sr. Darcy é conhecido por ter muitas posses. Ele não irá economizar em nada, eu acredito. Apesar de que a decoração desse casamento é tão pobre, perto do que ele poderia ter oferecido aos seus amigos...

Lizzy tentou esconder seu aborrecimento e tentava se esquivar dele, mas era difícil. Ele lhe dava uma chance de interromper seu monólogo estafante. E Charlotte ao lado dela tentava refrear o sorriso. Lizzy não sabia se era por admirar o noivo, uns bons centímetros mais baixo do que ela, ou se era um sorriso cínico.

A aproximação de outro convidado a deixou ainda mais inquieta. Lorde Clifton dizimava a distância, com um andar elegante, olhando em direção a ela. Algum minuto mais cedo conversava com Georgiana, fazendo-a rir. O que preocupava Lizzy sobremaneira. Sua intuição lhe dizia que algo estava errado com aquele cavalheiro e não era somente pelo fato de ser um libertino.

Lorde Clifton se colocou ao lado do Sr. Collins e interrompeu a conversa, de forma pouco elegante.

— Srta. Elizabeth, me daria a honra de um breve passeio? - Ele estendia a mão para ela, exibindo seu melhor sorriso, como se não fosse ser rechaçado.

O Sr. Collins olhou para o convidado, com um olhar estreito, parecendo empertigado, como se não gostasse de ser interrompido.

— Eu acho que...- Lizzy tentou negar.

— Vá, querida. Preciso dar uma palavrinha com meu noivo - Charlotte a incentivou.

— Não - Lizzy murmurou, mortificada.

Mas, Lorde Clifton não parecia entender que ela desejava correr da presença dele, como o diabo foge da cruz. Ele puxou a mão dela, colocando-a debaixo do seu braço e disse a Charlotte que em breve a traria de volta.

Os dois circularam em silêncio e ela percebeu que ele a afastava da festa, indo em direção as trilhas de árvores.

— Para onde estamos indo, milorde? - ela perguntou, tentando tornar seus passos lentos, propositalmente.

Ela sabia muito bem que não deveria fazer um escândalo. Mas, faria se fosse preciso. Iria esmurra-lo, mesmo que sua reputação fosse afetada. Para ela, isso pouco importava.

— Apenas um breve passeio, senhorita - ele disse, piscando para ela - Parece desconfiada. Mas, lhe garanto que não há nada a temer.

Ela olhou para o perfil dele. Um jovem dândi, de cabelos dourados em um olhar amigável. Apesar disso, havia um brilho estranho em seu olhar, como se estivesse prestes a fazer alguma coisa. Ao mesmo tempo, parecia o olhar de alguém desesperado.

— Quero voltar - ela pediu, tentando soltar a mão do braço dele, mas Lorde Clifton a segurou com força, fazendo seus passos se apressarem para dentro da trilha - O que pensa que está fazendo? Me solte agora!

— Fique quieta senhorita. Não quer fazer um escândalo, quer? Poderá colocar tudo a perder com seu noivo - ele ameaçou impaciente.

— E você acha mesmo que eu me importo com isso? - ela resmungou, tentando se soltar, mas ele a puxou, pela cintura dessa vez.

Foi quando ela olhou para baixo. Com um braço, ele segurava sua cintura e com a outra mão, ele apontava uma pequena pistola para a lateral do seu corpo. Ela não conseguia acreditar no que seus olhos viam.

— Lady Catherine me pagou bem para leva-la comigo - ele disse, com um tom orgulhoso - E não quero feri-la, senhorita. Não sou um homem que costuma machucar as mulheres, mas não me tente.

— Seu patife - Lizzy vociferou, tentando se soltar das garras dele, mas Lorde Clifton a segurou com força, apertando-as mais contra a lateral do seu corpo - Exijo que me solte, agora!

Shhh...quieta, ou terei que fazer o que eu não queria fazer, senhorita - ele disse, parecendo impaciente, mas era possível perceber que ele tinha situação fora do seu controle. Não parecia ser um homem que faria mal a ela. Era o que ela esperava.

Tentou tirar vantagem disso, pisando no pé dele. Ele silvou de dor, mas isso não o fez parar. Ele a soltou, de repente. Lizzy aproveitou a chance para sair da trilha e correr, mas não foi muito longe, ele logo a agarrou por trás, segurando-a firme com um braço e o outro, ele colocou um pano com um odor forte, que a fez ficar mole em seus braços. Sua visão ficou turva.

— Me desculpe, querida - ele pediu, segurando-a ainda com força - Mas, preciso tanto desse dinheiro, que não posso perdê-la de vista.

Sua voz era suave, como pluma. Ele não parecia querer machuca-la. Ela apenas contava com isso, enquanto perdia a consciência.

 

*

 

Darcy estava conversando com o Sr. Bennet por um longo tempo. Olhava para Elizabeth, conversando com o Sr. Collins, ao lado da Srta. Lucas e percebeu o quanto ela parecia impaciente. Pobre da sua noiva, que precisava aturar um homem tão insípido quanto o clérigo.

Então, sua prima, Anne, se aproximou dele, pedindo sua atenção. Assim como sua tia Catherine.

— Querido, poderia me ajudar com Anne, ela não está passando bem. Poderia a levar para seus aposentos?

— Com certeza, um criado poderá ajuda-la, tia – Darcy tentou se desvencilhar, esquecendo-se de ser um cavalheiro. A etiqueta pedia que ele se colocasse de prontidão para auxilia-la.

Catherine fez uma carranca para ele, demonstrando toda sua contrariedade.

— Sabe que não confio nos criados, inclusive nos seus – ela disse, com desdém.

Darcy controlou a raiva por ouvir aquele comentário tão mal educado. Havia se esquecido do quanto sua tia conseguia lhe tirar do sério e se esforçava para importuna-lo sempre que possível.

— Eu a levarei, tia – ele disse, apenas para se livrar dela.

— Obrigada, querido – Catherine respondeu de forma forçada, como se fosse custoso a ela agradecer alguma coisa.

Logo Darcy ajudou Anne, que realmente parecia frágil ao seu lado. Ele se apoiava em seu braço e suspirava. Anne sempre teve uma palidez mortal, como estivesse doente. Mas, naquele momento, ela parecia contrariada com algo.

— Você está bem, prima? - ele perguntou, enquanto caminhavam para a propriedade.

Foram parados pela Srta. Caroline, logo em seguida. A jovem sempre o perseguia, em qualquer evento e isso estava passando dos limites aceitáveis para ele.

— Sr. Darcy, que bom que o encontrei – ela disse, em tom afetado, abanando o leque dourado.

Seu vestido era no mesmo tom. E o corpete era coberto de pedrarias. Não parecia ser harmonioso com seus cabelos ruivos. Mas, Darcy não compreendia nada sobre a moda feminina.

— Srta. Caroline, eu peço sua licença. Preciso levar minha prima para o quarto dela.

Ele se afastava, sem ao menos esperar uma replica. Queria se afastar dela o mais breve possível. Contudo, ela parecia ter outros planos.

— Deixe-me ajuda-lo, Sr. Darcy – ela pediu, se colocando ao lado de Anne, fitando-a com um olhar falsamente piedoso. Darcy sabia disso, pois ela sempre fora dissimulada. Até mesmo fingira torcer o tornozelo uma vez, enquanto estava hospedada em Pemberley, apenas para ser carregada por Darcy. Quando o médico dele veio examina-la, constatou que não havia da de errado com o tornozelo da jovem, apenas uma mente fértil e afetada – A senhorita está bem? Quer que chame o médico?

— Eu apenas preciso repousar – Anne disse, com a voz baixa.

— É claro que precisa querida – ela disse, em com tom condescendente – Está tão magra, querida. Sempre que a vejo, parece tão pálida.

Darcy sentiu sua prima enrijecer. O comentário com certeza não foi do seu agrado. Mas, se a Srta. Caroline percebeu, não deu atenção, pois continuou a falar o quanto Anne precisava se alimentar mais e sair um pouco para fazer caminhadas, contudo, com uma sombrinha, para não queimar sua pele. Afinal, uma jovem com a pele queimada pelo sol não era bem vista.

Ele deu graças a Deus por conseguir chegar ao quarto de Anne, no terceiro andar. Deixou-a na porta, mas ela não o deixou partir. Segurou sua mão, com os olhos disparados. Parecia querer dizer algo, mas não disse.

— Está tudo bem? Tem certeza que não quer que chame o médico, Anne? – ele perguntou, com amabilidade. Ele sabia que sua prima sofria muito pela tirania da própria mãe. Tinha pena da jovem.

— Darcy, me perdoe – ela pediu, com os olhos baixos, soltando o ar.

— Perdoa-la pelo o que? – ele perguntou confuso.

Ela não respondeu a ele. Simplesmente entrou no quarto e fechou a porta. Ele encarou a madeira da porta, sem entender o que de fato havia acontecido ali.

— Ela é muito dramática, não acha Sr. Darcy? – A Srta. Caroline se pronunciou, para irritação dele – Sempre tão afetada.

— Algum motivo ela deve ter para isso. Se me der licença.

Ele se afastou dela, sem espera-la. Ela tentou segui-lo, chamando-o.

— Sr. Darcy, espere, não consigo correr com esses saltos.

Ele não lhe deu atenção e desceu as escadarias com pressa. Sentia que algo estava errado. Pensou no olhar culpado de Anne. A insistência da sua tia para que ele a levasse para o quarto. Lembrou-se de Lorde Clifton conversando sem pausa com Georgiana, fazendo-a a rir. O sangue dele congelou nas veias, pensando no pior. E se sua tia tivesse armado para que aquele homem tentasse algo contra Georgiana, apenas por capricho? Se ele estivesse na festa, iria atrapalhar todos os planos da sua tia. Mas, se estivesse longe, distraído, Lorde Clifton poderia fazer o que pretendia.

Darcy apressou o passo, passando pela porta da frente, assustando o mordomo, que não teve tempo de abrir a porta para seu amo. Ele fez isso, sem olhar para trás e correu pelo gramado, indo direto para o jardim. Olhou em volta, para os convidados que estavam alheios a tudo, servindo-se do buffet. Procurou uma cabeleira loira e a viu, ao lado de Richard. Georgiana estava a salvo. Nada de mal iria acontecer com ela. Darcy soltou o ar, sentindo-se aliviado, mas seu corpo inteiro tremia pelo nervosismo e por cogitar que algo de ruim fosse acontecer com sua irmã.

Logo pode ver sua tia conversando com o Sr. Collins, se abanando com seu leque. Ela o chamou, acenando com o objeto e Darcy não queria se mover. De fato, ele resolveu ignora-la, seguindo para perto de Bingley e sua noiva. Seus olhos procuravam entrem os convidados sua própria noiva, mas ela não estava em parte alguma.

— Eu já os felicitei pelo belo casamento?- Darcy perguntou, com bom humor.

A Sra. Bingley pareceu surpresa com o comentário tão espontâneo dele. Já Bingley, deu uma risadinha.

— Não posso acreditar que a Srta. Elizabeth conseguiu deixa-lo com um excelente humor, Darcy – seu amigo zombou.

— Acredito que ela tenha me feito muito bem – Darcy confessou, sentindo seu peito aquecido – E aliás, vocês a viram?

Eles negaram com a cabeça.

— Eu a vi com Charlotte – A Sra. Bingley respondeu – E depois, com lorde Clifton. Mas, depois, não vi mais. Deve estar passeando.

Algo se acendeu na mente de Darcy. Um alerta. Uma voz irritante lhe dizendo que algo estava errado.

— Viu para onde ela foi Sra. Bingley?

Ela pareceu pensar.

— Acredito que eles tenham ido caminhar pelas trilhas – Bingley respondeu por ela – Devem estar voltando.

Darcy sentiu o coração disparar. Algo estava errado. Por que sentia que algo estava errado? Seria um simples passeio. Bingley encarava como isso. A Sra. Bingley igualmente. Mas, por que para ele não?

Ele aproveitou para interrogar a. Srta. Lucas assim que a viu, para saber se ela viu sua noiva.

— Não, Sr. Darcy. Faz um tempo que a vi caminhando com Lorde Clifton. Ele parece ser muito simpático.

Se ela soubesse que ele era um libertino, não diria isso. Mas, ele não ficou para esclarecer nada com ela. Continuou perguntando aos convidados e logo constatou em seu relógio de bolso que já fazia meia hora que ele deixou Anne no quarto. E nesse meio tempo, Elizabeth e Lorde Clifton não foram vistos.

Darcy se aproximou da sua tia, que estava conversando com sua tia, Lady Metlock.

— Ah, querido – ela disse, com um sorriso amável. Seus cabelos loiros estavam em cachos e uma tiara de flores estava sobre sua cabeça. Ela era muito jovem – Quase não tive tempo de conversar com você.

— Tia, por acaso você viu a Srta. Elizabeth? – ele perguntou, mas olhou diretamente para Catherine, que não parecia demonstrar nada.

— Não querido. Não a vi. E você ainda não me apresentou a ela. Soube por Richard que ela é sua noiva – Lady Metlock parecia magoada.

— Eu irei apresenta-la devidamente, tia. Com certeza – ele garantiu – E tia Catherine, a senhora não a viu?

Ela abanou o leque esmeralda, com um olhar de desdém.

— Acredita que eu estaria olhar para uma dama como ela, Darcy? Eu não tenho tempo para isso.

— Peço que respeite minha noiva, tia. Não lhe dou o direito de fazer esse tipo de comentário – ele a advertiu, com um olhar penetrante, que não parecia abala-la.

— Por favor, não brigue com sua tia, querido – Lady Metlock pediu, com um olhar conciliador – Somos família.

— Às vezes penso que não – Darcy deixou escapar.

Lady Metlock soltou o ar e Catherine o fitou com olhar afiado.

— Tudo tem consequências, Darcy – Catherine disse de forma enigmática – Deveria pensar nisso.

— O que a senhora quer dizer? – ele inquiriu, irritado.

Mas, ela não respondeu. Lady Metlock desviou a atenção, para o quanto seu filho Richard e Georgiana eram feitos um para o outro e Darcy se afastou, sentindo o coração opresso. Resolveu seguir pela trilha a qual Elizabeth seguiu com Lorde Clifton. Não precisou andar muito. Observava a paisagem, olhando ao redor, vendo que o sol já estava se pondo no horizonte, deixando a claridade do local comprometida. Mas, seus olhos voaram para um objeto brilhante no chão. Ele se abaixou para pega-lo e reconheceu o prendedor de cabelo que Elizabeth usava aquela tarde. Isso não provava que algo estivesse acontecendo. Ela poderia estar dentro da mansão. Ou caminhando. Mas, por que ela saiu justamente com Lorde Clifton? O homem que ele pediu para que ela evitasse?

Darcy trincou o maxilar, tentando conter a torrente de pensamentos que inflavam seu peito. Não poderia perder a razão naquele instante. Ela devia ter voltado. Era isso. Ele deu meia-volta, para não encontra-la, nem sinal de Lorde Clifton. Pediu a um criado que olhasse na mansão se ela estava por lá. Ele ficaria ali, esperando pela volta dela, mas então, os convidados rumaram para a mansão, para o salão de baile, para dançar. Seria a primeira dança do senhor e da senhora Bingley. Contudo, Darcy ficou ali, no jardim, esperando, de braços cruzados. Esperando por Elizabeth, mas ela não apareceu. E seu criado disse que fora vasculhada toda a mansão e nenhum sinal dela.

— Os pertences dela ainda estão no quarto? – ele inquiriu, contendo o animo.

— Sim, senhor – o criado respondeu.

Darcy engoliu a seco. Se ela não havia partido, então, para onde ela havia ido? Seria possível ter desaparecido misteriosamente no ar, como havia acontecido meses atrás? Somente de pensar na possibilidade, ele sentiu o coração opresso. Não poderia perdê-la, não agora que ela voltou para seus braços.

— Poderia checar se os pertences de Lorde Clifton estão no quarto de hospedes? – ele pediu.

— Sim senhor.

Darcy andou de um lado a outro, pensativo, esperando. Mas, não conseguia permanecer quieto. Resolveu convocar seus criados, até mesmo Bingley, interrompendo a festa de casamento, para procurar Elizabeth. Não poderia perdê-la.

O criado informou a Darcy, assim que ele voltou da sua busca inútil para propriedade, que os pertences de Lorde Clifton não se encontravam no quarto e que uma carruagem havia desaparecido. E que o cavalariço que cuidava dos estábulos jazia no chão, desacordado. Quando questionado, ele havia dito que não se lembrava de nada, apenas de ter uma forte dor de cabeça.

— Será possível que Lorde Clifton tenha ido embora com Elizabeth? – Darcy se perguntou, enquanto olhava para a noite escura. Sentia-se ansioso, perdido e assustado. Onde poderia estar sua noiva?

— Eu não acredito que seja isso – Bingley disse descrente – Por que ele faria isso? Está afundado em dividas, para que roubar a noiva de outro?

— A não ser que alguém tenha pagado para fazê-la desaparecer – Darcy conjecturou.

— É uma ideia fantasiosa, Darcy. Com certeza, ela ira aparecer – Bingley tentou argumentar.

— Não, com certeza não é – ele disse resoluto – Eu sei quem pode me confirmar isso.

Ele começou a andar pelo gramado, se afastando dos estábulos. Havia pedido para os criados continuarem e a busca e pediu para que enviasse um aviso para as autoridades locais sobre o desaparecimento de Elizabeth e o roubo da carruagem, alegando ser obra de Lorde Clifton. Era uma acusação grave, mas Darcy sentia que com certeza havia um envolvimento daquele cavalheiro com isso.

Darcy seguiu adiante, caminhando a passos largos, não esperando por Bingley. O mesmo o seguiu, tentando conversar com ele.

— Espere, para que tanta pressa, Darcy? Por Deus.

Mas, Darcy não parou. Na verdade, apressou o passo, decidido a entrar na mansão. Mal esperou para que a porta da frente fosse aberta, passando de forma intempestiva pelo hall de entrada e subindo as escadarias. Bingley estava em seu encalço, chamando-o. Quando atingiu o terceiro andar, seguiu pelo corredor ainda iluminado pelas lamparinas e bateu com força excessiva na porta de um dos quartos de hospedes. Não demorou muito para ser aberta por Anne, que ajeitava óculos de grau com a ponta do dedo e segurava um castiçal com uma vela acesa, na mão esquerda. Ela olhou para Darcy e empalideceu.

— Você sabe o que aconteceu. Agora me diga, onde ela esta? – Darcy exigiu.

— Não sei do que está falando – ela desconversou, mas, sua voz era falha.

— Darcy, mas que diabos...- Bingley praguejou.

Darcy levantou a mão, para conter a fala de Bingley.

— Você sabe do que estou falando, Anne – Darcy disse, com a voz falsamente calma. Sua prima estremeceu e piscou algumas vezes. Estava visivelmente nervosa – Por que me pediu perdão?

— Eu não...- Anne tomou o ar, tensa – Não posso lhe dizer Darcy.

A voz dela falhou no final e ele teve que se esforçar para ouvi-la.

— É tia Catherine, não é? – ele tentou parecer solidário, mas sua vontade era de estrangula-la. Seria capaz de fazer isso com sua tia também.

Anne apenas anuiu com a cabeça.

— Para onde Elizabeth foi levada? – ele exigiu.

— Para uma hospedaria, próxima de Pemberley. É a Rose House – Anne sussurrou a resposta, sem olha-lo – Por favor, me perdoe. Eu não tinha como para-la.

— Você poderia ter me dito antes, Anne. Estou muito decepcionado – Darcy disse, com a voz cortante. Anne se encolheu, mas isso não o fez ter pena dela, apenas raiva – A partir de hoje, você e sua mãe estão banidas da minha vida. Fui claro?

Ela assentiu, sem fita-lo.

— Confirme se Lorde Clifton está com ela.

Anne ficou em silêncio, sem emitir um som sequer.

— Confirme Anne – Darcy exigiu.

— Sim – ela balbuciou – Por favor, não faça nada a ele...Eu...o amo.

— Que absurdo – Darcy exclamou sem acreditar no que ouvia – Sinto muito Anne, mas o homem que você ama não vale nada. Não vale sua consideração.

A jovem se encolheu, parecendo abalada pelas palavras duras do primo, mas Darcy não demonstrou qualquer piedade. Ele apenas lhe deu as costas, sendo acompanhado por Bingley.

— E agora? – seu amigo perguntou.

— Agora preciso de duas pistolas – Darcy disse, com a voz sombria – Eu vou fazer aquele patife se arrepender de ter cruzado meu caminho.

— Darcy, se acalme. Você não é assim – Bingley pediu – Apenas vamos resgatar Elizabeth e deixar Lorde Clifton com as autoridades.

Darcy teria escutado seu amigo, se não estivesse com a mente tão enevoada. Apenas seguiu para o escritório, indo direto para a escrivaninha e pegando uma caixa com duas pistolas, que ele havia recebido de herança. Pertenciam ao seu pai, que o ensinara a atirar, como esporte. Darcy nunca pensou que iria atirar para matar um ser humano. E pensar nisso o deixou enjoado. Contudo, Lorde Clifton brincara com fogo ao tirar a coisa mais importante para ele na vida. Se ele tivesse feito o mesmo com Georgiana, Darcy não teria misericórdia. O mesmo sentimento intenso e forte que sentia por sua irmã, era triplicado quando se tratava de Elizabeth. Apesar disso, tentou respirar com calma, pois se ele não matou George Wickham, nem o homem que trouxe Elizabeth para sua vida, ele não faria isso com Lorde Clifton. Não era do seu feitio. Porém, colocou as pistolas dentro dos bolsos internos do casaco. E ordenou que um criado preparasse um cavalo para ele. Iria atrás de Elizabeth e nada, nem ninguém a tiraria de novo dos seus braços.

 


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