Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 32
Capítulo 32




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Talvez, ela devesse perder as esperanças. Esquecer que um dia cruzou seu caminho com Darcy e deixar que o tempo se encarregasse de apagar as memórias dele. Mas, era quase impossível fazer isso. Ela ainda sentia um buraco no seu peito. A cada respiração ela sentia o vazio inunda-la. E não era somente o vazio, era a dor de ter perdido tudo. Era como se seu coração tivesse ficado com ele. Então, a dor vinha em seguida, em lágrimas insistentes. Era quase impossível nesses momentos ser produtiva dentro do trabalho. Ela se trancou no banheiro várias vezes no expediente. Depois, tentava disfarçar com a maquiagem, para que ninguém percebesse que ela havia chorado por um bom tempo.

Duas semanas haviam se passado e Lizzy não conseguiu qualquer solução para seu problema. Alexander misteriosamente havia sumido e não veio buscar seu celular. Ela não conseguia compreender as ações dele. Será que ele a deixou ali, pois ela insistiu tanto para voltar? Ele não tinha percebido que ela tinha mudado de ideia? Ou será que estava com raiva dela, deixando-a presa em um lugar que já não sentia a menor afinidade? Ela mal ligava a TV quando estava em casa. Nem usava seu celular. Passou a se tornou incomunicável, até mesmo nas redes sociais. Ela havia deixado o mundo tecnológico, porque de fato, talvez, não visse graça em mais nada. As únicas coisas que a moviam eram seus amigos, Boris e sua irmã. Eles eram suas âncoras no mar revolto, para firma-la na realidade.

A ideia de Meredith encontrar uma taróloga não deu certo. Ela simplesmente mentiu para Lizzy, dizendo que ela poderia trazer seu amor de volta, se ela lhe pagasse pelo menos mil libras adiantadas pelo serviço, pois ela iria precisar comprar os materiais para fazer o trabalho. Lizzy não se deu ao trabalho de escuta-la. Simplesmente saiu da casa dela, deixando Meredith para trás. Fora um dia péssimo. Além de enfrentar uma chuva incessante para chegar àquela parte de Londres, ela levou um banho de água de um carro que passava com pressa. Ele passou pela poça ao lado da calçada, espirrando água suja em Lizzy. Ela nunca ficou tão revoltada quanto naquele dia. Depois disso, ela não quis escutar qualquer conselho que Meredith tentava dar a ela.

Contudo, suas pesquisas continuavam. Procurava uma forma de voltar no tempo e usava o Google como sua ferramenta. Comprou até livros de Física, para saber se era possível fazer isso. Mas, ela nunca tirava uma resposta que resolvesse seu problema. A não ser que ela conseguisse um buraco de minhoca, ela não iria voltar no tempo. Ou uma Tardis. Se Doctor Who fosse real, ela iria pedir uma carona para ele.

Então, em um dia chuvoso, o qual não a permitia sair de casa sem se molhar, ela ligou a TV. Estava tão inquietante ficar sozinha em seu apartamento. Era um final de semana terrivelmente solitário. Jane estava com seu namorado Charles. Meredith foi a jogo de futebol na Escócia, com Josh. E Lizzy não gostava nem um pouco de futebol, nem dos hooligans, que tinha um comportamento destrutivo nessas partidas. O melhor era ficar em sua casa, na segurança do seu sofá.

Boris dormia tranquilamente ao seu lado, com a cabeça sobre suas patas. Lizzy zapeou pelos canais, entediada, comendo pipoca de micro-ondas, com gosto de cheddar. Como sentiu falta disso. Mas, ela trocaria todas as pipocas de micro-ondas do mundo para ter Darcy de volta. Então, ela parou em um filme familiar. Ela podia ver o ator Matthew Macfadyen na tela, atuando com Keira Knightley. E as roupas de época já demonstravam em qual século se passava a história. E qual era a história.

— Orgulho e preconceito – ela diz, em voz baixa, assustada. Temerosa e com as pernas bambas.

Ela não queria saber mais daquela história. Não queria saber sobre Elizabeth Bennet e o Sr. Darcy. Não, não queria. Mas, se viu presa ao sofá, assistindo o filme. Vendo cena por cena. Nada havia mudado. Nada, exceto o final. E o final a deixou sem ar. Ela começou a chorar. Gritou de raiva, assustando Boris. Ela desligou a TV, jogando o controle no chão, abraçando seus joelhos, sentindo os olhos inchados, a garganta apertada.

Precisava ligar para alguém. Precisava desabafar. Precisava entender o que havia acontecido com Darcy e Elizabeth. Por que o final havia mudado? Era o mesmo filme. Os mesmos atores. Mas, o final não era igual. Não era nada igual.

Ela se levantou do sofá decidida. Pegou o celular dentro da bolsa, pendurada no gancho da porta do seu quarto e fez a ligação para primeira pessoa que veio a sua mente.

— Oi Lizzie – A voz de Jane ressoou calma e tranquila. Mas, isso não acalmou o coração de Lizzy, que batia freneticamente no peito.

— Jane, eu preciso saber...eu preciso...por que Elizabeth e Darcy não ficam juntos no final? – ela despejou sua indignação, sem pensar em contextualizar.

— Espera o que? Lizzie e Darcy? – Jane pergunta confusa – Por que está pensando nele? É por causa do seu Darcy?

— Só responde – Lizzy exigiu.

— Eu não sei...eu não estou entendendo, Lizzie. Achei que soubesse. O livro de Jane Austen não é feliz. Não tem um final que todos esperamos. É muito shakespeariano – Jane responde, como se fosse tudo tão óbvio, mas para Lizzy não parece nada claro.

— Espera, não pode ser – Lizzy diz, soltando um muxoxo – Vou desligar.

— Espera, mas o que está acontecendo, Lizzie? – A voz de Jane ressoa preocupada, mas Lizzy desliga o telefone.

Então, guarda o telefone dentro da calça jeans, que começa a vibrar, contudo não dá a menor atenção. Vai para sala e olha as estantes que tem, procurando livro Orgulho e Preconceito. Com certeza, nessa realidade ela deve ter esse livro. E não se decepciona. É um livro gasto, antigo, de capa mole, com a foto de Keira Knightley, vestida como Elizabeth Bennet, de costas para um campo aberto.

Lizzy senta no sofá, passa as páginas apressadamente, com o coração saltando pela boca. Ela está com medo do que vai encontrar. Medo de que o final feliz daquele casal tenha mudado, pelo simples fato de que Lizzy fez uma viagem no tempo. E viagens no tempo, segundo a teoria, podem mudar todo o curso de uma linha do tempo. Se ter feito isso, causou aquele estrago, o que mais poderia acontecer? Seria possível que os Beatles não existissem naquela realidade? Ou que a Guerra Fria não tivesse terminado?  Ela estava delirando e deveria se acalmar, mas não conseguia. Quando chegou à página que queria, parou para ler o paragrafo.

“Se ele soubesse que nunca mais poderia vê-la, jamais teria permitido que seu amigo, o Sr. Bingley, deixasse Netherfield. A culpa era sua, é claro. Apenas ele era responsável pelas ações que havia tomado desde que deixou Hertfordshire. Saber que a Srta. Elizabeth estava vindo até Londres por sua causa, o deixou com o coração ainda mais apertado. Ela não sabia que ele fora a causa do Sr. Bingley para se afastar da irmã dela, a Srta. Bennet mais velha. E saber que ela o amava e o amou desde que os dois se conheceram de fato em Kent o deixou lívido. Não pelos sentimentos que ela professou na carta, mas por ela ter tomado uma diligencia até Londres, apenas para vê-lo, sem saber se ele iria receber ou não a carta.

Como pode simplesmente não fazer nada? Por que não demonstrou o que sentia? Seus sentimentos eram profundos, mas o medo de enfrentar as convenções sociais parecia tê-lo vencido. Ele não poderia se casar com uma mulher daquela estirpe. Nem ao menos sonhar com ela. Contudo, ao ler sua carta, ele percebeu que deveria lutar por ela. Mas infelizmente era tarde demais para isso...”

O telefone de Lizzy não parava de tocar no bolso e ela atendeu, sentindo a indignação por ser interrompida de forma abrupta. Eram as ultimas paginas do romance e não dizia ainda o que de fato aconteceu com Elizabeth.

— Alô? – ela atende com certa urgência.

— O que está havendo, Lizzie? – Lizzy escuta a voz de Meredith – Jane está apavorada. Por que não atende a ligação?

— Meri, agora eu não posso falar – Lizzy responde impaciente – Descobri que o final de Orgulho e Preconceito foi alterado.

— Nunca foi, Lizzie. Ele sempre foi assim. O que há com você?

Lizzy desliga, com raiva, jogando o celular ao lado, voltando para o livro. Boris salta do sofá, com um ar indignado.

“...Mas infelizmente era tarde demais para isso. Ela havia morrido e a morte os separava, de forma irrevogável. Ele não poderia lutar contra a morte, nem contra o destino. Apenas poderia se lamentar, lamentar o dia em que resolveu deixar Netherfield.

Seus familiares não pareciam compreendê-lo em seu luto. Apenas uma pessoa permaneceu ao seu lado, compreendendo sua dor. Sua doce e adorável irmã, Georgiana Darcy, atualmente, Georgiana Fitzwilliam, pois desposou Richard Fiztwilliam, seu primo, tentava animar seu animo a cada dia.  Era o único parente que ele permitia entrar em Pemberley.

— Ela teria amado esse jardim, Darcy – Georgiana olhou para o jardim de lírios, recentemente plantado, com um memorial para ela.

— Eu sei que teria. Ela gostava de lírios. Em uma de nossas caminhas em Kent, ela disse que estava apaixonada por eles – Darcy disse, com a voz baixa e grave.

— Eu sinto muito, de verdade. Eu não queria que isso tivesse acontecido – Georgiana disse, segurando-o pelo antebraço.

— Não há necessidade de se desculpar com isso. Era eu mesmo que lutou com esse sentimento, Georgiana. Eu me coloquei contra isso, contra essa união e a perdi. Além de perder um bom amigo. Charles nunca mais quis falar comigo, ao saber que Jane Bennet se casou com um capitão da marinha. Ele esta desgostoso. E com razão. Talvez, Deus tenha me castigado por ser tão orgulhoso e mesquinho. Eu nunca, jamais deveria ter escutado os conselhos de Tia Catherine.

— Pense que com isso você aprendeu algo, meu irmão. A não julgar os outros pela aparência, ou pela fortuna – Georgiana tentou remediar.

Ele anuiu levemente com a cabeça. Contudo, dentro de si não havia como apagar o seu maior erro. O erro de julgar um ser humano por suas posses e pelo que ele era. Elizabeth Bennet era muito mais do que seu nome. Mesmo que viesse de uma família humilde em suas origens. Ao menos, poderia se consolar que em seu sonho, ela o perdoaria por tudo e pedia que ele encontrasse sua paz de espirito. Era o que ele vinha tentando. E pela memória dela, ele iria lutar para se manter feliz.”

Então, a história terminava ali, de forma tão dolorosa, que Lizzy soluçou ainda mais, deitando a cabeça no apoio do sofá, jogando o livro no chão, encolhida em posição fetal. Não era possível que a história deles tivesse terminado assim como a dela. Não era justo aceitar que tudo terminou de forma tão dolorosa.

Lizzy não sabia como aceitar aquela situação. Para ela não era possível aceitar que jamais veria Darcy de novo e que tudo que ela viveu não passara de uma ilusão. Que talvez, ela nunca tivesse encontrado ele de fato. Mas, ela tinha as memórias claras dos dias que passou ao seu lado. E da história romântica entre Lizzie e Darcy. Não era possível ter inventado tudo isso. Então, tomou uma decisão. Se estava em frente à mansão Darcy, quando voltou no tempo, o passado deles devia estar lá. Ao menos, voltando à mansão, poderia saber se Darcy fora ou não feliz. Era só isso que bastava para ela. Saber que seu amado fora feliz. Enquanto isso, ela viveria dia após dia, sem muita razão para viver, mas tentaria. Ela apenas tentaria manter-se viva.

*

— Você tem certeza que quer entrar ai? – Meredith pergunta, desligando o carro.

Elas estavam em um estacionamento, ao lado da propriedade. Pemberley estava a alguns passos de Lizzy.

— Sim – ela anui com a cabeça.

Meredith solta um suspiro cansado.

— Ok, é por sua conta e risco. Mas, eu não quero vê-la chorando, Lizzie. Já foi de partir o coração vê-la encolhida no sofá ontem. Vou com você.

— Não, você fica Meri. Já cortei o final de semana de vocês pelo meio.

— Eu acho melhor todos entrarmos – Josh interrompe, no banco de trás – Para o caso de Lizzie ter algum ataque ou sei lá, queira quebrar tudo que estiver pela frente.

Lizzy não pode deixar de rir. Josh sempre falava coisas engraçadas nas horas mais erradas, mas ele era seu amigo. E ela entendia que ele só estava sendo engraçado para ajuda-la.

— Tá, vocês entram. Mas, nada de me interromper, ok?

Meredith e Josh concordaram. Então, os três saíram do carro, indo em direção a mansão Darcy. A cada passo que Lizzy dava, suas pernas pareciam gelatina, então, ela se apoio em Meredith, para não cair. Havia uma fila para entrar no saguão principal da mansão. Eles precisaram esperar cerca de quinze minutos, para entrar. Contudo, quando estava na porta de entrada, Lizzy desejou voltar.

— Vai, não adianta voltar atrás agora – Meredith a puxou pelo braço, entregando os bilhetes ao guichê.

— É proibido filmar e fotografar no local. Caso queiram fazer isso, é necessário pagar uma autorização na entrada – o guia informou, enquanto levava o grupo para conhecer a mansão Darcy.

Lizzy não estava interessa em fazer nada disso. Ela somente queria saber o que houve com Darcy e sua família. Sentia que somente assim poderia dar paz ao seu espirito. Talvez, começar de novo.

— Mas, que aproveitador – Meredith acabou cochichando ao seu lado, talvez, para ela ou para Josh – Tem que pagar apenas parar filmar ou tirar foto?

— Muitos museus são assim, Meri. Por que está reclamando? – Josh pergunta.

— Porque eu acho isso um absurdo. A cultura deveria ser livre para todos. Não devíamos nem pagar entrada.

— E lá vamos nós de novo com isso. Sem pagar entrada, não se poderiam manter os museus ou locais como esse – ele tenta argumentar.

Lizzy se afasta dos dois, para ouvir o que o guia estava falando ao grupo.

— Aqui, com vocês podem ver, é o salão principal da casa. É o salão de baile. Anteriormente, essa mansão era da família Darcy, que passou a ser da família Fitzwilliam, no século 19...

Lizzy congelou ao ouvir isso. A mansão passou para Richard? Seria isso possível?

— Desculpe, senhor – ela chama a atenção do guia, que a fita como se ela estivesse o atrapalhando – O senhor disse que a mansão é da família Fitzwilliam? O que houve para ser?

— Ora, você não sabe? Georgiana Darcy se casou com Richard Fitzwilliam, o primo. O Sr. Darcy não gerou nenhum herdeiro para essa propriedade e para nenhuma vinculada ao seu sobrenome – Uma jovem loira explicou para Lizzy, como se fosse um assunto que todos deveriam saber – Você nunca leu a história deles? Em Orgulho e Preconceito? Jane Austen relata uma história verdadeira e foi permitida por Georgiana Darcy a ser contada. Foi publicada anos depois da morte do Sr. Darcy, em 1825. E isso aconteceu depois de anos da morte de Jane Austen. Mas, como Georgiana e ela trocavam cartas, a irmã de Darcy tinha a posse do manuscrito.

— Não pode ser – Lizzy diz baixinho, sentindo o peito apertado.

— Realmente, foi isso mesmo – o guia continuou a falar – Georgiana Darcy apenas publicou anos após a morte do irmão, pois não queria causar ainda mais dor nele. Infelizmente, Jane Austen veio a falecer em 1817, dois anos depois da morte do Sr. Darcy. E o livro foi publicado depois de quase dez anos da morte da autora. O que é uma pena, afinal, ela nem soube que seu nome é conhecido mundialmente. Até filmes foram inspirados na história trágica de amor entre Elizabeth e Darcy...

Lizzy não prestou mais atenção ao tour. Apenas andou a esmo, tentando entender o que aconteceu com Darcy.  Como ele poderia ter morrido tão jovem? Ao que ela se recordar, ele tinha 27 anos em 1797. Se ele morreu em 1815, então ele tinha a idade de quarenta e cinco anos? Talvez, não tão jovem, mas ele nem ao menos se casou nesse período. O que a deixou ainda mais nervosa.

— Desculpe – ela interrompe mais uma vez o guia, quando o grupo entra na galeria de retratos da família Darcy. O guia a fita impaciente – O senhor sabe informar porque o Sr. Darcy não casou?

— Não é óbvio? – alguém diz há uma distancia dela. Um rapaz de cabelos escuros – Ele não casou porque amava a Srta. Bennet.

— São especulações – a mesma loira que havia respondido no salão de baile a pergunta de Lizzy, retrucou o rapaz – Não há cartas provando isso. Quem afirmou que eles se amavam era a própria Georgiana, em cartas trocadas entre ela e Jane Austen, mas isso não prova nada.

— Já são indícios – o rapaz insiste na argumentação.

O guia os interrompe e começa a mostrar os retratos da família Darcy. Desde seu início, até ao quadro de Darcy. Lizzy prestou atenção aos detalhes, ao rosto quadrado dele. Do olhar firme e sério. Da postura aristocrática. Da casaca azul marinho, as botas de cano alto. Ele estava sentado em uma poltrona, sob um fundo escuro, com as mãos apoiadas na poltrona. Seu olhar apenas demonstrava sua firmeza de caráter e seriedade. Nada mais. Nem uma sombra de tristeza. Talvez, ele tivesse vivido bem. Sem qualquer tristeza. Talvez, os dois meses que passaram juntos não impactou em sua vida. Doía pensar nisso, mas pelo menos, ele não estava infeliz. Ele foi feliz ao seu modo, mesmo não casando. Mesmo encerrando sua linguagem consigo mesmo. O que não era algo que ele faria. Ela sabia que ele iria cumprir seus deveres, para produzir um herdeiro. Então, só uma tragédia poderia tê-lo afastado de seus deveres. Ela gostaria de não pensar que era a causa disso.

— O mais interessante é que o Sr. Darcy financiou muitos estudos na área de Física e Química. Em suas cartas, ele parecia envolvido em algo grandioso. Ele desejava saber sobre a viagem no tempo, mas apenas fazia conjecturas. Um pensamento avançado para seu tempo –  A voz do guia interrompeu o fluxo de pensamentos de Lizzy.

— Ah meu Deus – a voz de Meredith ressoou ao lado dela. Lizzy virou o rosto, também muito surpresa com aquela revelação – Ele nunca se esqueceu de você, Lizzy.

— Eu não sei o que pensar sobre isso – Lizzy diz, com a voz fraca, sentindo-se enjoada.

— Quer ir embora? – Josh pergunta, segurando-a pelo cotovelo – Já chega por hoje, não acha?

— Não, eu preciso continuar vendo. Eu só preciso de ar.

Ela se afastou do grupo, andando pelos corredores, atravessando o saguão e indo direto para o corredor da biblioteca. Seus pés a levaram de forma automática para aquele lugar. Ela abriu as portas duplas, tão familiares. Fora ali que encontrou Richard e Georgiana. Fora ali que testemunhou o amor deles. Fora ali que Darcy se declarou para ela, de forma tão apaixonada. As lágrimas borravam sua visão. O local estava mal iluminado, devido às cortinas que estavam cerrados, do outro lado do cômodo.  Instintivamente, Lizzy procurou um interruptor de luz e estranhou encontra-lo. Mas, era óbvio que o lugar teria energia elétrica. Passou de geração e geração, pela família Fitzwilliam. Eles deviam ter modernizado a casa.

Ela adentrou a biblioteca, passando por entre as estantes, sentindo o cheiro de mofo invadir suas narinas. Tão comum. Ela passou os dedos pelas lombadas, até que viu um pedaço de papel por entre os livros. Puxou, de forma curiosa e abriu. Era um papel amarelado, muito frágil. Ela temia que se desintegrasse em suas mãos. Por isso, levou o papel até uma escrivaninha e abriu. A caligrafia era elegante, inclinada, um pouco pequena, mas legível. E ali diante dela estava uma carta, que parecia ser de Darcy. Ela sentiu a adrenalina tomando-a. Quase não conseguia pensar direito, enquanto lia as linhas:

“Hoje faz exatamente dois meses e cinco dias que Elizabeth se foi. Eu penso se não foi um sonho o que vivemos, ou obra de um ser místico. Os irlandeses têm suas lendas, sobre bebês que são deixados em florestas, para serem levados por fadas, para se curarem de suas doenças. Penso neles, pois talvez, em suas lendas existam uma explicação para uma mulher simplesmente desaparecer no ar. Ela poderia ser uma fada. E eu não acredito que estou realmente conjecturando isso. Mas, é a única explicação que tenho para ela simplesmente sumir em um clarão.

Elizabeth nunca foi uma dama comum. Ela falava sobre o tempo constantemente. E dizia que não era dali. Lembro-me de uma conversa que tivemos. Ela afirmava estar no século XXI, mais especificamente, quando nos conhecemos. Eu pensei que ela fosse louca, ou que tivesse batido a cabeça, causando desorientação. Mas, me pego pensando que, talvez, ela não estivesse mentindo sobre de onde ela veio. Afinal, todo seu comportamento mostra que ela não é comum.

Não consigo me esquecer do objeto que ela carregava na mão. Uma espécie de caixa retangular, com uma face negra. Um espelho, talvez? Ela disse que aquele objeto permitia que as pessoas pudessem se comunicar, a uma longa distancia. E foi aquele mesmo objeto que ela tinha nas mãos, antes de desaparecer no ar.

Eu não sei se estou delirando, ou se a falta dela está me enlouquecendo, mas rezo todos os dias para que ela volte para mim. Que tudo não passe de um pesadelo e que eu possa acordar e vê-la nessa casa. Que um dia eu possa vir a desposa-la e que eu possa torna-la mãe dos meus filhos.

Por enquanto, tento compreender a razão para estar afastado dela. E manter-me o mais são possível. Afinal, um dia ela pode retornar e eu preciso recebê-la novamente. Eu só espero vê-la novamente, Elizabeth.”

Lizzy não sabia em qualquer momento ela começou a chorar. Em qual parte da leitura sua visão ficou borrada. Ler todas aquelas palavras fora difícil para ela. Foi à coisa mais excruciante de se ler. Estavam separados por três séculos de diferença. E ele parecia não ter a esquecido. Ela se perguntava se ele foi feliz. Se algum momento ele conseguiu seguir com sua vida. Ela torcia para que sim.

Então, a única coisa que poderia fazer e colocar a carta dentro do bolso e voltar para o tour. Porque, aquela carta seria sua única ligação com Darcy. E isso ninguém iria tirar dela.


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