Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 27
Capítulo 27




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806879/chapter/27

 

Não havia sensação pior do que ver uma pessoa que era tão temida pela sua fama. Infelizmente, Lizzy sabia como aquilo iria funcionar. Se lady Catherine de Bourgh fosse um décimo do que fora descrito por Jane Austen, Lizzy com certeza iria passar por maus bocados. Como enfrentar uma mulher que apenas visava pelas aparências? Lizzy não sabia como fazer isso. Não tinha a força da verdadeira Elizabeth Bennet. Sempre fora muito retraída em dar opiniões. Apesar de em momentos se posicionar bem, como fez algumas vezes em sua vida. Mas, essa força de enfrentar e dizer o que pensava as vezes parecia deixa-la, como naquele momento em que viu a carruagem de lady Catherine. Seus joelhos quase cederam e sua respiração de tornou errática.

— Vá para casa, Elizabeth – Darcy disse ao lado dela, tocando-a no ombro. Ela se virou para ele e encontrou seu olhar amoroso – Eu irei conversar com a minha tia.

— É ruim? – Lizzy perguntou.

Ele arqueou a sobrancelha, surpreso.

— Parece que sou um livro aberto, não sou? – ele perguntou.

— Bom...talvez – ela não queria explicar que já conhecia a fama de lady Catherine. Não saberia como explicar isso e dizer que todos eles eram personagens de um livro da autora Jane Austen. Era loucura, assim como para ela também. Quase não acreditava que estava ali, diante de Darcy. O seu herói romântico. O homem que sempre desejou, mesmo negando isso a si mesma.

— Minha tia, Elizabeth, não é uma mulher que aceita certas coisas. Gosta de controlar a todos. E quando alguém sai da linha, bom, ela tentara de todas as maneiras fazer com que faça o que ela quer. E eu não fiz o que ela desejava e aqui está minha retaliação.

Lizzy mordeu os lábios, tensa.

— O que ela desejava que você fizesse? – Lizzy perguntou, antecipando a resposta. Ela sabia que deveria ser por culpa dela, mas Darcy não havia anunciado o noivado. Então, como sua tia poderia saber?

— Bom, eu me recuso a me casar com minha prima, Anne de Bourgh. E bom...parece que alguém sabia dos meus planos – ele desviou  olhar para carruagem, tenso.

— Quais planos? – Lizzy perguntou, curiosa.

Ele virou o rosto para ela, sorrindo. E isso deixou o coração dela disparado.

— Meu plano, Srta. Elizabeth é me casar com a senhorita – ele respondeu, em tom profundo, que deixou Lizzy com as pernas bambas – Apenas não consigo compreender como minha tia sabe disso. Contudo, tenho minhas suspeitas.

— Você tem certeza disso? – ela perguntou, receosa.

— Tenho toda certeza do mundo, Elizabeth. Nada nesse mundo me faria mais feliz – Ouvir isso aqueceu o coração dela. Todo medo que sentia dentro de si deu lugar a calmaria e admiração por aquele homem a sua frente. Ele tomou as mãos dela, beijando cada uma – Vá para casa. Fique com Georgiana. Eu irei lidar com minha tia.

— Sim – ela respondeu, francamente.

Darcy aproximou o rosto do dela, beijando sua testa. Lizzy ficou um pouco atordoada e teve dificuldade de seguir o caminho até a mansão. Passou pela carruagem que estava parada, sentindo as costas rígidas e as pernas quase travadas pela antecipação do que viria a seguir. O mordomo abriu a porta para ela e Lizzy passou por ele, tentando manter a respiração regular. Procurou a sala de música, primeiro, para ver se encontrava Georgiana. Ela não estava ali. Depois, encontrou a Sra. Reynolds pelo caminho.

— Sra. Reynolds, a senhora viu a Srta. Georgiana? – ela perguntou.

— Está na sala do café, Srta. Elizabeth – ela respondeu, parecendo tensa.

Lizzy foi para a sala, pensando no olhar que a governanta lhe dirigiu. Parecia nervosa com alguma coisa. Com certeza, com a visita inesperada da Lady Catherine. Quem não ficaria assim, perto de uma mulher tão controladora?

Quando Lizzy estava chegando na sala do café da manhã, escutou a voz de uma senhora. Ela tinha um ar aristocrático e autoritário.

— Vou leva-la comigo, Georgiana.

— Mas, tia Catherine, eu gostaria de ficar – Georgiana disse, com um tom amuado.

Lady Catherine, Lizzy pensou aflita, dando um passo atrás. Contudo, a Sra. Gardiner e Lady Catherine a viram. Não havia para onde fugir. Mas, ela não conseguia se mover para entrar na sala.

— Elizabeth, junte-se a nós – a Sra. Gardiner pediu.

Lizzy soltou o ar pela boca, tensa. Entrou na sala, sendo observada por Lady Catherine. Ela era uma mulher elegante, com a pele branca como mármore, contudo, com rugas do tempo. Os cabelos eram grisalhados, arrumados no alto da cabeça, em um penteado elegante e majestoso, deixando uma parte do cabelo trançado, solto sobre o ombro. Seu vestido era majestoso, remontando os anos de 1760, com um espatilho apertado, com um busto aparecendo de forma avantajada. Era de uma cor bordo, com mangas até os cotovelos, com babados brancos.

Lizzy sentou-se ao lado da Sra. Gardiner, evitando ficar perto de Lady Catherine, que havia escolhido a ponta da mesa para se sentar. O local deveria ser reservado para o senhor da casa, que no caso, era Darcy. Contudo, ao que parecia, Lady Catherine não tinha muito respeito pelo sobrinho. Logo, o coronel Fitzwilliam adentrou a sala.

— Fitzwilliam, meu querido – Lady Catherine disse, com a voz contendo alegria. Mas, Lizzy não sabia se era algo sincero. O rosto enrugado da senhora pelo menos exibia um sorriso – Sente-se conosco.

— Claro, tia – ele respondeu em tom jovial, escolhendo o lugar vago ao lado de Georgiana. Ela sorriu para ele de forma tensa.

Lizzy, por baixo da mesa, pode ver a mão dele tocar a de Georgiana. A jovem não parecia tensa. Na verdade, entrelaçou sua mão a dele. O que era algo muito estranho. Seria possível que os dois fossem um casal apaixonado?

— Então, a senhorita é a Srta. Elizabeth Bennet, eu presumo – Lady Catherine disse em tom solene, se dirigindo a Lizzy, que desviou o olhar de baixo da mesa e encontrou os olhos gélidos de Catherine. Ela tinha olhos de um azul claríssimo. O que deixava o interlocutor mais temeroso de fita-la nos olhos.

— Sim, milady – Lizzy respondeu, com educação.

— Humf...- Lady Catherine deixou escapar sua indignação – E acredito que esteja noiva do meu sobrinho, não está?

— Eu...- Como ela deveria responder àquela inquirição feita com tanto desprezo?

— Tia, por favor. Elizabeth é nossa convidada. E em breve será minha irmã – Georgiana interveio, com um tom conciliador.

Lady Catherine dirigiu um olhar duro a Georgiana, que estremeceu.

— Menina insolente. Não se intrometa nesse assunto, Georgiana – ela disse, em tom cortante – Quero um momento a sós com a Srta. Bennet, por favor.

Todos se levantaram da mesa, exceto por Lizzy, que tremia dos pés a cabeça. Teria que enfrentar a situação com coragem. A Sra. Gardiner apertou o ombro dela, com um olhar solidário. Recebeu os mesmos olhares de Richard e Georgiana.

— Eu vou estar aqui fora, Lizzie querida – Georgiana disse, com afeto, dando a volta na mesa. Aproximou-se de Lizzy e beijou o rosto dela.

— Obrigada, Georgie – ela respondeu, com a vista embargada.

Sentia-se de repente, muito sensível. E cansada. Nunca pediu para estar ali. Nunca pediu para que sua vida mudasse. Sempre aceitou tudo que a via lhe trazia. A morte dos seus pais, ela enfrentou muito bem. Não chorou muito. Na verdade, quase não chorou. Cuidou de Jane, sua irmã querida, muito cedo. Precisou estudar com afinco para se formar e sofreu muito para ter um emprego em uma editora. Aguentou por muito tempo seu chefe. E agora, ela estava exausta. Quando olhou para Lady Catherine, recebeu seu olhar desdenhoso. Julgador. Aquela mulher parecia se orgulhar muito de suas origens. E parecia ser preconceituosa com Lizzy. Afinal, Lizzy não nasceu em um berço de ouro. Nem daquela época pertencia. Eles não sabiam quem era ela, de fato. Então, era comum que pessoas da alta sociedade a enxergasse daquela maneira. Contudo, Lizzy não iria aguentar tudo isso calada. Nunca pediu para se apaixonar por Darcy, nem pediu que ele se apaixonasse por ela. Simplesmente aconteceu. E ela não se culparia por ama-lo.

Ela o amava. Sim. O amava e estava disposta a ficar naquele lugar horrível, sem tecnologia. Estava disposta a ser uma esposa. Algo que nunca tinha passado por sua cabeça. Estava disposta a orgulhar seu futuro marido, se portando como uma boa dama educada. Algo do qual ela nunca, jamais faria por ninguém. Era uma mulher livre, do século XXI, que teria que se adaptar ao século XVIII. Deus, como ela queria na verdade, que o chão afundasse sobre seus pés e nunca mais ter de olhar para Lady Catherine. Era enervante. Ainda mais, por ter de esperar que aquela mulher lhe dirigisse a palavra.

— Srta. Bennet – ela falou, finalmente. Lizzy segurou a cadeira, tentando conter a tensão que envolvia seu corpo – Eu não posso deixar de manifestar meu desagrado com esse casamento.

— Pois, eu não gostaria que a senhora manifestasse qualquer opinião – A voz de Darcy trovejou na porta – Elizabeth, por favor, vá com Georgiana.

Lizzy se levantou, imediatamente, soltando o ar que prendia.

— Eu ainda não terminei com você, senhorita – Lady Catherine disse, com indignação – E você, Fiztwilliam Darcy, como se atreve a pedir essa jovem em casamento...uma jovem sem qualquer referência? Nunca ouvimos falar sobre ela e sua família. Quer envergonhar seus pais? Quer nos matar de desgosto?

— Não ouse falar dos meus pais, senhora – Darcy se aproximou da mesa, com um olhar dardejante. Parecia queimar. Ele pegou o braço de Lizzy, puxando-a para si, sem ser bruto, apenas protetor  – Vá Elizabeth.

Ela não sabia o que fazer a seguir. Estava em um conflito interno. Deveria ficar ali e enfrentar aquela mulher, como sua noiva.

— Ora, Darcy, como pode ser tão cego? Não vê que essa jovem está tentando manipula-lo? – Lady Catherine argumentou, em tom de desdém – Veja como ela é insipida.

— Senhora, eu não admito que falem assim comigo – Lizzy se manifestou, deixando sua frustação e raiva domina-la. Lady Catherine arregalou os olhos, surpresa – Eu posso não ser recomendável para seu sobrinho, mas eu o amo. Eu o respeito e estimo muito. E não vou me casar com ele por sua fortuna. Nem por seu dinheiro. E sim, pelo homem maravilhoso que ele é. Não admito que a senhora insinue que eu sou uma golpista.

Darcy a fitou com um sorriso, parecendo agradecido e envolveu sua cintura. O que deixou Lady Catherine desagradada.

— Escolha interessante de palavras, senhorita – ela disse, com tom venenoso – Eu diria que sim, a senhorita é uma oportunista. E está mudando a mente do meu sobrinho. Vai nos trazer vergonha. Ainda mais pela forma como ele esta a tratando. Não duvido que ele não vá morrer pela senhorita em um duelo, pela sua honra.

— Ora, como se atreve a dizer uma coisa dessa? – Darcy parecia ter perdido toda sua paciência – A senhora deve sair da minha casa agora. Imediatamente.

— Você não pode...- Lady Catherine tentou protestar, com o cenho franzido.

— Sim, eu posso. Ainda bem que posso – ele retrucou, parecendo satisfeito – Afinal, eu sou dono de Pemberley. E essa mulher, que a senhora continua insultando constantemente, será a senhora desse lugar.

Lady Catherine torceu os lábios, com fúria e se levantou de súbito.

— Eu irei embora, Darcy. Mas, saiba que virarei as costas para você. Não terá meu apoio. E com certeza, não terá apoio de nenhuma família. Espero que se arrependa disso. Nunca me esquecerei desse dia. E não pense que deixarei Georgiana desamparada. Ela terá meu apoio.

— O que quer dizer? – ele perguntou, em tom sibilante.

— Você vera, Darcy. Muito em breve – Lady Catherine disse em tom de ameaça.

Saiu de perto da mesa e passou por eles, pisando duro.

— Fiztwilliam – ela trovejou.

— Sim, tia? – Richard respondeu, da porta.

— Vamos embora comigo – ela exigiu.

— Sinto muito tia, mas não. Vou ficar com Darcy.

— Como se atreve a me deixar sozinha?

— Não estou a deixando. Apenas quero estar perto do meu primo agora – ele respondeu, calmamente.

— Georgiana, logo nos veremos de novo – Lady Catherine prometeu, em tom solene – E espero que venha ficar alguns dias comigo, em minha casa...

— Ela não vai! – Darcy trovejou, soltando Lizzy e indo até a porta, enfrentar sua tia – Ela vai ficar aqui, onde é seu lugar.

— Você não serve para cuidar da sua irmã, garoto – ela retrucou em tom severo – Mas, no momento, eu irei partir. Considere nossas relações cortadas, Darcy.

— Graças a Deus – Darcy ironizou.

— Humf...- ela resmungou, irada e saiu pisando duro.

O silêncio se tornou desconfortável, enquanto se ouvia os passos de Lady Catherine se afastando. Darcy se virou para Lizzy, com um olhar cansado. Ele se aproximou dela, ao mesmo tempo em que ela. Os dois se abraçaram, parecendo procurar conforto um no outro. Lizzy realmente estava procurando conforto em seus braços.

— Eu te amo, Elizabeth. Eu nunca vou deixa-la – ele disse, em seu ouvido.

— Eu também te amo, querido – ela respondeu, beijando seu rosto – Mas, tem certeza do que está fazendo?

— Absoluta. Ainda mais por saber que você me ama – ele puxou o rosto dela, com as duas mãos, para beija-la, sem parecer se importar com a plateia.

Só se pode ouvir os suspiros de Georgiana, que estava feliz pelo irmão. Richard sorriu diante da cena. E a Sra. Gardiner secava as lagrimas de felicidade por ver a jovem Lizzy feliz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.