Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 26
Capítulo 26




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Lizzy acordou pela manhã, muito cedo, sem mesmo ser acordada por alguma criada. Era comum que ela se levantasse cedo. Ela não conseguia compreender o motivo para dormir e levantar tão cedo, mas devia ser por causa da mudança de rotina. Antes de fazer a viagem no tempo, era comum que ela tivesse sérios problemas e dormir cedo e levantar no horário para sair para trabalhar. Afinal, tinha TV para assistir filmes, um notebook do lado da cama para escrever e um celular para acessar as redes sociais. Então, isso a distraia demasiadamente. Contudo, sem aquela tecnologia no lugar que estava, ela não tinha mais nada a fazer depois que o céu escurecia. Poderia ler, mas com o uso da vela, mesmo que o comodo fosse iluminado, deixava sua vista cansada. O jeito era dormir e esperar o dia seguinte. E acordou disposta e feliz.

Se lembrava da carta de Jane e o quanto ela demonstrou na sua escrita estar contente de que iria se casar com o homem da sua vida. Lizzy queria responder a ela o quanto antes. Primeiro, Lizzy vestiu sua roupa, não conseguindo colocar o espartilho. Teria que esperar a criada para fazer isso, mas ao menos estava vestida decentemente. Depois, pegou na sua valise as cartas que recebeu, de Jane Austen e Jane Bennet. Iria responder as duas. A primeira carta, para a Srta. Bennet, ela demonstrou seu entusiasmo pelo casamento e que com certeza estaria lá em breve. Iria dentro de duas semanas, informando que o motivo para não ir antes era por estar hospedada na casa dos Darcy, em Pemberley. Pensou em convidar Jane para vir no baile da semana seguinte, mas hesitou, com a ponta da pinta tocando em seu queixo. Olhou para a janela, que estava com as cortinas abertas e via o céu cinzento do lado de fora, mas sem previsão de chuva. Sabia que deveria conversar com Darcy primeiro, sobre o convite. Então, deu continuidade a carta. Iria finaliza-la com a pergunta, caso ele deixasse que ela convidasse Jane para o baile.

Enquanto escrevia sua carta a Srta. Austen, Lizzy percebeu uma movimentação do lado de fora, pela sua visão periférica. Ela levantou os olhos e pode ver O coronel Fitzwilliam e Darcy passarem pelo gramado. O quarto dela era no segundo andar, mas era possível vê-la do lado de fora, devido as cortinas abertas. O coronel, percebendo Lizzy sentada em frente a escrivaninha acenou para ela. Lizzy fez o mesmo, com um sorriso colorindo seu rosto. Gostava dele. Então, Darcy, que estava de costas, se virou para trás e apenas fixou o olhar. Ela não sabia se ele estava a vendo, pela distância. Mas, ele deu aceno com a cabeça, tocando sua cartola com a mão direita. Lizzy acenou para ela, entusiasmada. Os dois cavalheiros se afastaram da janela e continuaram sua caminhada e Lizzy voltou a sua carta. Estava um pouco distraída pela visão de Darcy pela manhã. Estava eufórica para falar com ele, então, interrompeu a escrita. Queria ir atrás dele.

Levantou-se da cadeira de um átimo e foi até a porta, apressada. Iria puxar a maçaneta, quando a porta se abriu, revelendo a criada que estava ajudando-a a se vestir todos os dias. Era a Srta. Hannah Thompson.

— Ah - a criada deu um gritinho, surpreso e sorriu, sem graça ao ver Lizzy - Me perdoe, Srta. Bennet. A senhorita levantou cedo - ela observou.

— Sim, de fato estava cansada de permanecer na cama, Hannah - Lizzy confessou - Você me ajudaria a colocar o espartilho? De forma que fosse rápida? Preciso sair em breve.

— Sim, senhorita.

A criada ajudou Lizzy a se vestir melhor e arrumar os cabelos dela em um coque elegante. Lizzy estava nervosa, pensando que não iria alcançar Darcy a tempo. Mas, poderia com certeza conversar com ele depois. Contudo, em sua afobação, apenas saiu correndo disparado, para encontrar Darcy. Ela desceu as escadarias de marmore, quase derrapando no chão quadriculado, preto e branco, no saguão e passou pelas portas duplas da mansão, sem ver o olhar aturdido do mordomo, que abriu as portas assim que percebeu que Lizzy desceu como uma bala que foi disparada.

Ela tomou a direção do lago, para ver se encontrava Darcy. Ele não estava ali. Pode sentir o vento açoitar seus cabelos escuros. O clima era agradável, apesar do seu nublado. Ela começou a andar, pois não adiantava correr até ele. Então seguiu pela estrada de terra, que começava a ser rodeada por árvores, dos dois lados. Ela seguiu andando, mesmo sabendo que não deveria. Somente queria ver se os encontrava. Lembrava-se daquele percurso, feito pela carruagem, quando estavam vindo de Londres. Somente iria até um pedaço na trilha. Quando percebeu que andou o suficiente, resolveu voltar, mas apreciando o som dos pássaros. Nunca imaginou que teria um momento de paz como aquele, mas ali estava ela, andando sem ter medo e apenas ouvindo os sons da natureza. Até que ouviu galopes atrás dela. Lizzy virou a cabeça para trás e pode ver uma carruagem luxuosa, em tom creme, com dois criados de libré na parte frontal do véículo. Ela ficou mais afastada, na estrada e a carruagem passou rapidamente, puxada por dois cavalos de pelagem marrom e crina preta. Lizzy pensou consigo mesma quem poderia ser a pessoa que estava ali dentro. Não sabia, pois não identificou o brasão na porta.

Lizzy continuou sua caminhada de volta, escutando os cascos de cavalo mais uma vez. Ela virou a cabeça por cima do ombro e pode ver Darcy e o coronel Fiztwilliam.

— Srta. Elizabeth - Darcy disse, parecendo incrédulo de vê-la ali e diminuiu o passo do cavalo, juntamente com o primo - O que faz a essa a hora aqui fora?

— Apenas caminhando, Sr. Darcy - ela respondeu, arqueando o pescoço para olha-lo nos olhos. Ele parecia preocupado - Algum problema?

— Não...de modo algum - ele respondeu, desviando o olhar dela e matendo o cavalo controlado pelas rédeas, para ficar pareado com Lizzy - Apenas me preocupo com a senhorita. Não é tão seguro percorrer a estrada a pé e desacompanhada. Gostaria de voltar a cavalo comigo? Eu posso leva-la, se desejar.

Era tentador estar sobre o cavalo com ele. Podia até imaginar-se sendo abraçada por Darcy, pela cintura, com as pernas dele envolvendo seu quadril...Ela sentiu todo o sangue esquentar com aquele pensamento.

— Eu acredito que estamos perto, senhor. Uma caminhada deve me fazer bem - ela respondeu, ofegante. Deveria controlar os pensamentos impróprios em relação a ele.

— Então, eu desmontarei para acompanha-la. Se quiser ir na frente, Richard - ele olhou para o primo.

O coronel anuiu com a cabeça.

— Claro, eu encontro vocês na frente - ele disse, com um sorriso...talvez, malicioso?

Lizzy não teve tempo de pensar sobre o assunto. Ele atiçou as rédeas, fazendo que o cavalo corresse e levantasse poeira. Enquanto isso, Darcy desmontou da sua montaria e ficou lado dela, puxando o cavelo pelas rédeas.

— A senhorita está bem? Dormiu bem a noite? - ele perguntou, em tom carinhoso que fez o coração de Lizzy se aquecer por dentro.

Ela o fitou de soslaio e pode ver que ele a fitava com um olhar calmo, atencioso. Normalmente, ele agia de forma séria. Deixando a percepção de que estava bravo, ou com uma eterna carranca. Mas, sua expressão era suave.

— Eu dormi muito bem, senhor. E estou em ótima. Na verdade, estou muito feliz. Por isso, vim sai para uma caminhada, esperando encontra-lo.

— Verdade? - ele perguntou, entre surpresa e jubilo.

— Sim. Podemos parar um instante? - ela pediu.

— É claro.

O cavalo parou, a um comando do seu mestre. Darcy soltou a rédea do animal, cruzando os braços enluvados para atrás. Estava muito bonito com sua cartola negra, e um casaco longo, de um tom azul royal, descendo até o meio das coxas grossas e poderosas, com calças de montaria preta. As botas de cano alto era do mesmo tom.

— Eu...- ela ficou um pouco sem ar ao observa-lo mais atentamente. E seus olhos azuis eram de tirar o folego.

— Sim? - ele a instigou, com pequeno sorriso.

Ele não fazia ideia realmente do poder que tinha? Que seu olhar deixava Lizzy com os joelhos bambos, quase como se tivessem virado gelatina.

— Bom - ela respirou profusamente, com as bochechas esquentando. Achava que era um exagero estar tão abalada pela mera visão dele. Parecia que havia se intensificado, desde o beijo perto do memorial dos pais dele - Eu queria saber se podemos convidar Jane Bennet para o baile da semana que vem. Eu sei que o senhor deve ter uma lista de convidados especifica, mas eu adoro tanto a companhia dela. E por isso, queria saber se é possível conceder-me esse favor.

— Mas, é claro que atenderei seu pedido, senhorita - ele respondeu, de forma efusiva - E aproveitando esse assunto. Gostaria de compartilhar com a senhorita que meu grande amigo Bingley irá se casar com a Srta. Bennet. É uma ótima notícia. Depois de tudo que aconteceu no passado, é justo que eles sejam felizes. Sinto que nunca deveria ter interferido, nem ter incentivado a Srta Bingley a separa-los.

Lizzy franziu o cenho, confusa. Ele teria incentivado Caroline a fazer algo como aquilo? A seperar duas pessoas que se amavam? Ela sentiu-se enjoada.

— O senhor fez isso? Ajudou a Srta. Bingley? - ela perguntou, mortificada.

Ele parecia desconfortável e envergonhado. Suas bochechas adquiriram um leve tom de rosa.

— Eu apenas concordei com o fato de ela não ser a melhor escolha para uma esposa. Estava errado - ele acrescentou, ao ver o olhar furioso de Lizzy - Não importa que a família dela não seja recomendável. Se eles se amam, então, devem ficar juntos. E ele não precisa da minha benção. Mas, me acostumei com o fato de ser sempre consultado e apenas quis o bem dele. Espero que não me tenha em má conta por isso.

Ela pensou sobre suas justificativas e forma como se defendia. Era possível ver o remorso em seus olhos e a forma como crispava os lábios. Ao que parecia, a opinião dela contava muito para ele.

— Eu acredito que tenha feito isso para o bem do Sr. Bingley, eu presumo? - ela perguntou, tentando dar-lhe o benefício da dúvida.

— De todo meu coração, sim. Eu não quero ver meu amigo infeliz. Charles é como um irmão para mim.

Lizzy assentiu. Acreditava nele, sobretudo, no seu olhar que era sincero, sem qualquer sombra de zombaria ou desdém.

— Com certeza, o Sr. Bingley merece o melhor. Ele é um bom homem – ela observou.

— Exatamente. Ele sempre tentou me ajudar de inúmeras maneiras possíveis. Eu precisava retribuir isso – ele confessou, com um sorriso, parecendo um pouco constrangido – Ele me disse algo muito importante, sabe?

— E o que seria? – ela perguntou, curiosa.

Ele inclinou a cabeça para ela, como se fosse confidencial um segredo. E aproximação a deixou tensão. Ele não percebeu o quanto estava perto e o feito que isso causava nela. Não era desconforto. Ela sentia apenas que queria os lábios dele nos dela. E seus lábios comichavam de antecipação.

— Ele me disse para não ser tão taciturno e olhar ao meu redor – ele respondeu, com um sorriso enviesado – O que me deixou bem irritado. Mas, ele foi especifico em me dizer que eu estava sendo um tolo por deixa-la escapar e ser tão mal humorado.

— Ele disse isso? – ela perguntou boquiaberta. Bingley já antecipava o que viria acontecer entre os dois?

— Oh sim – ele respondeu, parecendo achar graça – E sabe demorei um tempo para entender isso. E depois que compreendi isso, a senhorita me rechaçou no teatro – ele parecia magoado.

Então, ela fez algo sem pensar. Levou as mãos sem luvas, ao rosto dele, tentando se desculpar por aquilo. Tinha tanto medo dos sentimentos que sentia e ao mesmo tempo, não sabia se poderia confiar nele. Mas, agora, tudo havia mudado. Ela confiava nele. Toda sua vida. Ele não recuou apenas a fitando com certo deslumbramento, com a boca entreaberta.

— Eu fui cega e não perceber que você estava falando a sério sobre seus sentimentos – ela confessou - É só que o senhor também não soube se expressar devidamente. Eu fiquei pensando que estava me pedindo em casamento por pedir. Você foi, na verdade, sem paixão alguma ao pedir a minha mão.

Ele deu um sorriso debochado.

— A senhorita desejava paixão? Achei que fosse racional. Eu normalmente, lido dessa maneira. Mas, com a senhorita, Elizabeth, eu não sei se consigo ser assim. Você me deixa louco, algumas vezes. Irritado. Não age como uma dama deveria. E me rejeitou diversas vezes. Feriu meus sentimentos de uma maneira que nunca pensei que seria ferido. Mas, aqui estou eu, implorando por sua atenção – ele confessou tudo aquilo, repentinamente, pegando Lizzy de surpresa. E fez o mesmo que ela, tomando seu rosto entre as mãos dele. Seu olhar era intenso, mas continha um carinho que ela nunca viu em toda sua vida. Nenhum homem a olhou daquela maneira – Apesar disso, a senhorita me fez muito feliz na biblioteca, apesar de não ser correto o que fizemos. E depois, ontem, quando enterramos aquele objeto peculiar. Eu ainda me pergunto senhorita Elizabeth, se você sente realmente algo por mim. Pois, preciso de uma confirmação. Eu me sinto...inseguro...- ele soltou uma risada nervosa – Parece algo tolo, não acha?

— Eu não acho que seja tolo. Você está com medo. Eu também estou – ela confessou – Medo do que o futuro me aguarda. E como lidarei com tudo...e com nossa situação.

— De minha parte, não há necessidade de ter medo – ele prometeu, aproximando os lábios do rosto dela. Ela acreditou que iria beija-la, mas seu movimento se dirigiu a testa dela. Deixando-a um pouquinho frustrada. Depois, seus olhos azuis voltaram a fita-la, com devoção, ainda sem soltar o rosto dela, apenas acariciando. Enviando choques leves por todo o corpo dela. Ela suspirou, de repente e os olhos dele escurecerem – Eu apenas desejo uma coisa da senhorita.

— E o que seria? – ela perguntou ansiosa e desejosa que fosse algo relacionado a beijos, em qualquer parte que fosse do seu corpo.

— Desejo que seja minha esposa. Pois, eu a amo – ele respondeu. E suas palavras deixaram Lizzy entre aflição e ansiedade por agrada-lo, aceitando seu pedido – Assim, Elizabeth, você nunca precisara ter medo também do futuro. Eu prometo a você que estará segura comigo. Protegida de tudo.

Ela engoliu a seco. Era realmente isso que queria? Sabia que estava sendo indecisa por demais. Afinal, ela enterrara o celular que a levaria de volta ao seu tempo, para ficar ali com ele. Para nunca mais ter de partir. Mas, um casamento era algo tão drástico. Nunca pensou em se casar em toda sua vida. Contudo, fazia parte do contexto social em que estava vivendo. Não havia como Darcy pensar diferente. Ele a amava e queria deixa-la segura. E nada melhor do que um casamento para fazer isso. Se fosse no tempo dela, tudo seria diferente. Eles sairiam algumas vezes. Fariam amor, um bocado de vezes, até ela perceber que o ama e ele a ama, então, dentro de cinco a dez anos, eles estariam casados. E levariam mais uns cinco para terem filhos. Lizzy era assim. Planejava cada passo da sua vida. E desejava que tudo fosse o mais devagar possível. Apesar disso, com Darcy, naquele instante, ela sabia que tudo aconteceria de forma rápida. Era o que a assustava sobremaneira.

A única coisa que passou pela sua cabeça, então, era se inclinar para ele e beija-lo. Ele aceitou seu beijo, de forma afoita, puxando-a pela cintura, de encontro ao seu corpo. Ela arfou, sentindo todas suas terminações nervosas responderem ao toque aveludado da língua dele, enroscando na sua. Era uma sensação quase divina estar nos braços daquele homem. E tudo era tão certo.

Ele se afastou, de repente, mas ainda sem solta-la, apenas afastou os lábios, com um olhar escuro e intenso.

— Diga que vai ser minha, Elizabeth. Faça-me o homem mais feliz do mundo – ele sussurrou o pedido.

Isso a desarmou completamente. Ela sentiu seus joelhos cederem, tamanha era a emoção que sentia ao ouvir o pedido dele.

— Sim. Sim. Sou sua – ela respondeu, de forma apaixonada.

Ele sorriu, beijando-a nos lábios mais uma vez, sem qualquer incentivo. Apenas a estreitando em seus braços. Estar com ele era como estar no paraíso. Parecia que um longo tempo passou, entre a troca de caricias, até o beijo se tornou menos intenso, mas carinhoso. Então, eles se afastaram, para respirar.

— Vai se casar comigo, então? Me fara feliz aceitando meu pedido? – ele perguntou, no ouvido dela.

Todo o corpo dela se arrepiou por inteiro.

— Sim. Eu aceito ser sua esposa – ela respondeu, sentindo uma felicidade inundar seu peito. Ela seria a Sra. Darcy dentro de pouco tempo. Seria dona de todo aquela propriedade. Mas, o que ela queria de verdade, era estar ao lado dele. Fazê-lo feliz, como ele a estava fazendo feliz.

Ele a abraçou, fazendo com que a cabeça dela encaixasse em seu peito. O coração dele batia depressa. Ela podia ouvi-lo suspirar. Algo que nunca imaginou que escutaria na vida. Alguém suspirando por ela. Igualmente, ela estava com a respiração entrecortada, com o peito ansiando por mais. Um pouco mais dele.

— Precisamos voltar – ele disse, afastando ela. E logo puxou a mão dela, entrelaçando com a sua – Quero fazer algo interessante com a senhorita hoje.

— Ah é? E o que seria? – ela desejou por mais beijos. E algo muito mais íntimo do que ele estava oferecendo. Mas, se fosse somente beijos, ela não iria reclamar.

— Eu quero fazer um passeio com a senhorita – ele puxava o cavalo pela rédea com um a mão direita, enquanto a esquerda segurava a dela – Vamos fazer o desjejum ao ar livre, como ontem?

— Sim – ela respondeu, entusiasmada – Eu quero ver se a sua cozinheira fez aqueles bolinhos coberto de açúcar. Estavam divinos ontem.

Ele sorriu de lado.

— Tudo que você desejar, Elizabeth. Pode me pedir qualquer coisa, que eu lhe darei.

O coração dela deu uma cambalhota dentro do peito. Se ele continuasse a dizer aquelas coisas, ela ficaria mal acostumada.

— Sua companhia e uma caixa de bombons é o suficiente para mim – ela brincou e levou a mão dele aos lábios, mesmo coberto pela luva de couro – Eu te quero tanto.

Ele soltou o ar pela boca, parecendo perturbado pelas palavras dela. E Lizzy sabia muito bem que havia passado um pouco dos limites, manifestando seus desejos intensos por ele.

— Elizabeth...eu não sei como vou me concentrar em ser um cavalheiro com a senhorita. Precisa tomar cuidado com o que diz – ele parecia a advertir, mas estava mordendo os lábios, parecendo martirizado. Apenas o som dos pássaros e da respiração profusa dele era escutada por ela. E Lizzy estava se deliciando por mexer com ele daquela maneira.

— Ora, Darcy. Não estaremos casados em pouco tempo? – ela perguntou, provocante – Eu quero lhe dizer tudo que sinto. E ser muito sincera.

Ele parou de caminhar, largando as rédeas do cavalo mais uma vez e roubando um beijo dela. Foi rápido, intenso e do mesmo jeito que começou ele terminou abruptamente. Ele se afastou alguns passos dela, parecendo aturdido. Um animal enjaulado. Até mesmo seu chapéu caiu no chão. Nenhum dos dois fez questão de pega-lo. Eles respiravam de forma intensa, um encarando o outro de forma apaixonada.

— O que vou fazer com a senhorita? – ele passou a mão nos lábios, parecendo mortificado, dessa vez – Elizabeth precisa controlar sua língua, antes que eu acabe fazendo algo do qual vamos nos arrepender. E apenas quero que isso aconteça quando for minha. Legalmente minha. Sua reputação é deveras importante para mim. Não é para senhorita?

Ele parecia zangado, mas seus olhos ainda continham um desejo reprimido. Ela se abaixou, sem desviar o olhar dele, pegando a cartola caia do chão e começou a limpa-la. Cada movimento dela e era minuciosamente estudado por ele. E ela estava adorando cada segundo disso. Nunca imaginou que Darcy fosse um homem tão intenso e apaixonado.

— Darcy, eu quero ser sincera com você – ela começou, tentando escolher as palavras, sem escandaliza-lo – Eu não me importo com isso, afinal, somos noivos, não somos? – ele assentiu, de forma rígida. E dessa vez, apertava os punhos em volta do quadril – Eu confio em você, também. E não me importo com o que foi acontecer antes ou depois do casamento, desde que estejamos juntos. Mas, eu não posso negar que não consigo parar de pensar nos seus beijos, no seu toque...- ela ruborizou, mas mesmo assim, não desviou o olhar – Nunca senti nada parecido em toda minha vida.

— Porque nenhum homem deve ter passado dos limites, eu espero – ele disse de uma forma sombria, que preocupou Lizzy. Será que ele ficaria irritado por saber que ela não era virgem? – É por isso que está tão deslumbrada por isso. E eu me admiro de estar igualmente, perdendo a cabeça. Você me faz perder a estribeiras, Elizabeth. Eu a desejo, como nunca desejei algo em minha vida. Sempre senti que era frio e racional demais para ser arrebatado por esses sentimentos. Mas, estou enlouquecendo, me controlando para tê-la em meus braços...e que Deus me perdoe, me perdoe também, por estar dessa maneira, me comportando feito um animal. Por isso, me ajude Elizabeth. Preciso controlar meus sentimentos quanto a você.

Ela percebeu o quanto era importante para ele fazer o certo. Devia ser uma questão de honra. Algo que começava a aborrecer Lizzy. Mas, se isso era tão importante para ele. Ela suspirou, assentindo.

— Eu prometo me comportar – ela disse, piscando para ele.

— Oh, Elizabeth – ele sorriu, se aproximando dela, tocando seu rosto. Ela apenas sorriu para ela, igualmente, amando seu olhar – Eu a amo tanto. O que faço com a senhorita, hum?

— Deve me beijar todos os dias. Do amanhecer, ao entardecer – ela se sentia romântica naquele momento.

Os olhos dele brilharam em fascínio.

— Eu farei isso, para sempre, Elizabeth – o coração dela disparou ao ouvi-lo falar isso – Mas – Contudo, sempre havia um “porém” – Não podemos fazer isso todas às vezes. Ou minhas forças serão testadas a cada dia, senhorita. Então, não me tente.

Ela gargalhou. Ele a fitou com a cara fechada.

— Tá bom – ela disse, ainda deixando um risinho escapar – Prometo me esforçar. Um beijo por dia, então? Que tal?

Ele não pode deixar de rir. Era um riso desesperado, pois ele passou a mão pelos cabelos escuros, em aflição.

— Elizabeth...vamos voltar, antes que algo aconteça. Algo do qual vamos no arrepender – ele disse, em voz baixa, sofrida.

Ela respirou fundo, sentindo todo seu corpo tremulo. Na verdade, apesar do seu descaramento anterior, todo seu corpo estava em estado frenético de desejo por ele. Eles caminharam lado a lado. Ele puxou a cartola da mão dela, colocando sobre a cabeça. Ela acreditou que ele a evitaria dessa vez, mas puxou a mão dela, entrelaçando com a sua. E puxou até a altura dos lábios dele, beijando.

— Eu amo você – ele sussurrou – Acredite em mim. Eu te amo. Não fique chateada comigo.

— Eu não estou – ela disse, com a voz entrecortada pela emoção das palavras dele.

— Mas, a forma como você está fazendo beiço me faz pensar isso – ele disse, em tom jocoso, mas inseguro. Ele a olhou de soslaio, parecendo temeroso.

— Não estou brava. Eu só...estou frustrada – ela confessou – Eu...estou apaixonada por você.

— E eu igualmente, Elizabeth. Mas, vamos esperar até o casamento? Sim?

Ela assentiu, resignada. Então a mansão Darcy apareceu ao longe e a carruagem que Lizzy viu, enquanto andava pela trilha de terra foi avistada, parada ao lado da mansão.

— Oh não – Darcy disse, parecendo tenso.

— O que? O que foi? – ela perguntou confusa.

Pode ver seu perfil. Eles tinham parado de andar. Estavam em frente ao lado da propriedade. O olhar de Darcy era tenso. Ele se afastou dela, parecendo realmente irritado e preocupado. Seu maxilar estava trincado.

— É minha tia. Ela está aqui – ele respondeu.

O estomago de Lizzy retorceu por dentro. O que será que aquela mulher queria ali? Ela somente poderia imaginar o pior.


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