Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 11
Capítulo 11




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Ao adentrar a mansão da família Harris, Lizzy se sentiu dentro de um set de filmagem. Tudo ali era tão perfeito e bem colocado. Estavam em Mayfair. O local estava lotado de carruagens, tanto fora quanto dentro da propriedade, que tinha extensos jardins e um chafariz na entrada. A construção era estilo georgiano, com fachada cor creme. Ela ficou impressionada com as pilastras na parte frontal da casa. O tamanho da construção daquela mansão era impressionante. Não era como se Lizzy não tivesse visto de perto construções majestosas em Londres, afinal, ela era uma turista na Londres do século XXI. Adorava conhecer mais sobre sua própria cidade. Mas, nunca teve a oportunidade de entrar na maioria das casas que via em bairros nobres. Ali estava sua grande oportunidade de conhecer de perto uma mansão por dentro.

Enquanto adentrava junto com Darcy e Georgiana, ela ficava cada vez mais deslumbrada pelo requinte do ambiente. O hall de entrada tinha uma enorme escadaria de mármore. O lustre que pendiam do teto era em tom dourado, com várias velas de cera de abelha acesa deixando o local iluminado. Na entrada, ela já pode ver o busto de alguém que parecia ser muito importante. Era um homem, com uma expressão solene. E ali estava o senhor Harris a porta, junto com sua esposa. Ele tinha cabelos castanhos e olhos esverdeados. Sua esposa tinha cabelos negros e olhos azuis vibrantes. Eles cumprimentaram Darcy com amabilidade e estenderam seus cumprimentos a Lizzy, sem analisa-la detidamente. Na verdade, Lizzy se sentiu bem vinda naquele lugar pelos anfitriões.

Lizzy, junto com Darcy e Georgiana, foram guiados por lacaio com roupa de libré para o grande salão daquela mansão. As janelas estavam com todas as cortinas abertas, permitindo uma vista privilegiada dos extensos jardins. Já havia vários convidados no local. As mulheres trajavam vestidos espalhafatosos a elegantes. Era uma profusão de cores, cheiros e sons. A música era tocada por um quarteto musical, posicionado perto dos janelões. Lizzy tinha quase certeza que era uma melodia de Vivaldi sendo executado pelos violinos e violoncelos.

A música ainda não havia começado, mas a conversa corria livremente. E Lizzy se viu obrigada a sorrir para alguns convidados que conheciam Darcy e que estavam ansiosos para cumprimentar o senhor de Pemberley. Darcy agia de forma educada, mas distante. Georgiana era um pouco mais efusiva, mas estava tímida. Vários convidados elogiaram a beleza dela e analisaram Lizzy. Não sabiam de onde ela viera, mas Darcy afirmou ter conexões com ela, devido a sua falecida mãe. Mas, infelizmente, muitas dessas pessoas que estavam presentes no baile começaram a se perguntar quem era ela e se seu nome tinha prestigio. Pois, ninguém escutara sobre a família Bennet de Yorkshire. Deveria ser com certeza a filha de algum cavalheiro comerciante. E logo torceram o nariz para pobre Lizzy, que não fazia a menor ideia de que seu nome corria pela boca dos convidados mais esnobes da festa. Havia aqueles que não se importavam, apenas apreciavam o ambiente. Mas, havia aqueles que se orgulhavam de suas origens e nobreza. E todos queriam estar nas graças do senhor Darcy. Principalmente as damas. Ele era um senhor de terras, muito importante. Apesar de não possuir títulos, era um parceiro ideal para um casamento vantajoso. E elas estavam morrendo de inveja de Lizzy, que pairava ao lado de Darcy. Ele se inclinava para conversar com ela e até se permitiu sorrir. O que não era comum para ele. E quem já o vira em eventos como aqueles, se surpreenderam por ver o austero senhor Darcy dar um sorriso verdadeiro.

Enquanto o baile ocorria, Caroline Bingley observava tudo com os olhos estreitos. Ela estava lindamente trajada em um vestido dourado, com mangas até os cotovelos.  Luvas no mesmo tom estavam combinando com seu vestido e ela tinha pequena tiara sobre a cabeça. E também, como Lizzy, usava diamantes. Era uma herança familiar, pois a família Bingley não era tão rica. Mas, Caroline sempre tentava impressionar com suas vestes e suas joias. Afinal, estava à procura de um partido tão rico quanto ela ou ainda mais. Por isso, Darcy era seu par ideal e vê-lo com Lizzy a deixou fervendo de raiva por dentro. Ela não poderia acreditar que aquele senhor preferia a companhia de uma jovem que não parecia ter conexões importantes. Nem filha de um nobre aquela jovem era. E sua beleza era tolerável, na visão de Caroline.

Bingley parecia animado ao lado dela. Seu irmão sempre estava sorrindo, entusiasmado e cumprimentava a todos com efusividade. Todos gostavam do jovem cavalheiro. E as damas queriam ter alguma chance com ele, afinal, ele também era tão rico quando o senhor Darcy, mas não tanto assim. Contudo, seu carisma era o que mais chamava a atenção das damas em idade de casamento. Ele logo percebeu Darcy, perto das janelas, com sua irmã, Lizzy e um cavalheiro que parecia conversar com ela de forma acalorada. E cada vez que chegava perto de Darcy, atravessando a multidão de pessoas, pode ver que seu amigo estava de mau humor e mirava o cavalheiro em questão com olhos estreitos. Era filho do senhor Harris. Trevor Harris.

— Senhorita, permita-me dizer que está belíssima. Nunca tive a oportunidade de vê-la em algum baile dos meus pais, mas confesso que nunca vi uma beleza tão encantadora – Bingley podia ouvir o jovem dândi bajular Lizzy e conteve o riso. Aquilo seria interessante de assistir. E não podia discordar. Lizzy era de uma beleza diferente da clássica, mas tinha grandes olhos expressivos e um rosto marcante. Era diferente da beleza loira que já viu em tantas damas. Mas, sua admiração era apenas respeitosa. Bingley já tinha seu coração roubado por uma dama em especial. E ainda estava sem entender o motivo para ela não ama-lo com ele a amava.

— Eu agradeço senhor Harris – Lizzy disse, com um sorriso forçado.

— Devo também estender meus elogios a Georgiana Darcy – Trevor mirou Georgiana, de forma respeitosa, não com a mesma intensidade que encarava Lizzy – Pois, ela desabrochou com uma rosa. Está deslumbrante igualmente, senhorita.

— Obrigada – Georgiana assentiu, corando, mas não desviou o olhar do cavalheiro.

— Eu gostaria de pedir uma dança a cada uma. Poderia ter a honra? – ele pediu.

— Sim – elas concordaram juntas.

— Boa noite, senhor Darcy, senhor Harris – Bingley conseguiu chegar próximo a eles, acompanhado de sua irmã Caroline e Louisa Hurst. Seu cunhado, o senhor Hurst havia desviado o caminho para o salão de jogos. Todos fizeram uma reverência, devido à etiqueta social – Senhorita Elizabeth, Senhorita Darcy. Devo também expressar, como o senhor Harris disse, que estão encantadoras.

Ele beijou a mão enluvada de cada uma e pode ver o sorriso sincero das damas. Ele piscou para Lizzy, que fez o mesmo. Toda aquela camaradagem entre os dois não passou despercebida por Darcy, que estava muito incomodado e por Caroline, que estava indignada com o irmão. Seria ela outra mulher que ele cairia aos pés, com Jane Bennet? Ela não poderia permitir.

— Senhores, senhoras. Eu irei me ausentar, por agora. Voltarei para reivindicar minha dança – Trevor disse, sorrindo para todos e saiu de perto deles, para cumprimentar mais convidados.

Darcy parecia ter soltado o ar que prendia e cumprimentou a família Bingley e a senhora Hurst de forma cordial. E logo Caroline reclamou que estava faltando cavalheiros para dançar. De fato, ela tentava fazer com que Darcy pedisse uma dança a ela, mas não foi o que ele fez. Ele simplesmente conversou com Bingley. Seu amigo tentava fazê-lo pedir as damas ao redor uma dança, antes que se passasse a noite. Era claro que ele estava alfinetando o amigo, pois Darcy não era visto dançando em eventos. Era raro ele dançar com qualquer dama. E às vezes ele dançava com Caroline, mas evitava sempre estar no meio de pessoas que não conhecia.

Lizzy observou todos e apreciava a música. As danças de fato não estavam acontecendo naquele momento, mas ela estava aproveitando que havia criados com libré circulando com taças de champanhe. E pegou pelo menos duas.

— A senhorita não acha que as damas deveriam ser comedidas, senhorita Elizabeth? – Caroline perguntou, observando Lizzy com um olhar altivo.

Lizzy prendeu o ar. Sua vontade era responder a altura, mas sabia que causaria ainda mais um escândalo e chamaria a atenção por seu pensamento avançado. Que era considerado normal no século em que vivia.

— Acredito que as damas podem ter certas liberdades, ainda mais quando se esta em um baile. Um local para se divertir e confraternizar – Lizzy respondeu, da melhor maneira que poderia.

— Então, a senhorita acredita que as damas podem ser mais ousadas dentro de um baile? Não geraria um escândalo para ela? – Caroline perguntou incrédula. Afinal, ela acreditava que o decoro e as aparências eram tudo.

— Não vejo por que não sorrir e se divertir em um dia como esse – Bingley interveio, já prevendo o que sua irmã poderia causar. Ele já estava farto dos comentários mordazes de Caroline.

— Realmente, um dia como esse deve ser aproveitado – Georgiana reforçou.

— Senhorita Elizabeth, eu quero ter a honra de dançar com a senhorita essa noite. Irá me conceder uma dança? – Bingley perguntou a Lizzy.

— Certamente, senhor – Lizzy respondeu.

— E é claro, Georgiana, guarde uma dança para mim – Bingley disse a Georgiana.

— Com certeza irei guardar – Georgiana sorriu para ele.

Caroline, que não era mais o centro das às atenções, estava contrariada com seu irmão. Ultimamente, ele não estava sendo manipulável e parecia ter opiniões firmadas sobre tudo. E tudo isso era culpa de Jane Bennet e sua família.

— Senhor Darcy, o senhor com certeza essa noite vai dançar, não é mesmo? – Caroline perguntou.

— Acredito que essa noite eu estarei aqui para prestigiar minha irmã, Georgiana. Eu não vim para me divertir, apenas para cuidar dela – Darcy respondeu, sem fita-la.

— Mas, o senhor deveria dançar senhor Darcy. Eu olharei Georgiana, juntamente com seus amigos – Lizzy interveio, pois de fato, estava preocupada que ele não se divertisse. Ele sempre parecia tão sério. E ela já simpatizava com ele, mesmo que naquela semana eles tenham discutido de forma constante.

Darcy a fitou com os olhos penetrantes. Lizzy engoliu a seco. Ela havia dito algo de errado.

— Então, terá de ser a senhorita a me conceder uma dança – ele disse.

E o silêncio entre o grupo foi sepulcral. Caroline estava sem reação ao ouvir aquilo. Por um momento, ela estava agradecida por Lizzy ao ter frisado que Darcy deveria dançar, mas sua raiva aumentou ao ouvir aquele cavalheiro elegível pedir para Lizzy dançar com ele. Aquilo não era justo. Ela esperou por tanto tempo ter as atenções de Darcy, que uma simples jovem sem importância conseguia fazer isso.

— Senhor Darcy, com certeza será uma honra, mas eu...- Lizzy tentava procurar uma resposta para sua hesitação. De fato, ela sabia dançar, mas estava nervosa com a perspectiva de dançar com ele. Darcy a fitou com certa expectativa – Com certeza estou sem palavras – ela disse em voz baixa.

Ele aproximou um pouco a cabeça da dela e perguntou:

— E por que, se me permite saber?

Ela fez o mesmo, como se confidenciasse um segredo.

— O senhor não é conhecido por dançar. E o senhor Bingley me disse isso.

— Ora, mas eu danço. Apenas não tenho o costume de dançar como ele – Darcy justificou.

— Então, não há nenhum motivo escuso para dançar com o senhor? – ela provocou. Afinal, ele parecia querer fugir de Caroline.

— Hum, talvez – ele respondeu, com olhar jocoso – Talvez, é porque aprecio a senhorita.

Aquela interação não foi passada despercebida por ninguém. E todos estavam surpresos. E Caroline indignada com tudo isso. Nunca conseguiu conversar com Darcy com tanta intimidade, como aquela dama conseguia.

A música começou logo em seguida. Era um minueto. Logo as pessoas deixaram espaço para que pudesse circular livremente. Vários casais estavam a postos para a primeira dança da noite. Era possível ver entre eles o senhor e a senhora Harris, se fitando apaixonadamente. Lizzy precisou cumprir sua promessa e dançar com Trevor Harris. Ele era agradável, mas muito superficial. Lizzy estava incomodada por ele sempre olhar para baixo e fazer galanteios. Ela se sentia uma mercadoria. E toda vez que trocava de par na dança, pisava no é de alguém. Ela não era uma excelente bailarina, afinal, dançou muito pouco. E quando sua mãe queria que ela aprendesse balé, Jane, sua irmã, disse que ela tinha dois pés esquerdos. Darcy, ao longe, não pode conter o riso. Ela era adorável, mesmo errado alguns passos.

Georgiana estava dançando com o Coronel Fitzwilliam, primo de Darcy. Ele havia aparecido atrasado para o baile. Era tão alto como Darcy, com os cabelos loiros, como os de Georgiana. Os dois estavam se divertindo, vendo Lizzy errar os passos. Bingley queria ir a seu resgate, mas estava muito afastado dela, pois estava dançando com uma dama, que parecia falar pelos cotovelos. Bingley apenas assentia, mas ele nem sabia com o que de fato estava concordando.

Logo, a dança se encerrou e Lizzy se afastou. Então, se lembrou de que deveria se afastar junto com seu parceiro de dança. Ela deu um sorriso amarelo a Trevor, que apenas lhe sorria de forma cumplice. Ao menos, ele não lhe disse que ela era deselegante, como alguns cavalheiros.

— Eu sinto muito – ela pediu, enquanto se afastavam de braços dados – Eu não sou tão boa dançarina.

— E aí que esta a graça – ele disse, perto do ouvido dela – Eu muito menos.

Ela riu do comentário dele. Ele a acompanhou, de forma jovial e a deixou junto com o senhor Darcy.  Caroline não estava ali, para o alivio dela e Louisa Hurst alegou uma dor de cabeça e estava em uma saleta privada, naquela mansão.

— A senhorita não me disse que gostava de afligir dor aos seus parceiros de dança – Darcy disse, com uma voz séria, mas era visível que estava a provocando.

— Eu não causo dor. Eu só não...ah...- ela estava sem palavras – Ao menos eu não sou como senhor que se recusa a dançar, vendo o quanto falta cavalheiros nessa festa.

— Um ponto para você, senhorita Elizabeth – ele disse, de forma humorada. Lizzy ainda estava se surpreendendo pela espontaneidade de Darcy – Mas, sinceramente, eu prefiro observa-la dançar e me deleitar com a aflição que causa nos cavalheiros do salão. É muito mais divertido.

— Ora, o senhor verá só quando for sua vez – ela provocou, sorrindo para ele.

— Eu estou ansioso para isso – ele disse, com a voz baixa, fitando-a de forma intensa.

Lizzy prendeu o ar, sentindo-se desconsertada e ao mesmo tempo quente por dentro. Algo estava diferente entre eles, mas ela não sabia o que era.

— Ai está à senhorita – Bingley se aproximou deles, interrompendo o contato visual dos dois – Vamos para nossa dança?

Darcy respirou profundamente, parecendo contrariado. Lizzy pode notar que ele apertava os punhos, ao lado dos quadris. Não conseguia compreender como ele mudava de temperamento de forma tão rápida.

— Ah, sim – ela sorriu para Bingley – Mas, o senhor pode ver que sou um desastre.

Bingley sorriu.

— Não é, com toda certeza o bailarino não soube guia-la – ele enfatizou – Mas, deixe que eu a ajude com isso.

— Será uma honra, senhor Bingley – ela disse sincera e aceitou o braço estendido dele, indo para a pista de dança.

Darcy observou os dois saírem, como se fossem amigos de longa data. Seu amigo sempre teve a facilidade de encantar as pessoas. E sempre teve a atenção de várias damas. Não que ele fosse um cavalheiro libertino, mas Bingley era carismático por natureza e com uma bondade sem precedentes. Por isso, era facilmente enganado por seus pares. Quase havia se casado com uma caçadora de fortunas, anos atrás e no ano passado, quase desposou Jane Bennet. Mas, Darcy começava a perceber que talvez aquela dama em questão não fosse uma caçadora, como Caroline havia frisado. Ela parecia ser realmente uma dama de índole inquestionável. E através do seu detetive, Darcy descobriu que ela ainda estava solteira e nunca saiu do seu condado, nem ao menos para algum cavalheiro elegível em Londres. Infelizmente, ela estava de casamento marcado com o Sr. Collins, o clérigo que tinha uma paróquia em Rosings Parks, concedida pela tia Darcy, Lady Catherine de Bourgh. Talvez, fosse o momento certo para dizer a Bingley o que estava acontecendo, pois o que Lizzy disse não saia de sua cabeça. Ela havia dito que ele poderia estar cometendo uma grande injustiça, ainda aquela semana, quanto a separar duas pessoas que se amavam.

Cap 11 -  Continuação do baile

Lizzy dançava com Bingley e estava se divertindo. Mesmo que tivesse que trocar de parceiro, eles conversavam animadamente. Quando a dança terminou, eles se afastaram e Lizzy pediu para encontrar alguma bandeja com champanhe. Ele a acompanhou. Seu intento era ficar mais afastada com ele e investigar o que se passava no coração de Bingley. Afinal, havia acontecido uma injustiçada com ele. Caroline havia afastado ele de Jane Bennet e Lizzy não suportava uma injustiça daquela.

— Senhorita Elizabeth, permita-me dizer que essa dança foi a mais divertida que tive em muito tempo.

— Eu posso dizer o mesmo, senhor Bingley – ela disse alegre por vê-lo tão efusivo.

Olhou para os lados, tentando enxergar através da multidão de pessoas, onde poderia estar o criado com as bandejas de prata. Ela mataria por uma taça de champanhe. Sua boca estava seca.

— Acredito que tenha um criado do outro lado, senhorita Elizabeth – ele disse. E é claro, era mais alto e conseguia enxergar facilmente por cima das pessoas.

— Ah, eu quero tanto um champanhe. Acompanha-me? – ela pediu.

— Com toda certeza – ele assentiu.

Eles atravessaram o salão, com dificuldade. Bingley era parado a todo instante, para ser cumprimentado e ele apresentava Lizzy como sua mais querida amiga. Ela queria rir, mas fingia não saber que aquilo era uma mentira enorme. Afinal, eles se conheceram há uma semana. Mas, estar na companhia dele era fácil. Logo, ela encontrou o criado e pegou duas taças. Entregou uma Bingley e uma ficou com ela.

— Vamos brindar, senhor.

— Ao que vamos brincar senhorita? – ele perguntou, parecendo gostar da ideia dela.

— Vamos brindar...- ela pensou rapidamente no que poderia dizer – Vamos brindar a nossa amizade e a sua felicidade. Que você possa ser muito feliz e tenha a pessoa que ama ao seu lado.

O rosto de Bingley entristeceu de repente. E Lizzy se arrependeu de ter dito aquilo. Era simplesmente para instiga-lo, mas só causou dor a ele.

— Eu sinto muito, senhor. Disse algo errado? – ela perguntou, tentando contornar a situação.

— Não, de modo algum. Seu brinde é muito amável – ele respondeu, sem fita-la. Seu olhar estava distante – Mas, se quer a verdade, eu nunca vou encontrar a pessoa que amo.

— Não diga isso, senhor. Vai encontrar sim. Tenho certeza que um dia vai encontrar – ela tentou anima-lo.

— Não. A mulher que amo está em outro condado, muito longe de Londres. E ela não me ama – ele disse, de forma sombria e a fitou com os olhos estranhos. Levantou a taça e disse:- Mas, vamos brindar a nossa felicidade, senhorita. Não é todo dia que encontro uma amizade verdadeira.

Eles brindaram e tomaram o champanhe. Mas, Lizzy se sentia muito mal. Ela até mesmo pediu desculpas a Bingley, que garantiu a ela que tudo estava bem. E voltou a sorrir, como se nada tivesse acontecido. Infelizmente, ela tinha falhado em sua missão. O deixou ainda mais retraído. E ele era bom em camuflar seus sentimentos. Parecia tão efusivo, que ela quase acreditou que ele estava bem. Os dois se aproximaram de Darcy novamente, que estava com o Coronel Fitzwilliam ao seu lado. E não havia sinal de Georgiana. Mas, Caroline estava ali, pendurada no braço de Darcy. Lizzy controlou a vontade de gritar com aquela mulher. Era óbvio que Darcy estava desconfortável com aquilo. Ele não parecia de gostar de contato físico. Ela havia notado isso, conforme as damas tentavam tocar no braço dele.

— Permita-me apresentar a senhorita Elizabeth Bennet, primo – Darcy disse, soltando seu braço do aperto de Caroline – Senhorita Elizabeth, esse é o Coronel Richard Fitzwilliam, meu primo.

— Muito prazer em conhecê-lo, coronel – Lizzy fez uma pequena reverência.

— O prazer é todo meu, senhorita – O coronel puxou a mão dela, para depositar um beijo no dorso de sua mão.

— Como o senhor disse que conheceu a senhorita Bennet, senhor Darcy?- Caroline perguntou, olhando para ele com um olhar arguto.

Darcy parecia ter perdido a fala. Seu primo parecia bem interessado em saber como ele conhecera uma beldade com Elizabeth Bennet. Não parava de olhar para ela, com curiosidade e deleite.

— A mãe dela era amiga da falecida senhora Darcy – Bingley interveio, pois afinal, fora o que ouviu de Darcy.

— Que estranho – Richard disse, olhando para Darcy, em questionamento – Eu não me lembrava da tia conhecer uma família Bennet. Mas, ela não deve ter compartilhado isso conosco.

— Com certeza, não compartilhou – Darcy disse, com a voz séria.

Lizzy estava se sentindo enjoada. Com certeza, logo a mentira que Darcy contava iria desmoronar. Ela sabia que não deveria ter saído para aquele baile. E não entendia o motivo para ele mentir para seus conhecidos quanto à forma como conheceu Lizzy. Mas, as circunstâncias não foram civilizadas, segundo ele. O que deixou ela muito irritada, naquela semana. Além de dizer que ela não tinha conexões, o que seria pior, pois a família dele prezava por isso. Lizzy nunca se sentiu tão magoada na vida, mas não poderia culpa-lo, afinal, era o que se pensava naquela época. Por isso, desejava tanto voltar para seu tempo. Ao menos, ela não teria que estar no meio de pessoas com pensamento tão ultrapassado.

— Adoraria ouvir mais sobre a senhorita – Richard disse, quebrando o silêncio constrangedor em que o grupo mergulhou. Olhava para Lizzy ainda encantado pela beleza dela.

— Eu não tenho muito a dizer sobre minha pessoa, coronel – Lizzy disse, tentando não se comprometer, afinal, o que poderia dizer sobre si mesma?

— Ora, mas a senhorita deve ter algo interessante em seu passado remoto, senhorita Elizabeth – Caroline alfinetou.

— Eu adoraria escutar. A senhorita Elizabeth é muito interessante – Bingley, alheio a tudo, estava realmente interessado em conhecer mais sua nova amiga.

Lizzy olhou para Darcy, buscando ajuda. Ele apenas a fitou sério, sem demonstrar nada. Mas, tomou a palavra rapidamente.

— A senhorita Elizabeth com certeza vai compartilhar algo sobre sua vida, mas ela ainda me deve uma dança.

Todos olharam para Darcy, surpresos. Lizzy deu um sorriso aliviado. Ao menos, não teria que mentir para ninguém.

— Certamente, senhor. E já vai começar a nossa dança – Lizzy disse.

— Permita-me acompanha-la – ele ofereceu o braço a ela.

Eles saíram juntos, em silêncio. Infelizmente, era uma dança que Lizzy não estava tão acostumada. Parecia quadrilha, mas era diferente. Os cavalheiros giravam as damas, de forma que parecia uma valsa, mas também não era. Lizzy estava assustada, devido aos casais estar em fileiras. Parecia com o minueto, mas com passos complicados. Ela pisou no é de Darcy várias vezes. Mas, ele não demonstrava nada.

— Senhor, que dança é essa que estamos executando? – ela perguntou.

— É a contradança – ele disse, girando com ela no salão.

Lizzy se sentia tonta. Os giros não eram nada agradáveis.

— Isso é estranho – ela comentou, pisando no pé dele, por descuido – Me perdoe...eu sou tão...

— Está tudo bem – ele garantiu, sorrindo para ela. Seu rosto estava bem próximo ao dela. E ela teria aproveitado aquele momento para observa-lo melhor, mas o giro não permitia isso. Mas, sentia de forma inquietante sua mão com a dele, estendida para frente. E seu toque na base da sua cintura a deixava quente por dentro. Eles estavam em uma distância respeitável, mas a dança eram tão intima quanto uma valsa – A senhorita deve apenas me deixar guia-la.

Ela poderia ser guiada aonde fosse desde que pudesse parar os giros. Infelizmente, teve que trocar de parceiro. Para seu alivio, ou não, era Trevor Harris.

— Estou encantado por encontra-la de novo – ele disse, com um sorriso.

— O senhor deveria fugir de mim – Lizzy deixou escapar.

Ele franziu o cenho, confuso.

— O senhor não percebeu que tenho dois pés esquerdos? – ela brincou, para quebrar o gelo.

Dessa vez, Trevor deixou uma risadinha escapar.

— De fato, a senhorita tem. Mas, é a companhia mais agradável que tive essa noite – ele disse, flertando com ela.

Lizzy não estava gostando do olhar dele. Nem de estar girando tanto. Deu graças a Deus quando mudou de par. E não acreditava no que seus olhos estavam vendo. Era Alexander. Ele lhe dirigiu um sorriso cretino e ela pode ver melhor suas íris prateadas. Era como prata liquida. Ela nunca viu olhos tão incomuns.

— Nos encontramos de novo, senhorita – Alexander disse.

Lizzy tentou não ficar tonta, mas era quase impossível. Contudo, precisava conversar com ele.

— Você e eu temos muito que conversar – ela disse entredentes.

— Sim, de fato temos. Preciso levar Boris para o tempo dele.

— O que?

— Xii...fala baixo – ele pediu, próximo ao rosto dela.

Alguns casais observavam atentamente os dois, inclusive Darcy. Que parecia fulminar Alexander.

— Escuta aqui, sua fada desgraçada, quero voltar para meu tempo – ela sussurrou, irada por dentro.

Ele lhe deu um sorriso malicioso.

— Não, enquanto não cumprir sua missão. Mas, vejo que está indo bem. Só precisa abrir mais os olhos – ele disse, olhando para o lado, depois para ela – Vocês dois são dois tapados. Sinceramente. Mas, eu estou aqui para lhe dar um empurrãozinho.

— Do que você está falando? – ela perguntou confusa – Fala logo o que tenho que fazer para voltar. E você não vai levar Boris – Naquele momento, ela focou tanto na raiva, que se esqueceu da vertigem de estar girando.

Para seu alivio, a musica encerrou. Mas, ela não largou do braço de Alexander.

— Vamos conversar agora – ela ordenou.

— Sim, mas não aqui – ele disse – Vamos para uma biblioteca. Eu conheço o lugar.

Ela assentiu, se perguntando como ele poderia conhecer o local. E percebeu que ele estava com as roupas corretas daquela vez. Vestia uma roupa de galã. Até mesmo usava a gravata branca, cheia de babados e uma cartola. As calças em tom bege, coladas ao corpo mostravam suas pernas torneadas. E ela visível como às damas olhavam para ele. O achavam atraente e rustico ao mesmo tempo.

Eles saíram do salão e seguiram para um corredor, no térreo. Ela passou por afrescos, quadros que não teve tempo de analisar. Logo Alexander encontrou duas portas, de madeira maciça e testou a maçaneta em tom dourado, abrindo-as. Ele indicou com a mão o caminho. Ela percebeu que a biblioteca estava com algumas velas acesas, em cantos estratégicos, com o apoio de candelabros.

— Primeiros às damas – ele disse.

— Se você pensar em alguma gracinha – ela ameaçou.

— Isso não passou pela minha cabeça. Agora vai logo – ele disse, irritado.

Lizzy adentrou o ambiente e ele fechou as duas portas. Ela cruzou o braço, com um olhar duro.

— Lizzie, não fica brava, ok? – ele pediu, tirando o chapéu e largando em uma poltrona – Estou fazendo o que é certo, mas você é difícil. É como uma mula.

— Ora, mas você veio aqui só para me ofender? – ela perguntou, indignada.

Ele balançou a cabeça, parecendo frustrado. Mas, ele não tinha o direito de estar. Ela quem estava.

— Lizzie, você é habitante do século XXI. Deve ser mais esperta que isso – ele continuou a falar, ignorando o olhar mortal dela – Seu lugar é aqui, com essas pessoas. Não há como voltar para seu tempo, se você quer a verdade. Você nasceu na época errada. Deveria ter nascido nesse século, conhecido seu futuro marido, casado e tido filhos com ele. Mas, por algum motivo e não me pergunte qual, pois eu não sei você nasceu na época errada.

Lizzy estava confusa demais com o que ele dizia. Mas, se ele pensava que ela ficaria ali, ele estava muito enganado.

— Alexander, eu não sei que espécie de baboseira você está inventando, mas me manda de volta para meu tempo, agora!

Ele suspirou.

— Eu sabia que você iria pedir isso. Mas, veja, enquanto não cumprir sua missão, não há como voltar. O viajante deve cumprir sua jornada, até o fim. Quando completada, você pode voltar.

— Ah, mas você não diz qual é essa jornada, Alexander – ela o acusou – E eu não quero ficar aqui mais nem um minuto!

Ele andou de um lado ao outro, de repente.

— Quer parar de andar e me mandar de volta para meu tempo!

Ele parou a fitando com um olhar preocupado.

— Lizzie, eu não posso. As regras são claras. Quando aceitei ajudar você, o único modo de voltar para onde você pertence é cumprir sua jornada. Deve fazer isso e eu não posso interferir tanto. Eu estou fazendo tudo errado ao estar aqui – ele passou a mão pelo rosto, desalentado – Eu me preocupo com você. A última viajante do seu tempo causou problemas até entender o que precisava fazer.

Aquela informação pareceu prender a atenção de Lizzy.

— Quem é ela? Onde ela está?

— Ela não está aqui, está no Brasil – ele respondeu – E umas boas décadas a frente de você.

— E o que ela fez de errado?

— Bom, ela quase foi acusada de bruxaria e ainda por cima, fez o que eu disse que ela não deveria. Ela montou uma fabrica de produtos cosméticos e deixou alguém cuidar do lugar. Mas, ela quem deveria fazer isso, não outra pessoa. Agora, tenho mais problemas do que eu precisava. E enquanto eu não conseguir arrumar seu destino, não posso ir ajuda-la. Então, vê se colabora, Elizabeth.

Ele falou tudo de forma rápida, deixando-a atordoada.

— Então, quer dizer que ela ficou em outro tempo? Ela não voltou? – Lizzy perguntou com medo da resposta.

— Na verdade, ela escolheu ficar. E tenho certeza que você vai, Eliza. Eu juro para você...- ele se aproximou dela, tomando suas mãos, com carinho. E pela primeira vez, ela sentiu confiança em Alexander – Eu jamais faria mal a você. Eu só quero ajuda-la a encontrar o seu felizes para sempre. É minha missão. Sou seu APAM.

— Ou seja, minha fada madrinha  - ela provocou, dessa vez, mais tranquila.

Ele sorriu.

— Você entendeu Eliza. Não brinque com meu trabalho. É muito sério, sabe? – ele levou as duas mãos delas aos lábios e beijou.

E foi naquele momento que a porta da biblioteca abriu. E Lizzy sentiu que iria desmaiar. Era Darcy, o Coronel Fitzwilliam e Bingley na soleira da porta. E Darcy não parecia nada contente quando seus olhos repousaram sobre ela.  


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Notas finais do capítulo

Lembrando que Alexander não me pertence, assim como a maioria dos personagens. Somente a familia Harris são meus personagens originais. O restante é da Carina Rissi e da Jane Austen.



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