A Mais Vitoriosa escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 23
Capítulo XXII.




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Anne, minha irmã amada. Eu não sei o que dizer, o que pensar, como reagir. Nunca realmente pensei que isso iria acontecer. Só Deus tem conhecimento de minha tristeza, assim como da sua, não irei conjecturar qual é a maior, mas devo dizer que é  uma desgraça, faz tanto tempo que não nos vemos. E Catherine? Me pergunto como ela irá reagir. Eu poderia até viajar a Wolfenbüttel para saber, mas não posso, não posso nem mesmo ir lhe ver. Friedrich August acabou de nascer...

Que Deus tenha pena de nós agora minha irmã. Que Deus tenha pena de você principalmente.

De sua irmã

Alice.

Quando Frederik chegou em Londres, em 16 de junho, estava um dia muito bonito e ensolarado, havia muitas pessoas em Greenwich. Mas era uma beleza muito falsa, alguém havia morrido, deveria na verdade ser um dia nublado e triste.

Quando Frederik saiu do navio já havia uma carruagem pronta para o levar a Hampton Court. E durante todo o percurso, Frederik pouco viu da tristeza britânica para com os Tudor-Habsburg, eles usavam suas roupas normais, não tinham nem mesmo algo preto ,em sinal de luto, nas roupas.

Mas eles ainda tinham bom senso, e quando percebiam que a carruagem de Frederik estava passando, alguns mostravam algum luto. Muito atencioso da parte deles, se Anne visse isso era muito provavel que ela dissesse que estavam apenas fazendo o que deveriam, e que não precisava da pena dessas pessoas.

Para Frederik, isso mostrava bem o que o povo britânico a achava dos Tudor-Habsburg. Não tinham um grande apreço por eles, alguns até mesmo odiavam Anne. Frederik tinha conhecimento de caricaturas e satirizaçoes de Anne, mas ele realmente nunca viu uma, já que quando o marquês William estava vivo, ele proibiu a entrada disso em qualquer uma de suas propriedades.

Mas também era compreensível essa antipatia. Era bem conhecido que os ingleses não gostavam muito de alemães e odiavam a autocracia. E os Tudor-Habsburg representavam tudo isso, uma família alemã, nascida do absolutismo austriaco, que não demonstrava muito interesse pelas pessoas comuns.

Frederik poderia continuar a pensar nesse assunto por várias horas, mas a carruagem chegou ao seu destino. Frederik chegou ao seu calvário. Não seria fácil, mas era necessário mostrar força.

Com um suspiro, Frederik então saiu e se dirigiu para os apartamentos. Mas para a sua surpresa, ele não foi recebido por uma chorosa Anne vestida de luto e tristeza, mas por suas crianças que emanavam alegria.

  – Papai!- Alegria e alegria, era isso que Frederik sentia ao ver Henry, Anne e Amélia, mas também havia um pouco de surpresa.

 – Meu príncipe e minhas princesinhas! Também estou feliz.- Vieram mais abraços a beijos, mas ainda havia algo.– Mas não deveriam vocês estar em Bristol? Mamãe os enviou de volta junto com Lady Hartford?

  – Mamãe não nos quer em Bristol.- Henry estava muito bem fazendo seu papel de o segundo mais velho.– É um tristeza, queríamos ter mais tempo para nos despedir.

  – Não poderíamos de todo modo. Crianças não podem entram em mausoléus.- A pequena Anne aprendeu isso bem rápido. Mas isso que seus filhos falavam era assustador para Frederik.

Quando ele tinha a idade deles ele não sabia realmente o que era a morte, mas essas crianças pareciam ter muito conhecimento.

  – E onde está a mamãe?

  – No berçário.- Isso era não era uma surpresa, era até que previsível de certa forma.

Quando Frederik chegou no berçário, ele não demorou muito para encontrar Anne. E essa não era a Anne que Frederik estava acostumado a ver.

Sua Anne estava sempre muito bela e exultante, sempre usando as mais belas joias com vestidos das mais belas cores claras, todo os dias mais bela do que antes. Mas a Anne na frente de Frederik, era a expressão da tristeza, o preto não era muito bonito em Anne.

Mas o que mais surpreendeu Frederik, era o que Anne estava fazendo. Ela estava sentada perto da janela, cantando uma música para um frágil Alfred em seu colo. Anne não estava sendo apenas a expressão da tristeza, mas a epítome da maternidade. Isso era o surpreendente. Não era comum para Anne fazer isso, abraçar seus filhos, beija-los, cantar uma música. Frederik nunca teve dúvidas do seu amor, mas ela nem sempre o deixava evidente.

  – Você finalmente chegou Frederik. Você não sabe a alegria que isso me faz.- Mas ela falava tão desanimada.

  – Não precisa tentar se mostrar alegre, Anne. Sei que você está muito triste.- Embora triste fosse pouco para descrever.– Não precisa de mostar tão forte, Anne.

Anne não olhava para Frederik, ela apenas continuava a olhar para os jardins através da janela. Mas mesmo assim se podia ver sua tristeza.

  – Se eu não for forte, quem será para mim?- O desejo de Frederik nesse momento era gritar bem forte que ele poderia ser forte no lugar dela, mas não.

  – Não se force tanto.- Isso Frederik mesmo sabia que era difícil, quando uma mãe morria, era muito difícil ser forte.

Frederik ainda não entendia direto como a marquesa viúva havia morrido. Anne não disse muito nas cartas, apenas que ela estava bem pela noite, e no dia seguinte estava muito mal, e depois de alguns dias, acabou para ela.

  – Vamos voltar a Bristol logo, não iria conseguir aguentar os oito dias.- Não era uma surpresa isso.– Vamos voltar apenas para a enterrar. E depois não irei mais voltar aquela cidade.

  – Está certo então. Mas alguma coisa?

  – Ainda há certas coisas, mas depois serão resolvidas.- Frederik apenas concordou com a cabeça, deveria fazer parte do luto de Anne falar desse assunto.– E ainda ha Catherine e Alice. Eu nem mesmo sei como elas irão reagir. Santo Deus! O que vou fazer?

De toda forma, Anne estava se deixando levar, suas palavras mostravam um pequeno desespero, um que Frederik realmente não desejava ver.

  – Você ainda não escreveu para elas falando?

 – Claro que escrevi! Mas apenas disso o necessário, necessário que elas não irão aceitar, elas vão querer mais. Eu não desejo escrever novamente sobre a morte da minha mãe.

Só agora Anne se virou para Frederik, só agora Anne realmente o viu e vice-versa. E Frederik pode ver Anne, ver a desolação de Anne.

  – Você vai conseguir, Anne. Não se preocupe.- Frederik agora não poderia mais segurar suas palavras, havia algo que deveria ser dito.– E se lembre que você não está sozinha, eu estou aqui com você, vou sempre estar.

Anne continuou calada. Mas ela parecia estar pensando, e por alguns segundos ela sorriu.

  – Você está comigo.

Mas o sorriso se desfez logo e ela voltou a sua expressão triste. Mas foi o suficiente para Frederik, Anne não dispensou sua ajuda. Logo esse momento também se desfez e Anne se preparou para voltar as suas obrigações. E agora seria Frederik que iria ficar com seu "soldadinho".

  – Eu vou me lembrar do que você disse Frederik.- Mas antes de sair, Frederik ainda pode ouvir Anne falar.– Nunca me deixe sozinha então.

E com isso Anne saiu, deixando em Frederik um desejo ainda maior de sempre estar com ela e a proteger.

                        *****

Novamente no mausoléu da família, novamente para enterrar alguém, novamente um de seus pais. Era muito impressionante que esse lugar realmente estava cumprindo sua missão. Mas Anne sabia que isso era quase uma benção. Seus pais não tiveram essa mesma oportunidade de se despedir dos avós de Anne.

Sua avó paterna morreu no mesmo dia em que seu pai nasceu, quando seu avô, o eleitor Palatino morreu, William nem mesmo deu importância. Quando seu avô imperador morreu, a mãe de Anne era muito jovem e quando sua avó, a imperatriz morreu, a Áustria estava em guerra, e Catherine muito longe. Se bem que olhando assim parecia ser uma benção, eles pelo menos não viram o sofrimento e a dor.

E logo acabou, e quando acabou, Anne realmente olhou para o túmulo a sua frente. Um túmulo de concreto, com efígies de mármores mostrando o marquês e a marquesa em seus dias de glória, juntos no mesmo túmulo, um casal, dois arquiduques, dois marqueses, dois pais, que mesmo na morte não foram separados.

Perto do túmulo de seus pais, havia também outro túmulo, um mais simples, onde também descansavam Ernest e Charles. E olhando melhor, Anne também poderia ver que já estava sendo preparado o seu próprio túmulo. olhando para tudo isso agora, Anne desejava sair rapidamente desse lugar.

  – Você está se sentindo bem Anne?- Logo depois que eles saíram do mausoléu Frederik fez essa pergunta.– Você está tão pálida, mais do que o normal.

  – Meu pai, meu conselheiro e minha fonte de sabedoria, está morto. Minha mãe, meu exemplo de esposa, minha fonte de bondade seguiu ele. Será que estou bem Frederik?

Anne percebeu que não foi isso que Frederik perguntou, mas certas coisas deveriam ser ditas.

  – Não vamos mais tocar nesse assunto então.

 – Uma sabia decisão. Vamos embora, quero evitar esse lugar o máximo possível.- Frederik assentiu em concordância, e Anne sabia que ele estava sendo sincero. Frederik assim como Anne, iria passar a eternidade com ela nesse mausoléu, não seria na Holanda nem na Alemanha, mas na Inglaterra.

Logo os dois estavam na carruagem a caminho de Londres novamente, seria uma longa viagem, provavelmente iriam chegar tarde da noite. Mas Anne não desejava ficar em Bristol nem por mais um segundo.

  – Anne, eu sei que você deseja ficar calada e pensar. Mas Catherine e Alice responderam?

  – Alice sim. Ela está desolada, e graças a Deus não pediu mais informações. Mas claro, ela sempre foi a mais gentiu de nós três.

 – E Catherine?- Frederik nem mesmo tentou refutar o que Anne disse, mas isso era uma verdade que todos sabiam.

 – A duquesa de Brunswick-Wolfenbüttel interceptou a carta e me respondeu que não seria sábio contar a Catherine sobre a morte de nossa mãe, visto o seu estado atual. Imagino então que ela está grávida.

E ela nem mesmo havia avisado. Anne não gostava disso, que escondessem dela informações importantes. Embora ela mesmo soubesse que as vezes ela mesma fazia isso.

 – E você concordou?- Frederik estava com a mesma expressão que Anne fez quando leu a carta da duquesa.

  – Sei que isso pode não ser bom. Sei que estou escondendo de minha irmã a morte de nossa mãe, mas se a duquesa consorte de Brunswick-Wolfenbüttel decidiu esconder, assim será. Afinal, Catherine é agora uma Brunswick, sob ordens dos Brunswick.

Frederik nada disse em resposta. Mas Anne sabia que ele entendeu, havia família e havia família com status, e Catherine estava com a segunda opção.

A viagem de volta para Londres estava sendo desagradável e desconfortável. Mas foi um momento para Anne pensar e decidir que agora tudo poderia ser mais difícil. Anne não tinha mais os conselhos de seu pai e mãe, seus maiores aliados, como o duque de Somerset estavam morrendo, seus inimigos estavam aumentando, e Anne não era estimada pelo povo britânico, principalmente pelos londrinos.

  – Espero que nós consigamos.- Foi quase sem querer que Anne falou isso em voz alta. Mas Frederik estava dormindo, e ninguém poderia ver sua tristeza.– Não me deixe Frederik.


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Notas finais do capítulo

É oficial, a primeira era dos Tudor-Habsburg acabou.



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