A Mais Vitoriosa escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 18
Capítulo XVII.




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— A Irlanda, nosso reino, é muito valiosa para nós, não devemos a deixar cair nas mãos do rei católico.- Peças eram sempre coisas muito belas de se ver, principalmente quando eram crianças, e Anne poderia dizer que se sentia muito feliz em ver seu Henry, que nunca seria tão importante como Alfred, ser o rei William III. Mas essa peça em específico da batalha de Boyne, não estava sendo muito prazerosa.

Havia bons motivos para pensar isso, primeiro porque a batalha de Boyne não era considerada muito importante, isso a fazia então não ser interessante; segundo porque uma peça deveria distrair e fazer esquecer o que estava acontecendo, mas Anne poderia dizer que isso não estava acontecendo, os acontecimentos da batalha estavam se repetindo em muitos aspectos agora; e terceiro: a peça em si não era muito boa, os sorrisos de todos que estavam assistindo eram todos forçados, e Anne estava contando com o seu.

Quando a peça acabou houve então uma grande chuva de palmas, pelo motivo de ter acabado. Isso sim era uma benção.

Mesmo assim, era também inevitável que alguns comentários das damas de Anne sobre a rebelião surgissem, comentários esses que Anne não desejava ouvir.

 – Foi tão... maravilhoso, minha senhora. Embora me tenha dado uma grande curiosidade sobre a rebelião.

  – Lady Latymer, notícias irão chegar, mas saiba que nossos maridos estão bem seguros em Londres, assim como estamos bem seguras aqui.‐ A viscondessa Richmond, estava bem certa, todos estavam seguros, para falar a verdade, elas estavam todas em Ocenia para sua segurança.

  – O mesmo não pode ser dito de nossas propriedades no norte. Eu espero que o Jovem Pretendente tenha a consideração de não invadir elas, nem as saquear.- Agora Lady Avon foi a mais insensível de todas elas, ela parecia bem mais preocupada com as propriedades.

  – Vamos ter fé de que nada vai acontecer, e eles serão logo expulsos.

  – Minha senhora eu peço perdão, mas nesse momento, ter essa fé é muito difícil com Londres em pânico e os rebeldes mais perto da capital.

  – Lady Avon...
Anne não pode dar uma resposta a ela, a marquesa viúva foi anunciada antes. Anne estava feliz por isso, ela não desejava defender algo que ela mesma estava insegura.

 – Mamãe, você perdeu a apresentação?

  – Eu peço perdão. Mas Lady Wiston parecia não desejar me deixar voltar. Ela me falou todos os problemas dela e da família.- Apenas Lady Wiston sendo ela mesma, era assim que todo o país sabia que o filho mais jovem dela tinha um caso com a filha de um comerciante que enriqueceu.

  – Não importa mais. Você não perdeu muita coisa, mamãe.- Só depois que falou isso, Anne percebeu suas palavras.

  – Não se deve falar assim do que seus filhos fazem, Anne.- A marquesa viúva não gostou nada, parecia que eram até filhos dela, não netos.– Mas isso me lembra de algo. Quando estava voltando, um mensageiro alcançou a carruagem e me entregou uma carta, é para você, e é sobre a revolta.

Anne já estava farta de ouvir sobre essa revolta, sobre esses jacobitas. Desde setembro era o mesmo assunto, mas infelizmente, agora ele era muito importante e pessoal para Anne.

  – E o que fala minha senhora?

  – Estão marchando rumo a Londres na direção de Derby.- Era isso então, um desastre. Seria uma desastre pelo que Anne já sabia, mas isso dava a Anne uma dúvida: e Frederik?

  – Minha marquesa o que faremos se chegarem a Londres? Minha senhora?- Anne não estava no momento pensando na pergunta de Lady Beaumont, havia outras questões mais importantes na sua cabeça.– Anne!

 – O que?... ah sim. Iremos nos sentar e esperar ordens do rei e de seu governo.

 – O católico ou de Hanover?- Perguntas como essa de Lady Avon não deveriam ser feitas, elas davam medo, e assim se foi.

  – Nossa marquesa está certamente falando de Hanover.

  – Em qualquer situação já estamos perto do oceano para fugir.

  – Querida Lady Beaumont, somos inglesas, filhas de ingleses, esposas de ingleses, então não vamos fugir.

  – E se formos condenadas a torre?

  – A torre?

E assim se iniciou uma discussão verbal entrar Lady Beaumont e Lady Richmond, que depois se estendeu a Lady Avon e Lady Latymer.

Anne não se preocupou muito com isso, nem sua atenção estava nela. Anne tinha outras coisas no momento para se preocupar, as mesmas coisas que sempre estavam em sua cabeça, e essas foram ressaltadas por algumas palavras que ela ouviu de suas damas, como por exemplo: morte, traição, viuvez e guerra.

Aquelas palavras não estavam ajudando, estavam angustiando Anne, já não bastava o medo de perder o status, a riqueza, a influência e a Inglaterra, ainda se tinha o medo de Anne perder o marido. Anne se perguntava como Maria Theresa e a rainha Mary no passado, aguentaram isso.

Esses pensamentos começaram a tomar mais conta de Anne, tanto que até sua expressão que eram sempre fria e orgulhosa, começou a desmonorar. Isso certamente não foi percebido pelas damas, mas foi pela marquesa viúva, que continuava na sala.

Quando Anne percebeu que sua mãe havia visto seu rosto, sua primeira reação foi sair da sala. Era indesejável no momento, palavras vazias e sem garantia. Anne sabia que vinham de sua mãe, mas ela não desejava ouvir. Mas a marquesa viúva fingiu não entender e foi logo atrás de Anne.

  – Por que foge minha, querida filha?

 – Não estou fugindo mamãe.- Tecnicamente Anne estava sim fugindo, mas um Tudor-Habsburg nunca iria reconhecer isso.– Apenas não desejo ouvir o que é desagradável.

 – Pode me dizer suas preocupações, sou sua mãe, Anne, eu quero lhe ouvir.- Mas Anne não desejava falar.

  – O que você deseja ouvir, mamãe? O que deseja falar?

  – Acho agora que sei. É o seu medo.

  – Qual medo mamãe? Qual deles, eu tenho tantos?- Anne não desejava, mas essa conversa chegou a um lugar que não havia mais volta.

A marquesa viúva, continuou calada. Anne não desejava nem imaginar o que viria, ela era sua mãe, e assim como ela mesma, o silêncio de sua mãe poderia ser algo muito ruim.

  – O seu medo é justificável, é válido. Toda mulher casada com um soldado tem medo de ficar sozinha. Na verdade, toda mulher prezada pelo marido tem.- Anna preferiu não responder, sua mãe não estava errada, e estava favorável.– Eu não posso também dizer e garantir que nada vai acontecer, eu não sei de nada afinal, mas minha querida Anne, nem mesmo os jacobitas iriam matar um príncipe.

Bem, olhando por esse lado não era realmente necessário ter medo. Mas Anne não conseguia evitar, esse sentimento não saiu, embora Anne tivesse motivos para o deixar de lado.

  – Eu não consigo mamãe, por mais que eu tente não vai embora.‐ Quando Anne percebeu, ela estava abraçando sua mãe, como se fosse novamente uma criança de dez anos.– São tantos os meus medo mamãe, eles me assustam tanto, me fazem tão infeliz. Mas eu não consigo identificar eles, são invisíveis. Por favor me diga o que fazer.

Anne não estava achando ruim, ela se sentia protegida, sentia como se não fosse apenas sua mãe com sua bondade, mas também se pai com sua sabedoria.

  – Minha Anne, minha querida filha. Seus sentimentos são sentidos por muitas pessoas também, são um calvário para todos nós. Mas não posso dizer como acabar com eles, você terá que viver com eles.- Lembrar disso era uma tristeza, uma constante lembrança de que não se poderia apenas sentir o que é bom.– Mas torne esse sofrimento mais suportável, me conte sempre o que você está sentindo e pensando, vou estar ainda por muito tempo com você, Anne.

Anne iria tentar. Talvez fazer um diário também fosse bom. Mas no momento tudo seria feito por Anne para que seus medos causados pela rebelião fossem suportáveis.

                       *****

02|12|1745 Bristol House, Bristol.

Os jacobitas tinha em seu alvo cidades ricas, estratégicas, cidades fortificadas, e cidades com um grande simbolismo. Seu principal objetivo era Londres claro, mas haviam outras.

E Bristol, com seu estratégico porto, e sendo a segunda maior cidade de toda a Inglaterra, era um dos maiores alvos dos jacobitas. Se eles tivessem Bristol, teriam uma grande porta para uma invasão francesa.

E essa importância e perigo era muito bem conhecida por todos. E isso fez com que a cidade entrasse em alvoroço, e o alvoroço logo se tornou pânico quando se descobriu que planejavam realmente invadir e tomar a cidade, não eram apenas suposição, mas era um fato certo.

Ações logo foram tomadas, a proteção da cidade logo foi aumentada. Foi decidido que haveria soldados em todos os principais pontos da cidade e do porto, no caso de uma invasão pelo mar. Frederik poderia até mesmo dizer que Bristol estava muito bem protegidas, claro que considerando o que eles tinham, o que significava que a cidade não iria conseguir resistir a um exército grande.

Infelizmente as ações não tiveram o efeito esperado nas pessoas, elas continuavam com medo e desesperadas, e isso poderia ser prejudicial, o desespero levava a rebeliões.

  – Alteza estamos novamente com problemas de homens, há muitos lugares que são muito importantes e continuam pouco protegidos, como por exemplo...- Novamente desde que chegaram em Bristol, Lord James Pange, o capitão da guarda germânica, o perturbava com esse mesmo assunto.– O que faremos então?

  – É trabalho do lord tenente cuidar disso.

 – Meu senhor bem sabe que Berkeley não dará importância.- Frederik odiava isso, tomar decisões no lugar de outras pessoas, no lugar de quem realmente deveria.– Berkeley não está aqui meu senhor, temos o xerife, mas o senhor é a pessoa com a maior importância, o senhor deve liderar a proteção dessa importante cidade.

Na verdade, Frederik não tinha recebido essa ordem, apenas dizia que ele deveria pegar a Guarda Germânica, alguns homens da região e ir para Bristol, não dizia em nenhum lugar que ele deveria liderar a proteção da cidade. O governo de Bristol, vendo que Frederik era um príncipe, membro de uma importante família, assim como um militar, com uma alta patente, que o colocou nessa posição.

  – Traga os líderes do regimento.

Era isso então. Frederik deveria agir, isso não era o normal, era estanho e diferente. Frederik sempre recebeu ordens, sempre obedeceu, ou seu primo, seu pai, generais superiores, sua mãe, o marquês e o rei George agora. Frederik poderia dizer que sabia tomar decisões sozinho, mas não quando elas eram importantes.

  – Alteza, como o senhor já sabe estamos com falta de homens, e isso é um problema considerando que estamos em Bristol.

  – Não há necessidade de me lembrar o que já sei.- A expressão deles em resposta não foi muito boa, Frederik bem sabia que os ingleses não gostavam de receber ordens de estrangeiros.– Mas eu gostaria de saber o que os senhores sugerem que façamos?

  – Devemos usar a Guarda Germânica.

  – Já estamos usando. Não podemos pedir mais homens, já temos o suficiente.

   – Senhor, há alguns da guarda que poderiam ser melhores usados.‐ Frederik não fazia ideia do que ele estava falando.– Podemos usar os guardas que estão em serviço nas propriedades da marquesa.

Essa não era uma opção muito, mas mesmo assim ela foi muito bem recebida pelos líderes. Mas não por Frederik nem por Lord James.

  – Senhores esses guardas estão a serviço da marquesa, não podemos tocar neles, nem os que estão aqui, nem os em Ocenia.- Agora as palavras de Lord James, não foram bem recebidas.

Mas isso já era um pouco esperado. Havia uma mulher na Inglaterra, com muita riqueza e propriedades, mas ela desprezava a cidade do seu título, mesmo essa cidade sendo uma das maiores do país, então o ressentimento era bem provável.

  – Milorde, eles estão a serviço de Sua Majestade, eles devem apoiar e proteger o rei e sua coroa, não uma simples marquesa alemã.

O que se seguiu foi um silêncio horrível e desconfortável. Em parte ele estava certo, mas ele ofendeu Anne.

  – Eu não permito que o senhor ofenda minha esposa! Peça perdão ou...- Frederik logo percebeu que estava gritando, e ameaçando. Isso era desagradável, era melhor se conter e falar mais baixo, por mais que tenham ofendido Anne.– Meu senhor ofendeu a marquesa, seria bom o senhor pedir perdão.

Isso ainda foi quase uma ameaça, mas o pedido foi prontamente arrumando, e o perdão chegou. O que deixou Frederik mais satisfeito, embora uma boa surra fosse muito melhor. Mas eles ainda tinham o problema para resolver. 

  – Meu senhores, usar os guardas que estão em Ocenia está fora de cogitação. Lá estão apenas mulheres, crianças e criados que não podem proteger ninguém. Se os jacobitas chegarem em Londres, e Deus ajude para que isso não aconteça, todos os que apoiam o rei estarão em perigo. Deixaremos eles lá.‐ Não houve nenhum protesto, isso era bom.– Mas vamos usar então os guardas que estão na aqui, cuidando das propriedades da marquesa.

Um meio termo foi decidido, eles só usariam os guardas que estão servindo a marquesa. Não eram nem trinta, mas aparentemente era o necessário. Frederik só desejava que não fosse necessário usar realmente a guarda para defender Bristol.

Caso os jacobitas tentassem Bristol, eles iriam sim conseguir, não havia forças necessárias para impedir, apenas para resistir até que as forças do governo chegassem.

Mas mesmo agora, Frederik tinha em sua mente como Anne estava, como suas crianças estavam. No fundo, Frederik sabia que estava fazendo isso, não pelo rei, nem pela coroa, mas sim por Anne, pelos seu filhos. Frederik estava protegendo sua herança, caso contrário, eles perderiam e iriam ter que fugir, e isso não era viável.


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